sábado, 30 de junho de 2012

Shortcutz Faro - Curta vencedora de Junho 2012

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Aqui Jaz a Minha Casa
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de Rui Pilão
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Divina Intervenção (2011)

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Divina Intervenção de Telmo Martins realizador que já nos havia apresentado o muito agradável Um Funeral à Chuva, e regressa aqui com esta curta-metragem em 3D.
Esta história mostra-nos um homem (Hugo Costa Ramos) que procura o local ideal para pôr termo à sua vida. Não conhecemos os motivos... apenas sabemos ser este o seu desejo. Por entre caminhos e desfiladeiros
É quando chega ao local "ideal", ou pelo menos um deles, que outro homem (Luís Dias) aparece do nada e tenta saber os motivos de tal decisão levando-o a desistir do local e seguir caminho até encontrar outro que não esteja "escolhido".
Tinha alguma curiosidade em ver este trabalho por o saber um dos mais recentes do realizador que me tinha impressionado com o Funeral e assim que soube que este já se encontrava disponível online não perdi tempo em ver.
O primeiro aspecto que me desiludiu no filme foi o facto de estar em 3D. Não sou fã desta nova "moda" que faz com que todos os filmes apareçam neste formato que, na minha opinião, em nada beneficia os filmes. Antes pelo contrário. O segundo, e provavelmente o mais importante, é a falta de desenvolvimento que o argumento tem. A história, a melhor explorada nomeadamente nos motivos que levaram o primeiro homem a procurar tão desesperadamente a morte, faria com que esta curta (que seria mais longa) tivesse um desenvolvimento mais interessante e dava também um novo olhar à personagem, o mesmo se aplicando ao segundo homem.
Os actores acabam por sofrer do anterior mal e com pouco conteúdo para enriquecer as suas personagens, não conseguem dar-lhes o devido conteúdo e trabalhar mais nos motivos e nos porquês. Da personagem interpretada por Hugo Costa Ramos pouco ficamos a saber e da personagem de Luís Dias esboçamos apenas um breve sorriso pela sua tão caricata figura.
Se há curtas que vivem muito bem por o serem, esta não é uma delas. A sua reduzida duração não chega para explicar os motivos que levam aqueles dois homens a estar ali naquele local a procura a morte, e a simples justificação de "porque sim" não é suficientemente convincente para nos satisfazer.
Aqui Telmo Martins poderia, tanto a nível de realização como principalmente de argumento, ter dado mais... muito mais, fazendo com que este trabalho não se resumisse a uma simples banalidade.
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3 / 10
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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Abraham Lincoln: Vampire Hunter (2012)

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Diário Secreto de um Caçador de Vampiros de Timur Bekmambetov é um interessante e imaginativo filme que cruza eventos e personagens históricas com mitologia numa abordagem bem conseguida.
Numa época em que a escravatura era ainda parte do sistema nos Estados Unidos, o jovem Abraham Lincoln assiste à morte da sua mãe às mãos de um vampiro. Anos mais tarde, Lincoln (Benjamin Walker) ao tentar matar o vampiro Jack Barts (Marton Csokas) é abordado por Henry Sturgess (Dominic Cooper) que o treina para ser um caçador de vampiros ao seu serviço.
Depois de se mudar para Springfield e trabalhar numa loja conhece Mary Todd (Mary Elizabeth Winstead) que viria a ser sua mulher, enquanto estuda Direito de dia e à noite dá caça aos vampiros que povoam a cidade.
À medida que Lincoln abandona a sua profissão nocturna e se dedica à sua amada e à construção de uma carreira política que o levará anos mais tarde à Presidência do país, a população vampírica tem também os seus próprios planos para aquilo que poderia ser o primeiro território no mundo sob o domínio das criaturas sedentas de sangue.
Se inicialmente qualquer um de nós suspeita sobre este género de filme, o que é certo é que também temos de lhes dar uma oportunidade para perceber realmente o que daqui poderá surgir. Se na prática, ou pelo menos na maioria das situações, o que temos é um conjunto de factos sem nexo que retira todo e qualquer interesse do filme em causa, julgo que aqui será seguro dizer que os acontecimentos conseguem ser convincentes.
Em primeiro lugar não nos podemos esquecer do género de filme que é... acção misturada com alguma pitada de aventura e, claro está, tendo como pano de fundo um dos acontecimentos históricos mais importantes da História dos Estados Unidos da América e, como "personagem principal, um homem que foi Presidente do referido país. Muita confusão? Nem por isso...
Vamos pelo lado de entretenimento do filme, e esperemos que daqui saia uma agradável história de aventura que nos irá distrair por algum tempo. Os Estados Unidos em plena guerra civil onde os contornos da mesma vão muito para além do fim da escravatura no sul do país, dando sim lugar a um território que poderá ser dominado por uma força que escravizará todos aqueles que lhe façam frente. A junção do lado imaginativo com os acontecimentos históricos reais consegue estar harmoniosamente realizada ao ponto de se tornarem credíveis. A famosa batalha de Gettysburg que tantas vidas custou... afinal mais não foi do que uma carnificina vampírica?!
Além do próprio argumento que consegue unir todos estes aspectos de uma forma bem convincente para o género (que nem sempre é bem sucedido) temos de destacar aqueles que são os aspectos fundamentais do género. O primeiro são os óbvios efeitos especiais, claramente no seu máximo aquando da viagem final de comboio e que conseguem elevar todo o filme a uma dimensão bem espectacular, e finalmente a caracterização dos referidos vampiros que, estejam ou não transformados, são verdadeiramente assustadores.
As interpretações, das quais nenhuma se destaca pela sua excelência conseguem, no entanto, ser bem eficazes com doses equilibradas quer de acção quer de aventura e com uma ligeira dose de humor. Benjamin Walker como Lincoln ou Dominic Cooper como o seu primeiro grande amigo são das personagens mais centrais e que consegue captar a maioria do protagonismo do filme. Rufus Sewell como o milenar vampiro Adam (curioso nome para dar a um vampiro com mais de cinco mil anos, numa clara referêcia ao primeiro homem) está, passo o cliché, igual a si próprio. Mais um papel onde o seu olhar mortiço e desprovido de emoção consegue ser um dos seus pontos mais fortes e torná-lo irresistível nesta sua nova personagem.
Por ser um filme também ele de época, há igualmente aspectos positivos que poderemos considerar... a brilhante direcção artística e recriação das casas senhoriais e das plantações sulistas ou das pequenas lojas do norte que eram autênticos mercados abastecedores da autoria de François Audouy, Beat Frutigere Cheryl Carasik... ou claro, o requintado guarda-roupa da autoria de Varvara Avdyushko e Carlo Poggioli que só não irão ver o seu trabalho convertido numa nomeação a Oscar devido ao género em que este filme se insere, não deixando no entanto de ser dos maiores trunfos que o filme apresenta.
Que se desengane quem vá ver este filme a pensar que irá assistir a uma reconstituição histórica com factos que conhece. Aqui temos sim a História como um pano de fundo e uma moderna e interessante adaptação dos mesmo a um conto vampírico. Muito ao estilo de Bekmambetov (do qual já temos o excelente Wanted), temos um bem movimentado conto recheado de intensas cenas de acção e de lutas bem aparatosas que não nos vão deixar sossegados na cadeira e que conseguem ser do princípio até ao fim constantes e enérgicas, não permitindo assim que o filme se perca pelo caminho e impossível para nós espectadores perder-lhe o gosto. Não será intemporal mas deixa com certeza a sua marca neste Verão.
O único factor negativo... só mesmo o desnecessário aplicar do 3D que... acaba por ser perfeitamente dispensável (mas isso... é neste e em qualquer outro filme).
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"Abraham Lincoln: History prefers legends to men."
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7 / 10
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Shortcutz Faro #05

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 Última sessão Shortcutz Faro.
.Exibição curta vencedora do mês.
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Curta convidada Conto do Vento.
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Convidado especial Cláudio Jordão co-realizador da curta Conto do Vento.
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hoje 21h30 Pátio de Letras.
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terça-feira, 26 de junho de 2012

Nora Ephron

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1941 - 2012
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A Sombra (2009)

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A Sombra de Jaime Adão é uma curta-metragem com algum suspense seleccionada para a competição de curtas-metragens no Fantasporto.
Nesta curta temos um homem que ao longo do seu percurso encontra constantemente a mesma sinistra figura sempre encostada a uma qualquer parede e sempre a mexer no seu isqueiro o que começa a ser, para aquele homem, preocupante.
Interessante pela atmosfera de suspense que cria, peca apenas pela banda-sonora que considero ser mais adequada para um filme de acção do que propriamente para um onde se tenta recriar um ambiente sinistro e de suspense.
Como o próprio título indica, andamos sempre com algo do qual não nos podemos livrar.. a nosso sombra... o problema é quando ela parece ganhar uma "vida" própria através dos nossos eventuais "podres" e consegue assim criar a vingança perfeita.
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6 / 10
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segunda-feira, 25 de junho de 2012

North Atlantic (2010)

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North Atlantic de Bernardo Nascimento é uma extraordinária curta-metragem já com uma boa "carreira" em festivais de cinema e agora seleccionada para o Your Film Festival no youtube, e que não hesito em dizer ser dos mais admiráveis trabalhos cinematográficos dos últimos tempos.
Hugo (Francisco Tavares) dirige-se para a torre de controlo da Ilha do Corvo para fazer o turno de um amigo que se prepara para ir ao aniversário do seu filho.
Naquela que seria uma noite tranquilo e deveras solitária como se adivinham os primeiros instantes desta curta, Hugo repara que está sinalizado no painel um avião. É James (Clive Russell) que o pilota. Perdido no ar depois de uma tempestade, com pouca reserva de combustível e com os comandos e rádio danificado, James percebe que a sua precária situação lhe poderá ser prejudicial.
Mas é já bem perto do final que percebemos o quão fácil está ao alcance de cada um poder suavizar a vida dos outros... mesmo que seja por muito breves instantes.
Independentemente do conjunto irrepreensível de festivais por onde esta curta já passou, que por si já dariam um bom sinal da qualidade da mesma, o que é certo é que quando a começamos a ver percebemos o quão justa é tal seleccção.
Dotada de uma impressionante sensibilidade através do argumento também da autoria do realizador e inspirado em acontecimentos reais, esta curta-metragem destaca também pela esmagadora qualidade das sentidas interpretações quer de Francisco Tavares (olhos postos nele pois juntamente com o seu desempenho em Sangue do Meu Sangue mostra que veio felizmente para ficar), quer de Clive Russell que através de alguns escassos mas igualmente sentidos diálogos e uma profunda expressividade nos seus gestos e olhares comprovam que não é só de elaborados discursos que um filme é feito. Em muitos casos, como aqui poderemos constatar, simples olhares que expressam uma profunda tristeza pela inevitabilidade das circunstâncias podem (e conseguem) demonstrar o quão nobre e impotente pode ser a natureza humana.
Poucas são as palavras que poderão justamente descrever este filme que merece tão simplesmente ser visto, além daquilo que já inicialmente referi... Extraordinário.
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"James: One day we'll play together again. Take your time."
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" Hugo: Are you there?
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James: And I'm always away from everywhere..."
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9 / 10
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Cool (nova curta-metragem)

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Sinopse: Zé Barata, Agente Especial da União Nacional de Cervejas, recorda os seus tempos de novato, mais concretamente o seu duelo com Jorge o Terrível, no dia em que passa o testemunho ao seu irmão mais novo, o Agente Chico Barata.
 Baseado no conto homónimo de Luís Paulo Gonçalves, incluído no seu livro Uma Questão Divina e Outras Histórias de Coisa Nenhuma, editado em 2010, pela Chiado Editora.
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Realização: João Garcia, João Rodrigues e Francisco Manuel Sousa
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domingo, 24 de junho de 2012

Como Agua para Chocolate (1992)

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Como Água para Chocolate de Alfonso Arau é um filme mexicano nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro que nos conta a história de amor proibído entre Pedro (Marco Leonardi) e Tita (Lumi Cavazos). Proibído visto que a mãe de Tita queria que esta enquando filha mais nova ficasse a tomar conta dela, dando assim lugar ao casamento da mais velha que até à data ninguém queria desposar.
Uma história em época de mudança num México rural ultra-conservador onde a moral, os valores e os bons costumes (por muito inapropriados que fossem), apesar de ter conseguido separar um amor verdadeiro, nunca o conseguiu terminar.
Esta história de um amor trágico, incompleto durante anos sem fim e ocultado através de valores familiares de honra e por relações de poder, dirigido por um dos mais conceituados realizadores mexicanos tinha tudo para ser uma história trágica bem cosneguida que não só nos apaixonaria a todos como também facilmente nos conseguiria conquistar. No entanto algo falha no meio de todos estes caminhos tumultuosos.
Se por um lado há toda uma componente bem latina que mostra que a boa cozinha e os prazeres de uma mesa composta conseguem conquistar todo um povo, e que de certa forma nos conseguem deliciar só de olhar para tudo aquilo que é feito e como de um simples almoço se é capaz de fazer um festim capaz de deleitar qualquer um (mas continuo a dizer que Chocolat é bem mais conseguido neste aspecto), também é verdade dizer que tudo isto é de certa forma "apagado" graças à pouca química existente entre os dois actores protagonistas. Se por um lado ambos ficam devastados por não conseguirem consumar o seu amor e paixão, também é justo dizer que ao aceitar casar com a irmã mais velha, Pedro não se mostra muito incomodado com a vã desculpa de poder ficar perto de Tita, dando assim início a uma longa história de amor que ora se cumpre ora não, dependendo das necessidades e oportunidades que ambos lá vão criando entre si.
Assim, se por um lado a química entre os protagonistas não está devidamente consumada é, no entanto, correcto dizer que a transposição de época do filme está francamente bem conseguida. Ao vermos as imagens no ecrã sentimo-nos por diversos momentos como se estivessemos de facto ali. O pó, os cheiros que imaginamos percorrerem aqueles cenários e as festas são algo que nos consegue cativar e fazer esquecer que estamos em épocas bem diferentes e distintas.
Se por um lado podemos dizer que o romance de Laura Esquível, que aqui também assina o argumento, conseguem recriar um ambiente tanto temporal como de espaço perfeitos que nos transportam realmente para o local onde a história de desenlaça, também será justo dizer que a dinâmica existente as demais personagens está lá e bem presente. A relação conflituosa de dominação e dominado entre Tita e a sua mãe conseguem ser dos momentos recriados mais interessantes e estimulantes que o filme apresenta. No entanto, e no fundo aquilo que é o mais importante de tudo, são os momentos (poucos) existentes entre o par protagonista que não aquecem nem nos arrefecem durante todo o filme. Sabemos que é uma relação proibída e como tal queríamos ver mais "perigo" nos seus encontros mas a verdade é que nem de perto nem de longe se aproxima de algo que é realmente "proibído".
Quando este amor se consegue finalmente consumar, já velho em idade, em vez de terminar com uma relação que queremos ver de amor, temos algo que é literalmente incendiário, quase roçando no ridículo, deixando-nos com uma sensação de "ok... isto não deveria ter acontecido assim".
Na teoria, se por um lado teve vários momentos que gostamos e até queremos ter mais, na prática é que o filme nunca deixa de ser mediano e tem poucos momentos realmente concretizados que nos consigam apaixonar e deliciar, tal como o amor não efectivado que Pedro e Tita vivenciaram.
Não deixa de ser interessante e com alguns momentos ora trágicos ora cómicos que nos conseguem despertar a curiosidade mas em suma não é um grande filme do género.
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5 / 10
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sábado, 23 de junho de 2012

Fecha-se uma Porta, Abre-se uma Janela (2012)

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Fecha-se uma Porta, Abre-se uma Janela de Rui Moreira foi uma das curtas-metragens da passada noite do Shortcutz Faro, e mais uma das agradáveis surpresas que este novo certame fez revelar.
Apesar de quando iniciarmos o visionamento desta curta o seu título desvendar previsivelmente uma boa parte do que vamos ver de seguida, não deixa de ser uma história bem pensada e estruturada que nos é apresentada.
Num primeiro momento temos um rapaz que sonha correr as ruas de uma qualquer cidade pelas suas próprias pernas... No instante seguinte temos o mesmo jovem retido numa cadeira de rodas a sonhar com esse mesmo momento. Fruto de um sonho passado ou o (in)consciente desejo de um dia poder fazê-lo, vamos percorrendo as ruas e uma pequena mata por onde este jovem deixa a sua imaginação fluir como última réstia das asas que a sua imaginação tem.
Num mundo onde a sua locomoção é francamente limitada e onde as poucas notícias que lhe chegam do mundo são através de uma televisão que não mostra o melhor daquilo que esse mesmo mundo tem para oferecer, só lhe resta mesmo voltar a olhar a janela e deixar a sua imaginação correr tão rapidamente como aquilo que com ela vê.
Interessante, bem pensada e a denotar uma sensibilidade para com aqueles que são tantas vezes esquecidos, esta curta-metragem é ainda dotada de uma extraordinária banda-sonora que acrescenta o lado emocionante à história que, só por si, já o é.
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7 / 10
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sexta-feira, 22 de junho de 2012

The Ballad of Jack and Rose (2005)

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A Balada de Jack & Rose de Rebecca Miller conta com as interpretações principais de Daniel Day-Lewis, Catherine Keener e Camila Belle.
Jack (Day-Lewis) vive com Rose (Belle) a sua filha, numa pequena ilha que em tempos albergou uma comunidade hippie. A relação que Jack e Rose têm para com a terra onde habitam é de total dedicação, mesmo quando esta sofre a ameaça de uma nova urbanização que irá trazer novos habitantes que em nada partilham o espírito que outrora existira.
Mas não só a relação com a terra parece estar ameaçada. Jack que sofre de uma doença terminal teme pelas condições em que a sua filha poderá ficar quando ele partir e como tal tenta encontrar uma mulher que cuide dela. No entanto, os ciúmes de Rose irão falar mais alto e mostrar um lado oculto na relação entre pai e filha.
Como fã de Daniel Day-Lewis e do seu mais que provado talento interpretativo, qualquer filme em que seja anunciada a sua participação é logo alvo da minha atenção. No entanto aqui confesso que me deixou francamente desapontado. Nesta sua interpretação em que divide o protagonismo com a jovem Camilla Belle, sabemos logo de antemão que algo de muito estranho esconde aquela proximidade entre pai e filha. Percebemos que ali há algo mais para contar do que apenas o que nos é inicialmente revelado.
Dito isto, é óbvio que queremos perceber o que realmente existe entre ambos mas, ao mesmo tempo, à medida que a acção decorre torna-se clara e evidente a falta de química que existe entre os dois actores bem como até nas próprias personagens que interpretam. Falta-lhes tanto de "fogo" como de dramatismo que corrobore as suas atitudes e acções tornando-se, por vários momentos, meras peças decorativas ao longo do filme.
E o mesmo poderei dizer de Catherine Keener que em tantos e tantos desempenhos como actriz secundária, ou de suporte à trama principal, consegue chegar a "roubar" a própria atenção aos protagonistas tem aqui uma intepretação também ela apagada que não consegue convencer nenhum de nós sendo que, no entanto, consegue com a sua personagem interesseira e oportunista ser uma das mais convincentes e agradáveis de toda a disfuncionalidade da história.
Por muito prometedor que seja, este filme assume-se na maior parte do tempo desinteressante. Mesmo na abordagem à relação incestuosa que une pai e filha, que levemente assume, este filme torna-se num entediante relato do final de vida de um homem que em tempos liderou uma comunidade e que tudo teve mas que, com o passar dos anos, se tornou num ícone esquecido de um movimento libertário ecologista que pretendia uma vida em comunidade e onde a entre-ajuda era o mote principal das suas vidas. Alguém que desejava um mundo melhor mas que acabou por sucumbir aos pecados que aquele que repudiava assumia.
Entediante a maior parte do tempo, banal noutros tantos, este filme nunca consegue cumprir aquilo que poderia ter sido facilmente. É um filme sobre a decadência moral e existencial de um homem mas da qual poderia ter sido levada a extremos mais bem conseguidos e com personagens que não nos fossem indiferentes como estas são.
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4 / 10
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Shortcutz Faro #04

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ShortcutzFaro #04 Sessão
Pátio de Letras | Faro | 21h30
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Curtas em Competição:
Perdoa-me, de Joana Silva e André Dias
Fecha-se uma porta, abre-se uma janela, de Rui Moreira
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Curta Convidada:
Consequências, de Luís Ismael
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quinta-feira, 21 de junho de 2012

The Headless Nun (2012)

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The Headless Nun de Nuno Sá Pessoa é uma das mais estranhas e psicadélicas curtas-metragens que posso afirmar ter visto.
Como é que se pode resumir esta curta... nada melhor do que a própria descrição dada pelo seu realizador ou pela página no IMDb... "Um ladrão encontra o criador do Universo nas traseiras de uma estação de serviço". Se esta pequena descrição poderia inicialmente fazer-nos levar para um contexto completamente diferente, o que é certo é que ela é bem fiel àquilo que vamos ver neste pequeno filme.
Com um ambiente muito característico de um filme ao estilo dos anos 70, o que é certo é que todo o seu final, literalmente psicadélico, vem confirmar esta suspeita. É de facto um filme com um ambiente muito alternativo onde um ladrão que encontra o seu criador, bem como o de todo o Universo, embarca não numa viagem de auto-descoberta mas sim numa viagem que o transporta para uma completamente diferente trip.
E de referir ainda toda a animação final e seus respectivos efeitos especiais extremamente positivos e eficazes que dão à curta toda uma vida diferente.
E quanto à freira decapitada... bom... isso é uma história completamente diferente...
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5 / 10
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Broken Bands (2012)

Broken Bands de Miguel Palhinha é uma curta-metragem portuguesa que visionei na última edição do Shortcutz Lisboa e que me deixou algo perplexo.
Se por um lado percebo que foi um trabalho feito no âmbito de um projecto de workshop com "regras" a respeitar num período de tempo reduzido onde as pessoas envolvidas têm de se entender com um conjunto de premissas pré-estabelecidas, por outro o resultado que qualquer um de nós espera de um filme é algo com o qual se possa de uma ou outra forma identificar.
Aqui, à excepção da história de amor... pouco mais há com que nos possamos rever. Temos dois jovens que num local, não direi paradisíaco mas bastante agradável, comunicam com poucos diálogos, uma despedida ao "som" das boas recordações que ali passaram.
Se por um lado queremos perceber que tipo de estranha relação é aquela, por outro damos por nós a apreciar mais depressa a paisagem circundante do que propriamente o que aqueles dois andam por ali a fazer.
Dotada de uma extraordinário fotografia numa mescla entre jogos de luz representativos dos bons momentos passados, e alternando com pesados sombras que adivinham um futuro de solidão, esta curta pouco mais é do que isso... um trabalho experimental de um conjunto de estudantes que deixa por cumprir uma história de amor que poderia ter sido interessante.
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2 / 10
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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Purgatório (2011)

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Purgatório de João Filipe Silva e Pedro Miguel Silva é assumidamente uma das melhores curtas-metragens que vi nos últimos tempos.
Num cenário pós-apocalíptico encontramos um individuo a escrever. Temos uma voz-off que narra o que está a ser escrito naquela carta ao som da Sétima de Beethoven.
A mensagem que nos é transmitida não só se poderá considerar como sendo de solidão, de uma solidão extrema ue se faça essa ressalva, como também de despedida. Uma carta de despedida de alguém que já não aguenta o mundo em que vive. Um mundo onde a ausência de outros seres faz sentir a profunda irrelevância de manter a própria vida.
Independentemente do próprio mundo e da natureza mostrarem os primeiros sinais de regeneração e do advento da vida, para quê continuar se não se encontra outra alma com quem o poder admirar ou partilhar os pensamentos...
O fim, por muito agreste que seja, não é comparável (para melhor) à constante certeza de que viver será infinitamente mais doloroso... O purgatório que é uma vida num mundo que tem morrido dia após dia é muito pior do que uma morte escolhida. Resumidamente, temos aqui uma perfeita carta de despedida.
A beleza fria e rude das imagens e as próprias sombras que um muito bem executado trabalho de fotografia dá a este filme, apenas poderiam ser sentimentalmente temperados ao som da extraordinária composição de Beethoven que foi escohida para dar vida a esta curta.
Independentemente da duração desta curta, o ambiente desolador e desprovido de qualquer esperança criado nela só poderia ser comparado a outro filme do género... A Estrada. Simplesmente brilhante.
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"Voz-Off: Hoje é um dia diferente... Liberto-me da escravidão da rotina (...) Opto pela incerteza do fim sobre a certeza desta monotonia solitária."
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9 / 10
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Papel Amachucado (2012)

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Papel Amachucado de Leandro Barros e Lucas Afonso é também uma das várias curtas-metragens produzidas no âmbito da disciplina de Oficina das Artes da EB 2,3 do Viso - Viseu que ocorreu no Museu Grão Vasco.
Esta curta-metragem conta-nos a história de uma jovem adolescente que chega a uma escola nova e onde se encontra sózinha e sem amigos. Do isolamento forçado ao frequente empurrar, o caminho para a sala de aula parece insuportável. Uma vez lá chegada nada parece mudar, e continua a ser alvo dos constantes ataques dos seus colegas.
De todos menos um... Aquele colega que lhe envia um misterioso papel que esperamos leia. O que dirá?
Além da interessante história que além de um tema tão importante como a solidão retrata questões como o bullying ou a violência que pode assumir muitas formas que não só a física, aquilo que me fez pensar mais quando assisti a este muito interessante trabalho foi, por um lado, os magníficos planos de exterior captados por, repito, tão jovens realizadores. Aquele que acompanha este comentário é, de facto, esmagador. Além da sensação de imensidão que dá, esta é acompanhada de uma enorme sensação de vazio e solidão. Todo o espaço à sua volta estão "povoados" pelo nada, algo que demonstra uma enorme capacidade de enquadramento de imagem e da sensação que se pretende transmitir ao público.
Por outro lado, e algo que é quase impossível não referir, a abordagem a temas tão complexos como os já referidos por alguém que ainda se encontra numa fase inicial da adolescência e que faz pensar até que ponto já não os presenciaram e têm assim uma ideia tão bem formada do quão importantes são e de os mostrar ao mundo através dos seus olhos.
Recorrendo a um cliché cinematográfico, senti uma lufada de ar fresco ao assistir a esta curta, e questiono-me sobre o quão importante seria "investir" mais em alunos que já conseguem entregar trabalhos tão eficazes e bem realizados como este.
Repetindo-me... Thumbs WAY up!
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9 / 10
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O Quadro (2012)

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O Quadro de Luís Sérgio e Hélder Faria é uma das várias curtas-metragens produzidas no âmbito da residência artística aVISO24 dos antigos alunos da EB 2,3 do Viso - Viseu que ocorreu no Museu Grão Vasco.
Esta curta quase na sua totalidade sem falas mas rica através do poder da música que lhe dá um ritmo bastante interessante, conta-nos a história de uma jovem que pretende ter o seu quadro num museu junto a um conjunto de obras de arte valiosas.
Após lhe ser recusado o acesso à exposição da sua obra, a jovem deambula pelo museu a apreciar as obras que para ela são tão ou menos importantes que a sua, onde tenta perceber qual o melhor espaço para esta ser apreciada. Conseguirá finalmente ter o seu quadro exposto em tão importante museu?
Este filme, que por momentos nos faz recordar passagens do Mr. Bean no museu a apreciar arte, consegue agradar pela sua simplicidade e por uma certa mensagem de perseverança e força de vontade transportada para o ecrã pela interpretação da sua jovem actriz principal.
Interessante a forma de filmar ao estilo de cinema mudo, onde as expressões da actriz e a música que a acompanha (excepto nos momentos em que a sua presença no museu é captada pelas câmaras do mesmo) conseguem criar um leve e agradável ambiente e fluência da história. Impressionante se pensarmos que este filme é feito pelas mãos e mente de dois jovens que acredito, a terem suporte e gosto pelo cinema, poderão vir no futuro a mostrar muito mais.
Recorrendo à "avaliação" de um reputado crítico norte-americano... thumbs up!
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7 / 10
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terça-feira, 19 de junho de 2012

Natália, A Diva Tragicómica - lançamento do DVD

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O filme documental Natália, A Diva Tragicómica de João Gomes, um dos seleccionados na última edição dos CinEuphoria Prémios de Cinema em 2012, vai ter finalmente o seu lançamento em DVD.
A 24 Junho na FNAC do Chiado pelas 18 horas, com debate de apresentação moderado pela jornalista do SOL Aisha Rahim, e com a presença do próprio realizador e de Armando Carvalhêda, realizador de programas RDP e participante no documentário.
As restantes sessões de apresentação do DVD serão nas seguintes datas:
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26 Junho :: 18h30 FNAC Vasco Gama + 21h30 FNAC Colombo com a presença do realizador
29 Junho :: 21h FNAC Algarve
5 Julho :: 22h Almada com a presença do realizador
6 Julho :: 18h Madeira
8 Julho :: 15h30 Cascais com a presença do realizador
13 Julho :: 21h Guimarães
27 Julho:: 21h30 Braga
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Cat People (1982)

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A Felina de Paul Schrader é o remake do clássico dos anos 40 do século passado que junta Nastassja Kinski, Malcolm McDowell e John Heard nas principais interpretações.
Com a acção centrada num Louisiana mistico onde as superstições do passado vivem bem presentes na actualidade, temos a chegada de Irena (Kinski) a New Orleans onde vai finalmente reencontrar Paul (McDowell) o seu irmão, que para com ela desenvolve uma invulgar e quase incestuosa empatia, e reatar laços depois de anos de vivência em orfanatos e numa família adoptiva.
Ignorante quanto ao seu misterioso passado, Irena sente uma imediata atracção e fascínio pela pantera do jardim zoológico da cidade e irá muito rapidamente descobrir que a mesma lhe é muito mais familiar do que pensava, numa viagem que explora a auto-descoberta e a libertação sexual que irá partilhar com um Oliver (Heard) um dos tratadores dos animais.
Este argumento de Alan Ormsby baseado no original de DeWitt Bodeen torna todo o enredo mais explícito e gore do que a história original. Quer pelos momentos mais macabros, acentuados não só pelo excelente trabalho de fotografia de John Bailey que capta com grande destaque a misticidade da cidade não a transformando de imediato numa cidade apelativa e receptiva mas sim num espaço onde a mudança e a novidade não são bem recebidas, quer claro está, pelos segmentos onde sucessivos cadáveres ou ossadas são descobertas pela cidade, aquilo que aqui temos é essencialmente um filme que pretende primar mais pelas suas componentes gráficas do que propriamente por uma história ou qualidade fílmica no seu todo.
Mas este filme não pretende ser um exemplo apenas pelo gore que, ainda que tímido, está constantemente presente, tendo como um dos seus principais aspectos uma sexualidade e componente erótica muito marcada, juntando assim sexo e morte num só caminho onde, ciclicamente, se tocam lançando a ideia de que qualquer tipo de relação sexual só é possível entre os da mesma espécie incestuosamente, e que quando este comportamento é desviante apenas a morte os poderá salvar, naquilo que é um claro manifesto sexualmente desviante e socialmente condenável.
Nastassja Kinski, que não tem um desempenho maior mas que, no entanto, o suporta devido ao seu ar angelical e vítima de uma situação que não controla, torna-se assim todo o centro de um filme que pouco tem para dizer, além dos segmentos mais gráficos que, tendo os seus notados erros, não deixam de ser os mais dinâmicos e fortes. McDowelll que ficará eternamente ligado à sua interpretação em Laranja Mecânica, dá um pouco de si mesmo neste filme como o irmão que sabe mais do que conta e que está preparado para pôr à prova a inocência alheia. Ainda que um desempenho forte no que diz respeito ao seu conteúdo não deixa de ser, comparativamente ao que a sua personagem poderia "dar", um desempenho muito controlado e contido, se bem que sempre ameaçador.
Positiva sim é a banda-sonora de Giorgio Moroder e o tema principal composto em parceria com David Bowie que tem acordes e sonoridades bem mais "felinas" do que todo o restante filme que, sem ser uma obra-prima, não deixa de emanar algum encanto e fascínio pela transformação anjo-demónio composta por Kinski e que em última análise é o que sai de mais interessante de todo este projecto.
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4 / 10
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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Men in Black 3 (2012)

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Homens de Negro 3 de Barry Sonnenfeld recupera a dupla de imbatíveis agentes secretos que controlam a actividade alien na Terra, J (Will Smith) e K (Tommy Lee Jones), nesta que é a sua terceira colaboração, tendo já passado dez anos desde que se haviam encontrado pela última vez.
Nesta terceira aventura dos Homens de Negro, Boris (Jemaine Clement) um perigoso alien de uma espécie em extinção, foge da sua prisão lunar com o único objectivo de exterminar o homem que o prendeu, o agente K (Tommy Lee Jones).
Quando K desaparece misteriosamente e ninguém à excepção de J (Will Smith) se recorda dele, este decide regressar ao passado e reencontrar K (Josh Brolin) e conseguir assim capturar o jovem Boris e acabar com os seus malévolos planos de destruição do planeta.
As interpretações de Smith e Tommy Lee estão, como não poderia deixar de ser, ao seu melhor nível e fazem justiça aos seus dois antecessores. No entanto, se é verdade que Tommy Lee Jones aparece aqui um pouco mais apagado do que nos outros dois filmes, não deixa também de ser verdade que lhe foi encontrado um substituto à altura graças ao "rejuvenescimento" da sua personagem através da prestação de Josh Brolin que consegue captar muita da energia de Jones e, desse modo, ser francamente credível em nos convencer que são de facto a mesma pessoa.
No entanto há uma ausência que, por muito secundária fosse nos anteriores filmes aqui é sentida. Rip Torn, como o agente "Zed" que comandava as "tropas", é aqui substituído após a sua morte pela agente O (Emma Thompson), que dá um pequeno ar de sua graça numa interpretação que não lhe é típica mas que consegue agarrar e torná-la muito própria através do seu charme "brit".
A saga consegue através da "reciclagem" das personagens fixas e da adicção de outras tantas, ter uma continuidade saudável que acaba por nos fazer esperar já por mais um capítulo onde estes tão bravos agentes salvam, uma vez mais, o planeta da próxima ameaça alienigena que insiste em fazer da Terra o seu mais recente "lar" ou alvo de destruíção.
E também não deixa de ser verdade que o humor sarcástico e piadas de circunstância alternados com bons momentos de acção e aventura nos mais inesperados locais, que o digam os tripulantes da Apolo que tinham a Lua como objectivo, estão presentes e conseguem cativar-nos desde o início. A simpatia que este conjunto de tão agradáveis personagens conseguiu reunir junto do público prova que está para ficar e que não estamos cansados das suas aventuras.
A completar o filme temos obviamente de referir a tão característica banda-sonora de Danny Elfman e a excelente caracterização das personagens alienigenas que conseguem dar sempre um toque de inovação a cada filme que passa.
Este filme prova assim que o regresso dos Homens de Negro era aguardado e com boas razões para tal, e que eles estão "aí" e tão enérgicos como da primeira vez. Principalmente para os fãs dos dois primeiros, este filme não pode deixar de ser visto pois é, garantidamente um bom revivalismo da dupla e seus parceiros do bem... e do mal.
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7 / 10
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domingo, 17 de junho de 2012

Yep, Zombies (2011)

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Yep, Zombies de Kevin M. Kirkpatrick é uma curta-metragem feita no âmbito do 48 Hours Sacramento Film Festival e que teve como base um vulgar filme de zombies.
Apesar das boas intenções e vontade de fazer uma curta original, o que é certo é que aqui se recorre aos tradicionais clichés do género em questão, exagerando-os ao ponto de se tornarem quase absurdos. Temos o tipo com a namorada que é mordida mas não quer acreditar que ela se vai transformar numa morta-viva e que num exagerado acto de bravura acaba, ele próprio, mais morto que os mortos. E temos também a heroína de serviço que mata zombies apenas com os punhos, consegue correr de saltos altos em puro momento de tensão e com umas calças bem apertadas que, numa qualquer situação normal não deixariam ninguém andar.
Se as interpretações já são caem, e bem, para o lado negativo, não deixa de ser uma igual verdade que tecnicamente falando esta curta deixa muito a desejar. Desde o som por vezes imperceptível até à exagerada movimentação da câmara... temos de tudo.
As intenções são boas, é uma verdade, mas nem sempre isso é o suficiente para se conseguir um trabalho razoável. Esta curta é o perfeito exemplo de que nem sempre essas boas intenções resultam.
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1 / 10
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sábado, 16 de junho de 2012

Rapaz ou Rapariga? (2012)

Rapaz ou Rapariga? de André Santos foi uma das duas curtas-metragens em competição na terceira edição do Shortcutz Faro e, confesso, uma muito agradável surpresa no seu todo.
Esta história está dividida em dois muito característicos momentos. No primeiro temos uma abordagem através de uma animação Playmobil sobre aquilo que se espera na vida de um indivíduo... O crescer, o passar dos anos, o conhecer alguém especial e ter filhos... netos. Um conto animado sobre a evolução da vida e o passar dos anos.
O segundo momento já contado com actores representa um homem na sala de espera de um hospital quase vazio onde pensamos aguardar o nascimento do seu primeiro filho.
Sem revelar mais nada desta curta-metragem a partir deste momento, pois estragaria toda a surpresa, a originalidade desta história prende-se a partir daqui quando descobrimos o que realmente se está a passar na cabeça daquele homem que o leva a um verdadeiro estado de ansiedade, e que a nós próprios enquanto espectadores nos provoca aquela sensação de ter levado um enorme murro no estômago, depois de termos assistido a uma grande e verdadeira recriação sobre o nascimento, o crescimento e a constituíção de família tão inerentes a qualquer um de nós.
Dotada de uma enorme sensibilidade ao ritmo de uma igualmente sentida banda-sonora, esta curta-metragem não só consegue ser original como uma verdadeira e agradável surpresa que, estou convencido, conseguirá agradar a todos.
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"Voz-off: Por quanto tempo permanecemos nós filhos dos nossos pais?"
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8 / 10
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sexta-feira, 15 de junho de 2012

De Grønne Slagtere (2003)

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Carne Fresca, Procura-se de Anders Thomas Jensen foi o filme vencedor da Semana dos Realizadores do Fantasporto, tendo vencido os prémios de filme, realizador e actor para Mads Mikkelsen.
Fartos da arrogância do seu patrão, Bjarne (Nikolaj Lie Kaas) e Svend (Mads Mikkelsen), dois talhantes de uma pequena cidade, decidem abrir o seu próprio estabelecimento e conseguirem assim a sua independência.
Se as perspectivas de negócio eram elevadas, a realidade cedo veio provar que o negócio não iria florescer para ambos, continuando assim a ser os falhados da cidade. (In)felizmente os imprevistos acontecem e a realidade muda constantemente, e aquilo que viria a acontecer por acidente tornou-se, num piscar de olhos, na salvação de ambos. Ou assim eles pensavam...
Este filme, que se assume em toda a frente como uma comédia bem negra onde os poucos momentos de riso dão lugar a uma sentida ironia e sarcasmo, consegue ser original e bem intencionado mas nunca chega a cumprir os requisitos de uma boa comédia negra onde, a dada altura, acabamos por sentir uma certa empatia pelas suas personagens principais.
Aqui se por um lado esperamos que Bjarne e Svend consigam vencer na vida e libertar-se de alguns estigmas que o seu pequeno meio os obrigou a sentir na pele, não deixa igualmente de ser verdade que também queremos que a vida não lhes corra pelo melhor para ver até que ponto vão eles chegar. No entanto, e sem grande esforço, tal como o próprio título português do filme deixa adivinhar, aquilo que nós esperamos acontece a um ritmo quase alucinante sem que se consiga estabelecer um sentido prático para as mortes que vão ocorrendo na cidade além de que pura e simplesmente "lhes apetece". A carne é boa e a marinada que a acompaha também e isso chega a ambos... bem como para todos aqueles que repentinamente começam a provar as suas tão deliciosas iguarias.
O argumento tem assim esta pequena grande dualidade que ora nos faz empatizar com as personagens e as suas hsitórias e neuras mas, ao mesmo tempo, não as aprofunda ou sequer as faz ter um lado mais "humano" com o qual nos possamos identificar (menos na parte homicida claro está).
Dito isto, e à parte de algum conteúdo pouco explorado relaticamente às próprias personagens que também impedem os dois actores principais de brilharem como poderiam com tão interessante argumento de base, este filme mantém-se, tal como o norte desta grande Europa, quase sempre frio nunca chegando a aquecer ou desenvolver o suficiente para nos entusiasmar e envolver nele ou mesmo criar alguma empatia maior com as suas tão características personagens que, em boa verdade se diga, quase parecem robóticas.
Interessante sem nunca se aproximar do bom, entretém pela premissa mas desinteressa pela sua fraca concretização.
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6 / 10
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Shortcutz Faro #03

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#03 Sessão Shortcutz Faro 15 de Junho 21e30 | Pátio de Letras Faro | Curtas em Competição :
O Nascimento de uma Garrafa | Realização Pedro Horta e Filipa Gouveia
Rapaz ou Rapariga ? | Realização André Santos
Curta Convidada :
Documentário Terra Quente o Fim do Milénio de Joana Morais
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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Vivere una Favola (2012)

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Viver uma Fábula de Alice Tomassini é uma curta-metragem italiana que foca inicialmente uma realidade já de si preocupante quando damos por nós a seguir a vida de Vesna, uma menina que pede esmola pelas ruas de uma qualquer cidade italiana, enquanto percebemos que os seus pais despreocupados e desinteressados com o seu paradeiro se devem encontrar na sua igualmente degradante casa.
É enquanto a vemos a pedir que damos por nós a presenciar outra realidade ainda mais preocupante quando Vesna é abordada por um homem que lhe começa por contar uma fábula de forma a atrair a sua atenção para algo que percebemos ser muito mais grave. Vesna está indefesa e sujeita a qualquer tipo de predador que deambule pelas ruas da mesma cidade.
Igualmente escrita pela realizadora, esta curta-metragem consegue abordar várias realidades decadentes e muito medonhas das quais uma criança pode ser vítima. Por um lado a miséria e mau ambiente familiar que a levam a estar sózinha pelas ruas de uma cidade e, uma vez aqui, está sujeita a todo o tipo de predadores que podem fazer dela aquilo que entenderem... como acontece.
Esta intensa mas assustadoramente real curta-metragem, consegue através de pequenos diálogos retratar um dos grandes males de sociedade actual onde um número indeterminado de crianças são vítimas de predadores sexuais que espreitam a qualquer esquina.
Um trabalho bem conseguido desta realizadora que, através dos olhos de uma criança e de uma história infantil, consegue ser cru, frio e em igual dose, medonho.
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7 / 10
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quarta-feira, 13 de junho de 2012

La Horde (2009)

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A Horda de Yannick Dahan e Benjamin Rocher é um intenso e algo claustrofóbico filme de terror feito ao estilo de uma mescla entre 28 Dias Depois e a Noite dos Mortos Vivos.
Quando um grupo de polícias à margem da lei decide vingar a morte de um dos seus às mãos de uns criminosos de bairro, longe estaria de imaginar que a sua noite, e a do mundo, iria terminar da pior forma.
Ao dirigirem-se para um prédio semi-abandonado nos arredores da cidade, não só começam por ter de enfrentar o terror às mãos do gang local como, muito rapidamente, percebem que algo de estranho se está a passar nas ruas quando uma série de misteriosas e inexplicadas explosões começam a ocorrer.
Quando os mortos se levantam e demonstram um sério gosto pela carne humana ainda quente e a pulsar de sangue, tanto polícias como os membros do gang que ainda resistem percebem que têm de unir esforços para poderem garantir a sua sobrevivência. Será que depois de uma tortuosa descida desde o último andar até ao hall para abandonarem o prédio vão conseguir resistir às enormes investidas de que são alvo?
Como habitual neste género de filme, não podemos daqui esperar uma história emocionalmente apelativa além daquilo que já é, à partida, esperado. Sabemos que os poucos sobreviventes que se encontram naquele prédio estão numa situação bem complicada e que o mais certo até final do filme é que alguns deles não cheguem nas melhores condições ao piso térreo.
Sabemos também que os sustos vão ser bastantes e que alguns deles não serão tanto pela presença de algo incomodativo mas sim pela sugestão e pelo fazer crer que algo vai suceder nos momentos menos esperados. E sabemos também que um dos aspectos mais positivos do género cinematográfico em questão é a caracterização dos actores e que, neste caso muito em concreto resulta na perfeição pois consegue ser francamente bem conseguida e assustadora muito à semelhança do já referido 28 Dias Depois onde, não revelando constantemente o aspecto dos mortos-vivos consegue por rápidos movimentos de câmara aliados ao poder de sugestão, intimidar qualquer espectadormais sensível. E que se enganem aqueles que pensam que estes zombies se limitam a morder e arrancar pedaços de carne... não não... bem pelo contrário... eles são bem mais astutos, bem mais rápidos do que o costume e como se isso não bastasse... eles lutam e fazem frente a qualquer vivo bem pensante.
Perfeição poderei também falar quando me refiro à fotografia da autoria de Julien Meurice que através de um poderoso jogo de sombras consegue transformar todo o espaço num ambiente verdadeiramente claustrofóbico e de detenção. Se repararmos bem ao longo de todo o filme, a única luz presente centra-se nos exactos locais onde os actores se encontram. Uma sala, um corredor, uma cave... por muito espaçoso que seja o local temos um pequeno foco de luz envolto numa enorme concentração de sombra que diminui qualquer local para a pequena dimensão onde se encontram os actores. Assim, não só temos a sensação de cativeiro no alto e dentro de um prédio como também de claustrofobia por se centrar tudo num pequeno espaço para onde existe uma reduzida hipótese de fuga.
No final temos ainda uma tentativa de moral aplicada através das personagens mais fortes. A primeira uma das polícias sobreviventes e por outro lado o mais forte dos marginais que se encontram no mesmo ponto narrativo de onde iniciaram a sua acção. Vingança ou solidariedade entre sobreviventes que colidem na mais inesperada (ou talvez não) das reacções e que culmina num já esperado, mas ainda assim não visível desfecho.
Intenso, claustrofóbico (não me canso de o frisar), por vezes assustador e de agarrar à cadeira em várias ocasiões, este filme consegue ser um dos mais bem realizados do género que vi nos últimos tempos e sem dúvida um filme recomendado para os apreciadores incondicionais que procuram que um resulte tão bem como este.
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8 / 10
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terça-feira, 12 de junho de 2012

Globos de Ouro 2012 - Itália: nomeados

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Premio alla Carriera: a Michele Placido
Gran Premio della Stampa: a Gianni Amelio, Il Primo Uomo
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FILME
Cesare deve morire, Paolo Taviani e Vittorio Taviani.
L'industriale, Giuliano Montaldo.
Romanzo di una strage, Marco Tullio Giordana.
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REALIZADOR
Emanuele Crialese, Terraferma
Ferzan Ozpetek, Magnifica presenza
Paolo Taviani e Vittorio Taviani, Cesare deve morire
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PRIMEIRA-OBRA
Appartamento ad Atene, Ruggero Dipaola
Cigliegine, Laura Morante
Sette opere di misericordia, Gianluca e Massimiliano De Serio.
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COMÉDIA
Benvenuti al nord, Luca Miniero
Com'e' bello fare l'amore, Fausto Brizzi
Posti in piedi in paradiso, Carlo Verdone
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ARGUMENTO
Andrea Purgatori, L'industriale
Giordana, Petraglia, Rulli, Romanzo di una strage
Roberto Faenza, Un giorno questo dolore ti sara' utile
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FOTOGRAFIA
Fabio Cianchetti, Terraferma
Maurizio Calvesi, Magnifica presenza
Arnaldo Catinari, L'industriale
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MÚSICA
Pasquale Catalano, Magnifica presenza
I Mammooth, Sandrine nella pioggia
Andrea Morricone, L'industriale
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CANÇÃO (Intérprete)
Arisa, ''Il tempo che verra''', Tutta colpa della Musica
Elisa, ''Love is requited'', Un giorno questo dolore ti sara' utile
Patty Pravo ''Com'e' bello far l'amore', Com'e' bello fare l'amore
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ACTOR
Elio Germano, Magnifica presenza
Adriano Giannini, Sandrine nella pioggia
Valerio Mastandrea, Romanzo di una strage
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ACTRIZ
Asia Argento, Isole
Carolina Crescentini, L'industriale
Valeria Golino, La kryptonite
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DOCUMENTÁRIO
Le coccinelle, Emanuele Pirelli
Le vere false teste di Modigliani, Giovanni Donfrancesco
Mare chiuso, Stefano Liberti e Andrea Segre
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CURTA-METRAGEM
La casa di Esther, Diego Manfredini
Pollicino, Cristiano Anania
Tiger Boy, Gabriele Mainetti
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FILME EUROPEU
Dot.com, de Luis Galvao Teles (Portugal)
Tellement Proches, Olivier Nakache e Eric Toledano (França-Bélgica)
The Artist, Michel Hazanavicius (França)
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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ann Rutherford

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1920 - 2012
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My Green Pencil (2012)

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O Meu Lápis Verde de Fayaz Bahram é uma curta(íssima)-metragem iraniana bem imaginativa e dona de uma sensibilidade gritante.
Na curta duração desta "curta", temos uma menina frente a uma janela que com o seu lápis verde colorindo uma folha... e outra... e outra... que cuidadosamente vai colocando na árvore que se encontra à sua frente.
Esta árvore, inicialmente despida de qualquer adorno começa lentamente a ganhar uma vida que ilumina literalmente o nosso ecrã, transmitindo uma mensagem de vida e esperança num cenário que se apresenta frio e "morto", graças ao magnífico trabalho de fotografia que aqui nos é apresentado.
Interessante, imaginativa e carregada de simbolismo, aqui temos uma curta-metragem que só peca pela muito curta duração.
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7 / 10
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sábado, 9 de junho de 2012

Deixa Morrer (2012)

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Deixa Morrer de Mauro Viegas é a mais recente curta-metragem deste realizador que aqui conseguiu um trabalho mais intimista e bem mais concretizado.
Acompanhamos aqui os sentidos diálogos de despedida de um jovem casal que se separou por motivos que descobrimos com o decorrer da curta. Sentidos pois são uma fiel imagem das suas almas espelhadas através de palavras que na quantida certa recriam um ambiente perfeito para a temática em questão.
Quanto às interpretações dos jovens actores, temos uma Jessica Chagas bem mais segura e com uma entrega bem mais vísivel do que na participação que tivera em Raposo Manhoso, a anterior curta do realizador, e que consegue criar para si uma maior identificação com as palavras que nos entrega. O mesmo poderei dizer de Fábio Valente, o protagonista, que apesar de ainda fazer notar algum desconforto na sua interpretação, consegue também torná-lo uma vantagem se considerarmos o novo "estado" da mesma.
Um bom trabalho de fotografia com luzes e poucas sombras que tornam a curta muito mais serena, é apenas abafado por alguns problemas técnicos no que ao som diz respeito ao captar ruído do vento nos exteriores e alguma impercepção de um ou dois diálogos em interiores.
Na globalidade dou os parabéns ao realizador que consegue mostrar bastante evolução desde o seu último trabalho e que entrega uma nova curta-metragem não só sensível na temática como muito mais firme e segura na sua execução.
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"Ela: Dói muito morrer?
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Ele: Não, é mais fácil que adormecer."
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7 / 10
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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Prometheus (2012)

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Prometheus de Ridley Scott é possivelmente um do conjunto restrito de filmes que mais antecipei ou anteciparei durante este ano. O porquê é simples... este é o filme que antecede uma das minhas sagas cinematográficas preferidas... Alien(s), também ela iniciada por Scott.
Aqui iríamos finalmente descobrir como começou a praga de tão mortais critaturas que deram, a seu tempo, muitas dores de cabeça à Tenente Ripley tão brilhantemente interpretada por essa grande Sigourney Weaver. Tantos e tão bons momentos de acção que nos trouxe a saga que este filme só poderia deixar uma enorme vontade de ser visto.
Este filme começa na Escócia no 2089, muitos anos antes da nave Nostromo ser enviada para a sua fatídica missão. Quando Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) descobrem aquilo que pensam ser sinais que marcam um convite de uma entidade extra-terrestre na Terra para visitarem o planeta da sua origem, ambos recorrem à empresa Weyland, propriedade de Peter Weyland (Guy Pearce), para iniciarem a sua viagem rumo a um universo totalmente desconhecido, e aí poderem encontrar as respostas que tanto ambicionam sobre os "como" e os "porquê" da existência da vida no planeta Terra e quem foram aqueles que a "criaram" lá.
No entanto e como já poderíamos adivinhar, os objectivos da tripulação são díspares e nem todos revelam realmente aquilo que pretendem conseguir desta viagem, e isto sem comentar que aquele novo planeta reserva surpresas que anos mais tarde iriam ser devastadoras para a Nostromo e sua tripulação que, como todos sabemos, podemos ver na saga original que despoletou a criação desta prequela.
Apesar de pertencer ao universo "Alien", que não se iludam aqueles que pensam que ao irem assistir a este filme vão ter uma luta frenética de humanos contra aliens sedentos de sangue como estavamos habituados nos já referidos filmes. Aqui, os motivos que levam ao desenrolar desta nova trama prendem-se principalmente com as origens do Homem no planeta Terra. A tal ideia do "de onde viemos" é o mote que leva esta expediação a um (mau) porto de onde nos irão surgir ainda mais questões do que aquelas com que começámos a ver este filme, e principalmente vão destruir as certezas que tinhamos quando entrámos na sala de cinema.
Temos de facto a porta que faz a rampa de ligação entre aquilo que já conhecemos, não necessariamente os mesmos aliens com sangue ácido mas aliens de qualquer das formas, e temos sim uma abordagem à forma como alguns destas se criaram, ou pelo menos alguns deles e, apesar de não ser o tradicional, o que é certo é que são tão mortíferos como aqueles que nos são familiares e, também isto, abre caminho para toda uma nova tipologia que, até agora, nos era desconhecida.
Mais familiar é a própria nave Prometheus que apesar da modernidade que os efeitos especiais trouxeram nestes últimos trinta e três anos, consegue captar alguns dos "traços" da nossa saudosa Nostromo que são facilmente identificáveis por qualquer fã mais atento... as portas de ligação entre as várias secções da nave... as bancadas centrais onde a tripulação se reunia entre outros, e isso consegue criar uma certa ligação entre filmes, apesar deste se querer uma história independente. Sabemos que estamos no mesmo universo mas, ao mesmo tempo, percebemos que temos de nos desvincular daquilo que temos já como garantido.
As interpretações apesar de competentes e conseguirem criar uma química generalizada entre o conjunto de actores, não conseguem ter o dinamismo que temos como a nossa igualmente saudosa "Ripley". É certo que Noomi Rapace cria um excelente "boneco" com a sua Elizabeth Shaw que tanto tem de frágil com de guerreira, abrindo inclusive porta para dar continuidade a esta sua personagem mas, ao mesmo tempo, não consegue ter o carisma que Sigourney Weaver teve durante quase vinte anos em que assumiu a sua Ripley. Por muito que se tente não tecer uma comparação entre ambas, ela é quase inevitável pois todos sabemos que a saga que este Prometheus precede, muito deve o seu sucesso, e consequente legião de fãs, graças à presença quer combativa quer emotiva que Sigourney Weaver nela depositou (não é ao acaso que teve aqui uma nomeação a Oscar... a primeira num filme de ficção científica).
Não quero com isto dizer que Rapace não é convincente, bem pelo contrário. A sua Elizabeth tem pernas para andar e estou confiante que nos próximos anos teremos alguma surpresa no que a isto diz respeito.
Destaco ainda Charlize Theron que com a sua Merdith Vickers (de quem suspeito também irmos ouvir falar quando esta saga continuar), consegue criar uma personagem ambígua que nos deixa do início ao fim na dúvida sobre se será ou não um andróide. Se por um lado a nossa certeza sobre este aspecto é inabalável graças à sua frieza na liderança e dotes físicos que conseguem encostar qualquer um à parede, não deixa igualmente de ser verdade que quando realmente posta à prova as suas emoções são acentuadas. Mais uma explicação que ficará para a sequela, muito ao estilo de Bishop no Aliens e Alien 3.
No entanto há que destacar aquele que não só se destaca como uma importante presença dramática na actualidade cinematográfica como consegue ainda tornar-se peça fundamental da saga X-MEN e agora em Prometheus. Estou a falar claro de Michael Fassbender, que com o seu andróide "David" recria o pior e o melhor dos anteriores pares. Sem Alien tinhamos um Ash cruel e indiferença à dor humana, no segundo e quarto filme da saga tinhamos Bishop e Call que eram andróides programados para sacrificar a sua integridade pela segurança dos humanos que acompanhavam.
A brilhante interpretação de Fassbender coloca-o num misto destes três. Se por um lado David é um preocupado com as emoções humanas e com as suas características e cultura que os tornam tão particulares, por outro temos nele o provocador do descalabro dos elementos desta missão (não, não vou revelar como...). Esta dísparidade de equilibrios que consegue tão "friamente" interpretar tornam-no num dos andróides mais desafiantes e perturbadores da série. Se por um lado pretende preservar o bem, por outro sabemos que vai provocar o mal e sempre ao ritmo de uma ironia cortante. Se em todos os Alien, a personagem do andróide foi indispensável, aqui ela não só o é como se torna praticamente na principal, especialmente se pensarmos que continua para além deste filme. Michael Fassbender mais uma vez com uma escolha determinante para a sua carreira e, não fosse este um filme de ficção científica que, mais uma vez, deve apenas granjear nomeações nos efeitos especiais e demais categorias técnicas, e apostaria que conseguiria recolher aqui uma nomeação por esta sua personagem tão ambígua e contraditória, e que o coloca (se é que ainda existiam grandes dúvidas) como um dos mais fortes actores do momento... e para o futuro.
Além dos efeitos especiais, que todos sabemos ser um dos elementos fortes do filme, da respectiva caracterização e das referidas e marcantes interpretações, este filme consegue ser um desafiante entretenimento que nos estimula os sentidos para todo um ambiente onde a própria acção decorre que é, garantidamente, estimulante. Vamos esquecer por momentos que até existem aliens por ali, no entanto é impossível esquecer todos os perigos atmosféricos que são uma garantida presença... Ar irrespirável, tempestades climatéricas que jamais alguém assistiu e descargas eléctricas capazes de "torrar" qualquer espaço verdejante, este planeta distante é no mínimo por si só, assustador que apenas é intensificado com a constante variação de luzes e sombras da brilhante fotografia de Dariusz Wolski. Mesmo antes de alguma coisa correr mal todos nós percebemos que o ambiente não é o mais hospitaleiro.
Quanto ao argumento da autoria de John Spaihts e Damon Lindelof só tenho uma palavra para o caracterizar... ambiguo. Se por um lado nos transporta para um cenário e um mundo onde nós queremos claramente estar, afinal somos fãs, o que é certo é que abre um novo rumo para a história. Não nos afastamos de todo um cenário "Alien", mas ao mesmo tempo sabemos que não é por isso que ali estamos. Esta nova porta que se abre é sim para as origens da Humanidade. Porque nos "criaram"... quais os seus fins, os seus objectivos e, principalmente, porque é que a meio desta nova aventura acharam que o Homem, criados à sua imagem, foram um tão grande erro que pretenderam eliminar a todo o custo. Aqui existiram muitas questões por responder, e nenhum filme que consegue criar ume legião tão grande de seguidores irá manter-se por muito tempo sem ter uma, ou várias, sequelas que lhe dêem uma potencial resposta. A história e o argumento abriram-nos o apetite, tão ou mais voraz do que o dos aliens, para estas e tantas outras questões, e quem o fez sabe que queremos mais.
Gostando dos outros filmes como gosto, era praticamente impossível não gostar deste e não querer vê-lo novamente para poder apreciar todo um conjunto de detalhes que possivelmente me passaram ao lado mais que não fosse pela excitação do momento. No entanto, também reconheço que apesar de muito bom, esperava muito mais ainda e não sou exagerado quando digo que o filme passava muito bem com mais uma hora de duração... Hora essa que nenhum de nós iria achar "a mais".
Sem dúvida um filme a ver, especialmente os fãs da temática, que desesperam para ser novamente transportados para os cenários que tão familiares nos são, e também para aqueles que desconhecendo o universo em questão, irão agora sentir curiosidade em ver os restantes filmes que decorrem anos depois deste.
Mentiria se não dissesse que estou à espera da sua continuação... eu e todos os outros que o anteciparam tanto quanto eu. Como final para este já longo comentário deixo apenas uma questão... é certo que nesta altura a Ripley era apenas uma miragem mas... não a gostariam de voltar a ver?
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"Meredith Vickers: A king has his reign, and then he dies. It's inevitable."
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8 / 10
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