sábado, 28 de fevereiro de 2015

Videoclube (2014)

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Videoclube de Ana Almeida é uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos remete para uma noite de Primavera no já longínquo ano de 1999.
Tiago (Tiago Jácome) e Margarida (Daniela Love) são amigos e colegas de escola. Ele trabalha num clube de vídeo em processo de transição para o desconhecido produto DVD. Ela uma fã de cinema que com ele discute os grandes sucessos que viram em conjunto.
O Verão está a chegar e com ele uma época de mudanças, de distanciamentos e de novos rumos... Têm eles ainda alguma coisa por dizer?
A realizadora Ana Almeida e José Pedro Lopes assinam o argumento desta curta-metragem que nos leva numa inspirada e sentida viagem ao passado onde um conjunto de memórias dos bons tempos vividos na adolescência se cruzam com a incerteza de um futuro dito "adulto". Uma época em que os sonhos existiam e onde se viviam as confirmações (ou falta delas) dos amores da juventude "apimentados" pela vontade de ver e fazer. Era esta concretização dos desejos e ambições que aos poucos e com o passar do tempo se dissiparia nas mais ou menos duras realidades que a vida possivelmente viria a apresentar.
Cada filme como um sonho, uma concretização de um passado que cada cliente que passaria por aquele clube de vídeo sentiu realizado e um mundo de esperanças e expectativas que cada imagem ou diálogo tornaram todo um mundo diferente. Um mundo de momentos que agora se vê abalado, ou até mesmo ameaçado, pela iminente chegada de um novo formato que poderia terminar esses sonhos e que serve de paralelismo para as novas realidades que o par "Tiago" e "Margarida" estão agora prestes a sentir.. a sua própria mudança.
A química existente entre este Tiago Jácome e Daniela Love é crescente e se de início os temos como aqueles dois amigos que partilharam toda a sua adolescência e segredos, aos poucos o espectador percebe que algo mais forte - mas ainda inconfessado - os une. Os olhares e as cumplicidades ao recordarem as memórias colectivas de cada um dos antigos clientes do clube de video mostram o elo - talvez a alma - que os une... até chegar o momento das suas próprias recordações agora que se preparam para escolher potenciais rumos diferentes. A partilha das antigas VHS com todos os clientes que fizeram a história daquela casa faz com que eles próprios retenham as duas que - para cada um e ainda que uma não seja propriamente um filme - espelham o que mutuamente sentem naquele que é provavelmente o segmento mais intimo e marcante de Videoclube.
Videoclube é assim um daqueles filmes queridos e inocentes dos quais facilmente gostamos que exalam memórias e recordações de tempos de um passado mais ou menos recente em que tudo não era necessariamente bonito mas imperfeitamente reconfortante e, não sendo um típico filme "coming of age", não deixamos de perceber que aquele momento, para aquelas personagens, foi o momento em que tudo mudou no qual ambos "cresceram".
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8 / 10
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Tonight It's Me (2014)

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Tonight It's Me de Dominic Haxton é uma curta-metragem de ficção norte-americana que leva o espectador a uma inesperada viagem que une duas almas perdidas numa noite solitária.
CJ (Jake Robbins) é um prostituto que aceita alguns clientes masculinos para ganhar algum dinheiro. Depois daquele que parecia ser o último cliente da noite, CJ recebe uma última mensagem que o encaminha para casa de Ash (Caleb James), alguém que o surpreende por ser diferente dos seus clientes habituais.
Aquilo que aparentava ser apenas mais uma forma de ganhar algum dinheiro rápido, funde-se num encontro com o desejo, o prazer e a entrega estranhamente se revelam.
Numa história cujo argumento é da autoria de Dominic Haxton, Eric Jett, Charles Mallison e Jake Robbins, o espectador deixa-se levar por um misto de momentos que inicialmente confundem pela previsibilidade do momento mas que rapidamente se transforma numa conto diferente. De vazio de emoções a uma história de curiosidade e consequente desejo e entrega, Tonight It's Me relata-nos a história de duas almas perdidas, sem destino e que se entregam de forma fácil ao primeiro que lhes dispensa alguma atenção. Se para "CJ" esta entrega tem como fundamento único o dinheiro rápido e fácil, para "Ash" a história ganha contornos mais pessoais quando aparenta assumir que este recurso a prostitutos é a única forma que tem de obter algum contacto sexual.
Desta forma, e considerando a improbabilidade de existir qualquer química entre ambos, este encontro rapidamente se mostra cúmplice e para lá de sexual... terno. A entrega que ambos assumem entre si é imediata e apesar do encontro ter um propósito monetário, o espectador percebe que a química que se desenvolveu entre ambos torna-o - ao dinheiro - um elemento secundário de um noite que aparenta ser perfeita. Esta cumplicidade revela-se ao espectador não só pelos comportamentos para lá de sexuais mas também pela pequena troca de palavras que ambos têm nomeadamente quando ao contarem verdades e mentiras sobre as suas vidas os dois revelam que já mataram alguém. O alguém é, na prática, a pessoa que foram antes de se encontrarem naquele exacto momento. Se para "CJ" foi a morte do seu "eu" inocente e eventualmente de uma cidade pequena que fugiu rumo a uma eventual vida melhor (não conseguida), para "Ash" esse outro "eu" é o seu próprio lado masculino que aos poucos tenta abandonar como podemos perceber pelas injecções de hormonas com as quais se auto-medica aguardando lentamente a transição para a mulher que sente ser.
A morte - assim meramente figurativa como retrato de um processo evolutivo - acompanha-os a cada dia ao mesmo tempo que os impede desse seu outro "alguém" poder ter uma vida normal. Na teoria desejaram-no mas na prática a negação do que foram isola-os no seu espaço que, para "CJ" parece não passar do banco do seu carro.
A criar o ambiente perfeito de duas almas que se encontram numa perfeita decadência temos a música original de Justin Marshall Elias, sombria não pelo seu lado medonho mas sim pela sua melancolia eterna, bem como a direcção de fotografia de Matthew Chavez que centra toda a acção numa noite que parece não ter fim onde ambos se "enterram", para depois terminar com o clarear de um dia onde todas as revelações são feitas no silêncio de olhares e na troca de escassas palavras.
Surpreendentemente positiva por não cair nos lugares comuns da maioria das curtas-metragens do género, Tonight It's Me consegue criar uma química perfeita entre os dois actores que dão vida, cor e muita alma a uma história tendencialmente triste e de solidão onde um improvável amor nasce graças à forma como "CJ" e "Ash" se entregam e silenciosamente assumem precisar de alguém que os conheça para lá dos estereótipos.
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8 / 10
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Audition (2015)

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Audition de Adam Tyree é uma curta-metragem norte-americana de ficção que nos relata o quão difícil - ou pelo menos tão pouco atraente - pode ser o início de carreira para Carson (Bret Green), um jovem aspirante a actor que se desloca a um casting para o seu potencial primeiro (ou próximo) desempenho.
Para lá de pouco atraente, o argumento de Adam Tyree relata o quão exigente e desprovido de escrúpulos pode ser um meio que está sempre à procura da próxima "cara bonita", e que se desfaz muito rapidamente daqueles que não estão - literalmente falando - dispostos a tudo.
Crua e quase sem moral - não pelo seu conteúdo mas sim pela forma como retrata a realidade de um mundo cão (o nosso) - Audition consegue captar as dificuldades de quem tenta iniciar uma carreira de forma digna mas que, aos poucos e porque como todos tem de sobreviver, se deixa levar por um rumo onde os seus princípios são colocados à prova a todo o momento. A grande questão que se coloca no final é apenas uma... valerá a pena continuar?
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7 / 10
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Nicht (2011)

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Nicht de Sven Spur é uma curta-metragem de ficção belga que nos conta a história de Tom (Lukas Bulteel), um jovem adolescente que vê toda a sua vida alterada quando percebe que se sente atraído por um rapaz da escola que frequenta.
Com uma longa amizade com um dos mais violentos rapazes da escola, Tom recusa e reage violentamente aos convites de Tinne (Margot Heydt) que se sente a apaixonar por ele, facto que irá despertar a ira do seu amigo.
Desde bullying a alguma violência verbal e psicológica sem esquecer a temática da identificação sentimental, Nicht e o argumento de Sven Spur consegue tecer um interessante e sentido retrato de um jovem cuja vida é violentamente afectada por todo um conjunto de sentimentos e emoções que o fazem sentir condicionado na sua liberdade e principalmente na sua forma de vida.
Em escassas horas, que cedo percebemos serem tidas num flashback que nos ilustram um culminar de situações, Nicht relata-nos o sufoco de um jovem que não tem onde se refugiar. Desde amigos que ou são bullies ou vivem com medo daqueles que o são, "Tom" reconhece nos actos praticados a outros aquilo que lhe poderá acontecer se o seu segredo fôr descoberto. É este o exacto medo que o leva a sentir-se preso, ou até mesmo encurralado, e sem soluções para além daquela pela qual opta.
O mais cativante nesta curta-metragem é, no entanto, a sua vertente psicológica que se distancia das habituais tramas da sexualidade e do seu despertar concentrando-se sim na percepção de um jovem sobre a sua "diferença" relativamente aos seus pares. Diferença essa que sente agravada face aos comportamentos daqueles com quem de mais perto convive e com as respectivas pressões de grupo a que se sente sujeito colocando num claro e óbvio conflito a compreensão do seu "eu".
Interessante e claramente sentida a interpretação do jovem Lukas Bulteel que encarna na perfeição o espírito de tantos relatos que diariamente se escutam e ainda a direcção de fotografia de Victor Maes que faz de todo o espaço um relato de uma qualquer localidade distante e inacessível onde o jogo de luzes e cores envolventes exacerbam os comportamentos.
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7 / 10
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Rosa Novell

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1953 - 2015
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Os Meninos do Rio (2014)

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Os Meninos do Rio de Javier Macipe é uma curta-metragem luso-espanhola de ficção já vencedora de vários prémios internacionais que leva o espectador a uma viagem entre dois mundos específicos... O primeiro prende-se com a realidade de uma classe mais desfavorecida que vive junto da Ponte D. Luís I na zona ribeira do Porto e a segunda - algo mais fantasiosa - remete-nos para os sonhos e desejos sentimentais de Leo (Leonardo Durães) um jovem rapaz para com Samira (Samira Ramos), uma sua vizinha.
O ponto de encontro de ambos - e de todos os demais jovens da zona - é aquela Ponte de onde saltam para o Douro como o único hobbie que encontram num tempo que não lhes é favorável. Mas Leo pretende conquistar o coração de Samira e, para isso, tem de impressioná-la com algo diferente e original.
Javier Macipe escreve este argumento que tem tanto de terna e de despertar sentimental como, ao mesmo tempo, lhe confere um olhar cru e actual onde a crise económica paira no ar não só pelas notícias que se escutam em pano de fundo como também pelo próprio meio social escolhido para que esta história ganhe forma. Um dos rapazes - "Eurico" (Eurico Garcês) - salva um suicida e quase ao mesmo tempo escutamos as notícias de cortes salariais que pairam no ar. Existe um misto de melancolia e desespero nos corações destas pessoas e quer seja pelo despertar sentimental de "Leo" ou pela dura realidade que vive para lá daquilo que o seu coração revela, o espectador percebe que estes tempos não são os mesmos... algo mudou enquanto os olhos piscaram e o sonho, ainda que pequeno aos olhos dos demais, deu lugar a uma realidade que é ainda desconhecida. Quer seja constatar aquilo com que todos os dias se tem de conviver ou mesmo a adolescência que bate à porta - deixando para trás toda uma existência inocente - o mundo simplesmente mudou.
Num registo que facilmente poderá aproximar o espectador de Aniki Bobó (1942), de Manoel de Oliveira, Javier Macipe consegue com Os Meninos do Rio entregar um retrato actual sobre esses mesmos meninos - outros - que parece retirado da época... com as mesmas ilusões, os mesmos desejos e os mesmos sentimentos, aqui encontramos a prova de que o mundo avança no tempo - cronológico - mas este não é portador de grandes e significativas mudanças nas vidas daqueles que o habitam. Todos acabam por ter a mesma vontade de existência, de amar, de pertencer, de encontrar e viver algo que os diferencie... A mesma inocência perde-se um dia quando o mundo deixa de ser tão cor-de-rosa como algures no tempo o pintámos e os problemas - ou ânsias - crescem à medida que o tempo se faz marcar nos nossos rostos... primeiramente de forma quase imperceptível e aos poucos marca a sua estadia.
O Porto é, também ela, uma cidade que se assume personagem. Os lugares e os recantos, a Ponte D. Luís I e as suas gentes complementam um espaço de si único e com um encanto que não a deixam para trás de qualquer outra cidade. Cativa pela sua presença, pelos seus sotaques e pela sua tranquila imposição. A história - composta de várias histórias - apenas poderia ser contada nesta cidade e neste espaço em particular e ela assume-se silenciosamente como um elemento que, não falando, comunica com os seus sons tornando perfeitamente compreensível o porquê do fascínio de Macipe por filmar esta história neste local.
No final, uma não tão simples dedicatória que - também ela - fala por si... "a las chicas que nunca me quisieron y nunca me querran"... firmando Os Meninos do Rio como um filme curto que encerra uma etapa... que confirma uma despedida e abre a porta a um novo caminho... um caminho que se vislumbra por explorar e que com todas as incertezas de quem começa de novo se mostra grande, difícil e incerto... mas que se percebe ter de ser explorado, vivido e experimentado.
No final, e depois de reflectidas as pequenas histórias e nuances de Os Meninos do Rio, o espectador percebe que acabou de assistir a uma pequena jóia que conseguirá guardar com o mesmo carinho e admiração com que tem guardado a referida obra de Manoel de Oliveira e que - afastadas as comparações de maior - pode ser também ela o filme de uma geração... mas agora do século XXI. Nesse mesmo final pergunto-me ainda se encontramos assim tantas diferenças entre os jovens dos idos anos 40 e aqueles que agora dão a cara por esta história...
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"Leo: Já só resta de mim esta voz que te fala silenciosamente."
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9 / 10
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The Phone Call (2013)

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The Phone Call de Mat Kirkby é uma curta-metragem britânica de ficção e a vencedora do Oscar na sua respectiva categoria na última edição dos prémios da Academia norte-americana.
Heather (Sally Hawkins) é uma mulher tímida que trabalha numa linha de apoio. Um trabalho que corresponde à sua condição por permitir que não tenha contacto pessoal com ninguém. Mas um dia Stanley (Jim Broadbent) telefona-lhe revelando que precisa de alguém que o acompanhe nos seus últimos momentos.
O realizador em colaboração com James Lucas escreve o argumento de The Phone Call que está muito para lá de uma história que centra toda a sua atenção numa conversa telefónica. Pelo contrário, esta curta-metragem tece uma interessante e muito forte consideração sobre temas como a solidão ou a inaptidão social. Aqui somos inicialmente confrontados com a presença de uma mulher que o espectador percebe ser alguém reservado e tímido mas a um nível muito avançado. A sua postura que lhe permite esconder-se à frente dos olhos do mundo, tornar-se invisível mesmo que todos passem ao seu lado permitiram-lhe ser esquecida mesmo por aqueles poucos que, eventualmente, poderiam perceber que ela existia. Sem amizades ou família que se lhe conheça, "Heather" é literalmente uma mulher apagada do mundo.
Percebemos também que o mundo - o seu - são as palavras. Lê na paragem de autocarro um livro que a emociona... trabalha numa linha de apoio na qual tem de acompanhar aqueles que para lá ligam com um conjunto de palavras que os motivem e façam perceber que existe "algo". Mas o seu mundo "resume-se" a palavras... Até ao dia em que recebe o tal telefonema de "Stanley".
"Stanley" é um homem que percebemos ser de alguma idade. Revela-se triste, desolado, desamparado e com a firme convicção que para ele já tudo terminou. O espectador está então perante a última conversa que este homem irá ter. "Stanley" telefona porque se revela um homem só. Sem a sua mulher ou qualquer família que o acompanhe, o desgosto de uma vida solitária levou-o a cometer suicídio pondo assim um fim à sua existência. Foi uma escolha - mais ou menos pensada - mas uma para a qual ele não se sente preparado para a enfrentar sózinho. Precisa de apoio... alguém que o escute e que se faça notar como estando "lá". Por muito que se pense que todos nós nascemos e morremos sózinhos sem que ninguém nos acompanhe, a mais pura realidade é que naquele exacto momento "Stanley" precisa de alguém que virtualmente lhe dê a mão... que esteja ali para ele e que testemunhe os seus últimos momentos e palavras. Encarar a morte em silêncio seria devastador demais.
Se dúvidas existiam sobre a extraordinária sensibilidade de Sally Hawkins depois de Happy-Go Lucky, de Mike Leigh ou Blue Jasmine, de Woody Allen, The Phone Call comprova que Hawkins é uma das mais dinâmicas e sensíveis actrizes do momento. Ainda que as palavras que lhe foram atribuídas pelo argumento lhe confiram um discurso/diálogo a ter com o seu par protagonista, não é menos verdade que Hawkins comunica para lá daquilo que as palavras transmitem. O seu olhar triste e distante, a sua redução física a um pequeno espaço dentro do lugar em que se encontra e até mesmo todos os pequenos movimentos que gesticula durante este filme comprovam ao espectador que a sua personagem é, também ela, uma pessoa com os mesmos problemas de solidão que afectam aqueles que para ela ligam na linha de apoio em que trabalha sendo a única diferença que os separa a forma como a sua "Heather" transformou a sua fraqueza numa potencial força ainda que em construção.
A imediata relação estabelecida pelos dois - Hawkins e Broadbent - cativa e prendem o espectador que espera pelo momento em que talvez se possam encontram face a face. Chegando ou não esse momento - que só saberão depois de verem este filme - o espectador tem apenas uma certeza... Nenhum voltará a ser o mesmo depois deste momento... nem as referidas personagens e, com sorte, nem o espectador que percebe que existem silêncios que mais não são do que pedidos de ajuda àqueles que mais perto estão e que proximamente sentirá necessidade de voltar a estar junto daquelas pessoas que há algum tempo não vê.
Os momentos captados por Kirby são, também eles, dignos da metodologia da solidão... grandes planos captados com a actriz colocada a um canto - ao telefone ou na já referida paragem de autocarro -, fazendo dela um pequeno elemento num todo que não conseguimos alcançar. A ideia de que o mundo é grande demais e cada um de nós é apenas uma sua pequena parte está implícita desde o primeiro instante e tudo o que se passa à nossa volta é imenso demais para poder ser resolvido... mas pode, no entanto, conseguir ser compreendido, aceite e talvez, num caso de maior sorte ou oportunidade, ser acompanhado até ao último instante.
Se não fosse um lugar comum utilizaria a expressão "de deixar sem fôlego" para caracterizar The Phone Call mas mesmo essa seria redutora para toda a simbologia e mensagem desta curta-metragem e mais ainda para a fortíssima interpretação de uma das mais intensas intérpretes europeias que aqui, uma vez mais, confirma todo o seu carisma.
No final, aquilo que The Phone Call pretende transmitir é que todos nós independentemente da rotina dos nossos dias - e vidas - procuramos conforto... uma palavra... um apoio. Alguém que testemunhe a nossa mais ou menos breve passagem e que nos acompanhe nesse percurso. Aquilo que "Heather" consegue é talvez aquele pequeno empurrão para que a sua vida seja, também ela, testemunhada por mais alguém que não pelos seus próprios olhos.
The Phone Call é, sem qualquer reserva, uma pequena grande pérola.
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10 / 10
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Leonard Nimoy

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1931 - 2015
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Carosello (2013)

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Carosello de Jorge Quintela é uma curta-metragem portuguesa de ficção vencedora de dois prémios no Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira.
Um homem (Francisco Dias de Castro) olha para um carrossel enquanto divaga sobre a sua vida passada. Sobre a sua juventude e sobre aquilo que não alcançou.
Jorge Quintela tem em Carosello uma curta-metragem diferente do habitual mas que por esse mesmo aspecto se transforma num filme interessante e por demais reflexivo. O argumento de Pedro Bastos confere ao espectador uma experiência diferente na medida em que o coloca na pele do protagonista que em avançada idade pensa na sua vida, no que perdeu e como isso o transformou de um jovem determinado, responsável, atento e sempre alerta num homem envelhecido e desgastado pelo tempo e pela própria vida.
"Falhou na juventude, falhou na vida", escutamos a certa altura, como que se de um pensamento perdido que regressa para atormentar se tratasse, e que ao mesmo tempo garante a incerteza de um futuro que pouco ou nenhum significado terá. Foi essa perda no tempo que o transformou no homem que é hoje... amargo, sem objectivos e que despreza com as suas violentas discussões - assim nos revela - a família que tem ao seu lado... aquele que tentou construir e que possivelmente vê nele um ponto de discórdia que receiam.
A postura define o Homem e este o mundo. Com este princípio este homem de uma vida desgraçada e triste define o seu mundo como sendo perdido, esquecido, ignorado e não vivido. Um homem insatisfeito que vê os seus dias passarem - tal como a volta do carrossel - sempre ao mesmo ritmo e sem qualquer novidade aparente... às voltas constantes sem sair do mesmo espaço num ritmo monótono e perigosamente hipnótico. Um dia se dele acordar... o que terá à sua frente?
Ainda que Pedro Bastos tenha escrito esta história que apesar de francamente alternativa pela forma como é levada ao ecrã pelas mãos de Quintela, não é menos verdade que fica depois deste relato-confissão a crescente vontade no espectador de conhecer como será realmente a vida "real" deste homem longe daquele local onde se confessa e conhecermos aquilo que ele sente ter perdido ou não cumprido.
Hipnótico - Quintela capta como poucos um jogo de luzes que nos faz esquecer tudo o que se encontra à nossa volta - Carrosselo é uma pequena pérola que pela sua inconvencionalidade - felizmente o é - pode não conquistar um público mais alargado mas confere ao realizador a sua obra de referência.
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"Ele: Falhou a juventude... falhou a vida."
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7 / 10
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Fernando Alvim

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1934 - 2015
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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Perímetro Protegido (2010)

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Perímetro Protegido de Sergio Morente é uma curta-metragem espanhola de ficção ambientada num futuro próximo numa Espanha dividida por uma guerra que opôs castelhanos e catalães.
Quando um grupo de sobreviventes vê a sua existência ameaçada pela chegada de um estranho à povoação em que se encontram, longe estariam de imaginar que as suas vidas poderiam realmente estar interligadas questionando-se dessa forma sobre a legitimidade daquela guerra.
É exactamente a partir deste último pensamento que o espectador deve questionar toda a acção e mensagem de Perímetro Protegido: existirá alguma guerra que seja de facto legítima? O realizador e argumentista Sergio Morente responde-nos a esta questão quando obriga o espectador a pensar sobre aquilo que realmente opõe os indivíduos em duas bancadas diferente de um determinado conflito. Serão aquelas pessoas realmente diferentes e com abordagens díspares do mundo ou as diferenças - tidas como certas - mais não são do que características individuais que podem ser complementares mas que numa determinada altura foram (são) utilizadas como argumento para servir algum tipo de interesses particulares. Não serão as marcas que chegam depois dos conflitos bem mais preocupantes e assustadoras? Não serão elas que irão realmente denotar a "diferença" e o estigma?
No momento em que realmente nos devemos questionar sobre as referidas "diferenças", serão elas assim tão importantes para nos colocarem distantes dos demais ou aquilo que importante são os laços que nos unem e nos identificam como pertença de toda uma comunidade que entre si denota inúmeras características individualizantes?
No final, se o espectador tiver perdido alguns segundos para pensar sobre esta temática... Perímetro Protegido terá, para lá da imaginação, servido para uma reflexão sobre o que realmente existe que diferencie qualquer um de nós.
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 6 / 10
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The Big Battle Theory (2015)

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The Big Battle Theory de Sergio Morente é uma curta-metragem de ficção espanhola que nos leva para a mais comum das batalhas.
Morente, também o argumentista de The Big Battle Theory, leva o espectador para aquilo que muito se aproxima de uma luta de gladiadores em terreno anónimo, mas que à medida que a história se desenvolve e revela, o espectador percebe qual o real campo de batalha, nem mais nem menos que aquele que deu origem a toda a Humanidade.
Em tons de comédia ligeira e com muita imaginação e originalidade à mistura, esta curta-metragem espanhola em competição no Jameson NOTODOFilmFest é um dos trabalhos mais invulgares e bem conseguidos dos últimos tempos a ser apresentado no referido festival por conseguir dar corpo a um conflito onde obrigatoriamente todos perdem menos um que inevitavelmente irá conquistar o troféu - ainda que neste caso rápido demais. E sem estarmos perante um filme de grande orçamento, toda a sua originalidade conquistam pelo humor súbtil com que é elaborado.
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7 / 10
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Cucaracha (2015)

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Cucaracha de Hermínio Cardiel é uma curta-metragem espanhola de ficção e uma das concorrentes ao NOTODOFilmFest deste ano.
Quando Carlos (David Pareja) chega a casa encontra a sua Mulher (Sara Martín) na cama com outro Homem (David Tortosa). Num misto de uma desconfiança agora tornada real e de um desespero que toca muito de perto a loucura, Carlos atinge o limite quando escuta um tema conhecido. Mas o que acontece quando esse tema musical desaparece?
Também escrita por Hermínio Cardiel, Cucaracha mostra um amadurecimento não só na história - e no seu potencial para algo mais desenvolvido - como uma acertada escolha na forma como dirige as suas curtas-metragens - esta ambientada com alguma intensidade mas, ao mesmo tempo, com alguma comédia à mistura - assim como na direcção dos actores que no caso de David Pareja é levado ao extremo com uma interpretação que deixa aquele gosto em conhecer um pouco mais - infelizmente impossível pela limitação óbvia de duração de uma curta-metragem.
Poderá não ser o filme curto referência deste realizador espanhol mas, no entanto, é o que mais claramente mostra o seu potencial como um dos novos talentos cinematográficos de nuestros hermanos.
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7 / 10
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¿Vamos a Follar? (2015)

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¿Vamos a Follar? de Sergio Torrico é uma curta-metragem espanhola de ficção e uma das participantes deste ano do NOTODOFilmFest.
Depois de sete horas de mudanças Miguel pergunta à sua namorada se aquela noite lhes reserva algo "mais". A resposta não é necessariamente aquela que ele esperava... nem tão pouco a reacção dele próprio...
Com algum bom humor e uma simpática e bem retratada dinâmica de casal, Sergio Torrico e Laura Aragón conquistam o ecrã com uma história que ainda pareça por momentos algo "representada" não deixa de estabelecer uma dinâmica e química entre ambos que nem sempre se consegue com uma história desta natureza.
Sem grandes ornamentos ou floreados, ¿Vamos a Follar? ataca de rompante e fala de sexo sem pudores; as vontades e as possibilidades dele se concretizar ou até mesmo as frustrações inerentes a um "talvez", sem esquecer a tal química que esta - ou qualquer outra - relação pressupõe, através de uma conversa que ocorrerá dentro de quaisquer quatro paredes entre duas pessoas cúmplices.
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7 / 10
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Roommate Wanted - Dead or Alive (2015)

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Roommate Wanted - Dead or Alive de Lærke Kromann é uma curta-metragem dinamarquesa de animação que nos apresenta a difícil vida de um estudante de medicina que, sem dinheiro para pagar as suas contas, decide colocar um anúncio para pedir um companheiro de casa. Se até aqui tudo poderia parecer normal a questão coloca-se quando o seu anúncio deixa bem claro que pode ser vivo... ou morto. Eis que aparece Zack, um simpático zombie que testa os limites de uma convivência em comum.
Lærke Kromann, que também escreve o argumento, concentra-se numa história que para lá do notório cuidado que teve para com a animação propriamente dita, se centra principalmente na simplicidade da sua história com uma mensagem e valores eternos como a amizade, a aceitação e o auxílio que chega do mais improvável dos lugares.
Divertida, curta e com a exacta medida de humor, Roommate Wanted - Dead or Alive concentra-se naquilo que está para lá do imediatamente observável e reflecte de forma perspeciaz sobre como dois opostos se podem, aos poucos e pela convivência - atrair.
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7 / 10
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Jantar de Mafiosos (2015)

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Jantar de Mafiosos de Zé Luís Rebel é uma curta-metragem portuguesa de ficção que com alguma comédia tenta relatar um curioso jantar de amigos mafiosos.
Conhecendo as características de um filme cuja base é uma potencial comunidade italiana - e isto não é qualquer tipo de preconceito - onde a mais evidente é a grande confusão e barulho de longas e ricas conversas, aquilo que mais espanta pela positiva nesta curta-metragem é o facto de toda ela ser filmada em silêncio. Estes nossos "mafiosos" comunicam sim pela sua interacção e através da linguagem gestual portuguesa.
Para lá do óbvio que se espera de um filme do género, Jantar de Mafiosos denota essa originalidade, deixando assim o espectador mais atento à expressividade e comunicabilidade não oral entre os actores como, ao mesmo tempo, denota a sua maior cumplicidade e empatia mesmo que as personagens pudessem ser - à partida - mais intragáveis ou detestáveis. Aqui não é o caso.
Tudo dirigido de forma amena e até com alguns apontamentos cómicos que dão alguma ligeireza à história e também uma tentativa de a tornar mais "próxima" que acaba, em última análise, por ser o mesmo conjunto de elementos que distanciam a temática do espectador que no final não se interliga com as personagens ao ponto de criar empatia com as mesmas. No fundo aquilo que se esperava era um maior desenvolvimento das características de cada um de forma a que os mesmos conseguissem denotar as suas características e também as suas origens, ou seja, evidenciar a personanilidade de cada personagem que, dada a temática tão "italianizada" seria o ponto forte deste filme para lá daquilo que de mais violento ou mais cómico pudesse decorrer depois.
Assim, e ainda que a intenção e ideia tenham sido originais ao transformar uma história potencial ruidosa num silêncio profundo onde são os detalhes que merecem toda a atenção, Jantar de Mafiosos mantém mais o estatuto de ensaio ou filme entre amigos do qual se poderia ter descolado e entregue toda uma história inovadora. Ainda assim o devido destaque e apontamento positivo pela apresentação de um cinema diferente e de inclusão que tantas vezes falta quer nas salas e nas televisões que, felizmente, a internet e devidas redes sociais possibilitam na aproximação ao grande público.
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4 / 10
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Vagabond (2015)

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Vagabond de Pedro Ivo Carvalho é uma curta-metragem de animação dinamarquesa que nos leva para o seio de um aparente mundo futurista no qual é necessário alimentar uma máquina em que todos se encontram e da qual dependem para a sua própria sobrevivência.
Numa sociedade de certa forma semelhante à nossa dividida entre cidadãos de primeira e de segunda, o que acontece quando um sem-abrigo se vê sem o seu fiel amigo que se prepara para alimentar a tal "máquina" é uma descoberta em tudo capaz de mudar as existências de todos aqueles que povoam tão sinistro local e os impele a abrir a janela e olhar para lá do seu próprio espaço.
Claramente com objectivos de uma importante mensagem ecológica, Vagabond revela não só as evidentes preocupações de um realizador atento à sociedade em que vive e que o rodeia mas também o desinteresse da comunidade em que se insere para com o seu próprio estilo e modo de vida. As comparações com os nossos dias são evidentes ao retratar uma sociedade que vive a um ritmo acelerado - tal como o da máquina - com propósitos pouco definidos para além de manterem tudo a um ritmo veloz e consequentemente desatento com o que se passa à sua volta. Nessa mesma sociedade onde, tal como "esperado", todos se encontram divididos entre os que "produzem" e aqueles que nada têm para lá do essencial, Vagabond obriga o espectador a um claro e rápido raciocínio sobre o modo como vive, com o que vive e quais os seus reais objectivos numa sociedade que parece destruir-se a cada passo que dá.
As semelhanças com Snowpiercer, de Bong Joon-ho são muitas... desde o espaço em que se encontram até à forma como cada um está tão desatento - (in)voluntariamente - àquilo que está para lá do palpável sem esquecer a premissa de uma sociedade que se alimenta dos mais fracos - explícitos sob as mais diversas formas - e os domina com a ilusão de que aquele é o mundo que têm como certo... Existirá algo realmente "do outro lado", ou esse lado não será apenas uma distante memória de algo que já não existe - tal como os valores ou a moral - e, como tal, perigoso de gerir quando as certezas são, também elas, inexistentes?
O importante não será tanto gerir o tal desconhecido "mundo novo" mas sim como lidar com uma incerteza que impede uma evolução sustentada e digna para cada um tornando todos cidadãos iguais e de comum direito... talvez essa seja realmente a questão deste filme bem como da comunidade (a do filme/a nossa) que insiste em não ver o que tem à sua volta vivendo alegremente ignorante de olhos abertos.
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8 / 10
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Chueca (2012)

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Chueca de Sergio Beator é uma curta-metragem de ficção espanhola cuja acção se desenrola no bairro madrileno onde todas as pessoas acabam por se cruzar.
Nesta curta-metragem encontramos três casais. O primeiro que acaba por manifestar os primeiros sinais de enamoramento e que se descobrem quase inocentemente. O segundo que se encontra à beira de uma ruptura violenta que, no entanto, se deixa dominar por um desejo que toma conta dos seus pensamentos e finalmente um terceiro casal que também ele à beira da separação mas, neste caso, esta precede a desilusão que acaba por se sentir no ar.
A premissa de Chueca é, de certa forma, interessante por querer retratar um conjunto de situações amorosas que se iniciam, terminam ou mesmo reconciliam nas ruas de um dos mais movimentos bairros da capital espanhola. No entanto pelo caminho da execução desta curta-metragem, e esquecendo os vários detalhes técnicos que precisariam de uma clara melhoria, Chueca acaba por se transformar num objecto banal e sem a vida esperada não só na sua história como principalmente nas suas personagens que têm - teriam - tanto por contar e por ser explorado sem que a limitação temporal desta curta-metragem fosse um impedimento para o mesmo.
Não querendo classificar este filme curto como um objecto oco ele é, no entanto, o resultado final de uma história que se quis contar mas que se esqueceu de dar uma alma e um sentido a todas aquelas personagens que se limitam a deambular por um bairro que se tinha cheio de vida. Para lá de alguns lugares comuns e frases feitas sobre as relações, ou aquilo que delas se espera, Chueca não tem nada de novo para poder apresentar quer na sua história quer na construção das suas personagens.
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3 / 10
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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Maria Zamora

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1974 - 2015
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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Ben Woolf

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1980 - 2015
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The Twilight Saga: New Moon (2009)

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A Saga Twilight: Lua Nova de Chris Weitz (EUA) é o segundo capítulo da saga Twilight de Stephenie Meyer no qual Edward (Robert Pattinson) se afasta de Bella (Kristen Stewart), a sua amada, depois de no capítulo anterior esta ter sofrido um ataque quase fatal. Agora, isolada, Bella desenvolve uma nova relação sentimental com Jacob (Taylor Lautner) sem saber que este tem, também ele, um segredo que pretende esconder.
The Twilight Saga: New Moon são duas horas de um capítulo intermédio que se prolonga para lá dos seus potenciais quinze minutos de duração (com intervalo) que pouco, muito pouco, adiantam para esta história que se assume aqui francamente cansativa. Se Twilight (2018), de Catherine Hardwicke poderia até funcionar como o primeiro capítulo introdutório a uma história que, dado o seu enredo e o conjunto de jovens actores que dele fazem parte, seduziria um público mais juvenil, não deixa de ser um facto que do mesmo se esperaria uma história mais centrada num lado mais negro típico destes contos e não tanto nas trivialidades e banalidades que se escondem por detrás dos factos e que aqui ganham destaque enquanto "momentos relevantes" de uma história que não o é. Por outras palavras, se estas histórias de fantasia e de algum cariz mais sombrio normalmente conquistam um conjunto de espectadores que está para lá do seu público alvo, este The Twilight Saga: New Moon mais não é do que o elemento irrelevante de uma saga que se anuncia como, também ela, praticamente desnecessária.
The Twilight Saga: New Moon, enquanto filme de ligação, avança a um passo muito próprio e francamente aborrecido... nada de novo adianta a esta história que quase reduz a uma participação especial um dos seus protagonistas, que entrega ao marasmo o outro e que condena a um passo semi-angustiante todo um conjunto de secundários que apenas confiam à boa sorte a sua presença nesta longa-metragem que se arrasta até à condenação tentando, de forma vã, obter algum reconhecimento enquanto integrante desta história.
Entre os protagonistas não existe química possível... Pattinson, figurante especial com meia dúzia de diálogos, está condenado ao esquecimento (poderia até ter resultado se, de facto, não tivesse participado neste título) e quanto a Stewart parece um fantasma apagado indecisa e incerta sobre o que está ali a fazer deixando até o espectador na mesma incerteza... terá esta longa-metragem sido planeada? Poderia ter sido condensada numa curta-metragem ligeira? Foi necessário para lá do claro e objectivo propósito de lucro na bilheteira? Despropositado em todas as frentes, The Twilight Saga: New Moon ignora o potencial dos seus actores - para lá do uso excessivo de muitos troncos nus e abdominais definidos -, do próprio argumento que os mesmos debitam de forma mecânica e teatralizada ao ponto de parecer tudo excessivo e desproporcional mantendo apenas os efeitos especiais CGI relativamente interessantes mas, no entanto, todos percebemos onde e quando surgem deixando o rasto de artificialidade a cada momento e por todos os elementos desta obra.
Obra "de passagem" - no seu sentido literal - que pouco convenceu e potencialmente a mais irrelevante de toda a saga, este The Twilight Saga: New Moon teve pouco brilho e assume-se como pouco interessante fazendo até do sofrimento das personagens algo aborrecido que não consegue criar empatia com os espectadores mais benevolentes e interessados em descobrir os destinos das mesmas ou até criar alguma familiaridade com a história romântica que aqui se pretende estabelecer deixando apenas em aberto a introdução de um conjunto de novas personagens, todas elas com os seus segredos que claramente vão ter a sua relevância nas obras futuras mas que, ao mesmo tempo, se assume como muita conjuntura e pouca clareza. Numa breve expressão... The Twilight Saga: New Moon perfeitamente olvidável mantendo - possivelmente - apenas algum interesse para os seguidores da saga literária que aqui a pretendem ver recriada cinematograficamente.
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3 / 10
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Oscar 2015: os vencedores

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Filme: Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Alejandro González. Iñárritu, John Lesher e James W. Skotchdopole (produtores)
Documentário: CitizenFour, Laura Poitras, Mathilde Bonnefoy e Dirk Wilutzky
Filme de Animação: Big Hero 6, Don Hall, Chris Williams e Roy Conli
Filme Estrangeiro: Ida, de Pawel Pawlikowski (Polónia)
Realizador: Alejandro González Iñárritu, Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)
Actor: Eddie Redmayne, The Theory of Everything
Actriz: Julianne Moore, Still Alice
Actor Secundário: J. K. Simmons, Whiplash
Actriz Secundária: Patricia Arquette, Boyhood
Argumento Original: Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris, Jr. e Armando Bo
Argumento Adaptado: The Imitation Game, Graham Moore
Montagem: Whiplash, Tom Cross
Fotografia: Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Emmanuel Lubezki
Música Original: The Grand Budapest Hotel, Alexandre Desplat
Canção Original: “Glory”, John Stephens e Lonnie Lynn (letra e música), Selma
Guarda-Roupa: The Grand Budapest Hotel, Milena Canonero
Design de Produção: The Grand Budapest Hotel, Adam Stockhausen e Anna Pinnock
Caracterização: The Grand Budapest Hotel, Frances Hannon e Mark Coulier
Som: American Sniper, Alan Robert Murray e Bub Asman
Efeitos Sonoros: Whiplash, Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley
Efeitos Especiais Visuais: Interstellar, Paul Franklin, Andrew Lockley, Ian Hunter e Scott Fisher
Curta-Metragem de Ficção: The Phone Call, de Mat Kirkby e James Lucas
Curta-Metragem Documentário: Crisis Hotline: Veterans Press 1, de Ellen Goosenberg Kent e Dana Perry
Curta-Metragem de Animação: Feast, de Patrick Osborne e Kristina Reed
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Oscar 2015: Filme

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Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance) 
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Alejandro González. Iñárritu, John Lesher e James W. Skotchdopole (produtores)
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Oscar 2015: Actriz

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Julianne Moore
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Still Alice
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Oscar 2015: Actor

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Eddie Redmayne
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The Theory of Everything
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Oscar 2015: Realizador

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Alejandro González Iñárritu
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Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)
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Oscar 2015: Argumento Adaptado

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The Imitation Game, Graham Moore
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Oscar 2015: Argumento Original

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Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris, Jr. e Armando Bo
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Oscar 2015: Música Original

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The Grand Budapest Hotel, Alexandre Desplat
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Oscar 2015: Canção Original

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“Glory”, John Stephens e Lonnie Lynn (letra e música), Selma
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Oscar 2015: Documentário Longa-Metragem

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CitizenFour 
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Laura Poitras, Mathilde Bonnefoy e Dirk Wilutzky
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Oscar 2015: Montagem

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Whiplash, Tom Cross
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Oscar 2015: Fotografia

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Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Emmanuel Lubezki
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Oscar 2015: Design de Produção

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The Grand Budapest Hotel, Adam Stockhausen e Anna Pinnock
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Oscar 2015: Filme de Animação

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Big Hero 6 
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Don Hall, Chris Williams e Roy Conli
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Oscar 2015: Curta-Metragem de Animação

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Feast, de Patrick Osborne e Kristina Reed
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Oscar 2015: Efeitos Especiais Visuais

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Interstellar, Paul Franklin, Andrew Lockley, Ian Hunter e Scott Fisher
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Oscar 2015: Actriz Secundária

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Patricia Arquette, Boyhood
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Oscar 2015: Som

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American Sniper, Alan Robert Murray e Bub Asman
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Oscar 2015: Efeitos Sonoros

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Whiplash, Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley
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Oscar 2015: Documentário Curta-Metragem

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Crisis Hotline: Veterans Press 1, de Ellen Goosenberg Kent e Dana Perry
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Oscar 2015: Curta-Metragem de Ficção

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The Phone Call, de Mat Kirkby e James Lucas
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Oscar 2015: Filme Estrangeiro

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Ida 
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Pawel Pawlikowski
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(Polónia)
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Oscar 2015: Caracterização

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The Grand Budapest Hotel, Frances Hannon e Mark Coulier
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Oscar 2015: Guarda-Roupa

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The Grand Budapest Hotel, Milena Canonero
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Oscar 2015: Actor Secundário

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J.K. Simmons, Whiplash
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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Rasganço (2001)

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Rasganço de Raquel Freire (Portugal/França) é a primeira longa-metragem da realizadora e a sua acção centra-se na vida académica de um conjunto de estudantes da Universidade de Coimbra e num desconhecido que rapta e viola algumas da suas estudantes à frente de todos sem que os seus actos lhe provoquem qualquer receio de uma captura que parece nunca acontecer.
Distinto e curioso este argumento da autoria da própria realizadora que centra toda a sua trama numa ideia de violência que se assume sob duas distintas perspectivas ao longo desta história. Por um lado, Raquel Freire exibe toda uma dinâmica de vida e convivência universitária de excessos - nem sempre admitidos - por parte do conjunto de estudantes e amigos que o espectador acompanha. Aquilo que se apresenta é o tradicional grupo de amigos eventualmente distante do seu habitat natural - não esquecer que Coimbra recebe ao longo de todo o ano lectivo uma elevada percentagem de jovens vindos de todas as partes do país -, e que ali encontram o seu clã. A ideia de pertença e de identidade de grupo que é então criada, leva-os a formar toda uma espécie de cumplicidade, respeito e dedicação invulgar deixando, por vezes, um real conhecimento sobre aqueles com quem partilham o "espaço" Cumplicidade essa que, por vezes, dá lugar a um silêncio sobre os actos de alguns dos membros do grupo que são aceites como uma realidade com a qual se tem de (con)viver e respeitar como aquela que todos, de certa forma, assimilam como sendo também a sua. Nada se questiona, tudo é permitido e o silêncio (ou omissão de compreensão) são os padrões normativos dessa dita realidade. A individualidade perde-se em favor da identidade de grupo... o primeiro sinal de uma violência normativa que anula o "eu" para o "todo" e que faz do primeiro o agente silencioso e ignorado de uma vivência estudantil que se forma na base da "cumplicidade gera amizade" tantas vezes ilusória.
Esta inicial violência psicológica origina, quase sempre, a outra que lhe está associada por contraposição... se a identidade de grupo se forma e se todos passam a ser "um"... aquele que surge de novo e que não é parte integrante do mesmo acaba por ser um elo mais fraco que todos tomam como o bode expiatório da não aceitação dessa realidade. O "novo" - normalmente o estudante que chega depois e, também ele, deslocado daquela realidade -, tem de cumprir e aceitar (também em silêncio), todo um conjunto de normas - a praxe - que lhe "conferem" a tal "pertença" a esse grupo já formado e que o transformam num instantâneo alvo de todas as frustrações e provas. Esta violência, também ela silenciada com o medo de represálias e de uma ostracização latente, permite a aceitação de todos os devaneios físicos e psicológicos que rapidamente tomam lugar e se auto-assumem como as "provas" de que o elemento novo é, também ele, parte de um sistema que forçosamente aceitou... ou estaria fora. Um por todos... todos por um... mas apenas se este aceitar aquilo que todos desejaram.
Desta realidade - talvez aqui um  pouco sombria mas não deixa de, no entanto, ser a realidade mais , ou menos tácita de uma certa vida universitária sedenta de modelos e exemplos que nem sempre chegam ou se manifestam da melhor forma - que se assume sobretudo psicológica mas com diversos elementos de física, àquela que um estranho representa e que a seu tempo faz manifestar pelo elemento físico, vai um pequeno passo que o espectador facilmente identifica. Este estranho "Edgar" (interpretado por Ricardo Aibéo), é um homem cujas origens todos desconhecemos. Nada sobre o seu passado é revelado e apenas alguns traços de poligamia como forma de sobrevivência são revelados ao espectador. Sabemos que a sua influência começa pela relação que estabelece com três mulheres que lhe garantem a sua subsistência... "Ana Rita" (Ana Teresa Carvalhosa) com quem desenvolve o protótipo de uma relação sentimental, "Zita Portugal" (Isabel Ruth), a mulher mais velha que lhe confere uma esperança de estabilidade económica e financeira e finalmente "Maria dos Anjos" (Paula Marques) aquela que mais depende dele e que o próprio toma como uma forma da validação da sua própria masculinidade. Todas elas dependentes física mas sobretudo psicologicamente deste forasteiro que as consome pelo poder de influência e pela forma como colmata algumas das necessidades afectivas destas mulheres invisíveis aos olhares da maioria. Todas possui no silêncio e desconhecimento das demais ao mesmo tempo que dá corpo à sua própria violência física humilhando e violentando sexualmente todas as demais que assume como suas através da agressão e rapto. É então que se estabelece um paralelismo entre os dois momentos em questão.
Se num primeiro momento o espectador depara com toda uma questão de "vida académica" ligada a uma constante praxe que se manifesta através de uma humilhação ao elemento mais novo, é esta chegada de "Edgar" um estranho e anónimo para a vivência da cidade, que transporta para a mesma a perpetuação de uma violência física - e sexual - às jovens mulheres estudantes (e não só) que são sucessivamente levadas para o desconhecido e "tatuadas" com palavras de ordem que tudo remetem para essa mesma vida "estudantil" dificultando a identidade do violador aos olhos tanto da autoridade como dos estudantes que cedo, e muito facilmente, associam a sua identidade àquela de que professor que todos desprezam por ser o galã junto das jovens alunas... as mesmas que os demais estudantes não conseguem seduzir sem que se afirmem perante elas como potenciais predadores a quem já nem as serenatas chegam.
Rasganço é, portanto, para lá de toda uma história sobre a cerimónia última da vida universitária em Coimbra, um relato sobre a manifestação e perpetuação da violência que se assume sob diversas formas... do exercício do poder de um professor sobre as suas alunas, da vontade de prender um jovem forasteiro para garantir a sua feminilidade, da praxe, da violência física e psicológica que lhe está associada, da agressão sexual à marcação da vítima com as suas potenciais palavras de ordem, sem esquecer que também o preconceito marca presença quando se considera alguém criminoso apenas porque tem mais sucesso junto das jovens alunos do que os seus próprios colegas. A violência, enquanto exercício, está presente através desta longa-metragem e manifesta-se constantemente como uma realidade presente nas vidas de todos. Desde a sua manifestação aparentemente mais insignificante àquela que se revela transformadora das vidas de todas estas personagens que por hábito, por receio, por imprudência ou mesmo distracção são suas constantes vítimas e até mesmo perpetradores.
Com uma dinâmica própria onde é a violência que se revela como a personagem principal suplantando todos os actores - onde se destacam, além dos já referidos, Ana Brandão, Ana Moreira ou Ivo Ferreira -, Rasganço deixa uma última e pertinente questão... de entre todos, quem se destaca como o maior prevaricador? Os que se refugiam na tradição para violentar como forma de "inserção" alheia ou, por sua vez, aquele que se refugia no silêncio, nas sombras e no anonimato para agredir sexualmente? Já nesse mesmo final surge a resposta... Todos desejam secretamente alguém... E todos fazem por torná-los uma sua propriedade!
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7 / 10
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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Independent Spirit Awards 2015: os vencedores

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Filme: Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), de Alejandro González Iñárritu, John Lesher, Arnon Milchan e James W. Skotchdopole
Primeiro Filme: Nightcrawler, de Dan Gilroy (real.) e Jennifer Fox, Tony Gilroy, Jake Gyllenhaal, David Lancaster e Michel Litvak (prods.)
Documentário: Citizenfour, de Laura Poitras (real.) e Mathilde Bonnefoy e Dirk Wilutzky (prods.)
Prémio John Cassavetes: Land Ho!, de Aaron Katz e Martha Stephens (reals.) e Christina Jennings, Mynette Louie e Sara Murphy (prods.)
Prémio Robert Altman: Inherent Vice, de Paul Thomas Anderson (real.), Cassandra Kulukundis (directora de casting), Josh Brolin, Martin Donovan, Jena Malone, Joanna Newsom, Joaquin Phoenix, Eric Roberts, Maya Rudolph, Martin Short, Serena Scott Thomas, Benicio Del Toro, Katherine Waterston, Michael Kenneth Williams, Owen Wilson e Reese Witherspoon (elenco)
Filme Internacional: Ida, de Pawel Pawlikowski (Polónia)
Realizador: Richard Linklater, Boyhood
Actor: Michael Keaton, Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)
Actriz: Julianne Moore, Still Alice
Actor Secundário: J. K. Simmons, Whiplash
Actriz Secundária: Patricia Arquette, Boyhood
Argumento: Dan Gilroy, Nightcrawler
Primeiro Argumento: Justin Simien, Dear White People
Fotografia: Emmanuel Lubezki, Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)
Montagem: Tom Cross, Whiplash
Prémio Especial: Foxcatcher, de Bennett Miller (real.), Anthony Bregman, Megan Ellison e Jon Kilik (prods.), E. Max Frye e Dan Futterman (arg.) e Steve Carell, Mark Ruffalo e Channing Tatum (elenco)
Prémio Piaget Produtores: Chad Burris, Elisabeth Holm e Chris Ohlson
Prémio Kiehl Someone to Watch: H., de Rania Attieh e Daniel Garcia
Prémio Lenscrafters Truer Than Fiction: The Kill Team, de Dan Krauss
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The Legend of Hercules (2014)

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Hércules - A Lenda Começa de Renny Harlin (EUA) - realizador de filmes como Cliffhanger (1993), Cutthroat Island (1995) ou The Long Kiss Goodnight (1996) - é o regresso às origens de uma das mais simbólicas lendas da mitologia grega aqui ainda longe de atingir a imponência que as histórias deixaram.
Traído pelo pai, lançado no exílio e vendido como escravo, Hércules (Kellan Lutz) luta contra o tempo e contra as adversidades para regressar ao seu reino e encontrar Hebe (Gaia Weiss), o amor da sua vida.
"Dono" de alguns emblemáticos sucessos de bilheteira dos idos anos '90, Renny Harlin parece não ter conseguido distanciar-se de tantos outros flops de bilheteira e da crítica lançando-se sistematicamente num processo de direcção de histórias que estão (aparentemente) condenadas a um qualquer fracasso iniciado quer no casting ou mesmo na excessiva vontade de incorporar um argumento que parece destinado a parodiar(-se) o conto ao qual pretendem dar vida ou mesmo no recurso a um sem fim de efeitos especiais que, em nada, parecem dignificar a história que aqui se pretende contar.
Dito isto, o que podemos encontrar neste The Legend of Hercules? Aquilo que pretende começar como um conto mitológico sobre as origens dessa lenda dos contos tradicionais gregos, cedo se desvanece numa história que, no fundo, ninguém conhece. Assim, recorrendo a muito do imaginário colectivo de qualquer espectador que tenha frequentado as aulas de História do ensino básico e secundário, o argumento da autoria do próprio Renny Harlin em colaboração com Sean Hood, Daniel Giat e Giulio Steve, adapta de forma totalmente livre aquilo que "pensa" ter sido a origem desse mito herculiano. Nesta perspectiva, o espectador cedo conhece a concepção do futuro herói e a traição palaciana da sua mãe com o fantasma de Zeus, o Rei dos deuses, após uma trama "diplomática" com Hera - outra deusa - para conquistar a paz nos reinos, sendo o espectador imediatamente transportado para aquilo que se pretende ter como âmago desta história, ou seja, o elemento amoroso que tradicionalmente comanda todos os contos deste género.
Mas, se as origens deste herói "moderno" (moderno apenas pela abordagem que aqui lhe é conferida) são rapidamente inseridas e esquecidas não pelo espectador mas sim por um argumento que pouco parece querer explorar esta dinâmica, também é uma realidade que o elemento romântico que se constrói é, também ele, atirado para esta longa-metragem como cimento para uma parede... sem qualquer ordem ou ritmo. Utilizando esta comparação, rapidamente compreenderá o espectador que... tal como essa parede... também a lenda de The Legend of Hercules é subitamente ignorada vetando este herói mitológico a um sem fim de banalidades e trivialidades que em nada o dignificam ou engrandecem.
Se desde cedo o espectador compreende que este argumento sobrevive à custa dos efeitos especiais que lhe dão alguma côr - e vice versa -, qualquer dúvida ficaria imediatamente dissipada quando observamos um conjunto de actores que pouco mais estão a fazer nesta longa-metragem para lá de exibir alguns (poucos) dotes físicos que comprometem todo o seu demais trabalho... ou, por outras palavras, para um público mais juvenil que possa aderir a esta "lenda"... para quê olhar para a História por detrás da história quando os abdominais de Kellan Lutz ou a beleza de Gaia Weiss parecem inundar em doses "pouco" generosas o ecrã?! Nesta medida, por muito adulterada que seja a história ou por muito irreal ou pouco coerentes que sejam as interpretações ou os factos aqui retratados - conquista de território, escravatura, traição palaciana e claro... a boa e esperada dose de mitologia clássica -, para quê preocupar em demasia quando se tem um pouco mais de "carne" à vista...
Ignorados que estão todos os elementos anteriores, um que não escapa ao olhar mais atento é o facto de alguns - praticamente todos - destes actores recitarem de forma muito leviana e pouco inspirada os seus diálogos criando toda uma interacção - entre os mesmos - que parece retirada de um momento declamatório com pouca convicção. Se tudo isto falha, questiona-se o espectador em que momento (se é que algum) residem os elementos positivos desta história... A resposta, não tão simples quanto poderia aparentar, permanece no mais óbvio e primário... os próprios efeitos especiais que recriam a imagem da Grécia Antiga ou nas mais ou menos elaboradas coreografias que colocam actores (e seus respectivos duplos) em recriações minimamente inspiradas de batalhas, duelos e combates. Retirados os mesmos e o espectador facilmente se aperceberá que se encontra perante um vazio e nulo colectivo que faz desejar ver regressar as já referidos obras dos anos '90 nas quais o realizador parecer ter tido inspiração criativa.
No geral o espectador apenas encontra em The Legend of Hercules um filme de entretenimento banal e facilmente remetido ao esquecimento. Apaguem-se ou não as luzes durante o seu visionamento, certamente ninguém irá dar pela sua falta confirmando que a lenda... não começa aqui.
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3 / 10
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Les César 2015: os vencedores

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Filme: Timbuktu, Sylvie Pialat e Etienne Comar (produtores) e Abderrahmane Sissako (realizador)
Primeiro Filme: Les Combattants, de Thomas Cailley (real.) e Pierre Guyard (prod.)
Documentário: Le Sel de la Terre, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado (reals.) e David Rosier (prod.)
Filme de Animação: Minuscule - La Vallée des Fourmis Perdues, de Thomas Szabo e Hélène Giraud (reals.) e Philippe Delarue (prod.) - Longa-metragem e Les Petits Cailloux, de Chloé Mazlo (real.) e Jean-Christophe Soulageon (prod.) - Curta-metragem
Curta-Metragem: La Femme de Rio, de Emma Luchini e Nicolas Rey (reals.) e Maxime Delauney e Romain Rousseau (prods.)
Filme Estrangeiro: Mommy, de Xavier Dolan (Canadá)
Realizador: Abderrahmane Sissako, Timbuktu
Actor: Pierre Niney, Yves Saint Laurent
Actriz: Adèle Haenel, Les Combattants
Actor Secundário: Reda Kateb, Hippocrate
Actriz Secundária: Kristen Stewart, Sils Maria
Actor Revelação: Kévin Azaïs, Les Combattants
Actriz Revelação: Louane Emera, La Famille Bélier
Argumento Original: Timbuktu, Abderrahmane Sissako e Kessen Tall
Argumento Adaptado: Diplomatie, Cyril Gely e Volker Schlöndorff
Fotografia: Timbuktu, Sofian El Fani
Montagem: Timbuktu, Nadia Ben Rachid
Música Original: Timbuktu, Amine Bouhafa
Som: Timbuktu, Philippe Welsh, Roman Dymny e Thierry Delor
Guarda-Roupa: Saint Laurent, Anaïs Romand
Direcção Artística: La Belle et la Bête, Thierry Flamand
César de Honra: Sean Penn
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