quarta-feira, 31 de julho de 2013

Miau y el Pescadero (2012)

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Miau y el Pescadero de Patxi Mejias é uma curta-metragem espanhola de animação tradicional em 2D que nos conta a história de Miau, um pequeno e esfomeado gato com um gosto pelas sardinhas de uma banca de venda. No entanto, aquilo com que Miau tem de contar é com o terrível vendedor que não está disponível para aceitar as suas trapaças e que não lhe irá facilitar a vida.
Depois de ver esta curta-metragem fica uma leve nostalgia sobre a velha animação que há largos anos atrás estava tão presente na televisão nacional e que fazia as delícias de qualquer jovem criança que passava horas a olhar animações provenientes dos mais diversos lugares do mundo e, cada uma delas, com a sua pequena mensagem e diversão para partilhar.
Miau y el Pescadero e a sua simples e bem disposta história escrita por Patxi Mejias deixa essa mesma saudade e cumpre com eficácia o seu propósito deixando-nos vontade de ter (e ver) muito mais das aventuras deste pequeno e atrevido gato. Curta esta que ganha uma vida muito particular também graças a uma competente música original da autoria de Gregorio Martínez.
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6 / 10
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terça-feira, 30 de julho de 2013

Versus (2000)

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Versus - A Ressurreição de Ryûhei Kitamura, que assina o argumento em parceria com Yudai Yamaguchi, é uma longa-metragem japonesa que me havia sido apresentada como sendo de terror.
A história prevê que existam 666 portais que ligam o nosso mundo ao lado lado... um mais negro. Portais esses que se encontram escondidos dos olhares humanos e um deles encontra-se no Japão, portal esse conhecido como o da Floresta da Ressurreição.
É nesta floresta que nestes nossos dias se vão cruzar um grupo de criminosos, um condenado que escapou da prisão e uma misteriosa mulher que despertam a ira daqueles que uma vez mortos e ali enterrados resolvem agora regressar à vida com a ajuda de um espírito das trevas dando assim lugar a uma batalha entre o bem e o mal sem precedentes e da qual dificilmente alguém conseguirá escapar.
Este filme quando me fora apresentado pela primeira vez deixou a ideia de que daqui iria sair uma pérola do terror do cinema asiático onde não só iria assistir a uma verdadeira batalha entre o bem e o mal como principalmente entre dois mundos que conviviam harmoniosamente estando, no entanto, um deles afastado dos olhares da Humanidade. Um mundo das sombras por e para onde as almas atormentadas tinham sido enviadas e que para ali entrar existiam apenas um conjunto de portais que lhe dariam acesso. Portais esses que não só ninguém os via como também ninguém por eles poderia passar a não ser que já tivesse a sua sentença lida.
Se a este conjunto de factores juntarmos a ideia de que vamos assistir a um conjunto de momentos repletos de artes marciais e misticismo samurai ao mesmo tempo que temos um moderno filme de violência urbana e gangsters armados, então só podemos esperar um dos mais intensos e artísticos filmes japoneses de que pode haver memória, e um filme que dificilmente algum fã dos referidos géneros pode sequer imaginar não ver.
No entanto, à medida que o filme decorre percebemos que pouco daquilo que fora prometido nos está a ser revelado e o que vemos nas imagens é um conjunto de segmentos mais ou menos amadores, muito para dizer a verdade, que apenas contém pequenas e quase invisíveis partículas de um filme de terror onde o bem e o mal se enfrentam na realidade. Começamos por ter um filme integralmente filmado numa qualquer floresta que poderia facilmente ser a mata que se encontra nas traseiras de qualquer casa no campo, pouco mística, pouco assustadora e ainda menos um local onde centenas de almas penadas tivessem encontrado o seu túmulo final. Na realidade, qualquer filme passado em Las Vegas consegue ser mais assustador se pensarmos que no deserto em seu redor muitos já lá devem, de facto, ter sido enterrados. Os que regressam à vida têm de facto mau aspecto não por uma caracterização do estilo em que se insere mas sim pelo facto de os recursos com que este filme foi realizado devem ter sido menos do que aqueles que mensalmente gastamos no supermercado em superficialidades que pouco ou nada nos farão. E finalmente, a única coisa que parece ser fiel ao género mas que na prática pouca atenção lhe damos pois tudo o resto é desanimador demais, é o facto de ainda nos serem revelados alguns aspectos mais artísticos nas lutas dos actores mas que, ainda assim, estão longe de prometer um espectáculo merecido e que nos satisfaça.
Percebo que de tão mau que é consiga fazer as delícias e entreter uma boa parte de fãs e de apreciadores do estilo, mas se pensarmos bem na forma como o filme é apresentado e aquilo que depois temos do mesmo, facilmente temos de admitir que estamos perante uma desilusão a vários níveis que passa pelas interpretações dos actores ao próprio local escolhido para as filmagens e principalmente pelos demais aspectos técnicos que estão longe de satisfazer, ou fazer justiça, ao potencial fílmico que aqui existe... ou existia.
Talvez fique na história como um daqueles filmes maus de que todos gostam... mas nunca como um bom filme do género ou menos ainda uma obra de arte que marca como sendo uma referência.
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2 / 10
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segunda-feira, 29 de julho de 2013

To Save a Life (2009)

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Salvar uma Vida de Brian Baugh é um pequeno e simpático filme que nos conta a história de Jake Taylor (Randy Wayne), um jovem adolescente de quem todos gostam e querem ter por perto. Tem a vida perfeita, as amizades perfeitas, a namorada perfeita, é campeão de basketball e prepara-se para vencer uma bolsa de estudos para uma reputada universidade.
No entanto, quando Roger (Robert Bailey Jr.) um seu antigo amigo de infância e de quem Jake se afastou, comete suicídio na escola em frente a todos os alunos, este último começa a ponderar sobre a sua vida e as escolhas que o levaram até este momento e a afastar-se tão drasticamente daquele que fora em tempos o seu melhor amigo e de que forma o poderia ter ajudado caso essa separação não tivesse ocorrido.
Quando conhece Chris (Joshua Weigel), um conselheiro juvenil, este alerta Jake sobre a sua necessidade de se encontrar e de como o tornar-se cristão o irá auxiliar nesta auto-descoberta. É então que num misto de revolta, impotência e de encontrar toda a vida à sua volta a desmoronar-se rapidamente que Jake irá finalmente perceber o que o fará encarar o futuro de uma forma mais positiva e tranquila.
O argumento que Jim Britts escrever consegue um misto de reacções que são sentidas durante todo o filme, ou seja, se por um lado consegue escapar habilmente ao tradicional filme adolescente norte-americano mesmo que, a dado ponto, retenha muitos tiques do referido sub-género, não é menos verdade que quando os faz denotar eles ganham uma proporção relevante para aqueles que de nós pensam nos seus tempos de liceu onde muitas vezes olhávamos (ou éramos olhados) como aquele "tipo estranho" de quem ninguém queria estar muito próximo e, como tal, pensamos nos problemas que atormentam tantos que connosco se cruzam e aos quais damos relativamente pouca atenção.
Ao mesmo tempo Jim Britts faz-nos ter uma percepção quase incomodativa quando aproxima esta história de uma certa propaganda religiosa que não faz sentido para um filme que pretende essencialmente retratar aspectos mais problemáticos de uma vida escolar como o bullying, a exclusão e acima de isso as suas consequências imediatas que quase sempre estão relacionadas com o suicídio juvenil. No entanto, e em abono da verdade, é justo dizer que a tal propaganda religiosa surge apenas em momentos pontuais do filme, apesar de estar sempre presente ao fundo, e que na sua essência a história mantém-se fiel ao princípio de retratar a vida de um jovem que independentemente de ter tudo ao seu alcance e a sua própria vida "preparada" para sempre resolve, como fruto de um trágico acontecimento, parar e ponderar sobre as suas escolhas, a sua vida actual e perceber que essa tem problemas suficientes por resolver que o impedem logo de imediato considerar como será um futuro que ainda vem longe.
Ao mesmo tempo que faz reflexões sobre o presente, o "Jack" que Randy Wayne tão bem compõe, vive também os seus pequenos problemas de adolescente. A aceitação por parte dos seus pares entre os quais quer manter uma certa liderança que lhe foi entregue e não conquistada, uma boa relação com a namorada mimada que vive centrada nela própria e nos seus problemas imaginários e com um lar aparentemente desfeito que condicionam em boa medida todas as suas decisões sobre o tal futuro que espera para si. A morte do seu melhor amigo agora um estranho que, como tantos outros, ignorava nos corredores da escola que ambos frequentavam, fá-lo questionar quem será ou serão todas aquelas pessoas que anónimas no mesmo espaço que frequenta podem determinar a segurança física e psicológica de cada um bem como ser alvo das maiores atrocidades que sofrem em silêncio sem que ninguém alguma vez se preocupe ou repare que elas (as pessoas) existem. E é aqui que felizmente este filme consegue ser muito bem sucedido e fazer passar a sua mensagem para aqueles que se dão ao trabalho de o ver sem o encarar como "mais um filme adolescente" onde as bebidas, o sexo e a gozação diária são o elemento chave.
Destaco ainda a interpretação de Joshua Weigel como o conselheiro juvenil que a certo ponto se encontra ele próprio com o dilema de conseguir (ou não) escutar todos aqueles jovens que se aproximam dele, numa clara abordagem à incapacidade que todos nós poderemos ter para com uma fragilidade de alguém que se encontra ao nosso lado e que passe sem que dela demos conta.
Não temos aqui um filme brilhante capaz de rivalizar com grandes produções que primam não só pelas suas histórias coerentes como também pelo conjunto de actores que conseguem ter no seu elenco, no entanto não é demais referir que consegue ser um filme sólido, consistente e com uma importante mensagem para passar e que felizmente, mesmo com os seus óbvios defeitos ou fragilidades, consegue fazer chegar ao espectador o seu essencial através das interpretações de um conjunto de personagens interpretadas com alguma alma e dedicação.
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"Chris Vaughn: Life is a journey, not so much to a destination, but a transformation."
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8 / 10
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domingo, 28 de julho de 2013

Eileen Brennan

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1932 - 2013
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Honesta Arruaça (2013)

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Honesta Arruaça de De'Gema foi mais uma das curtas-metragens produzidas no 48 Short Media que decorreu em Viseu no passado mês de Junho, e aquela que de uma forma geral conseguiu recriar um clima mais cool e "bairrista".
Mário (Crispim Rodrigues) é um marialva apaixonado mas com sérios problemas de inspiração. Até a sua consciência lhe envia uma musa inspiradora (Sérgio Silva) como forma dele conseguir retirar algo para compôr uma música à sua amada Sofia (Francisca Figueiredo).
A paixão é de tal forma sentida que dificilmente conseguimos separar os seus comportamentos de sinais de evidente loucura mas, ainda assim, esperamos vê-lo finalmente com o alvo da sua paixão e perceber como ela se irá finalmente manifestar.
Dois momentos captam a atenção logo de imediato. O primeiro com a expressão que "Sofia" nos apresenta a curta-metragem... "um relógio de corda que se chama coração". Não poderia existir momento mais revelador de todas as intenções e de todas as vontades que esta simples frase não pudesse caracterizar. É por ele que sentimos, por ele que gostamos e por ele que temos necessidade de nos fazer mostrar e marcar pela (esperamos) diferença. O mesmo que dá a esta curta-metragem uma alma muito própria e que, assumo, gostaria de ver futuramente mais desenvolvido num filme que pudesse melhor elaborar estas personagens diferentes mas com as quais criamos uma imediata empatia.
Finalmente o segundo momento, e não menos intrigante, é a inserção da canção "Acordai" no final onde, após todas as confirmações estarem já consumadas, encontramos algo que podemos associar a um verdadeiro momento de intervenção que, de certa forma, caracteriza a alma de um "Mário" que não se deixa render às adversidades.
De todas as curtas-metragens produzidas durante o 48 Short Media esta é uma das que merecia uma continuação mais alongada e desenvolvida da sua personagem principal. O "Mário" que Crispim Rodrigues compõe tem uma alma grande demais para se ficar por aqui e faria todo o sentido podermos conhecer um pouco mais deste marialva dos tempos modernos, não só por ser uma espécie quase extinta como principalmente por se assumir como alguém que não se deixa vencer pelos padrões de "enquadramento" socialmente aceites, tornando-se por isso numa personagem interessante e do qual queremos conhecer mais, ou não tivesse ele uma tão característica musa inspiradora.
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6 / 10
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O Ontem que a Dor Deixou (2013)

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O Ontem que a Dor Deixou de Colectivo 5 foi a curta-metragem vencedora do prémio de melhor argumento no 48 Short Media que decorreu no final do passado mês de Junho em Viseu, no qual aliás, a curta foi produzida.
Ofélia (Filipa Tavares) entra e começa a regar as pequenas plantas que encontra. Pensamos encontrarmo-nos num espaço tranquilo quando de repente Lídia (Isabel Moura) enche o ecrã a gritar que as filmagens não correm como o previsto e que a jovem rapariga precisa viver a dor antes de a poder representar, pois tem de ser sentido como algo real e não um mero exemplo descritivo.
Aquilo que inicialmente nos parece como uma casual relação profissional onde a empatia era estranha, rapidamente se transforma num elogio à dependência e à humilhação com consequências físicas e psicológicos de proporções irreparáveis.
Filipa Tavares tem uma interpretação sólida e esperada como a jovem actriz "Ofélia" que procura uma oportunidade de ter o seu momento e o seu espaço, mas é no entanto Isabel Moura que consegue ser a presença dominante no ecrã ao fazer sobressair a sua "Lídia" como uma realizadora vingativa e sedenta de levar o seu trabalho a bom porto, nem que para isso tenha de humilhar verdadeiramente a jovem com quem trabalha que, muito lentamente, desenvolve fobias a respeito do seu aspecto e do seu corpo.
Justo vencedor do prémio para o seu argumento que foca o seu âmbito nas dependências, fragilidades e na importância da imagem nos dias que hoje correm, mas não deixa de ser verdade que temos aqui estas duas actrizes que o incorporam como se delas próprias se tratasse, e no caso de Isabel Moura, revela capacidade e qualidades suficientes para se poder tornar numa inesperada vilã que teria, ela própria, muito para dar num filme sobre a personagem que aqui recria.
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8 / 10
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Tons de Cumplicidade (2013)

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Tons de Cumplicidade de Mostarda Criativa é mais uma das curtas-metragens que foram produzidas em Viseu durante o 48 Short Media que ali decorreu no final do passado mês de Junho.
Ele (Pedro Nabais) e Ela (Elisabeth Cunha) são apresentados com a nitidez de uma perda recente. Pequenos e breves momentos sem uma continuidade "lógica" de quem amou e foi amado e que agora aparenta estar só.
Ele e Ela percorrem o campo onde pintam pequenos quadros. Os retratos das suas memórias e tempos passados em comunhão que ali, em conjunto, compõem as recordações que permanecem desses dias, denotando uma óbvia e evidente cumplicidade entre ambos.
De repente somos surpreendidos com uma súbita passagem para uma sala onde alguém escreve à máquina, terminando de seguida com a frase "o poeta é um fingidor". Fica lançada a dúvida sobre se aqueles belas imagens são as memórias de alguém ou se apenas uma ficção na mente de um poeta! Conseguirá alguém fingir sentimentos tão nobres de uma forma tão espontânea?
A cumplicidade entre os dois actores sente-se desde o início pelo que constitui um dos elementos mais positivos desta curta-metragem, assim como a sua excelente direcção de fotografia que nos mantém em suspenso pelo facto de sentirmos que estamos a assistir às memórias de alguém que em tempos esteve (estará?) apaixonado.
Simples, sem diálogos ou intenções exteriores à transmissão real de um sentimento, esta curta-metragem consegue surpreender pela positiva deixando ainda o campo em aberto para podermos fantasiar sobre o que será de facto real; a memória ou a imaginação que alguém tem e que compõe um retrato positivo sobre um momento passado... ou imaginado.
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7 / 10
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Autopsicografia (2013)

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Autopsicografia de Abdul Alouhmy, Inês Calheiros, Laura Nóbrega, Vera Taboada e William Maurício é uma das curtas-metragens produzidas durante o 48 Short Media que decorreu em Viseu no passado mês de Junho.
Diogo (Tomé Oliveira) e Ana (Elisabeth Cunha) separam-se. Ele sente-se incapaz de dar continuidade a uma relação com a qual aparentemente já não se identifica, embarcando assim numa alucinante viagem onde os encontros, que mais não são do que retalhos da sua vontade, se sucedem a um ritmo tão acelerado que se prevê que sejam relações desfeitas antes sequer de o serem.
No essencial esta pequena curta-metragem que está cheia de boas intenções por cumprir, reflecte sobre um jovem rapaz que pretende ser aceite e que o compreendam mas que na prática peca por aquilo que espera quando ele próprio insiste em não se compreender ou aceitar, e perde-se num conjunto de pensamentos que escutamos em voz-off.
O principal problema desta curta, e que perdura do início ao final da mesma, prende-se com dificuldades técnicas a nível de som que por diversos momentos quase nos impossibilitam de compreender o raciocínio daquele jovem. Digo problema pois existe a sobreposição daquilo que ele pensa com aquilo que lhe é dito de forma a que nenhum dos dois se compreenda, sentindo-se assim o espectador como se estivesse presente uma colagem de momentos ambos imperceptíveis pois, a querer retratar na prática a confusão pela qual a mente de "Diogo" atravessa teria sido um resultado diferente e, por consequência, melhor. Assim ficamos com a boa vontade de um retrato psicológico atormentado que, na prática, não se cumpre da melhor forma, sendo esta a mais frágil das curtas apresentadas durante este certame.
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2 / 10
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Cena Doze (2013)

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Cena Doze de Shortframe é uma das curtas-metragens realizadas durante o 48 Short Media que decorreu em Viseu no final do passado mês de Junho, e que saiu como a vencedora do prémio para o melhor website.
Ele é João (Pedro Nogueira), um rapaz aparentemente atormentado com uma tarefa que parece não poder resolver. Escreve as cenas de uma peça ou de um argumento para o qual não consegue dar um correcto desfecho vivendo assim atormentado com a sua não conclusão.
É quando parece ter mais uma cena concluída e estar assim próximo do final que o carteiro (Samuel Almeida), lhe deixa uma enigmática carta.
O facto mais interessante que este argumento nos apresenta reside no sentido de nos deixar perante uma permanente dúvida se aquilo que vemos é simplesmente uma peça que ele escreve ou se na realidade "João" escreve uma história como expiação sobre algo que lhe acontecera. Facto este que só nos é vagamente esclarecido após a leitura da misteriosa carta já bem perto do final desta curta-metragem que, a bem da verdade, merecia uma maior duração para concluir algumas pontas soltas que ficam em aberto. Pontas soltas estas que sendo ou não intencionais precisariam de um melhor tratamento, nomeadamente o facto de "João" ter ficado na Cena 8 quando na prática sabemos logo de antemão que elas são pelo menos doze.
Se por um lado a nível de argumento esta curta-metragem consegue ser interessante, não é menos verdade que alguns aspectos técnicos prejudicam o seu resultado final, nomeadamente o som muito deficitário que está repleto de ecos que dificultam a compreensão de alguns monólogos do actor quer abafado quando tenta representar a voz-off ou consciência do mesmo. No entanto, é também justo dizer que esta curta-metragem tem um interessante segmento quando a câmara segue "João" como se de uma assombração que o vigia se tratasse ou quando o acompanha para lá do visor da porta para descobrir quem está do outro lado.
Interessante ainda a direcção de fotografia de Márcio Cortez e Élio Santos que nos consegue privar de grandes focos de luz e com isso enclausurar-nos num espaço onde co-habitamos com uma mente atormentada de um "João" com problemas de consciência.
Cena Doze está uma interessante curta-metragem com uma premissa que poderia ser muito mais explorada e com certos apontamentos técnicos mais limados e apurados, podendo assim transformar-se num filme mais digno do seu potencial.
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5 / 10
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Abdução (2013)

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Abdução de Francisco Miranda que assina igualmente o argumento, em parceria com Carolina Leitão, e a direcção de fotografia é uma das curtas-metragens produzidas durante o 48 Short Media que decorreu em Viseu no final do mês de Junho.
Ele (André Sobral) vagueia pelo mesmo espaço vezes sem fim onde tenta encontra-se à medida que o tempo passa. Percebemos aos poucos que tal como para com a sua mente, que ele se encontra ali enclausurado, e sem uma aparente saída, por tempo indeterminado.
Com um espaço envolvente e estranhamente "quente", a principal mensagem que podemos retirar desta curta-metragem prende-se com o aprisionamento (ou falta de liberdade) que a mente dele sente mantendo-o indeterminadamente preso num espaço que é pequeno demais para estar, mas suficientemente grande para nele se perder revivendo diariamente todos os mesmos problemas e divagações que por ela (mente) ocorrem.
No entanto, o principal problema com que esta curta-metragem se depara é com uma quase literal adaptação ao texto original de Fernando Pessoa e desprovendo-se assim de uma alma e identidade próprias que são necessárias para poderem transmitir uma mensagem forte e dinâmica, bem como algumas oscilações despropositadas no início da mesma também condicionam a sua aceitação logo de imediato.
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5 / 10
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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Exorsister (2012)

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Exorsister de Tom Titulaer é uma curta-metragem de ficção holandesa que oscila entre o falso documentário e a comédia numa perfeita harmonia.
Hank (Sander Hemerijckx) é um homem apático e aparentemente desligado da realidade que o rodeia até conhecer a sua enérgica e alucinada irmã Suzanne (Nienke 's Gravemade) que o apoia na escolha que faz para a sua carreira profissional enquanto exorcista.
No entanto chega o dia em que Hank tem de passar da teoria à prática e realizar aquele que ele julga ser o seu primeiro "positivo" depara-se com uma surpresa bem maior do que aquela que ele esperava quando a rapariga possuída (Eveline Vroonland) revela que afinal não é uma simples energia "positiva" que a acompanha.
Esta curta-metragem ganha de imediato a nossa simpatia pelo seu argumento da autoria de Tiger Blam e Daan Loenen que prima pela sua temática de base de um potencial terror que, na prática, nunca chega a ser cumprido assumindo-se por sua vez como uma comédia ligeira da qual não sabemos bem o que esperar tal como podemos confirmar pelo desfecho dado à personagem "Hank" tão ou mais inesperado como a premissa de "exorcista positivo" com a qual começa, ou mesmo pelos pequenos detalhes que primam pela subtileza como os números de telefone utilizados nas "profissões" nas quais ele tenta ganhar a vida.
Hemerijckx e  Gravemade têm duas interpretações sólidas para o género, mas somos obrigados a pensar no potencial que teriam caso esta curta tivesse uma duração mais longa onde pudessem ser melhor desenvolvidas e principalmente conhecer um pouco mais do seu misterioso passado e sobre o que aconteceu para não se terem conhecido logo no início das suas vidas, assim como também é verdade que tinha sido positivo mostrar mais da jovem possuída da qual só retemos uma sentida homenagem à eterna Linda Blair que, também ela, recebe agradecimentos nos créditos finais.
Se tivesse de utilizar uma única palavra para descrever esta curta-metragem ela seria com toda a certeza, alucinada, não só pela sua extravagante premissa como pelas tão características personagens que a compõem mas com as quais simpatizamos de imediato.
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7 / 10
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Banda Desenhada (2013)

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Banda Desenhada de Pedro Santasmarinas é uma curta-metragem portuguesa de comédia e uma das mais bem-vindas surpresas do ano.
O entusiasmante argumento de Pedro Santasmarinas leva-nos até dentro de uma loja de banda-desenhada onde encontramos dois caricatos vendedores (Sérgio Araújo e Sérgio Ferreira) que discutem sobre o tamanho das "mamas" da Lara Croft.
No mesmo espaço temos um potencial comprador (Eduardo Marques) que lê um dos muitos livros por lá expostos quando, de repente, dois assaltantes (Agostinho Santos e Ricardo Bueno) entram dentro da loja causando uma série de distúrbios. Enquanto os vendedores ficam sem reacção, o insuspeito leito tem os seus próprios planos para a dupla de marginais que parece imparável.
Numa clara reflexão sobre o poder que a literatura tem sobre a nossa mente, exercendo sobre ela uma estimulação sem limites, esta curta-metragem é a prova de que quase instintivamente o nosso cérebro equaciona um sem limite de situações que um bom livro nos pode proporcionar, independentemente do género a que estejamos expostos.
Ao mesmo tempo, Pedro Santasmarinas e o seu Banda-Desenhada conseguem transportar para o cinema "curto" um interessante recado sobre a importância deste género literário que é tantas vezes remetido para um desinteressante segundo plano quando, na prática, é também ele lido por milhões de leitores por todo o mundo. Dá que pensar quão "secundário" é realmente! Tal como Santasmarinas referiu no questionário após a exibição da sua curta, se considerarmos o elevado conjunto de adaptações cinematográficas que o universo da banda-desenhada teve nos últimos anos, então deparamo-nos com um importante sector que não só se assume de primeira linha na literatura como também agora no cinema.
A mim esta curta-metragem surpreendeu pelas suas personagens marcantes que têm tanto mais potencial por dar caso este filme tivesse a oportunidade de ser uma curta mais longa ou até mesmo uma longa-metragem onde o seu "bairrismo" fosse devidamente desenvolvido. Arrisco mesmo em dizer (quase com certezas absolutas) que seria um dos filmes mais fortes do ano e que arrastaria certamente legiões de cinéfilos interessados em conhecer o ambiente, o universo e as respectivas personagens.
Defeitos? Não lhe encontro um. O porquê de "só" dar um 8? É simples... Os seus escassos minutos de duração são insuficientes e Banda-Desenhada precisa urgentemente de ser uma longa-metragem. Pedro Santasmarinas... fica aqui o pedido oficial... QUERO MAIS!
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8 / 10
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O Fim do Homem (2012)

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O Fim do Homem de Bruno Telésforo e Luís Lobo é uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos transporta para um universo onde o fim da Humanidade parece iminente.
Quando o céu fica vermelho e os sinais de um fim próximo são mais do que evidentes, o medo fez gerar violência e o caos é uma constante.
A Dra. Vega (Diana Costa e Silva) é uma jovem cientista que se encontra só e afastada de toda a confusão social que afecta a cidade. Ela é perseguida por um segredo que possui mas que desconhece, e numa luta pela sua própria sobrevivência conhece a Agente 355 (Paula Garcia) que lhe irá revelar segredos maiores que podem salvar a Humanidade. Irão eles ser revelados a tempo de evitar o fim do homem?
João Azevedo, Joana Cunha, Luís Lobo e Bruno Telésforo assinam o argumento que tem fortes referências em dois filmes apocalípticos que fizeram sucesso no seu tempo: 28 Dias Depois com a referência a um caos da Humanidade que ameaça constantemente a sua segurança e Sinais do Futuro no qual um misterioso código prevê acontecimentos futuros e cujo portador desconhece ter em seu poder. No entanto a premissa desconhecida na cinematografia portuguesa, ainda que já usada em filmes que foram sucessos internacionais de bilheteira, consegue ser apelativa o suficiente para esperarmos ter uma obra original quanto baste num universo que nos poderá ser mais ou menos próximo ou familiar, e que nos faça esquecer ser uma premissa já utilizada.
No entanto aquilo que aqui constatamos é que para além da fórmula já ter sido utilizada nessas referidas produções, não deixa igualmente de ser verdade que aqui a adaptação não vai mais longe nessa aproximação aos locais e referências nacionais que poderiam ter transformado esta curta-metragem num trabalho original e português, limitando-se assim a uma reprodução com menos meios ou efeitos para aquilo que já foi anteriormente visto. Ainda assim é de destacar a qualidade, para o proposto, dos efeitos especiais da autoria de Pedro Motta e Bruno Telésforo que conseguem, dentro do género, dar algum ar de originalidade à curta-metragem onde, não sendo suficientemente explorados, nos deixam alguma vontade de ver um pouco mais.
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5 / 10
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Palinodia (2013)

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Palinodia de Estanis Bañuelos é uma curta-metragem espanhola cujo argumento escrito por Federico Bañuelos nos apresenta a Pablo (Pablo Bermejo), um jovem que regressou recentemente à sua Espanha natal após um acidente que envolveu a sua mãe.
Quando depois de sair do centro de emprego e de mais uma tentativa frustrada para encontrar emprego numa Espanha em crise, encontra-se com Bill (Guiem Alba) e ambos reflectem sobre o seu passado, os sonhos perdidos e sobre as suas condições actuais que estão muito longe daquilo que em tempos pensaram.
No final Pablo tem apenas uma única certeza...
Apesar de alguns problemas técnicos apresentados no decorrer desta curta-metragem, o principal da mesma prende-se com o seu argumento e com a imagem que nos entrega dos tempos que agora correm. Numa Europa em crise e numa Espanha onde os problemas económicos e sociais já ultrapassam todos os limites da sobrevivência e da dignidade humana, é curioso aqui verificar como os mesmos já se fazem também sentir nas pequenas obras cinematográficos que aos poucos vão surgindo pelas mãos dos mais variados realizadores.
E é aqui que reside o seu ponto mais forte, ou seja, apesar das debilidades técnicas que aparenta e que não o fazem florescer mais tem uma mensagem forte que, infelizmente, está presente na realidade de todos nós.
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4 / 10
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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Beatriz - longa-metragem independente da Paradoxon Produções

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O CinEuphoria enquanto parceiro para a divulgação da longa-metragem independente Beatriz, a primeira da Paradoxon Produções, tem o prazer de anunciar que o videoclip promocional da mesma realizado por Hernâni Duarte Maria, faz parte da selecção oficial do FARCUME - Festival de Curtas-Metragens de Faro.
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Festival Internacional de Cinema de Veneza 2013

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COMPETIÇÃO OFICIAL
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Ana Arabia, de Amos Gitai (Israel/França)
Child of God, de James Franco (Estados Unidos)
Es-Stouh, de Merzak Allouache (França/Argélia)
Die Frau des Polizisten, de Philip Gröning (Alemanha)
L'Intrepido, de Gianni Amelio (Itália)
La Jalousie, de Philippe Garrel (França)
Jiaoyou, de Ming-Lian Tsai (Taiwan/França)
Joe, de David Gordon Green (Estados Unidos)
Kaze Tachinu, de Hayao Miyazaki (Japão)
Miss Violence, de Alexandros Avranas (Grécia)
Night Moves, de Kelly Reichardt (Estados Unidos)
Parkland, de Peter Landesman (Estados Unidos)
Philomena, de Stephen Frears (Reino Unido)
Sacro Gra, de Gianfranco Rosi (Itália)
Tom à la Ferme, de Xavier Dolan (Canadá/França)
Tracks, de John Curran (Reino Unido/Austrália)
Under the Sun, de Jonathan Glazer (Reino Unido/Estados Unidos)
The Unknown Known, de Errol Morris (Estados Unidos)
Via Castellana Bandiera, de Emma Dante (Itália/Suíça/França)
The Zero Theorem, de Terry Gilliam (Reino Unido/Estados Unidos)
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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Fist of Jesus (2012)

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Fist of Jesus de David Muñoz e Adrián Cardona é uma curta-metragem espanhola de comédia gore e, sem qualquer tipo de reservas, uma das melhores do género não só deste último ano como de sempre pois é fiel ao espírito desde o primeiro instante até ao seu final que, para mim que vibrei com todos os instantes, chega cedo demais.
Jesus (Marc Velasco) fala ao seus fiéis entre os quais se destaca Judas (Noé Blancafort), um dos seus mais próximos seguidores quando são subitamente interrompidos por Jacobo (Salvador Llós) que lhe implora que vá salvar o seu filho Lázaro (Roger Sotera) que acabara de morrer.
Jesus calmo, paciente e excessivamente "cool" segue Jacobo e salva o seu filho de uma morte que todos espanta e o torna no salvador que todos esperam. No entanto, a ressurreição de Lázaro não corre tão bem como Jesus esperava e fá-lo retomar à vida como... um zombie.
A partir deste momento Jesus tem não só de lidar com um pequeno erro nos seus dons como também terá de lidar com uma imensa praga de mortos-vivos que aos poucos vão tomando conta de todo o território num banho de sangue sem limites e que fará o Jesus encarnar uma postura bem diferente daquela a que as histórias bíblicas nos habituaram.
O realizador e também argumentista David Muñoz consegue criar uma fantástica história do género que é não só original pela época em que se insere como também graças aos pequenos e inovadores elementos que lhe insere (alguém alguma vez ouviu falar em cowboys zombies nesta época histórica?) se torna numa curta-metragem cómica sem limites que nos prende ao ecrã e nos faz devorar cada pequeno detalhe que lhe é inserido e que apesar de toda a violência gore gráfica que lhe é incutida consegue ser uma história bem menos violenta que os verdadeiros contos bíblicos recheados de momentos francamente mais sanguinários e vingativos do que a história ficcionada que aqui temos relatada e com a vantagem de ainda nos conseguir retirar muitos sorrisos e gargalhadas proporcionados por um "Jesus" que parece um daqueles amigos que todos temos e que costuma sair connosco ao sábado à noite.
Marc Velasco tem aqui créditos como aderecista, caracterizador, produtor mas seria impossível falar dele como outra coisa que não o "Jesus" de serviço. A sua interpretação não só é bem conseguida no domínio da comédia como, apesar dos seus inúmeros problemas em trazer os mortos de volta à vida... bem, de forma correcta pelo menos, consegue encarnar o vingador capaz de livrar a Terra de todo o mal, literalmente, de forma eficaz ao ponto de ser perfeita. Mas, não pensem que ele o faz à distância com um conjunto de armamento bem elaborado e ultra-moderno. Pelo contrário, este "Jesus" extermina todos aqueles mortos-vivos com o mesmo "material" pelo qual se destacaram alguns dos seus apóstolos e que foi o símbolo dos primeiros e "ilegais" cristãos. Os que conhecem um pouco de História sabem do que estou a falar... todos os outros têm obrigatoriamente de ver este brilhante e aparentemente eficaz novo "armamento".
Finalmente, e no que diz respeito a aspectos mais técnicos tenho obviamente de referir a magnífica e bem executada caracterização também a cargo de Marc Velasco em parceria com Adrián Cardona e Monica Murguia que facilmente consegue equiparar-se à das grandes produções de Hollywood e superar muitas pela qualidade "assustadora" que os resultados finais apresentam.
Cardona, Muñoz e Velasco são ainda os autores de um guarda-roupa cool e de época, ou de várias épocas se considerarmos os já referidos "cowzombies" (you'll get the idea...), e que em conjunto com a direcção de fotografia de Paco Ferrari e a direcção de arte do próprio Adrián Cardona nos fazem sentir de imediato como se nos encontrássemos numa qualquer conhecida produção cinematográfica de época e sim, o ambiente sente-se como se nos encontrássemos nos dias de Jesus. E isto sem esquecer o magnífico cartaz desta curta-metragem que é seguramente um dos melhores que este ano cinematográfico viu "nascer".
Por muito que possa aqui escrever sobre esta curta-metragem pouco será aquilo que irá conseguir recriar o espírito deste filme pelo que é obrigatório ver o que este conjunto de amadores (que mais parecem profissionais) conseguiu fazer, e esperar que os seus próximos projectos sejam de qualidade tão avassaladora como esta que aqui nos é apresentada.
Finalmente à dupla de realizadores Muñoz e Cardona só me resta dizer que com este registo o seu futuro está certamente assegurado e que a legião de fãs se já é extensa...  será ainda muito mais. Quero mais... muito mais desta energia que uma perfeita comédia gore consegue exalar.
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10 / 10
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The Lords of Salem (2012)

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The Lords of Salem de  Rob Zombie é um muito característico filme do realizador norte-americano que aqui graças ao seu argumento resolve fazer uma homenagem ao invulgar cinema arthouse satânico que esteve muito em voga na década de 70 do passado século XX.
Heidi Hawthorne (Sherri Moon Zombie) é DJ numa rádio local de Salem, e juntamente com Herman "Whitey" (Jeff Daniel Phillips) e Herman "Munster" (Ken Foree), faz parte do Big H Radio Team, e apresentadores de um dos mais mediáticos programas de rádio.
Um dia Heidi recebe uma misteriosa caixa de madeira enviada pelos "Lords". Ao assumir que é uma banda rock que pretende promover o seu trabalho, Heidi passa-o e, curiosamente começa a tocar ao contrário, fazendo com que desperte nela um misterioso flashback sobre passado que partilha com a sua enigmática senhoria Lacy (Judy Geeson). No entanto, mais tarde quando Whitey volta a passar o disco no programa, ele toca normalmente fazendo um enorme sucesso junto da população local.
Quando os Lords voltam a enviar uma nova caixa para a rádio com convites para um espectáculo no qual todos devem participar, o trio está longe de imaginar que estão bem longe de um concerto de rock ao qual pensavam ir, e o regresso dos Lords está mais perto do que todos imaginavam, contribuindo assim para um assumido renascer das forças do mal que em tempos espalharam o terror por aquela cidade.
Rob Zombie consegue para além de dirigir um filme mais extravagante dos que as suas obras anteriores, o que quase parecia impossível, um verdadeiro elogio histórico e perfeitamente fiel ao género em que se insere. Se por um lado temos aqui um enquadramento inicial que nos leva aos primórdios da fundação do país em que muitas mulheres foram injustamente condenadas e queimadas vivas pela prática de bruxaria, momento pelo qual começa este filme, não é menos verdade o argumento que Zombie escreve agarra esse mesmo segmento que é posteriormente aproveitado para um verdadeiro elogio ao género cine-satânico distorcendo a realidade e colocando a história como se de um caso prático se tratasse. Assim temos um filme de terror com elementos sombrios e bastante obscuros de um sub-género de terror muito específico e que no fundo constitui uma franca homenagem ao estilo e possivelmente um dos melhores filmes feitos do mesmo desde há muitos e largos anos, e possivelmente tão bom como aqueles que eram tão "vivos" na década de 70 passada em que originaram um intenso culto.
Os elementos que Zombie faz renascer com este filme são inúmeros começando por todo um ambiente que "transpira" algo demoníaco e satânico desde o segmento inicial onde apesar de parecer o julgamento de um conjunto de inocentes sentimos de imediato que de algo elas são culpadas, apesar de não totalmente admitido o quê. A própria residência de "Heidi" é aparentemente inocente mas algo de ténebre se esconde por detrás daquelas paredes. O corredor enigmático e o constante jogo de luzes de tons carregados que a brilhante direcção de fotografia de Brandon Trost faz destacar, revela-nos que não é só "Heidi" que não está sózinha... nenhum de nós, na realidade, está e as presenças sejam elas quais forem estão bem perto e prestes a revelar-se.
E finalmente as características personagens são, também elas, um importante factor desta tensão escondida, senão mesmo o principal e que nos faz desconfiar de todos indiscriminadamente. Começando logo de imediato pela estranha empatia que nos fazem sentir os dois "Herman" colegas de "Heidi". Se por um lado os achamos amáveis e disponíveis demais, não é menos verdade que algo de incomodativo permanece no ar apenas se revelando mais tarde se temos ou não razão nessa suspeita. No entanto é aquela que deveria ser a menos suspeita das personagens que cedo se revela, "Lacy Doyle", a simpática senhoria de "Heidi" que parece sempre mais disponível do que aquilo que realmente é, e transmite-nos não uma agradável sensação de conforto mas sim uma desconcertante ideia de que estamos perante alguém que é muito mais do que aquilo que decide de si revelar. A cargo desta personagem está uma insuspeita actriz que fez furor nos anos 60 quando interpreta a jovem actriz que amou mais ou menos em segredo Sidney Poitier no sucesso britânico O Ódio que Gerou Amor, ou seja, Judy Geeson. Um rosto estranhamente familiar e que nos transmite inicialmente uma sugestão de segurança, Geeson consegue encarnar uma das mais fiéis discípulas de Satanás e que tudo fará para que o seu mestre regresse para poder procriar.
Mas Rob Zombie não deixou nada ao acaso, e nada como a santíssima trindade do mal para fazer renascer o senhor do mal. E para a mesma Zombie recuperou duas emblemáticas actrizes do género de terror, ou seja, a insuspeita Dee Wallace como "Sonny", actriz que nos entregou alguns dos mais intensos êxitos deste estilo durante toda a década de 80, sendo possivelmente a raínha dos filmes de terror série B (quem não se recorda dela no famoso The Howling só pode estar a mentir), e para completar o trio temos "Megan" numa composição de Patricia Quinn, estrela de The Rocky Horror Picture Show. As actrizes compõem uma calma, mas não menos enervante, tríade que personificam o mal com cara de santo. Sedutoras pela sua amabilidade e características de vizinhas pacatas e que zelam pela tranquilidade alheia, conseguindo assim ludibriar todos os que se cruzam com elas que suspeitam mais depressa de algo desconhecido que não sabem bem o que é do que propriamente dos seus comportamentos ultra-protectores de alguém que apenas vive naquele cada vez mais macabro edifício.
Quanto a Sheri Moon Zombie, mulher do realizador e a sua musa oficial (para o bem e para o mal), entrega-nos uma composição que atravessa e atinge os extremos. Inicialmente uma tipa pacata e de bem com a vida, com o trabalho que gosta e com uma empatia e química óbvia com o seu colega de trabalho vai, aos poucos, denotando os seus sinais de instabilidade, de fraqueza e que a amedrontam sem conseguir perceber os seus porquês, originais e fins. A vítima perfeita pelo seu passado e origens, controlada por aqueles que lhe querem mal e que ela se assuma como uma "Nossa Senhora" das trevas e que dê à luz o messias das mesmas que possa um dia criar o caos na Terra. Se Sheri Moon consegue entrega uma primeira metade deste filme com qualidades inerentes a uma mulher que leva a sua vida normalmente, não é menos verdade que se entrega de alma e coração quando a sua loucura e adoração começam a ser parte do seu estado psíquico antes de atravessar para o "outro lado". Aquilo que temos nos segmentos finais têm tanto de louco como de excêntrico, de exibicionista, sedutor e sexual num misto perfeitamente disforme e ela fá-lo como ninguém.
Se por um lado este filme vive dos seus elementos visuais que dão a todo o filme um look macabro e maligno graças à composição artística de Jennifer Spence e Lori Mazuer que quase nos aprisionam ao seu próprio universo, não é menos verdade que a música original de Griffin Boice e John 5 tornam toda a atmosfera arrepiante desde o primeiro instante.
As críticas negativas a este filme têm ultrapassado para além do razoável aquilo que este filme realmente se propõe ser... uma homenagem ao género de culto cine-satânico e que funciona como clara oposição às inúmeras obras bíblicas que fizeram furor no decurso da década de 50 e 60. Aqui não são os elementos baseados em "factos" que importam mas sim o recriar uma história que sem grandes lições de moral se tente impôr pela sua originalidade e macabro que amedrontem não por nenhum ambiente gore mas sim pela excentricidade visual que nos faça perder pelo meio contanto, ainda assim, uma história. E Rob Zombie consegue ser fiel ao ambiente e ao género cinematográfico compondo uma obra onde não só recupera rostos emblemáticos do cinema de terror como introduz novos actores, ressuscita a musa "virgem" que é alvo das investidas do mal e todo o seu look estético são desafiantes e sedutores ao ponto de não nos querermos separar de nenhum pequeno detalhe com que somos presenteados. A bem da verdade, Zombie consegue transformar todo o segmento final numa verdadeira orgia visual... tal como o verdadeiro mal pretende.
Pode não ser um filme fácil e ser em boa medida tenso e desconfortável mas, na realidade, é isso mesmo que um verdadeiro fã do género pretende e que aqui, felizmente, consegue ter. Zombie superou as suas obras anteriores e, na prática, superou-se a si próprio fazendo deste The Lords of Salem a sua obra de referência.
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"Sonny: Satan! Come to us! We are ready!"
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8 / 10
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MOTELx 2013 - programação de curtas-metragens nacionais em competição

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Com o MOTELx 2013 a poucas semanas de distância, foi divulgada a secção competitiva das curtas-metragens portuguesas de terror. Assim temos seleccionados os seguintes filmes:
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Bílis Negra, Nuno Sá Pessoa
O Coveiro, André Gil Mata
Desespero, Rui Pilão
Hair, João Seiça
A Herdade dos Defuntos, Patrick Mendes
Longe do Éden, Carlos Amaral
Monstro, Alex Barone
Nico - A Revolta, Paulo Araújo
Sara, Miguel Ângelo
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Prémio LUX - Parlamento Europeu 2013: os nomeados

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Foram revelados os três filmes finalistas para o Prémio LUX de 2013, atribuído pelo Parlamento Europeu, e que terão a sua apresentação no próximo Festival Internacional de Cinema de Veneza a decorrer em Setembro próximo.
De Itália chega Miele, de Valeria Golino, da Bélgica temos The Broken Circle Breakdown, de Felix Van Groeningen e finalmente do Reino Unido chega o filme The Selfish Giant, de Clio Barnard, sendo que estes filmes vão ser exibidos nos 28 países membros da União Europeia e o vencedor será anunciado no Parlamento Europeu em Estrasburgo a 11 de Dezembro, bem como será ainda atribuída uma Menção Especial através do voto do público numa tentativa de o aproximar ao cinema europeu.
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terça-feira, 23 de julho de 2013

Prémios Fundação GDA 2013: os vencedores

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Foram hoje revelados os vencedores do VI Prémio de Actores de Cinema Fundação GDA relativos às produções cinematográficas portuguesas estreadas durante o ano de 2012.
Estes prémios que distinguem todos os anos uma interpretação principal e uma secundária recaíram este ano sobre Dalila Carmo, que recebeu o Prémio de Melhor Actriz pela sua interpretação no filme Florbela, de Vicente Alves do Ó, e Ângelo Torres que recebeu o Prémio de Melhor Actor Secundário pela sua participação no filme Estrada de Palha de Rodrigo Areias.
A cerimónia de entrega dos Prémios irá ter lugar no novo bar do Teatro da Trindade, em Lisboa, no próximo dia 29 de Julho, a partir das 18:30.
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Animal Factory (2000)

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Escola de Criminosos de Steve Buscemi consegue reunir um conjunto interessante e bem dinâmico de actores entre os quais se destacam Willem Dafoe, Mickey Rourke, Edward Furlong, Tom Arnold, John Heard e Danny Trejo, numa história cujo argumento de John Steppling e Edward Bunker baseado no romance homónimo deste último, nos insere no submundo do crime dentro de uma prisão.
Ron (Furlong) é um jovem vindo de boas famílias sentenciado para cumprir pena de prisão por posse e consumo de marijuana, e que logo de início da sua estada na mesma consegue despertar a simpatia e atenção de Earl (Dafoe), um veterano que mantém a sua influência dentro do estabelecimento e que assim o protege.
Este argumento explora assim aos poucos aspectos como o racismo e a violência prisional, os abusos e as tentativas de violação bem como a propagação de droga dentro da prisão que, aos poucos, parece ter tanto do controle dos guardas como dos próprios detidos que se movimentam sem darem qualquer conhecimento do seu paradeiro àqueles que supostamente controlam o espaço. No final, a questão que nos é colocada prende-se com "Ron" e sobre a possibilidade deste sobreviver aos perigos que espreitam de cada cela ou tornar-se-à ele num animal pelo excesso de violência a que é sujeito e com a qual é forçado a conviver?
Não sendo propriamente um filme inovador no género, não é menos verdade que este nos cativa graças ao seu elenco que tem alguns intensos actores cujas passadas interpretações falam por si. Começando por Willem Dafoe que é um carismático actor que consegue retirar o melhor de cada vilão que interpreta, aqui surpreende-nos com o desempenho de "Earl", um homem que controla a prisão e estabelece uma intensa rede de conhecimentos que lhe permitem gozar de alguma tranquilidade que em liberdade jamais conhecera. A prisão é a sua verdadeira casa e é por ali que pensa poder ficar pois é onde encontra os seus mais leais amigos e um lugar a que pode realmente chamar "seu". É então que "Earl" conhece "Ron", e não só desenvolve por ele uma estranha e invulgar empatia que tem um misto de paternal como de sentimental, assumindo-se assim logo de imediato o seu protector.
É então que temos o "Ron" interpretado por Edward Furlong e que revela uma maior transformação ao longo deste filme. Por um lado começa como o mimado jovem que vindo de uma família abonada teve os seus pequenos e talvez insignificantes devaneios mas que, no momento errado à hora errada, o levam para aquelas inesperadas paragens. De um jovem aparentemente indefeso e inconstante que facilmente seria uma presa nas teias de corrupção prisional, passa a um tipo experiente e com desejos de vingança que ultrapassam a compreensão daqueles que ali vivem há anos e que aos poucos se transformaram no próprio "sistema". E será também "Ron" aquele que com o tempo aparenta estar mais ligado e cúmplice desse mesmo sistema dentro do qual esteve inicialmente perdido. Assim, coloca-se a questão principal e que faz girar muito do filme... até que ponto pode o sistema transformar aqueles que nele vivem ao ponto de transformar o mais insuspeito dos homens num comum lacaio ao seu serviço, desprovido de uma consciência do eu, dos outros e dos limites ou consequências que as suas acções podem, ou não, ter?
Finalmente no domínio das interpretações há que realçar a mais surpreendente de todas composta por um insuspeito Mickey Rourke que aqui dá vida, e muita alma, a "Jan" um homossexual que alegra os seus parceiros de prisão das mais variadas formas, numa composição deste actor que está longe de ser uma das suas habituais.
Se é verdade que este filme nos faz pensar sobre a forma como o sistema, independentemente das suas especificidades, transforma o Homem ao ponto de fazer dele um ser irracional, não é menos verdade que na sua generalidade vive de momentos feitos muito tipificados em filmes deste género não contribuindo de uma forma significativa para a composição de uma obra nova, moderna e com um factor surpresa que consiga realmente impressionar pela positiva. Assim, e exceptuando um ou outro segmento mais intenso, aquilo que aqui nos é apresentado é uma interessante composição a cargo deste conjunto de actores que, no seu conjunto, conseguem compôr um filme que não é intenso mas que denota alguma sensibilidade, ou consequente falta dela, das personagens que apresenta tendo estas, no entanto, muito mais de si por explorar.
Vale pelo segmentos intensos que ainda consegue criar e pelas personagens que apresenta mas não consegue, no  entanto, descolar-se do tradicional filme de prisão a que já estamos habituados, mesmo que nos chegue pelas mãos de um carismático actor como Steve Buscemi e que aqui denota um pouco das também suas excêntricas personagens.
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6 / 10
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segunda-feira, 22 de julho de 2013

World War Z (2013)

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WWZ: Guerra Mundial de Marc Forster é possivelmente o filme sensação do ano se considerarmos todo o secretismo e mediatismo em que esteve envolvido, bem como pela participação de Brad Pitt como o protagonista, único e exclusivo, deste filme.
Gerry Lane (Pitt) é um antigo investigador das Nações Unidas que se prepara para uma nova vida com a sua mulher e filhas. Quando tentam sair de Nova York um conjunto de estranhos acontecimentos desencadeiam aquilo que aparenta ser uma pandemia zombie que subitamente transforma todos os que os rodeiam em mortos-vivos, fazendo com que Gerry e a sua família mal escapem ao apocalipse e consigam encontrar refúgio num edifício que tem tanto de sinistro como de perigoso.
É quando os poucos refugiados se concentram num navio de guerra em alto mar que Gerry é desafiado a deixar a sua família em segurança enquanto parte numa viagem pelo mundo em busca das origens e de uma potencial cura que possa travar esta pandemia que ameaça de forma feroz toda a Humanidade... ou o que resta dela.
Tradicionalmente os filmes sobre um potencial apocalipse zombie que tem a sua origem nas mais variadas formas ou locais, concentram-se essencialmente num conjunto de elementos que estão imediatamente inerentes ao género, nomeadamente planos de caracterização dos infectados grotescos quanto baste bem como em segmentos onde os banhos de sangue e as carnificinas sejam o ponto forte mostrando as mais variadas entranhas daqueles que não conseguem escapar. É também habitual assistirmos a um conjunto de factores ou "avisos" sobre a catástrofe que se avizinha e que funcionam como uma certa introdução ao caos e à desordem que se seguem, que podem ir desde um qualquer ataque químico a um descarrilamento de um comboio com material radioactivo, e que uma vez consumada, deparamo-nos com um conjunto de seres lentos, repelentes e dos quais todos com alguma energia e bom senso conseguem escapar. E tudo isto a decorrer numa qualquer localidade perdida e da qual ninguém irá dar pela falta... No entanto, vamos esquecer todas estas premissas pré-fabricadas e às quais estamos habituados em filmes deste calibre e, de mente aberta, preparemo-nos para algo substancialmente diferente.
Os argumentistas Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard, Damon Lindehof e J. Michael Straczynski centrados no romance homónimo de Max Brooks elevaram o género em questão a algo relativamente inovador não pela trama inicial que se mantém fiel ao espírito pretendido com um muito intenso ataque inicial capaz de nos fazer cortar a respiração, mas sim pela forma como a transportam para uma realidade que, bem analisada, é mais presente do que uma simples história de mortos-vivos e que nos dá um contexto não só social e político como também o faz através de um interessante enquadramento geográfico.
Analisemos os factos e comecemos por fazer denotar que este vírus, e mais tarde pandemia, tem início num qualquer local mais ou menos exótico que se encontra relativamente afastado de locais devidamente preparados para o conter. Se por um lado podemos analisar esta questão como um mero vírus que aqui se pretende retratar, não é menos verdade que esta abordagem pode também claramente equiparar-se às inúmeras epidemias que surgem nos diversos pontos do globo e que são, também elas, de difícil contenção e que aos poucos vão eliminando milhares de pessoas de cada vez que "atacam". Se continuarmos nesta análise, podemos ainda abordar a forma como o vírus se espalhou... pelo ar. Não pela forma tradicional onde respirar um qualquer ar "infectado" torna os cidadãos contaminados mas sim pela forma como nos nossos dias é tão fácil transportar e contaminar inconscientemente qualquer outro território graças às inúmeras viagens aéreas que são diariamente realizadas pelos quatro cantos do globo e que fazem movimentar milhões de passageiros potenciais "portadores" de inúmeros vírus.
Dito isto este World War Z está para além de uma qualquer história de mortos-vivos mas retrata sim o facto como um qualquer vírus mais ou menos desconhecido se pode propagar por qualquer território do globo terrestre infectando indiscriminadamente todos aqueles com quem mantém contacto, e como aquilo que pode ser uma "simples" epidemia se pode transformar numa pandemia global.
Mas a actualidade de World War Z está também para além desta referida pandemia e ultrapassa mesmo os limites geográficos e políticos como poderemos aos poucos constatar, sendo estes que estão aqui também retratados de forma pouco súbtil. Referências geográficas que passam por alguns dos chamados "pontos quentes" do globo desde a Coreia do Norte, passando pela Índia e rumo a Israel onde um enorme muro isola o país de todos os territórios exteriores e, como tal, dos próprios mortos-vivos que o rodeiam sem ali conseguirem entrar apesar das suas inúmeras tentativas. Muro esse que resiste independentemente da persistência daqueles que ali querem entrar até ao dia em que essa persistência seja mais forte e ameaçando assim toda uma ilusão de segurança que até então tinha sido conquistada. Demasiado real ou um mero retrato caricaturado da realidade política dos nossos tempos?
No entanto World War Z consegue ser também um "simples" filme de mortos-vivos, e os elementos fundamentais encontram-se por toda a sua história, começando pelo seu intenso segmento inicial que nos retira de uma qualquer pacata povoação do interior colocando-nos no centro de uma movimentada cidade onde aparentemente não existem escapatórias possíveis. Sem um claro vislumbre dos referidos mortos-vivos, que aliás pouco destaque têm ao longo de todo até já bem perto do seu final, o filme mantendo o factor suspense presente mas ao mesmo tempo afastado de uma clara visualização, consegue criar ainda alguns momentos de pura tensão nomeadamente no claustrofóbico edifício onde "Gerry" se refugia com a sua família, no centro de investigação em Inglaterra onde têm de escapar dos mortos-vivos por entre labirínticos corredores ou principalmente dentro do avião quando todos os presentes pensam ter escapado à praga que devastou Israel, tornando-se assim numa obra com segmentos violentos e asfixiantes sem recorrer necessariamente a um cenário mais gore tão típico dos inúmeros filmes deste género.
Com um elenco onde se destaca obviamente Brad Pitt num papel atípico da sua já extensa carreira, mas que o revitaliza assim para outros géneros por si pouco explorados mas que, no entanto, mantém elementos já familiares das suas interpretações nomeadamente o homem de família preocupado com o bem-estar dos seus entes mais próximos mas que ainda assim consegue ver o lado maior dos problemas e antever que a segurança ou é global ou não o será de todo para ninguém. No entanto não é menos verdade que a atenção do espectador não está tão centrada na sua interpretação mas sim no facto de esperar a qualquer momento ver uma das inúmeras investidas deste grupo de infectados que possui, também ele, características pouco "humanas" transformando-se em seres capazes de um conjunto de acrobacias e velocidade extrema que nos deixam literalmente de cabeça virada ao contrário, algo contraditório com aquilo a que estamos tradicionalmente habituados em filmes do género, e que nos fazem esquecer em diversas ocasiões a participação da super-estrela de Hollywood, bem como um vasto conjunto de actores que aqui participam em desempenhos mais secundários ou meramente figurativos como por exemplo David Morse, Matthew Fox, Pierfrancesco Favino, Moritz Bleibtreu ou Mireille Enos como "Karin" a mulher de "Gerry".
Assim Marc Forster, um realizador que tão boas histórias sobre a dimensão humana e o espírito de sacrifício existente dentro de cada um de nós tem contado, e que inicialmente estranhei como o realizador escolhido para este filme sobre "mortos-vivos", volta a superar-se e dentro do género consegue dirigir uma história onde esse espírito de sacrifício e de entrega a causas, privadas ou colectivas, está presente em todos os momentos. Na vontade de salvaguardar a segurança dos que nos são próximos ou de uma insuspeita vítima que se conhece pelo caminho. No altruísmo presente em sacrificar a sua própria segurança por um bem maior da Humanidade, ou do que resta dela, e principalmente quando num momento dito "final" se é capaz de colocar em risco a própria existência na esperança de que as suas escolhas individuais e feitas no momento não tendo outra alternativa, sejam aquelas que na altura certa podem salvar toda a existência humana como sempre a conhecemos, e apesar de ser um filme imediatamente diferente de obras maiores como Monster's Ball ou Finding Neverland, não é menos verdade que este World War Z é um intenso filme sobre a sobrevivência do "eu" face à destruição do colectivo que esse mesmo "eu" também compõe.
Não será à partida um filme que irá estar presente na temporada de prémios (pelo menos não nos ditos "maiores"), apesar de ainda assim ter aspectos técnicos interessantes nomeadamente a música original composta por Marco Beltrami, a óbvia caracterização dos mortos-vivos e o já referido argumento que, apesar de interessante do ponto de vista social, será francamente "inconveniente" do ponto de vista de quem atribui prémios. Talvez a sequela... que certamente será anunciada pois o potencial e a "porta aberta"... ficaram lá.
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"Andrew Fassbach: Mother Nature is a serial killer. She wants to get caught, she leaves bread crumbs, she leaves clues... Mother nature knows how to disguise her weakness as strength."
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8 / 10
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Queer Lisboa 17 - Festival Internacional de Cinema Queer 2013

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Teve hoje lugar a Conferência de Imprensa de antevisão do Queer Lisboa 17 ‐ Festival Internacional de Cinema Queer, no Hotel Florida, onde foram divulgados alguns destaques da programação e actividades paralelas da edição deste ano do Festival que irá decorrer de 20 a 28 de Setembro no Cinema São Jorge. Estiveram presentes na conferência de impresa o Director Artístico João Ferreira, a Directora Ana David e o Programador Nuno Galopim. A nova edição do Festival contará com um programa de 93 filmes, entre curtas e longas‐metragens.
Um dos destaques da programação do Queer Lisboa 17 é a estreia nacional do documentário E Agora? Lembra‐me, de Joaquim Pinto (realizador de filmes como Uma Pedra no Bolso, Onde Bate o Sol ou Das Tripas Coração), obra considerada arrebatadora e esteticamente irrepreensível que acompanha um ano de ensaios clínicos para o tratamento do VHC (vírus da hepatite C) num constante intercalar de memórias passadas e presentes.
Foi também divulgada a programação do Queer Focus que pretende oferecer um olhar sobre a relação entre as diferentes realidades pessoais e comunitárias de indivíduos queer, com as políticas sociais e os efeitos da crise económica e da gentrificação que afectam o mundo nos dias de hoje. Esta secção é composta pelos filmes The 727 Days without Karamo, de Anja Salomonowitz (Áustria), Boy Eating the Bird’s Food, de Ektoras Lygizos (Grécia), Gut Renovation, de Su Friedrich (Estados Unidos), Mondomanila, de Khavn (Filipinas) e Wildness, de Wu Tsang (Estados Unidos).
Foram ainda divulgados alguns filmes da secção Queer Art nomeadamente Gore Vidal: The United States of Amnesia, de Nicholas Wrathall (Estados Unidos), Bette Bourne: It Goes With the Shoes, de Jeremy Jeffs e Mark Ravenhill (Reino Unidos) e Wonder Women! The Untold Story of American Superheroines, de Kristy Guevara‐Flanagan (Estados Unidos).
No Queer Pop, destaque este ano para o trabalho do ícone pop David Bowie, que ao longo de toda a sua carreira desafiou conceitos de sexualidade e género, tendo já um legado fundamental em termos audiovisuais que continua a influenciar novas gerações. Homenageado este ano com uma retrospectiva no Victoria & Albert Museum de Londres, esta sessão do Queer Pop revisita telediscos lendários como o John, I'm Only Dancing, de 1972, ou o seu mais recente trabalho The Next Day.
Foram também avançadas pela equipa de programação do Queer Lisboa, as curtas‐metragens em competição na secção In My Shorts, competição de filmes de escola europeus. A Escola Portuguesa convidada desta primeira edição do In My Shorts, é a ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema, que se fará representar com quatro curtas. O júri desta nova competição será composto por profissionais da área do cinema, e o filme vencedor assinará um acordo com a distribuidora italiana The Open Reel. Assim fazem parte desta secção as curtas-metragens Atomes, de Arnaud Dufeys (Bélgica), Blush, de Luciana Botelho (França), Cartas de uma Escrita Comum, de Rui Esperança (Portugal), Depois dos Nossos Ídolos, de Ricardo Penedo (Portugal), As Flores do Mal, de Flávio Gonçalves (Portugal), The Kiss, de Filip Gieldon (Polónia), Noite de Aniversário, de Flávio Gonçalves (Portugal), Plug & Play, de Michael Frei (Suíça), Regras (experimento 2), de Renata Ferraz (Portugal/Brasil), O Segredo Segundo António Botto, de Rita Filipe e Maria Azevedo (Portugal), Si J’Étais Un Homme, de Margot Reumont (Bélgica) e Touch, de Panx Tabao Solajes (Hungria).
A programação completa, bem como as actividades, o júri internacional e convidados serão anunciados na Conferência de Imprensa no dia 4 de Setembro, e o Queer Lisboa decorrerá no Cinema São Jorge entre os dias 20 e 28 de Setembro.
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