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terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
Globos de Ouro SIC/Caras 2011: possíveis vencedores da cerimónia desta noite
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Mistérios de Lisboa
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Raúl Ruiz (real.)
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Cláudio da Silva
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Filme do Desassossego
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Maria João Bastos
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Mistérios de Lisboa
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sábado, 28 de maio de 2011
Vedo Nudo (1969)
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Vejo Tudo Nu de Dino Risi cuja estrela principal é Nino Manfredi é um filme composto por vários segmentos, ou curtas-metragens, que focam única e exclusivamente uma temática... o sexo.
Em todas elas Nino Manfredi é o principal interveniente, em torno do qual se desenrolam as inúmeras histórias que, no seu geral, pouco adiantam além do já referido sexo.
A mais engraçada acaba mesmo por ser A Última Virgem onde uma jovem suspeita que Manfredi, aqui um funcionário da companhia de telefones, é um conhecido assassino que a vai "despachar", mas onde acabam os dois a satisfazerem os seus mais profundos desejos sexuais. Além de cómica na sua essência, revela-nos muito de uma Itália puritana (ou talvez não) e ambos factores conseguem fazer desta curta algo de bem conseguido e do mais forte de todo o filme.
As demais curtas, algumas delas bem curtas, apenas prezam pela repetitividade incansável desta temática e, algumas das quais, sem qualquer tipo de originalidade ou interesse pois, ao acabarmos de a ver damos por nós a pensar "ok... foi isto?".
À excepção de Manfredi que foi senhor e mestre do cinema italiano ao longo de várias décadas, as restantes interpretações não deixam qualquer tipo de saudade ou de marca suficientemente relevante para que nos recordemos dela, acabando apenas por funcionar como seus satélites. E verdade seja dita que mesmo Manfredi é recordado pois participa em todas as curtas que compõem este filme. Não fosse isso e também passaria completamente despercebido neste filme.
Fruto de uma época onde o sexo e a sexualidade eram no fundo assuntos tabu, acredito que este filme na sua estreia tenha feito algum furor e despertado interesse no público de então. Hoje, passados que estão mais de quarenta anos desde a sua estreia duvido que gere o mesmo interesse enquanto filme como então. Poderá sim gerar no sentido de ser fruto de uma época e de uma cultura ou mesmo por ser uma obra de um realizador importantíssimo no cinema italiano mas, não mais do que isso.
É, no fundo, um filme perfeitamente dispensável e que muito pouco, se é que algo, contribui para um momento cinematográfico bem passado mas, para os resistentes que o queiram ver... aguentem-se para poderem ver alguns momentos dignos de interesse porque... são poucos... muito poucos...
.1 / 10
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sexta-feira, 27 de maio de 2011
Globos de Ouro SIC/Caras: Filmes Vencedores 1996 - 2010
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1996 - Adão e Eva
1997 - Cinco Dias, Cinco Noites
1998 - Tentação
1999 - Zona J
2000 - Jaime
2001 - Capitães de Abril
2002 - Je Rentre à la Maison
2003 - A Selva
2004 - Quaresma
2005 - Noite Escura
2006 - Alice
2007 - Coisa Ruim
2008 - Call Girl
2009 - Aquele Querido Mês de Agosto
2010 - Um Amor de Perdição
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Globos de Ouro SIC/Caras: Actrizes Vencedoras 1996 - 2010
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1996 - Maria de Medeiros, em Adão e Eva
1997 - Inês de Medeiros, em Pandora
1998 - Ana Zanatti, em Porto Santo
1999 - Ana Bustorff, em Sapatos Pretos e Zona J
2000 - Ana Bustorff, em Inferno
2001 - Maria de Medeiros, em Capitães de Abril
2002 - Rita Blanco, em Ganhar a Vida
2003 - Alexandra Lencastre, em O Delfim
2004 - Beatriz Batarda, em Quaresma
2005 - Beatriz Batarda, em A Costa dos Murmúrios e Noite Escura
2006 - Ana Moreira, em Adriana
2007 - Isabel Ruth, em Vanitas
2008 - Soraia Chaves, em Call Girl
2009 - Sandra Barata Belo, em Amália
2010 - Catarina Wallenstein, em Salazar, A Vida Privada, Singularidades de uma Rapariga Loira e Um Amor de Perdição
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Globos de Ouro SIC/Caras: Actores Vencedores 1996 - 2010
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1996 - Joaquim de Almeida, em Adão e Eva
1997 - Diogo Infante, em Mortinho por Chegar a Casa
1998 - Joaquim de Almeida, em Tentação
1999 - Diogo Infante, em Pesadelo Cor-de-Rosa
2000 - Vítor Norte, em Jaime e A Sombra dos Abutres
2001 - Vítor Norte, em Tarde Demais
2002 - Joaquim de Almeida, em O Xangô de Baker Street
2003 - Vítor Norte, em O Gotejar da Luz
2004 - Nicolau Breyner, em Os Imortais
2005 - Nicolau Breyner, em Kiss Me e O Milagre Segundo Salomé
2006 - Nuno Lopes, em Alice
2007 - José Afonso Pimentel, em Coisa Ruim
2008 - Ivo Canelas, em Call Girl e O Mistério da Estrada de Sintra
2009 - Nuno Lopes, em Goodnight Irene
2010 - Rui Morrison, em Os Sorrisos do Destino
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quinta-feira, 26 de maio de 2011
Papá Wrestling (2009)
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Papá Wrestling de Fernando Alle foi dos filmes que, admito, me ter deixado de boca aberta nestes últimos tempos. Porquê? Bom... Por um misto daquilo que inicialmente pensava ir ser uma curta dramática devido a cena de bullying rapidamente passei a pensar que ia ser uma de comédia quando vejo o Papá, aqui interpretado por um brilhante Clemente Santos para, ainda mais rápido me dar conta que afinal ia mas era ver uma curta-metragem do mais gore que alguma vez vi em cinema.
Papá Wrestling de Fernando Alle foi dos filmes que, admito, me ter deixado de boca aberta nestes últimos tempos. Porquê? Bom... Por um misto daquilo que inicialmente pensava ir ser uma curta dramática devido a cena de bullying rapidamente passei a pensar que ia ser uma de comédia quando vejo o Papá, aqui interpretado por um brilhante Clemente Santos para, ainda mais rápido me dar conta que afinal ia mas era ver uma curta-metragem do mais gore que alguma vez vi em cinema.
Tudo... mas tudo mesmo, o que se vê na segunda metade desta curta é do mais revoltante para os intestinos (falando nesses... aguardem os instantes finais) que pensei poder ver.
E não... nada disto joga contra esta curta-metragem. Bem pelo contrário ela consegue funcionar na perfeição e em três momentos distintos consegue provocar-nos as mais diversas reacções do drama à comédia e desta ao terror gore.
Aos vândalos que por "aí" existem... Tomem cuidado... Muito cuidado... Nunca se sabe quando um "super-pai" destes vos aparecerá pela frente... Muito, MUITO boa... polegar virado para cima.
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8 / 10
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quarta-feira, 25 de maio de 2011
Estranha Localidade (2010)
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Estranha Localidade de Nuno Fernandes é o revivalismo de alguns filmes de terror teen norte-americano onde todos, ou quase, são esquartejados por alguém no meio de uma qualquer mata.
A ideia, apesar de já vista, está muito bem conseguida e os actores, que seguem alguns dos clichés típicos deste tipo de filmes onde há sempre alguém que desaparece sem que os outros se apercebam e onde, depois de abrir uma porta ou uma janela sai um tarado com um facalhão pronto a trabalhar, conseguem ser credíveis e comportar-se bem durante toda a curta.
Um aspecto menos positivo, e que resulta da limitação de tempo da curta, são as várias sequências da mesma que por vezes parecem não ter um seguimento "lógico", alternando de uma para outra situação sem um seguimento que faça total sentido. Em todo o caso vale a pena vê-la e é bom perceber que o cinema de terror e suspense, pelo menos nas curtas-metragens, tem bons exemplos a nível nacional.
.6 / 10
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terça-feira, 24 de maio de 2011
Os Nerds (2011)
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Os Nerds de Ruben Ferreira é uma curta-metragem portuguesa que em pouco mais de quatorze minutos junta algumas engraçadas referências do cinema.
Um conjunto de nerds, que é como quem diz os tótós lá do sítio, estão sempre a ser vítimas do bullying de uns tipos até que fartos resolvem contratar os serviços de um especialista em estilo.
O trabalho que este tem em modificá-los é digno de uma Pretty Woman mas actualizado aos nossos dias onde agora escarrar também faz parte da transformação... mas o que é certo é que resulta!
Muita comédia e bom humor com uma cena de pancadaria final para pôr tudo em ordem esta curta resulta com momentos de boa disposição que a todos dão vontade de rir.
Gostava de ver esta com alguma duração a mais para ver uma transformação mais demorada que mostrasse todo um processo doloroso pelo qual os nerds passariam. No entanto para a duração que tem resulta francamente bem.
.6 / 10
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segunda-feira, 23 de maio de 2011
A Mulher do Soldado (2008)
A Mulher do Soldado de Artur Ribeiro é um dos telefilmes que a TVI produziu no segmento de Casos da Vida e este conta com as participações de Sandra Santos e Gustavo Vargas nos desempenhos principais e secundados por actores como Nicolau Breyner, Pedro Lamares, Teresa Madruga e Cândido Ferreira.
Esta história começa com a ida de João (Vargas) numa missão para o Iraque e que deixa para trás Marlene (Santos) a sua mulher grávida.
Notamos que existe alguma tensão entre João e António (Ferreira), que considera que o genro apenas parte para outro país para matar mulheres e crianças. Factor este que gera também discordia entre António e José (Breyner), pai de João, e que os leva a acesas discussões no café da aldeia.
Quando João regressa, já nascido o seu filho, nota-se que vem distante e indiferente para a família. Sabemos então que tem stress pós-traumático e que se recusa a ser acompanhado. Queremos então saber que efeitos terá isto na sua família...
Este telefilme, para o qual admito ter estado com alguma expectativa, tem aqui uns quantos assuntos que poderiam ter feito dele algo mais do que aquilo que acabou por ser o resultado final.
A vida na pequena aldeia do interior, uma jovem família que em breve irá crescer, as tensões entre aqueles que defendem as missões de paz e aqueles que as condenam vincadamente, o stress pós-traumático, a incapacidade de quem o tem voltar a inserir-se normalmente em sociedade e também a possibilidade de uma família desfeita ter ou não uma chance de ser reconstruída ou se acaba desfeita tal como a haviamos conhecido.
Muitos argumentos que acabam quase desfeitos com interpretações pouco trabalhadas, duvido que por culpa dos brilhantes actores que tem, mas sim do formato que os impede de desenvolverem as suas prestações.
Estes telefilmes apresentados pela TVI estão a milhas de distância da qualidade exigida e não fazem honra aos argumentos que focam tantos e tantos temas que poderiam ser do interesse de qualquer um de nós. Assim só nos limitamos a ter algumas histórias que dão voltas e mais voltas às temáticas realmente importantes e, quando está para acontecer algum desfecho, ele é tão rápido que não percebemos bem o porquê de ter acontecido naquele exacto momento.
Resumidamente... tem muito boas intenções, actores capazes de fazer bom mas que, por força de algumas circunstâncias, não ultrapassam o mediano acabando por, tendo tudo visto, de se ficar pelo muito pobre e praticamente esquecido.
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4 / 10
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domingo, 22 de maio de 2011
Cannes 2011: palmarés
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Palma de Ouro: The Tree of Life, de Terrence Mallick
Grande Prémio: Le Gamin au Vélo, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne e Once Upon a Time in Anatolya, de Nuri Bilge Ceylan
Interpretação Masculina: Jean Dujardin, The Artist
Interpretação Feminina: Kirsten Dunst, Melancholia
Realizador: Nicholas Winding Refn, em Drive
Prémio do Júri: Polisse, de Maïwenn
Argumento: Joseph Cedar, em Hearat Shulayim
Camera d'Or: Las Acacias, de Pablo Giorgelli
Un Certain Regard: Elena, de Andrey Avyagintsev
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Palma de Ouro: The Tree of Life, de Terrence Mallick
Grande Prémio: Le Gamin au Vélo, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne e Once Upon a Time in Anatolya, de Nuri Bilge Ceylan
Interpretação Masculina: Jean Dujardin, The Artist
Interpretação Feminina: Kirsten Dunst, Melancholia
Realizador: Nicholas Winding Refn, em Drive
Prémio do Júri: Polisse, de Maïwenn
Argumento: Joseph Cedar, em Hearat Shulayim
Camera d'Or: Las Acacias, de Pablo Giorgelli
Un Certain Regard: Elena, de Andrey Avyagintsev
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sábado, 21 de maio de 2011
Isolated (2011)
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Isolados de Jack De La Mare é uma curta-metragem britânica de terror que ressuscita uma vez mais aquela temática inesgotável para este género... os zombies.
Um casal encontra-se num local isolado e tenta escapar a um bando de zombies que, como é óbvio, querem arranjar uma parte da sua carne ainda suculenta e cheia de sangue.
Os resultados, tal como podemos antever são... casal ZERO... zombies DOIS. Raros são os acasos onde os vivos lá conseguem triunfar e este não é, decididamente, um desses casos.
Com uma caracterização interessante mas um francamente fraco trabalho de fotografia que dá origem à perda de muitos detalhes que poderiam ser abonatórios para a curta. Ainda assim esta consegue recriar um clima um tanto ou quanto tenso mas novidade não tem nenhuma.
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.6 / 10
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sexta-feira, 20 de maio de 2011
Vejo-te Quando lá Chegares (2008)
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Vejo-te Quando Lá Chegares de Filipe Henriques é possivelmente uma das melhores curtas-metragens nacionais que vi até à presente data.
Baldo (Daniel Martinho) espera por um importante telefonema. Talvez o mais importante de toda a sua vida. Xavier (Joaquim Horta) precisa daquele telefone para socorrer uma pessoa. Os interesses destes dois homens, embora direccionados para duas pessoas diferentes, são aqueles que os irão para sempre definir como Homens.
Não quero adiantar nada além desta pequena descrição. Acho que é daqueles trabalhos que têm de ser vistos, apreciados e compreendidos.
Tanto Daniel Martinho como Joaquim Horta têm simples mas bem complexas interpretações como dois homens que, distantes no seu percurso, se encontram ali a partilhar as histórias das suas vidas como se dois amigos fossem. Os trágicos passados que ambos têm acabam por criar uma ligação que ficará para sempre marcada.
Curioso também o facto de Filipe Henriques, o realizador, ter um tão importante tema de desrespeito pelos Direitos Humanos como pano de fundo desta intensa e muito bem filmada curta-metragem. Muito bem pensado, e escrito, o argumento que é também da sua autoria neste tão interessante e bem feito trabalho de cujo realizador espero por futuros trabalhos.
.8 / 10
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quinta-feira, 19 de maio de 2011
The Crush (2010)
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The Crush de Michael Creagh é uma curta-metragem irlandesa nomeada este ano ao Oscar na sua categoria que nos conta a história de um rapaz de oito anos que se apaixona pela sua professora e acha que o seu noivo não a merece. Decidido e determinado a lutar pela sua paixão desafia-o para um duelo... até à morte.
Merecida que foi a nomeação ao Oscar na cerimónia deste ano esta simpática curta não deixa de nos mostrar um lado bem perigoso, e quase sempre esquecido, que se prende com o facto de muitas crianças terem ao seu alcance armas que sempre suscitam curiosidades que por vezes podem ser mortais.
Além de nos alertar para este facto esta curta não deixa de ser uma simpática história da primeira paixoneta de uma criança que tudo fará para a ver concretizada.
.7 / 10
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quarta-feira, 18 de maio de 2011
Slipstream (2007)
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Slipstream - A Vida como um Filme de Anthony Hopkins e por onde o próprio actua juntamente com Christian Slater, Michael Clarke Duncan e Fionnula Flanagan, centra-se na vida de Bonhoeffer (Hopkins) um argumentista que está em puro estado de delírio, onde as suas personagens invadem a sua vida real confundindo a realidade em que de facto se encontra.
Felix Bonhoeffer vive assim entre uma realidade e uma ficção que se confundem entre si e tanto as pessoas que preenchem a sua vida como as personagens que criou ao longo dos anos para os seus argumento co-habitam nos mesmos espaços e nas mesmas situações tornando difícil para Felix perceber afinal onde é que se encontra.
A nível de interpretações o filme é fraco. Mesmo se considerarmos que tem um conjunto de actores principais e secundários com alguma relevância. Acabam por também elas viver no meio da confusão e nunca chegarem ao ponto de se poder apontar uma completa onde, o actor ou actriz, consigam de facto tornar-se consistentes.
Deambulando entre uma e outra situação que em vez de se concretizarem acabam apenas por se tornar "mais uma", o filme é, do princípio até ao final, de uma inconstância sem fim o que apenas confirma que Bonhoeffer está de facto demente e sem qualquer noção da realidade (algo que arrisco dizer até nós ficamos depois de assistir a este filme).
Hopkins que aqui serve de realizador, argumentista, compositor e actor acaba por desiludir em todas as frentes. Não há uma em que se destaque pela positiva ou sequer pelo "menos mau", fazendo deste desconexo filme algo muito difícil de digerir e que aborrece dos primeiros aos últimos minutos.
Completamente dispensável e exagerado com boas mas incompletas intenções este é daqueles filmes que seguramente qualquer um de nós viveria bem sem ele.
.Felix Bonhoeffer vive assim entre uma realidade e uma ficção que se confundem entre si e tanto as pessoas que preenchem a sua vida como as personagens que criou ao longo dos anos para os seus argumento co-habitam nos mesmos espaços e nas mesmas situações tornando difícil para Felix perceber afinal onde é que se encontra.
A nível de interpretações o filme é fraco. Mesmo se considerarmos que tem um conjunto de actores principais e secundários com alguma relevância. Acabam por também elas viver no meio da confusão e nunca chegarem ao ponto de se poder apontar uma completa onde, o actor ou actriz, consigam de facto tornar-se consistentes.
Deambulando entre uma e outra situação que em vez de se concretizarem acabam apenas por se tornar "mais uma", o filme é, do princípio até ao final, de uma inconstância sem fim o que apenas confirma que Bonhoeffer está de facto demente e sem qualquer noção da realidade (algo que arrisco dizer até nós ficamos depois de assistir a este filme).
Hopkins que aqui serve de realizador, argumentista, compositor e actor acaba por desiludir em todas as frentes. Não há uma em que se destaque pela positiva ou sequer pelo "menos mau", fazendo deste desconexo filme algo muito difícil de digerir e que aborrece dos primeiros aos últimos minutos.
Completamente dispensável e exagerado com boas mas incompletas intenções este é daqueles filmes que seguramente qualquer um de nós viveria bem sem ele.
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1 / 10
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terça-feira, 17 de maio de 2011
O Barão (2011)
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O Barão de Edgar Pêra que passou na última edição do IndieLisboa e com estreia prevista no circuito comercial em Portugal em Setembro de 2011 era por si só um evento cinematográfico. Porquê? Simplesmente por deter a marca inconfundível de Edgar Pêra. Marca essa que já nos deu brilhantes filmes como A Janela - Maryalva Mix ou o telefilme 8 8.
Neste filme seguimos a viagem de um Inspector do Ministério (Marcos Barbosa) que vai investigar a acção de uma professora (Marina Albuquerque) numa localidade do Portugal profundo nos idos anos da ditadura. É nesta povoação que é no mínimo retirada de um filme vampiresco onde as sombras, os ruídos e o ambiente de forma geral rondam de muito perto o set ideal para que algo de macabro venha a suceder.
Numa noite escura o Inspector chega finalmente ao seu destino e, pouco depois de iniciar o questionário à professora, esta fala-lhe no Barão, o senhor da povoação que todos aparentemente temem.
Ao mesmo tempo que fala no Barão (Nuno Melo) este como que das sombras aparece, e damos por nós já à porta do seu enorme castelo. É aqui que ficamos a perceber o porquê de toda aquela população sentir medo quando é referido numa conversa o Barão. Este é uma figura sinistra que tanto tem de fantasmagórico como de vampírico, de louco e de renegado, de mau e de cómico e sempre... sempre muito corrosivo e que não se cansa de proferir a frase "Quem manda aqui sou eu".
Este brilhante filme de Edgar Pêra, mais um que se note, tem tantos pontos positivos que acabo por não saber bem por onde começar por isso vou iniciar pelas interpretações.
Começando pela de Marcos Barbosa, o Inspector, que se encontra perdido num local onde tudo parece ora estranho ora pior chegando mesmo a ser sinistro, tem aquela interpretação que sofre a maior mutação de todo o filme. É ele que chegado a tão estranho local se encontra perdido e receoso com o que vai encontrar e que à medida que toma contacto com todas aquelas personagens e situações se transforma num homem mais seguro de si e ávido por ser ele a "mandar" em tal atmosfera. De um calmo funcionário público contrariado por ir para um local longe de tudo e de todos acaba por ser ele a sentir a maior vontade de permanecer por tão estranha localidade e dar continuidade a uma perversa ideia de poder e de controle sobre tudo e todos os que o rodeiam.
Leonor Keil que interpreta Idalina, empregada e objecto de desejo do Barão, e do Inspector, tem o papel feminino de maior destaque. Aparentemente vítima e prisioneira dentro de tão sombrio castelo, cedo se revela como uma personagem tão forte quanto as demais masculinas que povoam este filme. Forte e também uma que pela silêncio das sombras consegue manter grande controle sobre o Barão, seu suposto carcereiro.
E claro, aquele que é possivelmente o grande deste filme, Nuno Melo que personifica o Barão dando-lhe não só corpo como principalmente alma, garantindo-nos uma das suas maiores interpretações de sempre. A sua presença relembra-nos Christopher Lee e a sua enorme classe controlada nos antigos filmes de vampiros. No entanto rapidamente percebemos que as semelhanças ficam-se apenas por uma aparência momentânea pois, quando ele começa a falar sobre o mundo a que já assistiu, e assiste, depressa percebemos que estamos na presença de um louco que nada faz para disfarçar a sua falta de controle. Loucura esta, quase animal, que todos os habitantes da aldeia temem. Todos lhe vivem subservientes e receosos de qualquer referência que o englobe. Afinal, quem manda ali é ele.
Ponto igualmente forte deste filme é o extraordinária trabalho de direcção de fotografia assinado por Luís Branquinho, neto de Branquinho da Fonseca, autor da obra original que deu vida a este filme. A imagem a preto e branco é francamente positiva. Se pensarmos que este é um filme português, facto que ainda assusta muitas pessoas de irem ver um filme (infelizmente), que temos uma história ambientada no terror e ainda por cima a preto e branco, muitos vão pensar que não vale a pena e que o filme vai ser uma perda de tempo. Muito pelo contrário. É exactamente aqui que reside muito do potencial que este filme tem. Não nego que se tivesse cor seria um espectáculo de vida, e confirmamos isso nos breves momentos em que a temos, mas este não é um filme sobre vida. É um filme exactamente sobre a sua ausência. É uma história que nos relata de diversas formas a ausência de amor de que as suas personagens foram vítimas e como tal da ausência de sentir e de viver que isso lhes provocou.
Além deste importante aspecto, a própria imagem a preto e branco provoca o ambiente que se quer para um filme que, como já referi, é quase vampírico. Queremos ver uma história de vampiros feita "à moda antiga". Com cenários sombrios, escuros, onde as sombras ganham uma vida própria e onde o poder sa sugestão e da ilusão estão presentes.
A morte do Barão foi o único momento em que durante todo o filme, temos cor, e bem viva... Foi esta que o libertou de uma vida cinzenta e ausente de amor. Ausente de atenção, excepto aquela que ele próprio provocava graças à sua presença sem modos, grotesca e esgotada, sempre através do uso da força e da dominação.
Finalmente é impossível não referenciar igualmente pela positiva, aliás bem pela positiva, um dos elementos mais originais que um filme alguma vez dera ao seu público... a banda-sonora. Não, não temos um maestro reputadíssimo encarregue de musicar este filme. Temos no entanto o grupo Vozes da Rádio que o sonoriza na sua totalidade, com sonoridades e músicas feitas exactamente para criar a tal atmosfera draculiana que as imagens já nos transmitem. Simplesmente perfeito e genial não só pela sua qualidade musical como principalmente pela brilhante originalidade do conceito. Se todo o filme já estava perfeito... este foi o toque de genialidade. E para quem duvida disto que não abandone a sala de cinema até ao último momento... mesmo depois dos créditos finais começarem a passar... nem tudo acabou... Deixem-se estar e aguardem para o momento de pura e divina comédia.
Não é assunto tabu para ninguém que sou um fã incondicional e assumido da obra de Edgar Pêra, não só pelas histórias que filma como pelo seu toque próprio que deixa em qualquer dos seus filmes. Quando vemos um filme assinado por si sabemos exactamente de quem se trata sem ser preciso vermos o nome do realizador.
Agrada-me saber que há em Portugal não só quem filme histórias ditas "eruditas" quando todos sabemos que no cinema há lugar para todo o tipo de histórias e todo o tipo de visões sobre as mesmas. É essa a genialidade do cinema... ser capaz de contar tudo... a todos.
Digo sem reservas, e ainda nem a meio do ano vamos, que este será um dos grandes filmes do ano, e um dos grandes filmes da cinematografia portuguesa (e não só) que alguma vez iremos ver. Em Setembro quando estrear, não se deixem travar por pensarem que é um filme português (como se isto fosse mau), arrisquem e confiem neste filme. Vão vê-lo.
Quanto a Edgar Pêra... quero mais... mais... e mais... Aqui tem um fã que já aguarda pelo seu próximo trabalho.
.Neste filme seguimos a viagem de um Inspector do Ministério (Marcos Barbosa) que vai investigar a acção de uma professora (Marina Albuquerque) numa localidade do Portugal profundo nos idos anos da ditadura. É nesta povoação que é no mínimo retirada de um filme vampiresco onde as sombras, os ruídos e o ambiente de forma geral rondam de muito perto o set ideal para que algo de macabro venha a suceder.
Numa noite escura o Inspector chega finalmente ao seu destino e, pouco depois de iniciar o questionário à professora, esta fala-lhe no Barão, o senhor da povoação que todos aparentemente temem.
Ao mesmo tempo que fala no Barão (Nuno Melo) este como que das sombras aparece, e damos por nós já à porta do seu enorme castelo. É aqui que ficamos a perceber o porquê de toda aquela população sentir medo quando é referido numa conversa o Barão. Este é uma figura sinistra que tanto tem de fantasmagórico como de vampírico, de louco e de renegado, de mau e de cómico e sempre... sempre muito corrosivo e que não se cansa de proferir a frase "Quem manda aqui sou eu".
Este brilhante filme de Edgar Pêra, mais um que se note, tem tantos pontos positivos que acabo por não saber bem por onde começar por isso vou iniciar pelas interpretações.
Começando pela de Marcos Barbosa, o Inspector, que se encontra perdido num local onde tudo parece ora estranho ora pior chegando mesmo a ser sinistro, tem aquela interpretação que sofre a maior mutação de todo o filme. É ele que chegado a tão estranho local se encontra perdido e receoso com o que vai encontrar e que à medida que toma contacto com todas aquelas personagens e situações se transforma num homem mais seguro de si e ávido por ser ele a "mandar" em tal atmosfera. De um calmo funcionário público contrariado por ir para um local longe de tudo e de todos acaba por ser ele a sentir a maior vontade de permanecer por tão estranha localidade e dar continuidade a uma perversa ideia de poder e de controle sobre tudo e todos os que o rodeiam.
Leonor Keil que interpreta Idalina, empregada e objecto de desejo do Barão, e do Inspector, tem o papel feminino de maior destaque. Aparentemente vítima e prisioneira dentro de tão sombrio castelo, cedo se revela como uma personagem tão forte quanto as demais masculinas que povoam este filme. Forte e também uma que pela silêncio das sombras consegue manter grande controle sobre o Barão, seu suposto carcereiro.
E claro, aquele que é possivelmente o grande deste filme, Nuno Melo que personifica o Barão dando-lhe não só corpo como principalmente alma, garantindo-nos uma das suas maiores interpretações de sempre. A sua presença relembra-nos Christopher Lee e a sua enorme classe controlada nos antigos filmes de vampiros. No entanto rapidamente percebemos que as semelhanças ficam-se apenas por uma aparência momentânea pois, quando ele começa a falar sobre o mundo a que já assistiu, e assiste, depressa percebemos que estamos na presença de um louco que nada faz para disfarçar a sua falta de controle. Loucura esta, quase animal, que todos os habitantes da aldeia temem. Todos lhe vivem subservientes e receosos de qualquer referência que o englobe. Afinal, quem manda ali é ele.
Ponto igualmente forte deste filme é o extraordinária trabalho de direcção de fotografia assinado por Luís Branquinho, neto de Branquinho da Fonseca, autor da obra original que deu vida a este filme. A imagem a preto e branco é francamente positiva. Se pensarmos que este é um filme português, facto que ainda assusta muitas pessoas de irem ver um filme (infelizmente), que temos uma história ambientada no terror e ainda por cima a preto e branco, muitos vão pensar que não vale a pena e que o filme vai ser uma perda de tempo. Muito pelo contrário. É exactamente aqui que reside muito do potencial que este filme tem. Não nego que se tivesse cor seria um espectáculo de vida, e confirmamos isso nos breves momentos em que a temos, mas este não é um filme sobre vida. É um filme exactamente sobre a sua ausência. É uma história que nos relata de diversas formas a ausência de amor de que as suas personagens foram vítimas e como tal da ausência de sentir e de viver que isso lhes provocou.
Além deste importante aspecto, a própria imagem a preto e branco provoca o ambiente que se quer para um filme que, como já referi, é quase vampírico. Queremos ver uma história de vampiros feita "à moda antiga". Com cenários sombrios, escuros, onde as sombras ganham uma vida própria e onde o poder sa sugestão e da ilusão estão presentes.
A morte do Barão foi o único momento em que durante todo o filme, temos cor, e bem viva... Foi esta que o libertou de uma vida cinzenta e ausente de amor. Ausente de atenção, excepto aquela que ele próprio provocava graças à sua presença sem modos, grotesca e esgotada, sempre através do uso da força e da dominação.
Finalmente é impossível não referenciar igualmente pela positiva, aliás bem pela positiva, um dos elementos mais originais que um filme alguma vez dera ao seu público... a banda-sonora. Não, não temos um maestro reputadíssimo encarregue de musicar este filme. Temos no entanto o grupo Vozes da Rádio que o sonoriza na sua totalidade, com sonoridades e músicas feitas exactamente para criar a tal atmosfera draculiana que as imagens já nos transmitem. Simplesmente perfeito e genial não só pela sua qualidade musical como principalmente pela brilhante originalidade do conceito. Se todo o filme já estava perfeito... este foi o toque de genialidade. E para quem duvida disto que não abandone a sala de cinema até ao último momento... mesmo depois dos créditos finais começarem a passar... nem tudo acabou... Deixem-se estar e aguardem para o momento de pura e divina comédia.
Não é assunto tabu para ninguém que sou um fã incondicional e assumido da obra de Edgar Pêra, não só pelas histórias que filma como pelo seu toque próprio que deixa em qualquer dos seus filmes. Quando vemos um filme assinado por si sabemos exactamente de quem se trata sem ser preciso vermos o nome do realizador.
Agrada-me saber que há em Portugal não só quem filme histórias ditas "eruditas" quando todos sabemos que no cinema há lugar para todo o tipo de histórias e todo o tipo de visões sobre as mesmas. É essa a genialidade do cinema... ser capaz de contar tudo... a todos.
Digo sem reservas, e ainda nem a meio do ano vamos, que este será um dos grandes filmes do ano, e um dos grandes filmes da cinematografia portuguesa (e não só) que alguma vez iremos ver. Em Setembro quando estrear, não se deixem travar por pensarem que é um filme português (como se isto fosse mau), arrisquem e confiem neste filme. Vão vê-lo.
Quanto a Edgar Pêra... quero mais... mais... e mais... Aqui tem um fã que já aguarda pelo seu próximo trabalho.
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"Inspector: Desejar é uma força que às vezes desaparece inesperadamente."
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10 / 10
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segunda-feira, 16 de maio de 2011
Festival Ibérico de Cinema 2011: Palmarés
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Premio ONOFRE MEJOR CORTOMETRAJE: La Gran Carrera, de Kote Camacho
ONOFRE al segundo mejor cortometraje: Panchito, de Arantxa Echevarría
ONOFRE DEL PÚBLICO: Una Flor en Recepción, de Marta Parreño
Premio CEXECI del Jurado Joven: Vicenta, de Sam
ONOFRE al mejor Director: Alauda Ruiz de Azúa, em Dicen
ONOFRE al mejor Guión: Carlos Bouvier, em Pecera
ONOFRE a la mejor interpretación femenina: Pilar Castro, em El Premio
ONOFRE a la mejor interpretación masculina: Luis Zahera, em El Premio
ONOFRE a la Mejor Banda Sonora: Pablo Cervantes, em Adiós Papá, Adiós Mamá
Premio A.E.C. a la mejor Fotografía: Adrián Hernández, em Fase Terminal
MENCIÓN ESPECIAL DEL JURADO PARA EL CORTOMETRAJE: Os Olhos do Farol, de Pedro Serrazina
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Premio ONOFRE MEJOR CORTOMETRAJE: La Gran Carrera, de Kote Camacho
ONOFRE al segundo mejor cortometraje: Panchito, de Arantxa Echevarría
ONOFRE DEL PÚBLICO: Una Flor en Recepción, de Marta Parreño
Premio CEXECI del Jurado Joven: Vicenta, de Sam
ONOFRE al mejor Director: Alauda Ruiz de Azúa, em Dicen
ONOFRE al mejor Guión: Carlos Bouvier, em Pecera
ONOFRE a la mejor interpretación femenina: Pilar Castro, em El Premio
ONOFRE a la mejor interpretación masculina: Luis Zahera, em El Premio
ONOFRE a la Mejor Banda Sonora: Pablo Cervantes, em Adiós Papá, Adiós Mamá
Premio A.E.C. a la mejor Fotografía: Adrián Hernández, em Fase Terminal
MENCIÓN ESPECIAL DEL JURADO PARA EL CORTOMETRAJE: Os Olhos do Farol, de Pedro Serrazina
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California Dreamin' (Nesfarsit) (2007)
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California Dreamin' de Cristian Nemescu que não chegou a ver o seu filme concluído por ter falecido num acidente antes da conclusão do mesmo, tem apenas como actor mais conhecido Armand Assante que aqui interpreta um militar norte-americano que se dirige para uma missão nos Balcãs.
Ao efectuar essa viagem o Capitão Doug Jones (Assante) e o grupo de homens que comanda, tem de passar por uma pequena aldeia romena onde se deparam com Doiaru (Razvan Vasilescu), o encarregado da estação que não quer saber das ordens que Bucareste enviou mas sim de alguém que se responsabilize pela passagem do material bélico pela sua estação.
Esta sua medida irá fazer com que os militares norte-americanos fiquem impedidos de continuar viagem e retidos nesta pequena aldeia romena onde terão não só de lidar com o pequeno precalço como também com a população local que está sedenta de se relacionar com eles das mais diversas formas.
Este filme que tem como grande marco o facto do seu realizador nunca ter assistido à sua estreia, tornando-o assim na sua obra máxima que chegou inclusive a ser galardoada em Cannes, mostra-nos o interior profundo de uma Roménia recentemente aberta ao exterior e às grandes operações militares internacionais que assolaram o leste da Europa no final do século passado.
Encontramos um perfeito choque de civilizações numa altura crucial para a paz (e a guerra) que assolavam uma vez mais o continente. Por um lado uma população recentemente saída de um regime comunista opressor que ansiava por uma abertura ao ocidente e que tem ali o encontro com o seu expoente máximo... os militares norte-americanos. E estes que, longe do seu país e a caminho de mais um conflito, viam naqueles momentos de tranquilidade, de amor e de convívio com aquelas pessoas, uma forma de esquecerem os seus reais propósitos que os levavam a encontrar-se ali perdidos no meio de nenhures.
Temos também o exemplo perfeito de como a burocracia pode parar uma qualquer missão, neste caso a militar, e como é esta mesma que muita vez lança o caos e a desordem em situações que poderiam simplesmente ser... simples.
Finalmente temos a boa e velha história de como mal entendidos do passado que não sejam resolvidos podem assombrar o presente (e o futuro) e determinar assim as vidas de muitos dos seus intervenientes. São estes mesmos ódios alimentados que perturbam e proibem muitas vezes os avanços das sociedades globais e das comunidades locais que acabam assim por nunca recuperar de um passado mal resolvido.
Este filme apesar de interessante e dar um retrato mais ou menos fiel de países que apesar de partilharem o mesmo espaço geográfico que o meu, deles pouco se conhece, não me impressionou como sendo uma obra-prima do género. No entanto, não deixa de ser um bom filme que retrata o dia-a-dia de uma pequena comunidade que poderia ser localizada em qualquer parte do globo e das pequenas e loucas vivências daqueles que dela fazem parte, na ânsia por um dia e um futuro melhor do que aquele a que tem sido sujeitos anos e anos sem fim.
Interessante, mas não brilhante, prima por alguns momentos de descontraída comédia que alegram muitos dos demais monótonos momentos do filme. Mas... vale sempre a pena ver se conseguirmos aguentar a sua excessiva duração que ultrapassa as duas horas de filme.
Este filme que tem como grande marco o facto do seu realizador nunca ter assistido à sua estreia, tornando-o assim na sua obra máxima que chegou inclusive a ser galardoada em Cannes, mostra-nos o interior profundo de uma Roménia recentemente aberta ao exterior e às grandes operações militares internacionais que assolaram o leste da Europa no final do século passado.
Encontramos um perfeito choque de civilizações numa altura crucial para a paz (e a guerra) que assolavam uma vez mais o continente. Por um lado uma população recentemente saída de um regime comunista opressor que ansiava por uma abertura ao ocidente e que tem ali o encontro com o seu expoente máximo... os militares norte-americanos. E estes que, longe do seu país e a caminho de mais um conflito, viam naqueles momentos de tranquilidade, de amor e de convívio com aquelas pessoas, uma forma de esquecerem os seus reais propósitos que os levavam a encontrar-se ali perdidos no meio de nenhures.
Temos também o exemplo perfeito de como a burocracia pode parar uma qualquer missão, neste caso a militar, e como é esta mesma que muita vez lança o caos e a desordem em situações que poderiam simplesmente ser... simples.
Finalmente temos a boa e velha história de como mal entendidos do passado que não sejam resolvidos podem assombrar o presente (e o futuro) e determinar assim as vidas de muitos dos seus intervenientes. São estes mesmos ódios alimentados que perturbam e proibem muitas vezes os avanços das sociedades globais e das comunidades locais que acabam assim por nunca recuperar de um passado mal resolvido.
Este filme apesar de interessante e dar um retrato mais ou menos fiel de países que apesar de partilharem o mesmo espaço geográfico que o meu, deles pouco se conhece, não me impressionou como sendo uma obra-prima do género. No entanto, não deixa de ser um bom filme que retrata o dia-a-dia de uma pequena comunidade que poderia ser localizada em qualquer parte do globo e das pequenas e loucas vivências daqueles que dela fazem parte, na ânsia por um dia e um futuro melhor do que aquele a que tem sido sujeitos anos e anos sem fim.
Interessante, mas não brilhante, prima por alguns momentos de descontraída comédia que alegram muitos dos demais monótonos momentos do filme. Mas... vale sempre a pena ver se conseguirmos aguentar a sua excessiva duração que ultrapassa as duas horas de filme.
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4 / 10
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domingo, 15 de maio de 2011
IndieLisboa 2011: palmarés
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Grande Prémio de Longa Metragem «Cidade de Lisboa»: The Ballad of Genesis and Lady Jaye, de Marir Losier
Grande Prémio de Longa Metragem «Cidade de Lisboa» - Menção Honrosa: La BM du Seigneur, de Jean-Charles Hue
Melhor Longa-Metragem Portuguesa: Linha Vermelha, de José Filipe Costa
Prémio de Distribuição: Morgen, de Marian Crisan
Grande Prémio para Curta-Metragem: The Story of Elfranko Wessels, de Erik Moskowtiz e Armanda Trager
Grande Prémio para Curta-Metragem - Menção Honrosa: Diane Wellington, de Arnaud des Pallières
Grande Prémio para Curta-Metragem - Menção Honrosa: La Fôret, de Lionel Rupp
Grande Prémio para Curta-Metragem - Menção Honrosa: The Painting Sellers, de Juho Kuosmanen
Prémio para Melhor Curta-Metragem Portuguesa: Alvorada Vermelha, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata
Prémio para Melhor Realizador Português de Curta-Metragem (ex aequo): Gabriel Abrantes, por Liberdade e Marco Martins e Filipa César, por Insert
Prémio Novo Talento: Patrick Mendes, por Homenagem a Quem Não Tem Onde Cair Morto
Prémio Pulsar do Mundo: I Will Forget Ths Day, de Alina Rudnitskaya
Prémio Pulsar do Mundo - Menção Honrosa: Pallazzo Delle Aquile, de Stefano Savona, Alessia Porto e Ester Sparatore
Prémio para Melhor Longa Metragem Portuguesa de Ficção: O Que Há de Novo no Amor?, de Hugo Martins, Hugo Alves, Mónica Santana Baptista, Patrícia Raposo, Rui Santos e Tiago Nunes
Prémio para Melhor Documentário de Longa Metragem Português: Eden, de Daniel Blaufuks
Prémio RTP2 Onda Curta: Diane Wellington, de Arnaud des Pallières e How To Pick Berries, de Elina Talvensaari e I Don't Blame The Beautiful Game, de Christopher Arcella e Nuit Blanche, de Samuel Tilman
Prémio Signis - Árvore da Vida: La Ilusión Te Queda, de Márcio Laranjeira e Francisco Lezama
Prémio Signis - Árvore da Vida - Menção Honrosa: Swans, de Hugo Vieira da Silva
Prémio Signis - Árvore da Vida - Menção Honrosa: Os Milionários, de Mário Gajo de Carvalho
Prémio de Melhor Imagem para Longa Metragem Portuguesa: Carlos Lopes "Cácá", por América
Prémio de Melhor Imagem para Longa Metragem Portuguesa - Menção Honrosa: Luís Branquinho, por O Barão
Prémio de Melhor Imagem para Curta-Metragem Portuguesa: Takashi Sugimoto, por Wakasa
Prémio Amnistia Internacional: Cleveland Contre Wall Street, de Jean-Stéphane Bron
Prémio Amnistia Internacional - Menção Honrosa: I Will Forget This Day, de Alina Rudnitskaya
Prémio do Público - Melhor Longa Metragem: Cleveland Contre Wall Street, de Jean-Stéphane Bron
Prémio do Público - Melhor Curta-Metragem: Paris Shangai, de Thomas Cailley
Prémio Melhor Filme Indiejúnior: My Good Enemy, de Oliver Ussing
Prémio Melhor Filme Indiejúnior - Menção Honrosa: Les Mains En L'air, de Romain Goupil
Prémio Melhor Filme Indiejúnior - Menção Honrosa: Cul de Bouteille, de Jean-Claude Rozec
Prémio do Público Indiejúnior: Things You'd Better Not Mix Up, de Joost Lieuwma
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Grande Prémio de Longa Metragem «Cidade de Lisboa»: The Ballad of Genesis and Lady Jaye, de Marir Losier
Grande Prémio de Longa Metragem «Cidade de Lisboa» - Menção Honrosa: La BM du Seigneur, de Jean-Charles Hue
Melhor Longa-Metragem Portuguesa: Linha Vermelha, de José Filipe Costa
Prémio de Distribuição: Morgen, de Marian Crisan
Grande Prémio para Curta-Metragem: The Story of Elfranko Wessels, de Erik Moskowtiz e Armanda Trager
Grande Prémio para Curta-Metragem - Menção Honrosa: Diane Wellington, de Arnaud des Pallières
Grande Prémio para Curta-Metragem - Menção Honrosa: La Fôret, de Lionel Rupp
Grande Prémio para Curta-Metragem - Menção Honrosa: The Painting Sellers, de Juho Kuosmanen
Prémio para Melhor Curta-Metragem Portuguesa: Alvorada Vermelha, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata
Prémio para Melhor Realizador Português de Curta-Metragem (ex aequo): Gabriel Abrantes, por Liberdade e Marco Martins e Filipa César, por Insert
Prémio Novo Talento: Patrick Mendes, por Homenagem a Quem Não Tem Onde Cair Morto
Prémio Pulsar do Mundo: I Will Forget Ths Day, de Alina Rudnitskaya
Prémio Pulsar do Mundo - Menção Honrosa: Pallazzo Delle Aquile, de Stefano Savona, Alessia Porto e Ester Sparatore
Prémio para Melhor Longa Metragem Portuguesa de Ficção: O Que Há de Novo no Amor?, de Hugo Martins, Hugo Alves, Mónica Santana Baptista, Patrícia Raposo, Rui Santos e Tiago Nunes
Prémio para Melhor Documentário de Longa Metragem Português: Eden, de Daniel Blaufuks
Prémio RTP2 Onda Curta: Diane Wellington, de Arnaud des Pallières e How To Pick Berries, de Elina Talvensaari e I Don't Blame The Beautiful Game, de Christopher Arcella e Nuit Blanche, de Samuel Tilman
Prémio Signis - Árvore da Vida: La Ilusión Te Queda, de Márcio Laranjeira e Francisco Lezama
Prémio Signis - Árvore da Vida - Menção Honrosa: Swans, de Hugo Vieira da Silva
Prémio Signis - Árvore da Vida - Menção Honrosa: Os Milionários, de Mário Gajo de Carvalho
Prémio de Melhor Imagem para Longa Metragem Portuguesa: Carlos Lopes "Cácá", por América
Prémio de Melhor Imagem para Longa Metragem Portuguesa - Menção Honrosa: Luís Branquinho, por O Barão
Prémio de Melhor Imagem para Curta-Metragem Portuguesa: Takashi Sugimoto, por Wakasa
Prémio Amnistia Internacional: Cleveland Contre Wall Street, de Jean-Stéphane Bron
Prémio Amnistia Internacional - Menção Honrosa: I Will Forget This Day, de Alina Rudnitskaya
Prémio do Público - Melhor Longa Metragem: Cleveland Contre Wall Street, de Jean-Stéphane Bron
Prémio do Público - Melhor Curta-Metragem: Paris Shangai, de Thomas Cailley
Prémio Melhor Filme Indiejúnior: My Good Enemy, de Oliver Ussing
Prémio Melhor Filme Indiejúnior - Menção Honrosa: Les Mains En L'air, de Romain Goupil
Prémio Melhor Filme Indiejúnior - Menção Honrosa: Cul de Bouteille, de Jean-Claude Rozec
Prémio do Público Indiejúnior: Things You'd Better Not Mix Up, de Joost Lieuwma
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Brother to Brother (2004)
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De Irmão para Irmão de Rodney Evans é um pequeno docu-drama onde os factos reais são contados não só através da ficção como também de algumas imagens reais e de reconstituíções de alguns acontecimentos.
Perry (Anthony Mackie) é um estudante posto fora de casa após o seu pai ter descoberto a sua homossexualidade. Afastado da família e a trabalhar num refúgio poucas são as ligações que tem com outras pessoas além de um amigo e de algumas relações sexuais ocasionais.
Um dia é abordado por Bruce (Roger Robinson) que mais tarde sabemos ser um dos impulsionadores do movimento cultural do Harlem em Nova York, e surge entre ambos uma amizade que assume contornos de valorização pessoal e humana.
O argumento também da autoria de Rodney Evans consegue ser interessante do ponto de vista histórico-descritivo mas se pararmos para pensar em aspectos de drama e de ficção fica muito aquém do que poderia ser especialmente se pensarmos no pouco desenvolvimento que muitas das suas personagens têm sendo que, em alguns casos, quase não passam de meros figurantes com alguns diálogos.
Outro aspecto que poderia ter sido apresentado com maior e mais cuidada elaboração foi a transição entre os momentos actuais e os do passado... Conseguem, em diversas ocasiões, serem feitas transições que tornam a fluência do filme algo complicada e desastrada.
Se adianta algo de novo? Pessoalmente acho que não. O filme é fácil de se ver e não é nada que nos aborreça ou em que estejamos a pensar que "nunca mais acaba", no entanto também não deixa aquela sensação de termos visto algo de transcendente e que nos irá, de alguma forma, marcar.
É mais um filme... com alguns momentos bem feitos mas não brilhantes e que apenas para um público muito restrito que dê longas vivas a cinema independente irá achar estar na presença de uma obra-prima. Razoável do ponto de vista de um mero espectador.
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4 / 10
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sábado, 14 de maio de 2011
The 39 Steps (1935)
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Os 39 Degraus de Alfred Hitchcock e com a participação de Robert Donat e Madeleine Carroll é um interessante filme do mestre do suspense que, uma vez mais, centra toda a sua acção num assassinato que esconde o envolvimento de uma rede de espionagem internacional.
Richard Hannay (Donat) vê-se envolvido numa trama de espionagem quando tenta ajudar Annabella (Lucie Mannheim), uma mulher que acaba morta em sua casa. Após o assassinato do qual se vê acusado sem ter culpa, Hannay dá início a uma fuga que atravessa o Reino Unido como forma não só de escapar como de limpar o seu nome e descobrir quem está por detrás desta rede.
Pelo caminho conhece Pamela (Carroll) que inicialmente nem o suporta ver e menos ainda acredita nele mas que, com o tempo e pela força dos acontecimentos percebe que afinal por detrás da história de Hannay existe alguma, senão muita, verdade.
Filme com algum suspense e com perseguições intensas (para a altura) que aguçam o nosso interesse e curiosidade e que mostram muito daquilo que Hitchcock é... um verdadeiro mestre de suspense.
Não será, no entanto, um filme apelativo para qualquer um pois os meios rudimentares (aos olhos dos nossos dias) podem não conseguir conquistar mas não deixa de ser um filme interessante se o olharmos à luz do ano em que foi feito.
Algum entretenimento, suspense e até mesmo alguma comédia, se bem que com um desfecho algum repentino e previsível, fazem deste filme um agradável entretenimento.
.5 / 10
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sexta-feira, 13 de maio de 2011
Orca (1977)
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Orca, A Baleia Assassina de Michael Anderson com a participação de Richard Harris e Charlotte Rampling nos principais papéis estando estes secundados por Will Sampson, Bo Derek e Robert Carradine foi um filme que em idos anos me agradou ver apesar do banho de sangue a que se assistia.
Nolan (Harris) capitão de um pequeno barco pesqueiro insiste em capturar uma orca e com isso fazer o dinheiro suficiente para poder rumar à sua Irlanda natal e aí viver confortavelmente.
Nesta caça ao animal, literalmente falando, Nolan mata uma orca fêmea que se encontrava grávida aos olhos do seu companheiro. Tal como durante o filme é feita a questão de ser referido, além do Homem a orca é o único animal capaz de ter o sentimento de vingança. E é com base nesta premissa que todo o restante filme se desenrola.
A partir daqui assistimos então a uma verdadeira caça ao Homem, isso mesmo, por parte de um dos maiores mamífeos do globo. Assim sendo, temos um conjunto de mortes algo espalhafatosas onde reina e impera o derrame de sangue a um ritmo por vezes gore.
Lembro-me que da primeira vez que assisti a este filme ele me tinha impressionado bastante. A imagem daquele animal pacífico e com um ar aparentemente inofensivo havia sido abalada e os meus olhos, então de criança, olhavam para ele de forma diferente.
Hoje em dia reparo que o filme não tem, nem de longe, o mesmo impacto que tivera há largos anos e no final do seu visionamento apenas dou por mim a pensar "ok... está visto", algo não muito bom para poder descrever este filme que termina apenas como sendo "mais um".
Retirando algumas sequências musiciais compostas pelo mestre Ennio Morricone e de alguns bons planos de fotografia da autoria de Ted Moore e J. Barry Herron, o filme acaba por não ter grandes trunfos, nem mesmo a nível interpretativo onde não passa do "regular".
Acabou por ser mais um exercício de recordação cinematográfica do que propriamente um daqueles filmes que irei reter na mente como esteve até agora.
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4 / 10
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quinta-feira, 12 de maio de 2011
Just Go with It (2011)
Engana-me que Eu Gosto de Dennis Dugan junta aquela que é provavelmente a dupla de comédia mais prolífera do cinema actual... Adam Sandler e Jennifer Aniston e o actor novamente a cargo do realizador com quem já trabalhara inúmeras vezes.
Depois de uma desagradável surpresa quando prestes a casar-se com a mulher errada, Danny (Sandler), agora um reputado cirurgião plástico, leva uma vida de boémia trocando de mulher a cada noite que passa. No dia em que conhece Palmer (Brooklyn Decker), Danny tem de convencê-la de que é, afinal, casado mas em processo de divórcio.
Para que esta mentira seja convincente, Danny convence a sua assistente Katherine (Aniston), a passar por sua quase ex-mulher e ludibriar Palmer de que o seu divórcio estará para breve. Aquilo com que Danny não contava era ver em Katherine algo mais do que a sua assistente... E claro, que os sentimentos possam ter reciprocidade...
Este filme que pretende ser uma adaptação moderna de Cactus Flower (1969), de Gene Sacks não consegue, no entanto, ter o brilho que esse filme com mais de quarenta anos teve nem a expressividade interpretativa que Walter Matthau, Ingrid Bergman e Goldie Hawn - aqui vencedora do Oscar de Actriz Secundária - depositaram nas personagens agora a cargo de Sandler, Aniston e Decker que conseguem breves apontamentos de humor sem que o espectador se consiga facilmente relacionar com os mesmos.
As interpretações estão ao nível do que se espera desta adaptação moderna de um clássico. Os actores fazem o seu melhor - ou pelo menos aqui que para o género pode ser considerado como tal - e ainda que a breve química sentida entre Sandler e Aniston até funcione, o espectador não consegue deixar de notar uma certa falta de alma nas mesmas, ou seja, os actores esforçam-se por manter a graça e o humor nos seus ditos e pensamentos mas, ao mesmo tempo, sente-se que é tudo suficientemente preparado e ensaiado para que se note que estão a tentar fazer humor. Se isto não fosse motivo suficiente para prejudicar a dinâmica da comédia, os exageros e a ridicularização das referidas personagens não contribui para a sua dinamização mas sim, pelo contrário, para uma ideia de que tudo começa a ser absurdo demais para ser realidade. Que o digam os instantes iniciais onde as próteses não funcionam ou mesmo a reanimação de uma ovelha de plástico cujo propósito seria justificar os secundários mas acaba por ser um disparate fútil e desnecessário.
Sandler, igual a si próprio se bem que relativamente mais contido no exagero do overacting, consegue ter os seus momentos de humor bem construídos mas algo sem inspiração se nos recordamos dos primórdios deste actor no género... Quando a fórmula se gasta e o exagero se instalam, deveriam ser sinais de que está na altura de alterar o registo. E o mesmo se poderia dizer a respeito de Jennifer Aniston que segue o mesmo desesperado e anunciado "erro" de Goldie Hawn que se "colou" ao género de comédia onde interpreta sempre o mesmo estilo de menina "pós-adolescente" engraçada mas que, um dia, se percebe que de menina... já tem pouco. E se a sua personagem consegue ser a mais equilibrada e relativamente espontânea de todas, é também certo que num género onde todos vivem de um propositado exagero... por muito lúcido que um seja... não funciona na totalidade junto dos demais. No entanto, e se pensarmos em termos comparativos com o filme que anteriormente referi em que este claramente se inspira, Just Go with It está a milhas do charme, da elegância e até mesmo da qualidade interpretativa dos seus actores onde nem Sandler consegue ser o pinga-amor de Matthau, nem Aniston consegue cativar a altivez e determinação de Bergman ou tão pouco Decker a ingenuidade de uma Hawn em início de carreira. Não esquecer ainda de destacar a breve mas marcante presença de Nicole Kidman neste filme com o seu ligeiro apontamento enquanto uma super competitiva ex-colega de Aniston mostrando que para lá do drama existe uma actriz capaz de uma simpática personagem cómica.
Longe de uma comédia determinante aproximando-se sim dos inúmeros registos feitos propositadamente para o brilho - já não tanto - de um Adam Sandler desesperadamente a necessitar de um volte face na sua carreira Just Go with It não deixa de cumprir a sua missão enquanto um simpático entretenimento familiar que preenche as tarda domingueiras de qualquer um. Sem grandes pretensões a ser mais do que aquilo que é, consegue manter o espectador interessado e aliciá-lo com a sua simplicidade e breves momentos de diversão. De tudo - e apesar de tudo - destaco a prestação de Aniston. Não tem aqui o seu melhor registo num percurso que é assumidamente "entregue" à comédia mas, ainda assim, consegue destacar-se do demais elenco com o cruzamento de mulher sem um rumo certo na sua vida para lá da estabilidade quase impossível de alcançar que desesperadamente deseja. Dentro do mesmo (desespero) assume-se como alguém que se deixa levar pelos dias que passam e pelas oportunidades que lhe são proporcionadas encontrando - junto daquilo com que lida diariamente - a fórmula para um eventual destino e final feliz.
Assim, e não sendo o tal filme do ano, também não se enquadra no registo assumidamente negativo que dele fazem sendo uma longa-metragem "disponível" para aquilo a que se predispõe, ou seja, alguns momentos de boa e agradável disposição com alguns sorrisos à mistura... ligeiro mas que cumpre a missão durante a sua pouco mais de hora e meia de duração e que o confirmem (de certa forma) a ovelha com problemas intestinais (ainda que algo forçado)... o concurso ultra-competitivo de dança... e um côco que... bom... digamos que pode ter vida própria...
.Depois de uma desagradável surpresa quando prestes a casar-se com a mulher errada, Danny (Sandler), agora um reputado cirurgião plástico, leva uma vida de boémia trocando de mulher a cada noite que passa. No dia em que conhece Palmer (Brooklyn Decker), Danny tem de convencê-la de que é, afinal, casado mas em processo de divórcio.
Para que esta mentira seja convincente, Danny convence a sua assistente Katherine (Aniston), a passar por sua quase ex-mulher e ludibriar Palmer de que o seu divórcio estará para breve. Aquilo com que Danny não contava era ver em Katherine algo mais do que a sua assistente... E claro, que os sentimentos possam ter reciprocidade...
Este filme que pretende ser uma adaptação moderna de Cactus Flower (1969), de Gene Sacks não consegue, no entanto, ter o brilho que esse filme com mais de quarenta anos teve nem a expressividade interpretativa que Walter Matthau, Ingrid Bergman e Goldie Hawn - aqui vencedora do Oscar de Actriz Secundária - depositaram nas personagens agora a cargo de Sandler, Aniston e Decker que conseguem breves apontamentos de humor sem que o espectador se consiga facilmente relacionar com os mesmos.
As interpretações estão ao nível do que se espera desta adaptação moderna de um clássico. Os actores fazem o seu melhor - ou pelo menos aqui que para o género pode ser considerado como tal - e ainda que a breve química sentida entre Sandler e Aniston até funcione, o espectador não consegue deixar de notar uma certa falta de alma nas mesmas, ou seja, os actores esforçam-se por manter a graça e o humor nos seus ditos e pensamentos mas, ao mesmo tempo, sente-se que é tudo suficientemente preparado e ensaiado para que se note que estão a tentar fazer humor. Se isto não fosse motivo suficiente para prejudicar a dinâmica da comédia, os exageros e a ridicularização das referidas personagens não contribui para a sua dinamização mas sim, pelo contrário, para uma ideia de que tudo começa a ser absurdo demais para ser realidade. Que o digam os instantes iniciais onde as próteses não funcionam ou mesmo a reanimação de uma ovelha de plástico cujo propósito seria justificar os secundários mas acaba por ser um disparate fútil e desnecessário.
Sandler, igual a si próprio se bem que relativamente mais contido no exagero do overacting, consegue ter os seus momentos de humor bem construídos mas algo sem inspiração se nos recordamos dos primórdios deste actor no género... Quando a fórmula se gasta e o exagero se instalam, deveriam ser sinais de que está na altura de alterar o registo. E o mesmo se poderia dizer a respeito de Jennifer Aniston que segue o mesmo desesperado e anunciado "erro" de Goldie Hawn que se "colou" ao género de comédia onde interpreta sempre o mesmo estilo de menina "pós-adolescente" engraçada mas que, um dia, se percebe que de menina... já tem pouco. E se a sua personagem consegue ser a mais equilibrada e relativamente espontânea de todas, é também certo que num género onde todos vivem de um propositado exagero... por muito lúcido que um seja... não funciona na totalidade junto dos demais. No entanto, e se pensarmos em termos comparativos com o filme que anteriormente referi em que este claramente se inspira, Just Go with It está a milhas do charme, da elegância e até mesmo da qualidade interpretativa dos seus actores onde nem Sandler consegue ser o pinga-amor de Matthau, nem Aniston consegue cativar a altivez e determinação de Bergman ou tão pouco Decker a ingenuidade de uma Hawn em início de carreira. Não esquecer ainda de destacar a breve mas marcante presença de Nicole Kidman neste filme com o seu ligeiro apontamento enquanto uma super competitiva ex-colega de Aniston mostrando que para lá do drama existe uma actriz capaz de uma simpática personagem cómica.
Longe de uma comédia determinante aproximando-se sim dos inúmeros registos feitos propositadamente para o brilho - já não tanto - de um Adam Sandler desesperadamente a necessitar de um volte face na sua carreira Just Go with It não deixa de cumprir a sua missão enquanto um simpático entretenimento familiar que preenche as tarda domingueiras de qualquer um. Sem grandes pretensões a ser mais do que aquilo que é, consegue manter o espectador interessado e aliciá-lo com a sua simplicidade e breves momentos de diversão. De tudo - e apesar de tudo - destaco a prestação de Aniston. Não tem aqui o seu melhor registo num percurso que é assumidamente "entregue" à comédia mas, ainda assim, consegue destacar-se do demais elenco com o cruzamento de mulher sem um rumo certo na sua vida para lá da estabilidade quase impossível de alcançar que desesperadamente deseja. Dentro do mesmo (desespero) assume-se como alguém que se deixa levar pelos dias que passam e pelas oportunidades que lhe são proporcionadas encontrando - junto daquilo com que lida diariamente - a fórmula para um eventual destino e final feliz.
Assim, e não sendo o tal filme do ano, também não se enquadra no registo assumidamente negativo que dele fazem sendo uma longa-metragem "disponível" para aquilo a que se predispõe, ou seja, alguns momentos de boa e agradável disposição com alguns sorrisos à mistura... ligeiro mas que cumpre a missão durante a sua pouco mais de hora e meia de duração e que o confirmem (de certa forma) a ovelha com problemas intestinais (ainda que algo forçado)... o concurso ultra-competitivo de dança... e um côco que... bom... digamos que pode ter vida própria...
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quarta-feira, 11 de maio de 2011
terça-feira, 10 de maio de 2011
The Lost City (2005)
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Havana Cidade Perdida realizado, produzido, interpretado e com música de Andy Garcia, com quem ainda não consegui criar uma daquelas ligações que me leve a ver todos os filmes que faz era, no entanto, um filme que já há algum tempo esperava ver.
Este tipo de filmes que têm como base principal factos e acontecimentos verídicos da nossa História mundial bem como histórias pessoais "contadas" por aqueles que por eles passaram, conseguem geralmente ter não só a minha atenção como a minha simpatia. Nada melhor do que estes relatos para saber o que se passou num qualquer canto do globo terrestre e, com isso, poder retirar algum tipo de conhecimentos até então escondidos.
Foi com esta perspectiva que embarquei nesta aventura de ver este Havana Cidade Perdida e daqui poder, de uma ou outra forma, retirar alguns conhecimentos além de, claro está, ver um bom filme (pensei).
Este filme acompanha a história da família Fellove. Fico (Garcia), juntamente com os seus dois irmãos, cunhadas, pais e tio, são uma abastada família de Cuba no período da presidência de Fulgêncio Baptista e da mão ditatorial com que este governava o país. Fico, dono e gerente de um importante cabaret no país e indiferente ao que nele se passava na realidade, é rodeado por dois irmãos conscientes dos problemas sociais que o assolavam juntam-se, na clandestinidade, aos movimentos que reclamavam pela mudança do regime. Um deles é morto e o outro junta-se ao movimento liderado por Fidel Castro e Che Guevara que, mais tarde, viria a governar o país até aos nossos dias.
Com este filme ficamos a conhecer não só o país que Cuba era... aquele em que se viria a transformar, primeiro cheio de promessas e vontades e de seguida a dura realidade que também se avizinhava mas, principalmente, ficamos a conhecer os trágicos destinos de todos estes intervenientes que se viram colocados no meio de uma verdadeira transformação política e social que afectaria as suas vivências para sempre e, como tal, à queda da própria família Fellove.
Toda esta breve explicação parece imediatamente apelativa para um bom drama quase "histórico" onde não só ficamos a conhecer os factos já referidos como também sabemos estar quase a si associada a "necessidade" de ter também um bom romance/drama pelo meio. E realmente temos isto tudo presente no filme.
O problema de imediato que lhe noto é a excessiva vontade que Garcia teve de fazer uma extensa homenagem à sua Cuba natal que passa não só por marcadas referências a locais frequentados, à altura, pela camada social mais priviligiada do país como também acompanhar praticamente todo o "santo" momento do filme com os ritmos musicais do país, tornando-se em muitos deles difícil de perceber se estamos a assistir a um momento mais dramático ou se havemos antes disso de dar uns pézinhos de dança enquanto assistimos ao filme.
Sem ser um musical, este Havana torna-se, em grande parte do filme, uma homenagem a esse estilo cinematográfico sem que, com isso, consiga melhorar a homenagem a que realmente se propõe... aquela que pretendia ser feita a Cuba.
O elenco, que gira essencialmente à volta de Andy Garcia, também não consegue ser muito feliz. À excepção de um Bill Murray que lá consegue ter uns rasgos daquilo em que é muito bom, a comédia, e dos dois actores que interpretam os irmãos de Fico, Nestor Carbonell (Luis) e Enrique Murciano (Ricardo), os demais actores além de mal caracterizados, limitam-se quase a ler os seus diálogos em vez de os representarem e entregarem aos mesmos algum empenho dramático.
Dito isto do filme, pouco mais há a acrescentar. Excepção seja feita claro, à necessidade quase extrema que Garcia tem de denunciar não só o regime de Baptista como aquele que em tantos cubanos gerou esperança, o de Castro. Aqui Garcia não se poupou a claras e directas críticas. E sabendo nós, espectadores de cinema que acompanhos algumas actividades sociais destes actores de destaque, que Garcia é um claro opositor ao regime de Castro, então aí o seu filme pode ter conseguido alcançar o seu objectivo. No entanto, enquanto consegue servir como um seu meio de denúncia não deixa também de ter perdido algo... a própria qualidade do filme enquanto drama que retrata uma história real. Resumidamente... cumpre mas não promete e além disso perde-se pelo meio.
Como objecto de curiosidade e para aqueles que não podem passar sem ver um filme do Andy Garcia então sim, este valerá a pena ser visto. Para os demais... é mais um filme.
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5 / 10
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segunda-feira, 9 de maio de 2011
Europa (1991)
Europa de Lars Von Trier vencedor do Prémio do Júri do Festival de Cannes decorre numa Alemanha que se encontra no período imediato à Segunda Guerra Mundial ainda ocupada tanto pelas tropas norte-americanas como pelos fantasmas de um nazismo ainda não desaparecido com o final do conflito.
Leopold Kessler (Jean-Marc Barr) é um jovem pacifista e idealista norte-americano de origem alemã que no pós-guerra decide ir para a Alemanha e ajudar na recuperação do país. É quando Leopold começa a trabalhar para os caminhos-de-ferro alemães que se iniciam uma série de ocasionais encontros - ou talvez não - com um conjunto de personagens tão sinistras quanto o clima ali vivido e que o tentam seduzir para a concretização de alguns favores.
Leopold vive então um conflito com as suas convicções pacifistas e de não-ingerência, um inesperado amor com Katharina Hartmann (Barbara Sukowa) e uma diferente - mas não menos intensa - realidade pós-guerra num país que esconde ainda velhos demónios que não foram purgados.
Como em todos os filmes de Lars Von Trier também este parece ambientado num universo muito particular distante de uma realidade dita convencional revelando, uma vez mais, todo um conjunto de personagens que tentam usufruir de uma inesperada "fonte" de benefícios que é explorada e violentada pelas suas necessidades. Se nas obras mais tardias de Von Trier essa "fonte" é habitualmente interpretada por uma figura feminina central, em Europa a mesma fica a cargo de um intenso, e frequentemente emotivo, Jean-Marc Barr.
Jean-Marc Barr que com o seu "Leopold" domina toda a intensidade dramática desta história revelando-se inicialmente como um idealista disposto a ajudar uma parte do mundo onde não só tem as suas raízes como também está despojada de toda a normalidade pelo conflito pelo qual atravessou terminando como um homem movido pelo impulso oriundo de um sentimento até então não sentido. Se em Breaking the Waves (1996) temos uma Emily Watson dependente de um desejo mórbido do seu marido que comanda portanto o seu destino, se em Dancer in the Dark (2000) temos uma Bjork dependente de uma sociedade que ignora as suas necessidades físicas ou em Dogville (2003) uma Nicole Kidman presa aos maus tratos de uma sociedade que a priva de liberdade em troca de silêncio ou até mesmo em Antichrist (2009) uma Charlotte Gainsbourg refém de um passado pelo qual se responsabiliza, em Europa Jean-Marc Barr é moral e psicologicamente abusado por aqueles que vêem nele o idealista perdido com o início da guerra anos antes. Se ele quiser sobreviver naquela sociedade corrupta e corrompida que martirizou os seus em nome de uma conquista desenfreada, então terá de pagar pela tal "reconstrução" livrando-se dos males que uma antiga Alemanha ainda insiste em identificar.
Mas o argumento de Von Trier e Niels Vorsel vai mais longe do colocar no centro da trama não a guerra ou as suas consequências nefastas para o país e para a comunidade em jogo mas sim transformando o idealismo e a já referida não-ingerências nos tópicos principais desta história que para lá da destruição física da sociedade revela a sua incansável corrupção moral. No fundo, Europa reflecte não sobre os dois lados da barricada - nazis versus os que lutaram pela liberdade - mas sim sobre todos aqueles que se mantiveram em silêncio enquanto tudo desabava. Quais as suas convicções quando parecem nada ter defendido? Quem foram eles quando os dois lados se debatiam pela vitória? E, no fundo, quem foram eles quando o regime nazi tão silenciosamente escondeu os campos de extermínio onde - perto de um deles - "Leopold" e "Katharina" passam a primeira das suas noites enquanto casal... mas também os seus vestígios escondidos sobre a sombra da noite e de uma janela que é convenientemente tapada.
Assim, em Europa é a não-ingerência de "Leopold" que é, desde o primeiro instante, ameaçada. Se o jovem atravessou os anos do conflito nos Estados Unidos longe de todo o belicismo que a Europa vivia ignorando ambos lados com a mesma veemência, é também certo que chega a esta Alemanha do pós-guerra ignorando as reais condições de um país agora ocupado pelas forças Aliadas que tudo e todos controlavam. "Leopold" procura apenas um trabalho no qual sinta ajudar à reconstrução do país... encontra-o - na sua perspectiva - enquanto revisor numa carruagem que viaja pelo país sempre de janelas fechadas ignorando o que se passa "lá fora". Escondido - e escondendo-se - da realidade que atravessa sem conhecer, "Leopold" vai lentamente testemunhando a sobrevivência de um país através das poucas - e nem sempre sérias - amizades que estabelece envolvendo-se naquilo que considera ser melhor para os ajudar e, dessa forma, interferindo na realidade do país do qual, anteriormente, se havia mantido afastado. De jovem idealista a involuntariamente fervoroso defensor de uma nova ordem - talvez não política mas sim moral - "Leopold" é agora parte integrante desta sociedade para cuja reconstrução contribui guiado mais pelos seus sentimentos do que propriamente por um qualquer tipo de convicções sociais, políticas ou até mesmo ideológicas.
Este retrato de uma Europa - mais concretamente Alemanha - sombria e onde ainda residiam os fantasmas de um nazismo agora ocultado, revelam ao espectador um território sombrio, destruído e onde imperam agora as vinganças pessoais, as tentativas de instaurar pequenos "estados" soberanos como que heranças do nazismo que se tentava oficialmente combater, um país onde se tentam purgar os colaboracionistas mas, ao mesmo tempo, eliminar o sangue novo que chega para levar o país a um novo rumo. Europa - filme e continente - é um antro de vinganças pessoais, de jogos de interesses que o espectador acompanha - tal como o protagonista - de forma hipnótica - magnífica interpretação oral de Max Sydow que sem nunca surgir no ecrã tem uma das mais emblemáticas interpretações do mesmo - deixando-se levar quase inerte pois o próprio não se pode descolar deste ritmo de involuntária participação onde reina a intolerância e a ideologia de que o "outro" é - ainda - a causa e consequência de um mal maior que "me" afecta. Mudam-se os tempos, mudam-se os governantes mas subsiste de forma silenciosa a origem de um mal que se combateu e queria ver eliminado... que o digam alguns dos passageiros daquele comboio que todos serviu... passageiros entre cidade... detidos entre campos de concentração e agora turistas que regressam ao país de onde anos antes haviam saído... E mesmo aqueles que viajam nas suas carruagens escondidas, ainda breves memórias das pessoas que foram ainda fardados com a infâmia de que foram vítimas - Von Trier cria este silencioso segmento em que o passageiro se sente num comboio rumo a um qualquer campo de concentração ao observar aqueles que "no momento" de um haviam saído.
Europa vive ainda de uma magnífica interpretação de Jean-Marc Barr como o jovem idealista que rapidamente e contra sua vontade se transforma num colaboracionista corrompido (pelo coração) e pala comunidade em que se move concretizando um conjunto de acções que o colocam no centro de uma trama interna tal como um peão num tabuleiro de xadrez. Durante o conflito o seu "Leopold" haviam escapado ao conflito... agora ele é peça fundamental no mesmo, nele envolvido para salvar aqueles de e a quem agora se sente pertencer.
Com uma magnífica direcção de fotografia da autoria de Henning Bendtsen, Edward Klosinsky e Jean-Paul Meurisse que captam a essência e a alma de uma Europa sombria e devastada, Von Trier e Vorsel criam então este argumento, tão pertinente nos dias que hoje atravessamos onde as desconfianças, os movimentos extremistas e a divisão entre o "eu" e o "outro" parecem ganhar, uma vez mais, toda uma legião de seguidores divisionistas e sérias afrontas a uma paz sempre instável recordando-nos com consistência a ténue linha que separa o passado e o presente e revelando como a História tende - assustadoramente - a poder repetir-se num mundo onde aparenta já não existir lugar para os sonhares e idealistas que se conformam num silêncio constante enquanto todo o mundo "lá fora" parece querer desabar.
Jean-Marc Barr que com o seu "Leopold" domina toda a intensidade dramática desta história revelando-se inicialmente como um idealista disposto a ajudar uma parte do mundo onde não só tem as suas raízes como também está despojada de toda a normalidade pelo conflito pelo qual atravessou terminando como um homem movido pelo impulso oriundo de um sentimento até então não sentido. Se em Breaking the Waves (1996) temos uma Emily Watson dependente de um desejo mórbido do seu marido que comanda portanto o seu destino, se em Dancer in the Dark (2000) temos uma Bjork dependente de uma sociedade que ignora as suas necessidades físicas ou em Dogville (2003) uma Nicole Kidman presa aos maus tratos de uma sociedade que a priva de liberdade em troca de silêncio ou até mesmo em Antichrist (2009) uma Charlotte Gainsbourg refém de um passado pelo qual se responsabiliza, em Europa Jean-Marc Barr é moral e psicologicamente abusado por aqueles que vêem nele o idealista perdido com o início da guerra anos antes. Se ele quiser sobreviver naquela sociedade corrupta e corrompida que martirizou os seus em nome de uma conquista desenfreada, então terá de pagar pela tal "reconstrução" livrando-se dos males que uma antiga Alemanha ainda insiste em identificar.
Mas o argumento de Von Trier e Niels Vorsel vai mais longe do colocar no centro da trama não a guerra ou as suas consequências nefastas para o país e para a comunidade em jogo mas sim transformando o idealismo e a já referida não-ingerências nos tópicos principais desta história que para lá da destruição física da sociedade revela a sua incansável corrupção moral. No fundo, Europa reflecte não sobre os dois lados da barricada - nazis versus os que lutaram pela liberdade - mas sim sobre todos aqueles que se mantiveram em silêncio enquanto tudo desabava. Quais as suas convicções quando parecem nada ter defendido? Quem foram eles quando os dois lados se debatiam pela vitória? E, no fundo, quem foram eles quando o regime nazi tão silenciosamente escondeu os campos de extermínio onde - perto de um deles - "Leopold" e "Katharina" passam a primeira das suas noites enquanto casal... mas também os seus vestígios escondidos sobre a sombra da noite e de uma janela que é convenientemente tapada.
Assim, em Europa é a não-ingerência de "Leopold" que é, desde o primeiro instante, ameaçada. Se o jovem atravessou os anos do conflito nos Estados Unidos longe de todo o belicismo que a Europa vivia ignorando ambos lados com a mesma veemência, é também certo que chega a esta Alemanha do pós-guerra ignorando as reais condições de um país agora ocupado pelas forças Aliadas que tudo e todos controlavam. "Leopold" procura apenas um trabalho no qual sinta ajudar à reconstrução do país... encontra-o - na sua perspectiva - enquanto revisor numa carruagem que viaja pelo país sempre de janelas fechadas ignorando o que se passa "lá fora". Escondido - e escondendo-se - da realidade que atravessa sem conhecer, "Leopold" vai lentamente testemunhando a sobrevivência de um país através das poucas - e nem sempre sérias - amizades que estabelece envolvendo-se naquilo que considera ser melhor para os ajudar e, dessa forma, interferindo na realidade do país do qual, anteriormente, se havia mantido afastado. De jovem idealista a involuntariamente fervoroso defensor de uma nova ordem - talvez não política mas sim moral - "Leopold" é agora parte integrante desta sociedade para cuja reconstrução contribui guiado mais pelos seus sentimentos do que propriamente por um qualquer tipo de convicções sociais, políticas ou até mesmo ideológicas.
Este retrato de uma Europa - mais concretamente Alemanha - sombria e onde ainda residiam os fantasmas de um nazismo agora ocultado, revelam ao espectador um território sombrio, destruído e onde imperam agora as vinganças pessoais, as tentativas de instaurar pequenos "estados" soberanos como que heranças do nazismo que se tentava oficialmente combater, um país onde se tentam purgar os colaboracionistas mas, ao mesmo tempo, eliminar o sangue novo que chega para levar o país a um novo rumo. Europa - filme e continente - é um antro de vinganças pessoais, de jogos de interesses que o espectador acompanha - tal como o protagonista - de forma hipnótica - magnífica interpretação oral de Max Sydow que sem nunca surgir no ecrã tem uma das mais emblemáticas interpretações do mesmo - deixando-se levar quase inerte pois o próprio não se pode descolar deste ritmo de involuntária participação onde reina a intolerância e a ideologia de que o "outro" é - ainda - a causa e consequência de um mal maior que "me" afecta. Mudam-se os tempos, mudam-se os governantes mas subsiste de forma silenciosa a origem de um mal que se combateu e queria ver eliminado... que o digam alguns dos passageiros daquele comboio que todos serviu... passageiros entre cidade... detidos entre campos de concentração e agora turistas que regressam ao país de onde anos antes haviam saído... E mesmo aqueles que viajam nas suas carruagens escondidas, ainda breves memórias das pessoas que foram ainda fardados com a infâmia de que foram vítimas - Von Trier cria este silencioso segmento em que o passageiro se sente num comboio rumo a um qualquer campo de concentração ao observar aqueles que "no momento" de um haviam saído.
Europa vive ainda de uma magnífica interpretação de Jean-Marc Barr como o jovem idealista que rapidamente e contra sua vontade se transforma num colaboracionista corrompido (pelo coração) e pala comunidade em que se move concretizando um conjunto de acções que o colocam no centro de uma trama interna tal como um peão num tabuleiro de xadrez. Durante o conflito o seu "Leopold" haviam escapado ao conflito... agora ele é peça fundamental no mesmo, nele envolvido para salvar aqueles de e a quem agora se sente pertencer.
Com uma magnífica direcção de fotografia da autoria de Henning Bendtsen, Edward Klosinsky e Jean-Paul Meurisse que captam a essência e a alma de uma Europa sombria e devastada, Von Trier e Vorsel criam então este argumento, tão pertinente nos dias que hoje atravessamos onde as desconfianças, os movimentos extremistas e a divisão entre o "eu" e o "outro" parecem ganhar, uma vez mais, toda uma legião de seguidores divisionistas e sérias afrontas a uma paz sempre instável recordando-nos com consistência a ténue linha que separa o passado e o presente e revelando como a História tende - assustadoramente - a poder repetir-se num mundo onde aparenta já não existir lugar para os sonhares e idealistas que se conformam num silêncio constante enquanto todo o mundo "lá fora" parece querer desabar.
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