O Samaritano de David Weaver é um dos mais recentes filmes de Samuel L. Jackson que aqui interpreta Foley, um homem recentemente saído da prisão depois de vinte anos lá passados.
É nesta recente liberdade que Foley conhece Ethan (Luke Kirby), o filho do seu ex-companheiro que assassinou e que agora o procura não só para conhecer um pouco mais do seu desaparecido pai como também com os seus próprios planos para voltar a levar Foley para o mundo dos esquemas e crime organizado.
Pouco interessado neste velho estilo de vida Foley acaba por ceder quando conhece Iris (Ruth Negga), uma jovem e sedutora mulher com quem equaciona a possibilidade de voltar a ter uma vida digna depois de um longo e solitário cativeiro, que aos poucos o convence que os planos de Ethan em vigarizar Xavier (Tom Wilkinson), um poderoso barão do crime, são os certos para darem um novo rumo à sua vida e se afirmarem no submundo.
Será este o plano ideal para Foley retomar a sua vida, ou será que Ethan tem os seus próprios planos para o velho amigo do seu pai nem que para isso tenha de o sujeitar a uma inesperada e traumática experiência?
Para mim um filme em que o Samuel L. Jackson esteja presente é o motivo mais que suficiente para garantir que eu vou ser um dos seus espectadores. O look e postura "cool" do actor conseguem tornar qualquer personagem menos relevante num dos elementos mais fortes do filme em questão. Se a isto juntarmos aquele passado conturbado e problemático que muito deixou por resolver quanto às suas relações familiares e de amizade que este argumento da autoria de Elan Mastai e David Weaver conseguem reunir, então a primeira abordagem que nos faça pensar que este é o filme que queremos ver está dada como uma aposta ganha.
O clima inicial d'O Samaritano também não poderia ser mais interessante onde os dramas existenciais sobre a "nova vida" fora da prisão detêm o total controle da acção e a fotografia de François Dagenais apenas contribuem para que este ambiente de incerteza, de medo do desconhecido e de uma vida que volta a ganhar algum ímpeto estejam, no seu todo em evidência, e despertando a nossa vontade de o ver.
Os elementos estão lá todos... a tragédia, a vida interrompida que agora renasce, o drama familiar e as descobertas corrosivas que poderiam colocar sob a mira do desespero o mais forte dos homens como normalmente o é Samuel L. Jackson. No entanto, com o passar do tempo algo nos faz perceber que este filme poderia ter sido algo que tentou mas não o conseguiu ser em absoluto.
Sim, é um facto que o potencial do seu argumento, e do seu actor principal claro está, são os seus melhores trunfos mas não deixa também de ser verdade que àparte disso, e mesmo considerando o clima que se consegue recriar, este filme fica muito àquem daquilo que pretendeu ser. A química entre os seus actores é praticamente inexistente e temos o próprio Jackson muito apagado relativamente a outras personagens que nos últimos anos interpretou, e nem mesmo o vilão de serviço a cargo de Luke Kirby consegue ser suficientemente problemático ou doentio como se poderia esperar de uma pessoa que procura não só vencer no mundo do crime como também vingar a morte de um pai que não conheceu, ambos com o mesmo desespero pouco encantador.
À medida que o tempo passa e este filme parece ser mais uma desilusão pela qual infelizmente passámos, eis que surge aquele que será com toda a certeza o mais forte dos elementos de todo este filme... Tom Wilkinson. O actor que nos habituou a interpretações de homens fortes e determinados que, para o bem e para o mal defendem com garra a sua postura face ao mundo, aqui surpreende-nos com um homem forte e determinado sim mas que, inesperadamente tem também uma mente tão retorcida e doentia como violenta e fadada para o mal, constituindo-se como um dos mais interessantes e por explorar sádicos que um filme nos deu nos últimos anos mas que, ao mesmo tempo que nos adoça a boca também não desenvolve o suficiente para nos regalar. Em suma... aquece mas cumpre apenas o suficiente para nele repararmos.
Interessante e com momentos que dão algum gosto mas na práticacomo última análise, poderia ter sido um filme bem melhor se tivesse arriscado mais no desenvolvimento das suas personagens principalmente num relativamente apagado Samuel L. Jackson e num excitantemente temido Tom Wilkinson.
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5 / 10
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