terça-feira, 30 de abril de 2013

The Samaritan (2012)

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O Samaritano de David Weaver é um dos mais recentes filmes de Samuel L. Jackson que aqui interpreta Foley, um homem recentemente saído da prisão depois de vinte anos lá passados.
É nesta recente liberdade que Foley conhece Ethan (Luke Kirby), o filho do seu ex-companheiro que assassinou e que agora o procura não só para conhecer um pouco mais do seu desaparecido pai como também com os seus próprios planos para voltar a levar Foley para o mundo dos esquemas e crime organizado.
Pouco interessado neste velho estilo de vida Foley acaba por ceder quando conhece Iris (Ruth Negga), uma jovem e sedutora mulher com quem equaciona a possibilidade de voltar a ter uma vida digna depois de um longo e solitário cativeiro, que aos poucos o convence que os planos de Ethan em vigarizar Xavier (Tom Wilkinson), um poderoso barão do crime, são os certos para darem um novo rumo à sua vida e se afirmarem no submundo.
Será este o plano ideal para Foley retomar a sua vida, ou será que Ethan tem os seus próprios planos para o velho amigo do seu pai nem que para isso tenha de o sujeitar a uma inesperada e traumática experiência?
Para mim um filme em que o Samuel L. Jackson esteja presente é o motivo mais que suficiente para garantir que eu vou ser um dos seus espectadores. O look e postura "cool" do actor conseguem tornar qualquer personagem menos relevante num dos elementos mais fortes do filme em questão. Se a isto juntarmos aquele passado conturbado e problemático que muito deixou por resolver quanto às suas relações familiares e de amizade que este argumento da autoria de Elan Mastai e David Weaver conseguem reunir, então a primeira abordagem que nos faça pensar que este é o filme que queremos ver está dada como uma aposta ganha.
O clima inicial d'O Samaritano também não poderia ser mais interessante onde os dramas existenciais sobre a "nova vida" fora da prisão detêm o total controle da acção e a fotografia de François Dagenais apenas contribuem para que este ambiente de incerteza, de medo do desconhecido e de uma vida que volta a ganhar algum ímpeto estejam, no seu todo em evidência, e despertando a nossa vontade de o ver.
Os elementos estão lá todos... a tragédia, a vida interrompida que agora renasce, o drama familiar e as descobertas corrosivas que poderiam colocar sob a mira do desespero o mais forte dos homens como normalmente o é Samuel L. Jackson. No entanto, com o passar do tempo algo nos faz perceber que este filme poderia ter sido algo que tentou mas não o conseguiu ser em absoluto.
Sim, é um facto que o potencial do seu argumento, e do seu actor principal claro está, são os seus melhores trunfos mas não deixa também de ser verdade que àparte disso, e mesmo considerando o clima que se consegue recriar, este filme fica muito àquem daquilo que pretendeu ser. A química entre os seus actores é praticamente inexistente e temos o próprio Jackson muito apagado relativamente a outras personagens que nos últimos anos interpretou, e nem mesmo o vilão de serviço a cargo de Luke Kirby consegue ser suficientemente problemático ou doentio como se poderia esperar de uma pessoa que procura não só vencer no mundo do crime como também vingar a morte de um pai que não conheceu, ambos com o mesmo desespero pouco encantador.
À medida que o tempo passa e este filme parece ser mais uma desilusão pela qual infelizmente passámos, eis que surge aquele que será com toda a certeza o mais forte dos elementos de todo este filme... Tom Wilkinson. O actor que nos habituou a interpretações de homens fortes e determinados que, para o bem e para o mal defendem com garra a sua postura face ao mundo, aqui surpreende-nos com um homem forte e determinado sim mas que, inesperadamente tem também uma mente tão retorcida e doentia como violenta e fadada para o mal, constituindo-se como um dos mais interessantes e por explorar sádicos que um filme nos deu nos últimos anos mas que, ao mesmo tempo que nos adoça a boca também não desenvolve o suficiente para nos regalar. Em suma... aquece mas cumpre apenas o suficiente para nele repararmos.
Interessante e com momentos que dão algum gosto mas na práticacomo última análise, poderia ter sido um filme bem melhor se tivesse arriscado mais no desenvolvimento das suas personagens principalmente num relativamente apagado Samuel L. Jackson e num excitantemente temido Tom Wilkinson.
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5 / 10
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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Adeus Amor (2011)

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Adeus Amor de Henrique Prudêncio é uma curta-metragem portuguesa que nos fala de um improvável amor entre um rapaz (Henrique Prudêncio) e uma rapariga (Xana Rodrigues) que se encontram separados no espaço e no tempo.
Não sabemos se o que os separa é a perda do amor de um para com o outro ou se se deve ao desaparecimento físico dela (pelo que é dado a perceber), no entanto aquilo que sabemos é que este é um amor que não encontrou ainda o seu ponto final vivendo o rapaz numa constante amargura por já não poder com ela partilhar tudo aquilo que tem sentido... as suas histórias pessoais, trivialidades ou uma simples música.
Prudêncio, que também assina o argumento, entrega uma simpática história da qual assumo querer ver mais. Algo que inesperadamente revelasse um certo "fim" ou revelação sobre o que aconteceu a "Ela" que pudesse assim dar uma conclusão à angústia e amargura que "Ele" sente que é, na prática, sobre quem recai um maior protagonismo.
Interessante também a direcção de fotografia de Pedro Almeida que faz a luz daquele pequeno quarto parecer aos poucos extinguir-se como se estabelecesse uma comparação entre a mesma e a percepção "dele" sobre o fim daquele amor.
Aspectos negativos, a tê-los, prendem-se com o facto de nos deixar com um desejo de termos um pouco mais de duração de filme onde as referidas personagens pudessem alcançar um maior desenvolvimento e profundidade criando assim um dramatismo mais intenso.
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6 / 10
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domingo, 28 de abril de 2013

No Respires (2013)

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No Respires de Ricky Merino é uma curta-metragem espanhola de ficção que reune um conjunto de aliciantes factores para, apesar da sua curtíssima duração, conseguir cativar a atenção dos espectadores.
Ele (Ricky Merino) tem uma estranha obsessão que o consome... Na tentativa de bater o seu próprio record submerge-se debaixo de água dentro da banheira enquanto obsessivamente tenta não só ultrapassar os seus próprios limites como encontrar uma misteriosa figura que em tempos havia visto mas que não conseguiu voltar a encontrar.
O argumento que Merino também escreveu apresenta-nos a um jovem adulto que parece convicto dos seus objectivos e que os irá perseguir afincadamente. No entanto aos poucos, à medida que a sua personagem se revela, bem como aos seus reais objectivos, percebemos que aquela sua aparente calma esconde muito mais do que seria de esperar. Não só o seu objectivo não se limita ao simples quebrar de um qualquer record que o qualifica como capaz de passar muito tempo debaixo de água como nos é revelado que ele pretende "reencontrar" uma estranha figura do seu passado que... por "ali" vive.
A abordagem dada por este argumento aos limites físicos de um indivíduo já seria uma interessante abordagem para uma tão curta curta-metragem que eleva a fasquia ao apresentar também uma perspectiva sobre os limites (ou falta deles) psicológicos dessa mesma pessoa onde a dinâmica corpo-mente quebra qualquer tipo de barreiras de uma forma perceptível e convincente para um trabalho que apresenta pouco mais de dois minutos de duração.
Não só a interpretação de Ricky Merino é convincente como também a sua realização e argumento, numa obra que é assumidamente composta por si, como também a fotografia algo etérea de Manuel Mateos nos engloba numa qualquer atmosfera onde a realidade se havia perdido há bastante tempo naquele que é uma original e imaginativa curta-metragem que fará, com toda a certeza, uma interessante carreira internacional.
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7 / 10
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sábado, 27 de abril de 2013

IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente 2013: os vencedores

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Júri Internacional de Longas-Metragens
Grande Prémio de Longa Metragem Cidade de Lisboa: Leviathan, de Lucien Castaing-Taylor e Véréna Paravel 
Prémio de Distribuição TVCine: Eles Voltam, de Marcelo Lordello 
Prémio Digimaster para Melhor Longa Metragem Portuguesa: Lacrau, de João Vladimiro
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Júri Internacional de Curtas Metragens
Grande Prémio de Curta Metragem: Da Vinci, de Yuri Ancarani
Menções Honrosas Animação: Comme des Lapins (Chroniques de la Poisse, chap. 2), de Osman Cerfon
Documentário: Resistente, de Renate Costa Perdomo e Salla Sorri
Ficção: Noelia, de María Alché e El Ruido de las Estrellas me Aturde, de Eduardo Williams
Prémio Pixel Bunker para Melhor Curta Metragem Portuguesa: Gingers, de António da Silva
Menção Honrosa: Má Raça, de André Santos e Marco Leão
Prémio Novo Talento FNAC: Má Raça, de André Santos e Marco Leão
Prémio Novíssimos: Outro Homem Qualquer, de Luís Soares
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Júri Pulsar do Mundo
Prémio Culturgest Pulsar do Mundo: La Chica del Sur, de José Luis García
Menção Honrosa: Donauspital - SMZ Ost, de Nikolaus Geyrhalter
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Júri Amnistia Internacional
Prémio Amnistia Internacional: The Act of Killing, de Joshua Oppenheimer
Menção Honrosa: The Devil, de Jean-Gabriel Périot
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Júri Árvore da Vida
Prémio Árvore da Vida para Filme Português: Lacrau, de João Vladimiro
Menção Honrosa: Rhoma Acans, de Leonor Teles
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Júri TAP
Prémio TAP para Longa Metragem Portuguesa de Ficção: É o Amor, de João Canijo
Prémio TAP para Documentário Português: Torres & Cometas, de Gonçalo Tocha
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Júri do Público - Competição Internacional, Observatório, Cinema Emergente, Pulsar do Mundo, IndieJúnior e Novíssimos
Longa Metragem: Amsterdam Stories, de Rob Rombout e Rogier Van Eck
Curta Metragem: Le Librairie de Belfast, de Alessandra Celesia
IndieJúnior: De Club van Lelijke Kinderen, de Jonathan Elbers
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Festival de Cinema Espanhol de Málaga 2013: os vencedores

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Secção Oficial
Biznaga de Oro: 15 Años y Un Día, de Gracia Querejeta
Prémio Especial do Júri: Ayer No Termina Nunca, de Isabel Coixet
Melhor Realizador: Rodrigo Sorogoyen, em Stockholm
Melhor Actriz: Candela Peña, em Ayer No Termina Nunca e Aura Garrido, em Stockholm
Melhor Actor:  Mario Casas, em La Mula
Melhores Actores Secundários: Elenco de Casting
Melhor Argumento: Gracia Querejeta e Antonio Santos Mercero, em 15 Años y Un Día
Melhor Banda-Sonora: Pablo Salinas, em 15 Años y Un Día
Melhor Fotografia: Jordi Azategui, em Ayer No Termina Nunca
Melhor Montagem: Jordi Azategui, em Ayer No Termina Nunca
Melhor Primeiro Argumento: Isabel Peña e Rodrigo Sorogoyen, em Stockholm
Prémio do Público: Diamantes Negros, de Miguel Alcantud
Prémio do Júri da Crítica: 15 Años y Un Día, de Gracia Querejeta
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Secção Documentários
Prémio do Público: Pepe el Andaluz, de Alejandro Alvarado e Concha Barquero
Prémio Especial do Júri: El Impenetrable, de Daniele Incalcaterra e Fausta Quattrini
Biznaga de Oro: A la Sombra de la Cruz, de Alessandro Pugno
Biznaga de Plata: Palabras Mágicas, de Mercedes Moncada Rodríguez
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Un Día... Como Aquellos (2012)

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Un Día... Como Aquellos de Jafet Molina é uma curta-metragem mexicana de terror psicológico que nos apresenta um dia como qualquer outro.
Um dia como qualquer outro na vida de um tipo solitário e sem aquilo que se pode chamar de uma "vida", limitando-se assim a estar simplesmente por casa sem nada que fazer e que dá por si a ter um conjunto de estranhos e obscuros pensamentos que aos poucos o vão consumindo ao ponto de fazer uma muito rápida e vertiginosa viagem pelos limites da sua sanidade mental.
É nesta mesma viagem por um estado de demência que aos poucos o destrói que este homem tem um conjunto de visões de espíritos violentos que ameaçam a sua própria segurança física e o fazem delirar ao ponto da sua própria casa parecer uma armadilha claustrofóbica que aos poucos o vai aprisionando.
A tornar este clima ainda mais pesado temos uma constante música original também da autoria de Jafet Molina que ilustra na perfeição a descida aos infernos daquele homem e uma ausência de diálogo ou monólogo e luz que podem ser associados ao seu próprio estado mental debilitado e aprisionado em si próprio.
Bem executada para o clima que pretende recriar, e melhor ainda se pensarmos que é uma curta-metragem feita em apenas um dia e, basicamente, por uma única pessoa, pelo que Molina está assim de parabéns pela originalidade e iniciativa na elaboração desta curta.
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7 / 10
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sexta-feira, 26 de abril de 2013

A Primeira Vez (2013)

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A Primeira Vez de Rúben Ferreira e a sua mais recente curta-metragem de comédia que não só nos apresenta uma nova personagem como recupera para a mesma uma mítica personagem da saga O Estrondo. Refiro-me claro está a um brilhante José Marques que aqui solidifica a sua "figura" como o "carocho" de serviço.
Toda esta curta-metragem gira em torno de um tipo (Alex Carvalho) que tudo faz para impressionar a rapariga de quem gosta (Cátia Silva), e assim conseguir a sua "primeira vez"... (dele... não dela).
A sua odisseia começa quando descobre que afinal não tem preservativos em casa e que sem eles todo o seu plano vai por água abaixo, e é quando sai de casa que talvez encontre a sua solução através de um já familiar Zé da Branca (José Marques) que o faz ter uma aventura bem maior do que aquela que esperava.
O argumento que Rúben Ferreira escreveu em parceria com Alex Carvalho tem não só a vantagem de ser de uma comédia mais ligeira e que o aproxima de um conjunto de filmes sobre a adolescência e o despertar da sexualidade como também cria uma nova personagem intepretada pelo próprio Alex Carvalho que tem tanto de "atadinho" como rapidamente se revela tresloucado graças às suas vontade ainda por "despertar", e claro, por dar uma dimensão maior ao "Zé da Branca" de José Marques que se revela como uma força com pernas para andar e que merece o seu próprio espaço e, porque não, o seu próprio filme.
Os momentos de humor são constantes mas alguns conseguem ter uma força maior e perdurar na memória bastante tempo depois de os vermos. Aquele pequeno-almoço, que afinal era mais do que isso, com tostas recheadas de ketchup é, no mínimo, de bradar aos céus. É impossível não ficarmos num misto de comédia vs. repulsa sobre aquilo que vemos... Se um pouco de ketchup já era estranho... um frasco inteiro ali deitado, é no mínimo agonizante, mas é este pequeno exemplo um dos momentos que simplesmente não conseguimos esquecer. E isto já para não começar a falar no sonho erótico tido à mesa que me faz questionar sobre as verdadeiras capacidades "curativas" do leite num momento em que Alex Carvalho faz "inveja" ao mais demorada banho de Cleopatra.
E no final... bom, o final tem de ser visto é um facto e apenas adianto que é hilariante não só pelo inesperado desfecho como também pela reviravolta que a personagem de Alex Carvalho tem e que demonstra bem que toda aquela simpatia e inocência tinham a uma dada altura de terminar.
Quanto ao jovem realizador Rúben Ferreira, já o disse mas nunca é demais referir, assume-se e confirma-se cada vez mais como um interessante e regular talento no panorama cinematográfico português que deve ser considerado não só pela qualidade filmica dos seus trabalhos de comédia que geram legiões de fãs pelo país como também pela capacidade que tem em contrar simples e divertidas histórias capazes de criar personagens que nos permanecem na memória durante muito e muito tempo. No final enquanto espectador e fã dos seus trabalhos só me resta deixar uma pergunta... para quando uma longa-metragem com o "Zé da Branca"?
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7 / 10
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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Senza Ritorno (2013)

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Senza Ritorno de Marco di Gerlando é uma curta-metragem italiana que narra a história de Alessio (Alessio Zavoli) e de Daniele (Daniele Conterini) dois irmãos que, ao longo dos anos foram sendo perseguidos por uma professora que tudo fazia para os prejudicar. Perseguição esta que afectou o mais velho que não conseguira concluir os estudos tornando-se assim mais complicado encontrar um trabalho e que continuou com o mais novo expulso da escola por responder ao assédio da professora.
Quando um dia Alessio juntamente com Daniele e um conjunto de amigos (interpretados por Nicola Gattino, Fabio Santamaria e Federico Rao) encontram a jovem filha da professora numa mata onde costuma fazer desporto, seguem a ideia de Alessio de lhe pregar um susto como vingança pelo comportamento da mãe. No entanto, aquilo que começa como uma partida acaba por terminar num acontecimento trágico que para sempre iria mudar não só a sua relação enquanto amigos como principalmente o rumo das suas vidas.
O início desta curta-metragem é de imediato cativante por um conjunto de factores nomeadamente a sua fotografia, também da autoria de Marco Di Gerlando que centrando todas as atenções em Alessio Zavoli enquanto actor principal, e eliminando todos os focos de luz que nos pudessem fazer distrair da sua angústia nos revela que o destino de pelo menos a sua personagem não será em nada brilhante ou promissor.
E não é menos correcto que aos poucos, à medida que os acontecimentos tomam lugar, vamos percebendo o quão difícil é poder resistir a um destino que parece, à partida, marcado pela tragédia. Se é verdade que "Alessio" até poderia ser um jovem dito rebelde (em jovem quem não o é?), não é menos verdade dizer que aquela professora numa gélida e forte interpretação de Aurora Bortolomai, de tudo fez para assediar sem limites não só o jovem como futuramente o seu irmão "Daniele", marcando o primeiro com a sua impossibilidade de ter um destino profissional e o segundo com a suspensão do colégio que poderia irremediavelmente afectar os seus estudos.
O argumento escrito a várias mãos é da autoria de Alessio Zavoli, Daniele Conterini, Nicola Gattino, Fabio Santamaria, Federico Rao, Aurora Bortolomai, Sara Iavarone e Elisa Minio, que é o mesmo que dizer os actores que compõe esta curta-metragem e que assim se pode depreender que compuseram as suas próprias personagens de forma a que com elas melhor se relacionem. O que funcionou pois percebemos claramente não só a química gerada entre os vários intérpretes como, principalmente, com a história a que dão vida de forma a com ele o espectador conseguir encontrar pontos de referência (todos nós tivemos uma professora daquelas na escola). Forte pela sua temática de violência psicológica exercida dentro das quatro paredes de uma escola, tantas vezes ignorada mas tão presente e assistida em silêncio, não só por aqueles que dela são vítimas mas também por parte daqueles que a vêem também eles em silêncio, como também pelos efeitos práticos que ela acaba por ter no futuro de cada indivíduo e, claro está, pelo verdadeiro teste de amizade e de confiança que é aqui colocado à prova quando, face a um acontecimento trágico, começam a ceder e a pensar no seu próprio, e talvez perdido, futuro.
A acompanhar esta curta-metragem está uma sempre presente banda-sonora da autoria de Zero Project que, ao contrário do que normalmente acontece noutros trabalhos, a complementa harmoniosamente. Com acordes suaves e que denotam umas vidas travadas pelas circunstâncias, pessoais inicialmente e colectivas com o desenrolar da acção, sentimos a todo o momento que estamos perante vidas interrompidas por uma tragédia. Se por um lado apenas um toma a acção nesse acontecimento, não é menos verdade que os outros colaboraram e assistiram. No entanto, também é um facto que todas as atitudes de desespero se iniciam como retaliação a uma provocação e a um assédio que levou anos a ser perpetrado.
Uma curta-metragem fria e concisa na abordagem dada à violência quer física quer psicológica e que ainda prima pela capacidade de uma grande equipa de actores trabalhar também como argumentistas das suas próprias personagens com as quais criam, inevitavelmente, uma relação de proximidade. Numa palavra: Bravo!
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8 / 10
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Troféus TV 7 Dias 2013: os vencedores

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TELENOVELA
TELENOVELA: Dancin' Days, Pedro Lopes (criador)
ACTOR PRINCIPAL: Rogério Samora, Rosa Fogo
ACTRIZ PRINCIPAL: Sofia Alves, Remédio Santo
ACTOR DE ELENCO: Pedro Carvalho, Remédio Santo
ACTRIZ DE ELENCO: Carla Andrino, Doce Tentação
MÚSICA DO GENÉRICO: "Um Lugar ao Sol", Delfins, em Dancin' Days
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SÉRIES
SÉRIE: Liberdade 21, Pedro Lopes (criador)
ACTOR: Pepê Rapazote, Pai à Força
ACTRIZ: Lúcia Moniz, Maternidade
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HUMOR
PROGRAMA: Estado de Graça, Patrícia Almeida (produtora) e João Ávila (realizador)
ACTOR/HUMORISTA: Manuel Marques, Estado de Graça
ACTRIZ/HUMORISTA: Maria Rueff, Estado de Graça
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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Caravaggio (1986)

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Caravaggio de Derek Jarman é um excêntrico conto sobre a vida do pintor do século XVII, Michelangelo de Caravaggio aqui interpretado desde a sua infância até à sua precoce morte com 36 anos de idade.
O retrato que nos é apresentado de Caravaggio preza não só pela abordagem dada à sua vida enquanto excêntrico pintor que utilizava métodos pouco convencionais de criar as suas obras que eram, elas próprias, claros sinais de blasfémia para a época, graças à modernidade com que apresentavam os mais variados temas e personagens religiosas.
Ao mesmo tempo, este filme de Derek Jarman apresenta-nos também um retrato da sua igualmente excêntrica vida através de um submundo de criminalidade, devassidão e amizades pouco convencionais que o marcaram irremediavelmente através dos seus ódios e paixões proibidas.
Mais do que uma abordagem à sua vida enquanto pintor, este filme cujo argumento fora assinado pelo próprio Derek Jarman em colaboração com Suso Cecchi D'Amico e Nicholas Ward Jackson mostra o lado do pintor enquanto homem bem como as suas relações pessoais mais próximas e a forma como muitas vezes as utilizava como fonte da sua inspiração.
Caravaggio enquanto jovem criança (Noam Almaz) era pobre e de um meio cuja sobrevivência era precária. Enquanto adolescente (Dexter Fletcher) vivia de expedientes e pequenos casos sexuais com homens que lhe pagavam pela sua companhia, e enquanto adulto (Nigel Terry) é um assíduo frequentador de bares e bordéis onde encontravam todos aqueles que necessitava para modelos dos seus quadros, sempre com um ideal de beleza muito particular e homens que tinham eles próprios passados conturbados e de violência que o atraiam irremediavelmente.
Das interpretações de Caravaggio obviamente há que destacar aquela que durante boa parte do filme é predominante, ou seja, enquanto adulto. Nigel Terry mostra um "Caravaggio" não só doente como impulsivo e sempre com um louco desejo com que atraía aqueles por quem nutria uma igualmente sentida obsessão, que normalmente eram também elas indivíduos no limite da sociedade que os excluia quer pela sua pobreza quer pela sua violência ou até mesmo pelo seu comportamento desviante que funcionava para ele como uma atracção.
Nas interpretações secundárias vamos encontrar uma muito jovem Tilda Swinton enquanto "Lena", uma mulher vinda do nada que graças à proximidade com "Caravaggio" encontra a sua hipótese de ascender na pirâmide de classes mas que graças ao seu passado de mulher da rua nunca é encarada como uma mulher com potencial para a essas classes superiores pertencer. E vamos também encontrar Sean Bean como "Ranuccio", o único homem que "Caravaggio" realmente amou e que com igual força odiou ao ponto de o assassinar e ser esse o momento que aos poucos foi consumindo a sua já debilitada saúde.
Com uma obra quase sempre interligada com os comportamentos ditos desviantes da sociedade, quer pela sexualidade quer pela natureza social das condições em que as suas personagens se encontram, a obra de Derek Jarman é ao mesmo tempo entusiasmante do ponto de vista cénico onde é recriado quase na perfeição o ambiente em que nos pretende inserir seja na Roma antiga, num qualquer bordel de terceira categoria ou num Palácio Renascentista como aqui acontece. Com o suficiente e simplista (mas não simples) décor para nos sentirmos presentes no local que deseja, Jarman recorre à excelência de Christopher Hobbs e Michael Buchanan que nos colocam nestes locais como se de facto lá nos encontrassemos e por momentos sentimos todo um ambiente diferente e muito característico, naquele que constitui um dos elementos mais fortes de todo o seu filme. Ao mesmo tempo, e apesar de nos sentirmos nos inícios do século XVII, é também possível ver um toque de modernidade e de arrojo em pequenos detalhes que vamos constatando ao longo do filme, sendo o mais caricato o momento em que os dois grandes senhores patronos das artes fazem contas aos seus lucros... para quem ainda não viu este filme terá o seu encanto ver o que por lá encontram de "moderno".
No entanto, e apesar do interesse com que esta obra está filmada e na perfeição simplista das suas imagens e interpretações, não deixa também de ser verdade que a mesma está interligada com uma mesma corrente com que Jarman filmou todas as suas obras e que aos poucos parece não se descolar da mesma, mostrando as suas personagens, neste caso Caravaggio como um homem que vivia constantemente num limite social e sexual destinado a provocar e conturbar as mentalidades do seu tempo esquecendo, ao mesmo tempo que a aborda, toda a sua magnitude artística e a excelência das suas obras ou mesmo o conjunto de intrigas palacianas que eram elaboradas para destruir o génio que se encontrava por detrás do homem, e assim este filme tem tanto de interessante como tem de uma obra que não atingiu todo o seu potencial também ele artístico.
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"The stars are the diamonds of the poor."
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6 / 10
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terça-feira, 23 de abril de 2013

Globos de Ouro SIC/Caras 2013: os nomeados

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MELHOR FILME
Florbela, de Vicente Alves do Ó
O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira
Linhas de Wellington, de Valeria Sarmiento
Tabu, de Miguel Gomes
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MELHOR ACTOR
Carlos Santos, Operação Outono
Carloto Cotta, Tabu
Nuno Lopes, Linhas de Wellington
Rui Morrison, Em Câmara Lenta
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MELHOR ACTRIZ
Ana Moreira, Tabu
Dalila Carmo, Florbela
Laura Soveral, Tabu
Rita Durão, A Vingança de Uma Mulher
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Foram ainda nomeados na categoria três actores na categoria Revelação sendo eles, David Carreira pelas suas interpretações na telenovela Louco Amor e Morangos com Açúcar - O Filme bem como pela sua emergente carreira musical, a actriz Joana Ribeiro pela participação na telenovela Dancin' Days e ainda a actriz Victória Guerra pela sua participação no filme Linhas de Wellington, na mini-série As Linhas de Wellington e na telenovela Dancin' Days.
A cerimónia que será transmitida em directo pela SIC no próximo dia 19 de Maio terá novamente lugar no Coliseu dos Recreios em Lisboa.
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From Dusk Till Dawn 2: Texas Blood Money (1999)

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Aberto Até de Madrugada 2 de Scott Spiegel foi a tão aguardada sequela da longa-metragem sensação de Robert Rodriguez que surge três anos depois da primeira aventura no Titty Twister Bar, mas com uma qualidade muito duvidosa.
Cinco conhecidos criminosos resolvem assaltar um banco no México e rechearem os seus bolsos de dinheiro. No caminho para o encontro combinado, Luther (Duane Whitaker) envolve-se num acidente que o encaminha para o reputado Titty Twister onde a sua vida irá mudar radicalmente não só pela sua consequente transformação em vampiro como também pelo rumo que é dado aos seus outros quatro parceiros de crime.
É quando um transformado Luther já em contacto com os seus amigos começa a transformar um por um que o tão desejado assalto ganha contornos bem mais macabros do que aqueles esperados e nem os polícias que os estão a perseguir conseguem escapar às suas garras... e dentadas.
À excepção do já referido Titty Twister, mítico bar que viu a sedutora dança de Salma Hayek no primeiro título mas que aqui só tem uma ligeira aparição, o único elemento de ligação desta segunda entrega à obra original é apenas a personagem "Razor Eddie", interpretada por um sempre magnífico actor Danny Trejo que, mesmo a interpretar um vampiro sedento de sangue disposto ao maior dos massacres para o obter, não deixa de ser cool e ter a nossa total e ininterrupta simpatia. Assim, o argumento da autoria de Scott Spiegel, Boaz Yakin e Duane Whitaker recria o princípio existente no primeiro filme onde os vampiros são senhores todo-poderosos ainda que apenas durante algum tempo, mas na prática todo aquele ambiente cool e sarcástico obtido com o primeiro filme é radicalmente perdido neste filme que aos poucos se vê transformado num título de segundo categoria mais "cheap" (não quero dizer rasca) e que sobrevive muito graças ao grotesco das suas personagens ao contrário do lado mais "in" do inicial mas que, ainda assim, consegue estranhamente transformar-se num filme que somos incapazes de ignorar. Possui, na realidade, um certo apelo ao nosso subconsciente que secretamente nos diz "vê mais um pouco" e com isto damos também por nós a devorar um pouco daquelas imagens sem que para isso tenhamos de retirar o sangue a alguém.
O argumento é instintivamente mais grosseiro, grotesco, sexual e apesar de não ter um lado gore tão explícito como no primeiro, consegue transformar um animal tão encantador como um morcego num verdadeiro assassino em massa que nunca se esquece de ter ele próprio um lado cool e na moda, capaz de se encontrar em todos os locais ao mesmo tempo sem que ninguém dê pela sua presença. É verdade que não temos nenhum George Clooney nem nenhum Quentin Tarantino... nenhuma Salma Hayek nem nenhuma Juliette Lewis, ou tão pouco o carisma de um Harvey Keitel. Aqui todos os actores são de uma dita "segunda linha" habituados a interpretações em filmes que ninguém vê ou que são lançados para um circuito pouco respeitado no mercado... o limbo no fundo... mas não deixa de ser um filme com um certo encanto e no qual esses mesmos actores sabem que estão a fazer um filme apenas pelo "desporto" da coisa e não por ser uma obra que será mais tarde recordada por alguém que não um público que vê filmes às três da manhã... mea culpa.
E é exactamente devido a esta "postura" que o filme consegue resultar. Todos, sem excepção desde os actores aos técnicos e espectadores incluídos, sabemos que este filme não tem metade do carisma que o primeiro tinha, nem tão pouco a história segue a mesma linha condutora, e basta para isso pensarmos que as referências de ligação são quase inexistentes, mas ainda assim há algo demasiadamente apelativo para este filme se tornar numa interessante história de comédia (jamais terror) e de alguma acção que sabemos aos poucos apreciar, mesmo que seja preciso mais do que um visionamento para que isso aconteça.
É realmente um filme de segunda linha, com desempenhos fracos (Robert Patrick e a sua carreira quase que o explicam), que destacam apenas o conjunto de cinco assaltantes composto por Muse Watson, Brett Harrelson e Raymond Cruz que se juntam aos já referidos Robert Patrick e a Duane Whitaker, bem como a um conjunto meio grotesco de rostos vampirizados que, mesmo eles, não têm o mesmo impacto que o primeiro Aberto Até de Madrugada possuia.
Se vale a pena vê-lo... até vale... desde que nenhum de nós esteja à espera que este filme seja um digno sucessor do primeiro ou tão pouco um filme que lhe dê algum tipo de continuidade. Se vamos com expectativas altas... rapidamente percebemos que as iremos perder.
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4 / 10
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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Beatriz - a estreia do videoclip

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Beatriz, que tem o início das filmagens programado para Setembro de 2013 em Vila do Bispo no Algarve, e marca a primeira longa-metragem dos realizadores Hernâni Duarte Maria e Pedro Noel da Luz da Paradoxon Produções, divulga hoje o videoclip promocional da mesma.
Com a participação da actriz Andreia Carlota, também uma das intérpretes do filme, e música original de Iládio Amado aqui fica o videoclip como a mais recente publicidade desta longa-metragem independente.
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Isto é Para Ti (2012)

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Isto é Para Ti de Miguel Azevedo é uma curta-metragem portuguesa feita no âmbito do projecto 48 Hour Film Project, que inicia de uma forma interessante ao som da marcha fúnebre, que por si é já tentadora e capta a nossa atenção.
Dois funcionários de uma aparentemente luxuosa mansão acompanham a sua patroa transtornada com a morte de alguém, para o jardim. É lá que, sem palavras, vive um recente luto que contraste com a indiferença dos seus funcionários que estão bem mais preocupados com a "curte" que estão a perder.
É na sua ausência que a patroa tem alguns delírios com a sua cara metade (desaparecida), que lhe promete estar para breve o seu reencontro.
E para muito breve realmente está... O argumento, também de Miguel Azevedo, consegue recriar um interessante e quase fantasmagórico ambiente que publicita um interessante filme do género fantástico mas, no entanto, as interpretações algo frágeis que não denotam nenhuma segurança dos actores tornam todo o trabalho num projecto debilitado que fica apenas suspenso nas boas intenções dos envolvidos.
Assim, e se o início desta curta é desafiante pois faz-nos esperar o "pior" (no bom sentido da palavra para o género), é também verdade que as nossas expectativas cedo se transformam naquilo que não queremos ver deste filme, ficando apenas como aspecto mais positivo a fotografia que mantém durante todo o projecto aquele ambiente algo transcendente como se de um local não terreno se tratasse.
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2 / 10
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domingo, 21 de abril de 2013

Geração Perpétua (2012)

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Geração Perpétua de Hélder Lopes é uma curta-metragem portuguesa cuja premissa se baseia na vasta dinâmica das possíveis escolhas individuais em que cada um se coloca numa ou noutra fase da vida sendo que todas elas, sem excepção, são fugazes e passageiras.
Nada é eterno, e são essas mesmas escolhas, ou ausência delas, que caracterizam o breve espaço temporal que passamos enquanto vivemos, podendo de um momento para o outro partir sem qualquer "marca" deixar sobre essa nossa passagem.
Visualmente esta curta-metragem é uma interessante composição de imagens que estranhamente seduzem nos seduzem mas ao mesmo tempo não deixa de ser um trabalho que funcionaria bem como um anúncio publicitário ou introdução a uma qualquer dinâmica que partisse deste ponto.
Com essa escassa linha condutora sobreposta às imagens como voz-off (por vezes algo imperceptível), aquilo que nos resta de mais positivo além dessas mesmas equilibradas imagens é a banda-sonora bem integrada com as mesmas e que funciona como estimulante cerebral para o espectador sendo que teria sido um bónus positivo enquadrá-las numa acção narrativa e não simplesmente pela declamação de uma qualquer declaração de interesses ou de pensamentos sobre a existência da vida.
Na prática tudo se repete, geração após geração, num ritmo que se perpetua sem fim... mas sempre com os mesmos limites.
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3 / 10
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sábado, 20 de abril de 2013

Panazorean Film Festival 2013: os vencedores

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Grande Prémio Panazorean: The Argentinian Lesson, de Wojciech Staroń

Melhor Longa-Metragem Nacional: Deportado, de Nathalie Mansoux
Melhor Filme dos Açores: Adormecido, de Paulo Abreu
Melhor Curta Internacional: Welcome and Our Condolences, de Leon Prudovsky
Melhor Curta Nacional: Cerro Negro, de João Salaviza
Prémio Novo Talento Nacional: Mupepy Munatim, de Pedro Peralta
Prémio Novo Talento Regional: A Nossa Casa, de João Rodrigues
Prémio Onda Curta: Welcome and Our Condolences, de Leon Prudovsky
Prémio Macaronésia: Santa Maria Connection, de Eberhard Schedl
Melhor Filme do Público: Deportado, de Nathalie Mansoux
Melhor Curta-Metragem do Público: Welcome and Our Condolences, de Leon Prudovsky
Prémio Regional do Público: História dos Açores, de Tiago Rosas e Victor Descalzo
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En Presente (2011)

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En Presente de Esli Martínez é uma curta-metragem espanhola que sem grandes artifícios e efeitos conta uma sempre eterna história de amor.
Um rapaz visita frequentemente o local onde deu o primeiro beijo à sua namorada e aos poucos percebemos que este seu amor terminou não por uma separação mas pela morte dela. Um dia decide deixar-lhe uma carta a revelar o seu eterno amor até que, momentos depois, vem a receber uma inesperada e enigmática mensagem.
Um dos aspectos mais interessantes desta curta-metragem é o facto dela conseguir comunicar através de uma simples e eficaz mensagem transmitida por igualmente simples texto, mas que consegue retratar um dos mais nobres sentimentos: o amor.
Temos vários indícios de que este amor apenas "terminou" devido à morte da rapariga, e percebemo-lo através das descrições perfeitas dos mais pequenos detalhes que lhe permanecem na memória e da simbologia da aliança ainda não retirada do dedo e claro, da conclusão deste trabalho que surpreende pela capacidade fílmica em transmitir a sua mensagem em tão curta espaço de tempo (nem chega a três minutos de duração). Dá que pensar que filme teríamos se fosse um pouco mais longa...
Eficaz, sentimental em tom intimista num conto que retrata de forma perfeita um sentimento tão eterno como o verdadeiro amor.
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7 / 10
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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Down the Road (2013)

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Down the Road de Jason Christopher é o mais recente de muitos filmes de terror teen que povoam as mentes de muitos realizadores que aqui vêem uma boa forma de começar a sua carreira.
Dito isto, este filme com argumento também escrito por Christopher, dá-nos a conhecer Jenn (Jen Dance) uma rapariga acabada de sair do hospital onde se encontrou durante uma longa temporada. Como forma de a incentivar a socializar novamente com os seus amigos, deixando assim o período em que se encontrou isolada, os seus pais desafiam-na a ir acampar com os amigos para uma localidade onde todos os adolescentes vão.
Contrariada Jenn embarca nesta viagem com um peculiar conjunto de amigos onde se destacam Mike (Shaun Paul Costello) e Michele (Chelsey Garner), Danny (Matthew Nadu) e Angie (Nikki Bell), Deron (David J. Bonner) que seria o novo "programado" acompanhante de Jenn e o excêntrico e desviante Jared (Chris Ready) que rumo a um fim-de-semana de diversão vão encontrar muito mais do que aquilo que esperam daquele bosque onde segundo a lenda vive um lenhador que massacra todos os adolescentes que por lá passam como vingança pela morte da sua filha vítima de atropelamento provocado por um condutor alcoolizado.
A fórmula, como se pode constatar, não poderia estar mais gasta. O problema é que por vezes mesmo com o conhecimento de tudo o que se vai passar neste estilo de filme, alguns ainda conseguem provocar algum tipo de entretenimento por sequências de suspense e perseguição bem filmadas ou por um conjunto de sustos provocados pela narrativa bem estruturada. Aqui, no entanto, temos tudo aquilo que de mau se pode esperar num filme... realmente a acontecer.
Começando logo pelo conjunto de actores cujas interpretações parecem acabadas de sair do primeiro curso intensivo de representação por correspondência no qual parecem debitar freneticamente uma lista telefónica recheada de um conjunto de clichés típico e já muito visto no género. Sem naturalidade ou espontaneidade, estes actores encarnam o pior dos filmes do género onde chegamos ao cúmulo de num dos supostos momentos de maior tensão encontramos uma "Jenn" a entrar na casa do vilão e antes de ver o massacre que este fizera lá dentro já se encontrava em desalmados gritos de terror. O momento não é mau... é mesmo MUITO mau, revelando que teriam mais naturalidade se fossem infectados com uma qualquer praga zombie e se arrastassem durante todo o filme com sentidos gemidos. E o mau que este filme é obriga-nos desde muito cedo a simpatizar com o próprio assassino (também ele mais estranho do que mau)ao ponto de querermos que aqueles irritantes adolescentes (que já não o são há muito tempo), desapareçam definitivamente do mapa.
O argumento que, como referi, está cheio de clichés desde a jovem inadaptada que tenta desesperadamente sobreviver passando pelo casal que descobrimos pretender iniciar uma vida em comum e cujo momento só é confirmado quando tal já não será possível e também pelo par que quer diversão sexual, um inadaptado desviante, um amor não correspondido e os típicos parolos lá da aldeola que assustam mas não fazem mal nem a uma mosca.
Este filme não é mau, é realmente péssimo e faz juz ao título alternativo que tem... Punishment, se bem que aqui o castigo não é para as personagens debilmente caricatas que o povoam mas sim para o espectador que tem de assistir a um deslavado conjunto de momentos já pré-fabricados vindos de outros filmes deste género mas com notória maior qualidade e cujo único momento de terror que apresentou foi eu ter sido o espectador número 6666 a vê-lo online.
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1 / 10
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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Trilho, uma nova longa-metragem independente prestes a estrear

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Trilho do realizador Gonçalo Silva é um filme independente e experimental que entretece fios de narrativa ficcional e fragmentos de testemunhos pessoais de vários artistas do panorama cultural português, resultando assim numa tapeçaria visual de várias linguagens misturadas e metamorfoseadas ao longo desse mesmo diálogo.
Trilho é um projeto que fala do amor pela arte, pela dança, pela representação, pelo teatro, pela palavra, pelo cinema, numa altura em que o panorama cultural português se vê a braços com o desencanto e o abandono de um Governo que acha que a cultura é meramente acessória.
Assim, Trilho é uma declaração de amor à arte como processo orgânico e fundamental de uma sociedade viva e um manifesto de resistência visual feita por artistas para todos.
Trilho terá assim a sua estreia na Biblioteca da República em Lisboa no dia 11 de Maio pelas 17 horas, tendo depois sessões no dia 17 de Maio também pelas 17 horas e nos dias 18 e 25 de Maio pelas 16horas.
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Bicho (2012)

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Bicho de Sara Santos é uma curta-metragem portuguesa que nos entrega uma reflexão sobre o que será de facto a beleza. Será esta uma mera imagem que verificamos frente a um espelho ou será na realidade beleza todos aqueles pequenos gestos naturais, ou da natureza, que simplesmente ignoramos mas que mostram toda uma complexa rede de comportamentos naturais?
O princípio sobre o qual esta curta-metragem pretende incidir tem a sua pertinência num mundo actual onde vivemos quase escravizados pela ditadura dos "costumes e normas" de beleza mas, no entanto, o argumento de Sara Santos apenas incide sobre um conjunto minimalista de imagens que nos apontam para esse paradigma sem o explorar devidamente (creio) graças à excessivamente curta duração deste filme.
Com potencial e promissor não é um filme que chegue ao patamar de desenvolvimento necessário para o tema que corre o risco de ser remetido ao esquecimento por não constituir uma referência sobre o tema. Interessante... mas não bom.
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3 / 10
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Beatriz, a primeira longa-metragem da Paradoxon Produções

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É com prazer que relembro todos os que frequentam este espaço que o CinEuphoria se orgulha de ser um dos parceiros oficiais de divulgação de Beatriz, a primeira longa-metragem independente da Paradoxon Produções pelos realizadores Hernâni Duarte Maria e Pedro Noel da Luz.
As gravações, que deverão ter início ainda em 2013, terão lugar em Vila do Bispo no Algarve pelo que a todos os curiosos podem ir investigando toda a afirmação disponibilizada na página Facebook do filme aqui disponibilizada.
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quarta-feira, 17 de abril de 2013

18 (2012)

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18 de João Pereira é uma curta-metragem de ficção portuguesa que nos relata uma saída entre amigos para celebrar o aniversário de Raquel (Marta Sacramento).
É nesta saída à noite que os olhares entre Raquel e Alex (Rui Teixeira) se cruzam e que levam o interesse da jovem a manifestar-se, preferindo depois separar-se dos amigos e ir ao encontro do misterioso Alex que, a seu tempo, convida para ir até casa visto encontrar-se sózinha.
Alex leva uma arma e na solidão das quatro paredes algo de trágico poderá acontecer...
O argumento, que também fora escrito por João Pereira, tem alguns elementos promissores de uma interessante história de suspense que pode por si constituir uma simpática curta-metragem do género. A aproximação e inesperada empatia entre os dois jovens que origina uma potencialmente tensa relação despertam o nosso interesse não por ser algo original mas por parecer estar coerente e bem pensada independentemente de alguns manifestados clichés que surgem durante a mesma. A surpresa criada com a igualmente inesperada violência claustrofóbica que ocorre dentro do lugar onde menos esperamos, a "nossa" casa, faz com que surja algum incómodo e desconforto pois percebemos que a segurança que se poderia sentir no lugar mais seguro do mundo afinal fora abalada.
No entanto algo corre mal neste argumento quando percebemos que os constantes telefonemas de "Alex" recebe são afinal de "Miguel", um dos amigos que estava com "Raquel" na sua pequena festa de aniversário e aqui pensamos uma de duas coisas: a primeira, que se prende com o facto de aquela amizade com "Miguel" não ser assim tão verdadeira e afinal este quer vingar-se de um qualquer acto do passado (que desconhecemos) ou então, alguma festa surpresa está a ser preparada para a jovem, algo que não parece credível pos nesse caso... para quê uma arma verdadeira?!
Este pequeno grande detalhes a nível da coerência da história debilita-a um pouco não lhe dando todo o verdadeiro potencial que poderia ter alcançado quer como uma experiência estranha que terminava bem ou, por outro lado, como uma história onde o manifesto excesso de confiança para com um estranho tomou um rumo bem perigoso e que alteraria toda a vida de um indivíduo.
Interessante se considerar as intenções manifestadas com a história mas que perde bastante por alguma falta de coerência e desenvolvimento no argumento que permite ao espectador deambular pelos potenciais "what if?...".
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3 / 10
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terça-feira, 16 de abril de 2013

Hell (2011)

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Brilhante de Tim Fehlbaum passou no último KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã de Lisboa no início do ano no Cinema São Jorge, e o argumento original escrito pelo próprio Fehlbaum juntamente com Olivier Kahl e Thomas Wöbke apresenta-nos um mundo pós-apocalíptico.
Marie (Hannah Herzsprung) viaja de carro pela sua Alemanha natal com a sua irmã Leonie (Lisa Vican) e com Phillip (Lars Eidinger), através de um cenário desolador e queimado pelo Sol que fora outrora fonte de vida mas que foi a dada altura terrível para qualquer forma de vida na Terra tornando-se assim no seu maior inimigo. Muita da vida humana e animal desaparecera e a vegetação agora impossibilitada de crescer impede que os poucos sobreviventes consigam sobreviver condignamente, onde a intensidade da luz é mais uma fonte de morte do que de regeneração.
Na sua viagem rumo à montanha onde dizem existir água potável, o pequeno grupo depara-se com Tom (Stipe Erceg), mais um sobrevivente que se encontrava isolado numa estação de serviço e aquilo que começou como sendo uma relação tensa e até violenta, cedo se transforma numa estranha cumplicidade entre pessoas diferentes que procuram um abrigo e um novo local para poderem sobreviver.
Quando apanhados numa emboscada por um grupo de outros sobreviventes que pela força da sua própria sobrevivência se tornaram predadores daqueles que passam por aquele caminho, poderá este grupo confiar no seu novo companheiro de viagem ou será que estão todos condenados a serem as próximas vítimas de um mundo que se encontra aparentemente sem qualquer esperança?
A ambiguidade deste filme começa logo de imediato com o seu título em alemão Hell, que aqui ao contrário do que pensamos significa Brilhante referindo-se obviamente a todo o cenário diurno que nos é apresentado onde, pela força intensa do Sol nos é apresentado o já referido cenário desolador desprovido de vida, de vegetação e onde a civilização como a conheceramos fora já destruída pela força do astro-rei. No entanto, e graças ao argumento de Fehlbaum, Kahl e Wöbke, este "inferno" pode também facilmente referir-se não só a esse cenário desolador retirado de uma qualquer imaginação desconhecida desse espaço como também ao cenário humano intensamente perigoso que mostra o lado mais selvagem de um indivíduo quando numa situação extrema à qual precisa de sobreviver. Desde a violência física até ao lado mais desumano do Homem que recorre ao canibalismo e à violação como forma de propagar a própria "espécie", este filme tem um pouco de todos os ingredientes de filmes que já fizeram história como Mad Max ou A Estrada.
Mas não só de sobrevivência fala este filme. Por momentos, ainda que breves, temos o recordar de um passado não longínquo que mostrava a forma desinteressava com que se lidava com os recursos existentes, nomeadamente a água que é "agora" o bem mais requisitado e menos corrente, e principalmente a esperança normalmente perdida em momentos de grande tensão e provação mas que ganha aqui uma dimensão superior não só pela viagem que tem de ser percorrida por este conjunto de pessoas que em tempos a perderam quer devido ao desaparecimento dos seus entes queridos no caso das duas irmãs, da vida como a conheceram como se percebe ser o caso de "Phillip", ou devido ao isolamento e consequente desespero e necessidade de sobrevivência sentidos por "Tom". Todos encontram nesta viagem, ainda que muito brevemente e mesmo pelo meio do consequente desespero e irritabilidade mutuamente provocados, a última réstia de esperança num futuro melhor do que aquele com que têm vivido nos últimos tempos, e ainda que este aspecto não seja muito explorado neste filme é inegável que se encontra presente nas suas acções especialmente quando estas são colocadas em prova devido à estranha e perigosa família das montanhas.
O cenário pós-apocalíptico muito semelhante aos já referidos Mad Max e A Estrada é aqui exponenciado por um inovador e bem executado aspecto que é a força destruidora da luz do Sol que graças à fotografia de Markus Förderer é uma constante ao longo do filme tendo no entanto o seu auge logo nos instantes iniciais quando se percebe realmente em que mundo "vivem" estes nossos sobreviventes. A intensidade da luz é de facto tão poderosa que apenas temos referências ao espaço em que "nos" encontramos e o qual percebemos ser apenas uma vaga miragem de um passado mais ou menos longínquo.
Pouco habitual para um filme europeu, esta componente "fim do mundo" tem vindo a obter alguns significativos resultados na cinematografia do velho continente com títulos como este, O Tempo do Lobo ou Fim, e que assumem maiores contornos nos festivais de cinema da especialidade mas que aos poucos chegam também aos espectadores europeus e ao circuito comercial libertando-se dessas amarras. Felizmente para o nosso deleite pois são produções que apesar de não estarem associadas ao factor espectáculo de Hollywood conseguem, ainda assim, retirar positivos resultados pela rudeza e brutalidade humana face à sua própria sobrevivência do que propriamente por um conjunto de efeitos especiais megalómanos que nos fazem esquecer o principal... a sua história.
Não sendo uma obra-prima do género não deixa de ser um filme bem executado e com um ambiente característico, e esperado, em produções do género que vence pela sua atmosfera e dureza das imagens como também pelo sentimento de claustro recriado graças à insuficiência de espaços "seguros"... se por um lado o Sol está presente em metade do dia, não deixa de ser também verdade que na outra metade o perigo apresenta-se sob a forma humana.
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7 / 10
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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Cargo (2013)

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Cargo de Ben Howling e Yolanda Ramke é uma curta-metragem australiana sobre o apocalipse zombie e aqui sim, é caso para dizer, chegou a inovação ao género.
Depois de um acidente de automóvel, um homem (Andy Rodoreda) acorda para a dura realidade de que a sua mulher (Alison Gallagher) se transformou numa morta-viva que o pretende devorar sendo apenas salvo pelo cinto de segurança de a retém. Após o pânico inicial ele apercebe-se que dentro daquele automóvel está a mais preciosa carga... a sua filha (Ruth Venn) que tem de salvar a todo o custo.
A luta entre Homem e zombie trava-se e, para a triste realidade do Homem... ele perde-a sendo também mordido pela sua outrora mulher. Restam-lhe agora cerca de três horas para deixar a sua filha em segurança, antes de também ele se transformar num morto-vivo colocando assim em risco a vida da jovem bebé.
Não querendo divulgar absolutamente nada da genialidade dada à conclusão desta magnífica curta-metragem, apenas posso dizer que a realizadora e argumentista Yolanda Ramke possuiu um rasgo de imaginação quando inventou o desfecho deste trabalho criando não só um factor que até à data ainda não tinha presenciada em nenhum filme do género como também o dotou de uma clara e poderosa mensagem de amor e dedicação sentida de um pai para com a sua filha, numa comovente interpretação de Andy Rodoreda.
Para os apreciadores do género, esta curta-metragem é um trabalho que não podem perder pois não só é competente para o género que representa como consegue como poucos ser original e uma agradável e eficaz surpresa.
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9 / 10
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domingo, 14 de abril de 2013

Telmo Lopes (2012)

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Telmo Lopes de André Machado e Maria Carlota Canedo é uma curta-metragem documental baseada no jovem pugilista portuense que dá nome à curta-metragem.
Lopes é um bombeiro que nos tempos livres pratica boxe com o intuito de evoluir na prática desportiva mas que devido à falta de combates não o consegue fazer na totalidade.
Bom trabalho de fotografia também da autoria do realizador André Machado mas um documentário que poderia facilmente ter ido mais longe explorando um pouco mais da vida do documentado desde o seu dia-a-dia passando pela sua profissão e treinos desportivos sobre os quais se baseia essencialmente este trabalho ou sobre como todas estas etapas interferem, quase certamente, umas nas outras.
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4 / 10
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sábado, 13 de abril de 2013

Sky Captain and the World of Tomorrow (2004)

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Sky Captain e o Mundo de Amanhã de Kerry Conran fez sensação ao estrear no Festival Internacional de Cinema de Veneza ao aliar a uma inovadora técnica de filmagem um conjunto de mediáticos actores que faria as delícias de qualquer espectador como é o caso de Gwyneth Paltrow, Jude Law e Angelina Jolie.
Na Nova York de 1939, Polly Perkins (Paltrow) é uma aventureira repórter que investiga os misteriosos desaparecimentos de um conjunto de reputados cientistas quando um grupo de robots gigantes se prepara para atacar e invadir a cidade.
É neste preciso momento que as autoridades da cidade chamam Sky Captain (Law), o herói dos ares e antiga paixão de Polly, para poder salvar não só a cidade como a população destes terríveis monstros, de uma acção que a própria repórter vê interligada com a sua reportagem num plano que parece envolver toda a Humanidade.
Através de uma viagem pelo planeta que os leva pelas mais variadas e exóticas paragens os dois tentam descobrir qual o rosto do Dr. Totenkopf, o maquiavélico cérebro por detrás de toda esta operação bem como os verdadeiros motivos que o levam a criar o pânico por uma boa parte da civilização ocidental.
Kerry Conron dedicou-se não só à realização deste filme como também do seu argumento que, em certa medida, tem vários elementos apelativos para o tornar numa nova saga cinematográfica. Logo em primeiro lugar podemos reflectir sobre a época histórica em que a acção toma lugar, que se centra num mundo à beira de um conflito mundial que o iria transformar para sempre. Os totalitarismo e perdas de liberdades, a idade adulta que chegou tão precocemente para tantos milhões de jovens que se viram de caras com uma dura realidade antes do seu tempo, bem como os inúmeros jogos de bastidores que aos poucos tomaram conta dos destinos de todos.
Por outro lado temos ainda a intrigaaqui principal que gira em torno da idealização de um mundo perdido que tinha tudo para ser perfeito mas que, graças à destruição do Homem pelo próprio Homem, se demonstra ser na prática um lugar pelo qual já não vale a pena lutar nem tão pouco dedicar qualquer tipo de energia para a sua recuperação sendo mais fácil, e mais "justo" para a mente de um cientista desequilibrado, procurar um mundo melhor noutro planeta, deixando toda a civilização a braços com a sua própria, e prevista, destruição.
Se a isto juntarmos uma abordagem em efeitos especiais capazes de recriar sumptuosos cenários que na prática nem existem, uma fotografia da autoria de Eric Adkins que graças aos seus tons em castanho e a uma ausência significativa de cor capaz de nos transportar para o cinema dos anos 40 do século XX e colocar o já referido elenco de luxo onde as Oscarizadas Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie (que infelizmente pouco aparece neste filme), um Jude Law que aqui é o protagonista com nome no título do filme, e um conjunto de secundários onde se destacam Giovanni Ribisi, Michael Gambon, Bai Ling e uma inesperada e excitante recuperação de Laurence Olivier para uma participação especial anos depois do actor já não se encontrar entre nós, parecem realmente estar nessa referida época, então temos aquilo que poderemos desejar para passar perto de duas horas de puro delírio cinematográfico.
No entanto, mesmo considerando que não só a premissa como o ambiente recriado são tão aliciantes e apelativos a um novo filme de aventura e acção, que é como quem diz puro entretenimento, é também justo dizer que este filme promete mais do que aquilo que, no final, acaba por ser. Sky Captain e o Mundo de Amanhã é aquele filme de acção que... não o é. Tem todos os ingredientes, tem um ritmo inicial alucinante que nos faz querer ver mais de todos aqueles acontecimentos que se sucedem e perceber qual a origem e orgânica das suas personagens mas, com o intuito de acelerar os seus destinos nunca chegamos a concretizar nenhum desses "passados".
É também aquele filme de aventuras que... também não o chega a ser. Se pensarmos em todos os locais por onde a acção decorre que passam desde o fundo do mar, inovadoras (até mesmo para a actualidade) plataformas aéreas, uma Nova York do século passado e o dito paraíso de Shangri-La... o que é certo é que de todos estes ricos cenários pouca visualização ou pouca acção temos que neles decorra, remetendo-nos para imaginados cenários "interiores" que tanto podem ser em Nova York como dentro de casa de qualquer um, perdendo assim todo o ímpeto aventureiro que este filme poderia ter desencadeando assim um maior conjunto de momentos aventureiros que nos conseguiriam facilmente "prender" ao ecrã.
Assim, e há excepção de ser um filme tecnicamente competente, inovador e desafiante, não deixa de ser verdade que isso, só por si, não resulta para fazer dele aquele filme do qual não nos iremos esquecer. Pelo contrário, acaba até por jogar um pouco contra si ao criar-nos grandes expectativas que, na prática, não se chegam a cumprir. Como entretenimento momentâneo resulta mas não deixa de ser verdade que não ficará muito na nossa memória, nem mesmo pelas personagens e actores que lhe dão vida.
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5 / 10
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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Festival Ibérico de Cinema de Curta-Metragens de Badajoz 2013: os seleccionados

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ADRI, de Estíbaliz Urresola
ALFRED Y ANNA, de Juanma Suárez
AQUEL NO ERA YO, de Esteban Crespo
DESAYUNO CON DIADEMA, de Jaime Maestro
EL VENDEDOR DE HUMO, de Jaime Maestro
ESKIPER, de Pedro Collantes
FRACASO ESCOLAR, de Gracia Querejeta
HOTEL, de Jose Luis Alemán
KALI O PEQUENHO VAMPIRO, de Regina Pessoa
KOALA, de Daniel Remón
LA APUESTA DE PASCAL, de David Galán
LAND OF MY DREAMS, de Yann Gonzalez
LOCO CON BALLESTA, de Kepa Sojo
MALDITO LUNES, de Eva Lesmes
MARION, de Julián Zuazuo
MISTERIO, de Chema García Ibarra
NO TIENE GRACIA, de Carlos Violadé
OJOS QUE NO VEN, de Natalia Mateo
PRESENCE REQUIRED, de María Gordillo
PRIMÉRÍSIMO PRIMER PLANO GENITAL, de David Planell
RAFA, de João Salaviza
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Nathalie... (2003)

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Nathalie... de Anne Fontaine é um filme que capta logo de imediato a nossa atenção graças ao seu mediático elenco onde se destacam Fanny Ardant, Emmanuelle Béart e Gérard Depardieu.
Catherine (Ardant) descobre uma mensagem incriminadora no telefone do seu marido Bernard (Depardieu) que revela que este esteve com uma amante. Por entre o seu desgosto e uns passeios pelas ruas de Paris, Catherine dá consigo a entrar dentro de um bar de alterne onde se deixa encantar por Marlène (Beart), uma sedutora mulher que ali faz vida para poder ganhar algum dinheiro extra. É a ela que Catherine pede para encarnar uma nova personagem e assumir o nome de "Nathalie" podendo assim seduzir o seu marido e descobrir o quão infiel ele lhe é bem como todos os mais íntimos detalhes que esta missão irá despoletar em Bernard.
Até que ponto serão os relatos de Marlène satisfatórios para uma insatisfeita e desgostosa Catherine que tudo fará para perceber o que o seu marido faz quando não está presente, e que contornos irá ganhar a misteriosa e igualmente intensa relação entre estas duas mulheres?
Aquilo que de mais interessante o argumento da autoria de Philippe Blasband, Jacques Fieschi, Anne Fontaine e Fraçois-Olivier Rousseau consegue criar, é uma excitante e intensa dinâmica entre as duas actrizes principais que se prende durante todo o filme. Diversas são as ocasiões onde momentâneamente nos esquecemos de que uma contratou a outra para investigar os desvios sexuais que o seu marido tem com inúmeras outras mulheres e ficamos presos à relação que se estabelece entre "Catherine" e "Marlène". Por um lado esta relação parece de uma admiração mútua entre duas mulheres que representam estratos sociais e etários diferentes... aquilo que uma tem e a outra já perdeu ou não chegou ainda a ter, ou seja, enquanto uma ainda é jovem a outra já está a viver a sua meia idade mas, ao mesmo tempo, esta última tem uma vida económica estabelecida enquanto a primeira tem de lutar para conseguir sobreviver num mundo que não lhe tem propriamente aberto as portas. Mas, ao mesmo tempo, esta mesma relação parece ganhar contornos de uma estranha tortura de "Marlène" sobre "Catherine" na qual a primeira usa os seus dotes e conhecimentos sobre aquilo que satisfaz o marido da outra e o usa para aos poucos ir ganhando mais algum dinheiro que lhe é providenciado.
Finalmente, vai sendo aos poucos claro que aquilo que as une vai para além de uma estranha e improvável amizade mas também um pouco de desejo e prazer que pode ser eventualmente proporcionado para ambas as partes. Estas duas mulheres escondem um desejo crescente sobre o quanto parecem gostar uma da outra e que poderiam estar a disfrutar dele em vez de perderem tempo com um homem que, aparentemente, trai a sua mulher com qualquer que seja a amante que se disponibilize primeiro.
Dito isto, e mesmo considerando a sempre dinâmica relação entre estas duas mulheres, é também justo dizer que se lhe retirarmos este aspecto todo o restante filme simplesmente deixa de ter um motivo para existir. Com personagens secundárias praticamente decorativas e todo um cenário que, apesar de demonstrativo dos ambientes característicos destas duas mulheres, excelentemente recriado pelas mãos de Michel Barthélemy, Etienne Rohde e Boris Piot, não chega no entanto para o transformar num filme maior sobre as dinâmicas das relações quer sejam elas de amizade quer sejam sentimentais, este filme consegue apenas cativar-nos pelas excelentes interpretações das duas grandes actrizes que são Fanny Ardant e Emmanuelle Béart mas, ao mesmo tempo, não consegue ir além disso não alcançando aquela história maior sobre o que realmente motiva cada indivíduo em particular.
Interessante e constitui um bom visionamento muito graças às respectivas actrizes mas, para além disso, não é um filme que permaneça muito tempo na nossa memória ou sequer que vá para além da dinâmica criada entre Ardant e Béart justamente nomeadas para os prémios do público dos European Film Awards, e onde o próprio Depardieu se assume como um actor apagado quase nulo que pouco contribui para o desenrolar da história sendo que, no entanto, toda ela se origina com base no seu comportamento extra-matrimonial.
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4 / 10
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