terça-feira, 30 de junho de 2015

A Minha Rua (2015)

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A Minha Rua de Rúben Ferreira é uma longa-metragem portuguesa de ficção e a mais recente do realizador da saga O Lenhador Assassino e O Estrondo.
Diego e Adrian são dois irmãos que desde jovem idade tudo fizeram juntos. Quando aos cinco anos de idade fogem de casa para viver na praia, conhecem Irina, uma menina por quem os dois se apaixonam e que ditará a sua separação para o resto das suas vidas.
Enquanto Adrian tem uma vida descansada junta da sua amada, Diego leva uma vida de tortura e miséria que o irão transformar num Líder do crime... de uma rua cujo futuro será incerto tendo, no entanto, uma única certeza... o passado irá reencontrá-lo para um ajuste de contas.
Rúben Ferreira e Alex Carvalho voltam a unir esforços para escrever o argumento desta longa-metragem que tem um início promissor... o registo docu-ficcional da história de vida de "Diego" entrega a A Minha Rua um início interessante e auspicioso por se inserir no campo do mockumentary despertando assim no espectador uma certa curiosidade para onde se dirige o rumo deste jovem desprezado que, sendo ficcional, consegue encontrar um elemento de "real" ao relatar a sua amarga história.
No entanto, e ainda que com um pequeno segmento que consegue cativar e permanecer seguro nos seus objectivos, não é menos verdade que rapidamente cai no habitual registo das obras previamente mencionadas repetindo a fórmula já conhecida em O Estrondo ou O Lenhador Assassino... aqui sem mortes devido a um qualquer psicopata mas sim graças a um "senhor do crime". Longe de grandes novidades ou de um enredo que fuja às já habituais cenas de gangs mafiosos ou carochos com a mania que são batidos no crime e na vida criminosa de rua que conhecemos dos demais filmes de Ferreira, A Minha Rua prima essencialmente por ser um filme cuja dinamização do seu realizador é o seu ponto forte.
A dinâmica entre as personagens já a conhecemos... vivem de alguns gags e momentos com algumas lutas e palavreado forte e feio bem à moda do norte - alhos e bugalhos que, sejamos honestos, até conseguem ter alguma piada - mas para além disso não existe nenhuma evolução ou crescendo nas personagens que seja digno da atenção que lhes prestamos sendo na sua essência o mesmo actor sem qualquer tipo de caracterização ou envelhecimento mesmo que passem meses ou anos entre segmentos. Os diálogos são - na sua essência - cópias fiéis daquilo que já vimos e há excepção do espaço em que estão inseridos que vai ocasionalmente mudando, A Minha Rua é... mais do mesmo. Mais do mesmo ao ponto de no final de tantos filmes já realizados encontrarmos ainda actores que olham directamente para a câmera, que se riem quando deveriam mostrar medo pela personagem que se tem como criminosa e que, na prática, mais parece um ensaio geral do que propriamente filme final.
Tecnicamente também não encontramos novidades ou até mesmo acréscimo de qualidade... Pelo contrário, A Minha Rua demonstra que o tempo que levou a ser feito não é proporcional à qualidade que se esperava ou encontra nas obras iniciais do jovem realizador que não só continham interessantes planos sequência e um cuidado extremo com aspectos como o som ou a fotografia e que são aqui esquecidos deixando a desejar quanto ao resultado final.
A Minha Rua é, no final, resumido a uma pequena frase ou pensamento... Um aplauso à iniciativa mas já não tanto ao trabalho aplicado que se esperaria ser muito melhor.
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2 / 10
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El Efecto Barrymore (2015)

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El Efecto Barrymore de Federico Calabuig é uma curta-metragem espanhola de ficção que nos apresenta dois amigos Rafa (Andres Acevedo) e Rocío (Beatriz Arjona). Numa amena conversa Rafa revela que nunca foi beijado. Rocío não acredita pois o seu amigo é atraente e já manteve relacionamentos com várias mulheres. Mas... que intenções terá Rafa para revelar o seu segredo?
Calabuig escreve mais um argumento que se centra nas relações entre amigos e as cumplicidades que se formam entre si e que permitem todos os desabafos e confidências mais íntimas. Aqui, a história - e o título desta curta-metragem - remetem-nos para Never Been Kissed, de Raja Gosnell, (1999) - um sucesso imediato nos idos anos 90 - onde uma ora tímida e inadaptada ora esfuziante Drew Barrymore nunca havia sido beijada por aquele que considerava o rapaz perfeito.
Os nossos protagonistas repetem esse êxito mas de uma forma não tão inadaptada como a de Barrymore. Tanto "Rafa" como "Rocío" são dois amigos que escondem - ou por medo da rejeição ou até mesmo da sua confirmação - essa mútua atracção e que seguiram as suas vidas sem nunca pensar nos "e se..." que esta relação podia reservar para lá da óbvia amizade que os une. Não tão inadaptada como a de Barrymore pois confirma-se que as suas vidas já os levaram a outras relações - meramente sexuais - e que o espaço reservado ao "amor" foi sempre preservado para a possibilidade de um dia se confirmar uma aproximação entre ambos.
Pelo meio da mentira - inofensiva - e das pequenas brincadeiras que as trocas de olhares confirmam, o desejo está explícito nos seus comportamentos e nas suas forma de estar... na sua linguagem corporal que assume a vontade e que a atracção não é meramente ficcional.
El Efecto Barrymore confirma não só a possibilidade de contar uma história bem escrita e muito bem interpretada - um aplauso a Acevedo e Arjona - como principalmente a coerência de sentimentos que, uma vez mais, Calabuig transmite com as suas palavras e direcção sem nunca esquecer o lado inocente com uma pitada de desejo e principalmente tudo filmado com o intuito de deixar no espectador um simpático sorriso.
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7 / 10
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Puertas Adentro (2014)

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Puertas Adentro de Jonatan Olmedo é uma curta-metragem argentina de ficção que nos relata os quinze dias de férias entre Nahuel (Lucas Lagré) e Franco (Ronan Núñez), dois amigos de longa data - que se reunem em casa deste último - e que por entre alcoól e alguns jogos fazem denotar uma acentuada tensão sexual entre ambos.
O realizador e também argumentista Jonatan Olmedo recria um conto que transporta o espectador para uma tórrida temporada de férias onde não só o calor climatérico se denota mas sim - e talvez principalmente - aquele que provém da óbvia ligação física que une as duas personagens. O argumento de Olmedo começa inicialmente por apresentar dois amigos que se divertem com as normais cumplicidades adolescentes e que confirmam ao espectador que estamos perante uma relação de sentida e notória amizade. No entanto, à medida que a confirmamos, também se torna evidente que existe algo mais por detrás daqueles sorrisos e proximidade e que os olhares de ambos deixam, aos poucos, escapar.
Se inicialmente estes sinais se materializam por pequenos toques que qualquer um de nós poderia achar serem aqueles decorrentes de uma conversa típica entre dois adolescentes, cedo se percebe também que aqueles olhares escondem algo mais do que uma simples amizade, e a cumplicidade já sentida entre os dois cedo revela que existe desejo e tensão sexual entre ambos. Como se costuma dizer em linguagem mais popular "os olhos são os primeiros a comer", e aqui este mesmo ditado materializa-se.
Mas esta materialização prende-se apenas no campo de uma hipótese... materializa-se pelo olhar de ambos e por aquele tido pelo espectador que os observa mas, na prática, entre "Nahuel" e "Franco" nada ocorre que o confirme deixando apenas no ar a sugestão de que sim, é uma eventualidade ou pelo menos uma possibilidade.
Sem que nenhum admita verbalmente, e para lá dos seus olhares cúmplices e de uma total entrega, toda a comunicação corporal tida pelos dois revela o desejo, a extrema vontade e principalmente uma entrega que está para lá da simples amizade... Desejo? Paixão? Algo puramente sexual? O espectador nunca chega a confirmá-lo mas, no entanto, tanto a interpretação de Lucas Lagré - "Nahuel" - como a de Ronan Núñez - "Franco" - são suficientemente esclarecedoras, tal o seu empenho, de que algo mais forte os une do que apenas uma amizade.
No entanto, e como é habitual nos contos sobre a amizade, o despertar do desejo, e a sexualidade em tão jovem idade, está também por detrás de Puertas Adentro o compreensível medo da inadaptação, da aceitação - ou falta dela - e principalmente do preconceito e da ostracização. Na teoria individual sentida por cada um, tanto "Franco" como "Nahuel" percebem que se desejam mas, no entanto, até que ponto aquilo que sentem e vêem no outro não pode ser apenas algo que imaginam como sendo real? É essa incerteza e medo do "depois" que os impede de assumir um conjunto de desejos e sentimentos obrigando-os a viver na incerteza dos seus e principalmente naquela que se prende com as vontades do outro. O toque derivado das pequenas brincadeiras típicas da masculinização e da transformação de idade transformam-se assim nos únicos contactos tidos como aceitáveis perante uma sociedade incerta e que julga com medo de ser julgado.
Ainda um apontamento positivo para a direcção de fotografia de José Mariano Pulfer que confere com a sua captação de luz transformar todo um ambiente climatericamente quente num espaço de exacerbada tensão sexual que não confirmada é obviamente sentida.
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8 / 10
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segunda-feira, 29 de junho de 2015

FEST - New Directors New Films Festival 2015: os vencedores

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Filme: Line of Credit, de Salomé Alexi (Geórgia/França)
Menção Especial: Violet, de Bas Devos (Bélgica/Holanda) e For Some Inexplicable Reason, de Gabor Reisz (Hungria)
Documentário: Dancing with Maria, de Ivan Gregolet (Argentina)
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Curta-Metragem de Ficção: Everything Will Be Okay, de Patrick Vollrah (Alemanha)
Menção Especial: Emoke Zsigmond, Playfellows - interpretação (Hungria)
Curta-Metragem Documental: Is Longing Hereditary, de Gitte Hellwig (Alemanha)
Curta-Metragem de Animação: Whole, de Robert Banning e Verena Klinger (Alemanha)
Curta-Metragem Experimental: Démontable, de Douwe DijkstraI (Holanda)
Menção Especial: Ferdinand Knapp, de Andrea Baldini (França)
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Prémio do Público - Longa-Metragem: Transit, de Hannah Espia (Filipinas)
Prémio do Público - Curta-Metragem: Shipwreck, de Morgan Knibbe (Holanda)

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domingo, 28 de junho de 2015

SNGCI - Sindacato Nazionale Giornalisti Cinematografici Italiani - Nastri d'Argento 2015: os vencedores

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Filme do Ano: Il Giovane Favoloso, Carlo Degli Esposti (prod.), Mario Martone (real. e arg.), Ippolita Di Majo (arg.) e Elio Germano (actor)
Realizador do Melhor Film Italiano: Paolo Sorrentino, Youth - La Giovinezza
Realizador Revelação: Edoardo Falcone, Se Dio Vuole
Comédia: Noi e la Giulia, de Edoardo Leo
Produtor: Cinemaundici /Luigi Musini e Olivia Musini com Rai Cinema, em colaboração com On My Own, Anime Nere, Torneranno i Prati e Last Summer
Actor Protagonista: Alessandro Gassmann, Il Nome del Figlio e I Nostri Ragazzi
Actriz Protagonista: Margherita Buy, Mia Madre
Actor Secundário: Claudio Amendola, Noi e la Giulia
Actriz Secundária: Micaela Ramazzotti, Il Nome del Figlio
Argumento: Francesco Munzi, Fabrizio Ruggirello, Maurizio Braucci com a colaboração de Gioacchino Criac, Anime Nere
Argumento Original: Il Ragazzo Invisibile, Alessandro Fabbri, Ludovica Rampoldi e Stefano Sardo
Montagem: Cristiano Travaglioli, Anime Nere e Youth - La Giovinezza
Fotografia: Luca Bigazzi, Youth - La Giovinezza
Música Original: Nicola Piovani, Hungry Hearts
Canção Original: "Sei mai stata sulla luna?", de Francesco De Gregori Sei Mai Stata sulla Luna?
Som: Maricetta Lombardo, Il Racconto dei Racconti
Design de Produção: Dimitri Capuani, Il Racconto dei Racconti
Guarda-Roupa: Massimo Cantini Parrini, Il Racconto dei Racconti
Carreira: Ninetto Davoli
Prémio Nino Manfredi: Paola Cortellesi
Prémio Especial: Cristina Comencini, Latin Lover
Nastri Europeo: Laura Morante e Lambert Wilson
Nastro Internazionale: Douglas Kirkland
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Jack Carter

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1922 - 2015
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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Patrick Macnee

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1922 - 2015
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Shortcutz Viseu - Sessão #56

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O Shortcutz Viseu está de volta para a Sessão #56 e desde vez com dois dos seus segmentos habituais. Sem sessão competitiva, o Shortcutz Viseu apresenta o segmento Filme Convidado onde será exibido Bicicleta, de Luís Vieira Campos que estará presente para apresentar o seu filme bem como outros elementos da equipa técnica.
A noite de sexta-feira conta ainda com o segmento Shortcutz Around the World onde será exibido o filme curto Marioneta Ciega, de Jaime Fidalgo (Espanha) que marca a presença de mais um filme do catálogo da distribuidora basca Mailuki Films no Shortcutz Viseu.
Para mais uma noite de bom cinema o local para se estar em Viseu é o Museu Grão Vasco, a partir das 22 horas.
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terça-feira, 23 de junho de 2015

Marujita Díaz

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1931 - 2015
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segunda-feira, 22 de junho de 2015

James Horner

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1953 - 2015
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Laura Antonelli

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1941 - 2015
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Helen Mirren homenageada pelo World Jewish Congress

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A vencedora de um Oscar Helen Mirren - pelo filme The Queen - foi galardoada pelo Congresso Mundial Judaico com um Prémio de Reconhecimento pela sua interpretação no filme Woman in Gold, de Simon Curtis.
Num evento celebrado na Neue Galerie, em Nova York, Ronald S. Lauder - Presidente do CMJ - refere que é "graças à a espantosa interpretação de Helen Mirren que desencadeia uma vez mais a discussão junto do público internacional sobre este legado particular da Segunda Guerra Mundial que ainda não foi devidamente resolvido por muitos governos e museus".
Woman in Gold segue a história de Maria Altmann, uma austro-americana que ocupou os cabeçalhos da comunicação social graças à sua batalha legal contra o governo austríaco ao reclamar cinco obras de Gustav Klimt - incluindo o Retrato de Adele Bloch-Bauer I sobre o qual se refere este filme - que foram roubadas à sua família pelos nazis durante o conflito mundial.
Ao receber este troféu Mirren refere que "fazer parte deste filme e preservar o legado de Maria Altmann foi uma experiência excepcional desde o seu início (...) Estou profundamente emocionada por receber este prémio do Congresso Mundial Judaico, uma organização que faz um trabalho extremamente importante por todo o mundo ao advogar os direitos dos judeus".
Woman in Gold estreou em Portugal no passado dia 4 de Junho com o título Mulher de Ouro.
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sábado, 20 de junho de 2015

Lola - Academia Alemã de Cinema 2015: os vencedores

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Filme - Lola de Ouro: Victoria, Jan Dressler e Sebastian Schipper (prods.)
Filme - Lola de Prata: Jack, Jan Krüger e René Römert (prods.)
Filme - Lola de Bronze: Zeit der Kannibalen, Milena Maitz (prod.)
Documentário: Citizenfour, de Laura Poitras (real. e prod.) e Dirk Wilutzky e Mathilde Bonnefoy (prods.)
Filme Infantil/Juvenil: Rico, Oskar und die Tieferschatten, Philipp Budweg e Robert Marciniak
Realizador: Sebastian Schipper, Victoria
Actor: Frederick Lau, Victoria
Actriz: Laia Costa, Victoria
Actor Secundário: Joel Basman, Wir sind Jung. Wir sind Stark.
Actriz Secundária: Nina Kunzendorf, Phoenix
Argumento: Stefen Weigl, Zeit der Kannibalen
Montagem: Who Am I - Kein System ist Sicher, Robert Rzesacz
Fotografia: Sturla Brandth Grøvlen, Victoria
Música Original: Nils Frahm, Victoria
Design de Produção: Who Am I - Kein System ist Sicher, Silke Buhr
Guarda-Roupa: Barbara Grupp, Die Geliebten Schwestern
Som: Who Am I - Kein System ist Sicher, Florian Beck, Ansgar Frerich e Bernhard Joest
Caracterização: Nannie Gebhardt-Seele, Tatjana Krauskopf, Die Geliebten Schwestern
Honorário: Barbara Baum
Prémio do Público: Honig im Kopf, de Til Schweiger
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quinta-feira, 18 de junho de 2015

Shortcutz Viseu - vencedor do mês de Maio

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A curta-metragem Mulher.Mar, de Filipe Pinto e Pedro Pinto foi a vencedora do mês de Maio do Shortcutz Viseu.
Mulher.Mar torna-se portanto na mais recente nomeada ao Prémio Shortcutz Viseu de Melhor Curta do Ano na segunda cerimónia a realizar em meados de 2015 competindo para este galardão com as curtas-metragens Salomé, de Sofia Bairrão, Bicho, de Carlos Jesus e Miguel Munhá, Cigano, de David Bonneville, Pela Boca Morre o Peixe, de João P. Nunes, Boy, de Bruno Gascon, Contactos 2.0, de Bernardo Gomes de Almeida e Rodrigo Duvens Pinto, Bodas de Papel, de Francisco Antunez, O Reino, de Paulo Castilho, Não são Favas, são Feijocas, de Tânia Dinis e Dédalo, de Jerónimo Ribeiro Rocha que foi a vencedora do passado mês de Abril.
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Numbered (2012)

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Numerados de Dana Doron e Uriel Sinai é um documentário israelita exibido recentemente pelo Canal História aquando das comemorações dos setenta anos do final da Segunda Guerra Mundial.
Felizmente distante de um registo militar ou factual, Numbered é um emocionalmente intenso documentário que nos leva às memórias dos sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz que na altura do seu aprisionamento foram imediatamente tatuados com um número que lhes removia qualquer identidade ou humanidade.
Tendo todos estes sobreviventes já mais do que oitenta anos de idade na actualidade, Numbered propõe não só um registo frente à câmara das suas histórias, da sua luta pela sobrevivência e para além disso uma proposta invulgar apresentando os seus descendentes que decidem, também eles, tatuar nos seus ante-braços o números que os avós tinham aquando da sua detenção em Auschwitz para que a sua memória perdure e as suas histórias não sejam esquecidas pelas gerações futuras.
Numbered transforma-se então num documentário íntimo e emotivo que exalta a memória passada para que seja preservada no futuro como um importante elemento para que não se repita e, ao mesmo tempo, lembrar as vidas daqueles que foram sacrificados num dos mais sangrentos, bárbaros e violentos conflitos que o mundo alguma vez viu.
Ao mesmo tempo, Numbered não se centra apenas nos relatos da vida destes sobreviventes durante a década de 40 do século passado e nas experiências de desumanização a que foram sujeitos mas sim nas suas histórias de recomeço, ou seja, como depois da mais difícil provação de toda a sua vida se transformaram, independentemente dos traumas que lhes permaneceram até hoje, em seres novos que constituíram as suas famílias ensinando-lhes valores maiores de humanidade e segurança celebrando, inclusive, a vida que tiveram e têm.
Dedicada aos últimos sobreviventes de Auschwitz que, na sua maioria, os mais jovens têm agora mais de oitenta anos, Numbered celebra principalmente a vida... aquela que eles conseguiram, felizmente, perpetuar assim como os seus descendentes honram a memória dos avós através de um símbolo que fora de vergonha mas que eles, na sua maioria, celebram como de resistência e sobrevivência.
Numbered pertence àquele grupo restrito de documentários que consegue cativar pelo período que retrata e que nos permite ter um breve vislumbre sobre as histórias por detrás da Histórias. Os relatos daqueles que atravessaram um período negro e de desumanização sem que, no entanto, fossem eles próprios desumanizados. Ao olharmos todas estas histórias pessoais, o espectador sente um misto de tristeza por aquilo que é, de certa forma, inenarrável mas, ao mesmo tempo, uma sensação reconfortante por ver como todas estas pessoas conseguiram ultrapassar esse período e, para lá da sua enorme perda, são pessoas cheias de vida e amor que resolveram prolongar com a constituição de famílias que - igualmente - os celebram.
Fortíssimo não só pela sua componente dramática mas sim por conseguir conter por detrás de cada olhar toda uma vida de emoções e emotividade, de entrega e protecção pelos seus e principalmente de memória... aquela que possuem e que viveram e aquela que esperam seja preservada para o futuro através das suas palavras e das recordações que deixam naqueles com quem falam e com quem privam, Numbered é - sem reservas - um dos mais importantes documentários desta década e que deveria ser visto pelo menos uma vez na vida.
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10 / 10
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Porto7 - Festival Internacional de Curtas-Metragens do Porto 2015: os vencedores

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Ficção Internacional
Curta de Ficção: Flash, de Alberto Ruiz Rojo (Espanha)
Menção Honrosa do Júri: Los Huesos del Frío, de Enrique Leal (Espanha)
Menção Honrosa da Direcção do Festival: Sweetheart, de Miguel Angelo Pate (Alemanha/EUA)
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Ficção Nacional
Curta de Ficção: Bestas, de Rui Neto e Joana Nicolau
Menção Honrosa do Júri: Margem, de Miguel Pereira
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Documentário
Documentário: Hacia una Primavera Rosa, de Mario de la Torre (Espanha)
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Animação
Animação: Foi o Fio, de Patrícia Figueiredo (Portugal) e Shades of Gray, de Alexandra Averyanova (Rússia)
Menção Honrosa da Direcção do Festival: Bendito Machine V - Pull the Trigger, de Jossie Malis (Espanha)
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Videoclip
Videoclip: "After December", de Colectivo We Are Plastic Too, interpretado por You Can't Win, Charlie Brown
Menção Honrosa da Direcção do Festival: "Andante", de Hugo Morais e José Leal, interpretado por Dom Ruboroza
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Actor: Emilio Gavira, Nada S.A.
Actriz: Teresa Manolo Linares, La Mujer Asimétrica
Argumento: Koshki Melurekan, de Tofigh Amani (Irão)
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quarta-feira, 17 de junho de 2015

A Ras del Cielo (2013)

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Rasgar o Céu de Horacio Alcalá é um documentário em formato de longa-metragem luso-espanhol que encontra finalmente a sua estreia comercial este mês em Portugal.
Neste documentário acompanhamos alunos de algumas das mais importantes escolas de circo mundiais - Cirque du Soleil incluída - que revelam ao espectador a sua paixão pela arte circense bem como a coragem, dedicação, determinação e muita disciplina que exige a fim de alcançar o máximo de perfeição para a sua execução.
Num relato que ultrapassa fronteiras e nacionalidades, o espectador observa todo o resultados de anos de treino intensivo destes artistas que graças às suas acrobacias e números preparados rasgam o ar e por momentos parece que tocam no céu.
Várias são as histórias pessoas e relatos que A Ras del Cielo nos apresentam mas todas elas suportam uma ideia que é desde o primeiro minuto apresentada... estas pessoas vindas dos mais diversos lugares do planeta poderiam ter uma qualquer profissão de segunda a sexta-feira que lhes garantiria todas as mordomias que esperam da vida mas conseguiriam essa outra pessoa que seriam dizer que realmente gostam do que fazem?
Num ambiente que era fechado a qualquer forasteiro e que apenas passava de geração em geração como o é o circense, A Ras del Cielo acompanha as histórias de Jonathan, de Bruxelas, que coreografa a sua dança e ginástica com arco metálico, Fadi proveniente da Palestina que em Itália exerce a sua coreografia ao escalar postes em zonas públicas e cujo sonho é voltar à sua terra onde poderá através da arte e da dança ensinar as crianças de meios mais desfavorecidos vítimas de abusos ou com dificuldades físicas, de Marie e Philippe do Canadá com malabarismo e equilibrismo nas ruas das cidades, de Saar que vinda da Holanda acaba por fazer um espectáculo de dança em suspensão em Lisboa, ainda de Antonio que depois de ter caído do trapézio durante um ensaio geral enfrentou uma longa terapia de recuperação podendo - na altura - ter ficado paralisado e obrigando-o assim a toda uma nova perspectiva da sua vida onde apenas havia estado num circo, de Damian Istria de São Paulo que aos 31 anos de idade encara o final da sua carreira circense tendo agora já casado e com filhos de encarar uma nova profissão - talvez de fato e gravata - ou ainda de Bahoz and the Wolfpack, um grupo de ginastas com as mais elaboradas coreografias nos quais Bahoz se destaca ainda pela musicalidade de alguns dos temas escritos e compostos pelo pai.
As histórias e as origens são as mais variadas, e para lá das diferentes experiências e percursos de cada um, aquilo que poderia separar todos estes artistas seriam à partida as suas diferenças culturais. No entanto, A Ras del Cielo propõe ao espectador um olhar diferente sobre as mesmas compondo uma ilustrada palete de conhecimentos e uma variedade cultural que nos faz olhar o "outro" como mais um de entre o "nós". A liberdade com que todos estes artistas se expõe e à sua arte, a forma como viajam pelo mundo e a quantidade de pessoas das mais diferentes proveniências que conseguem conhecer - sem, no entanto, estabelecerem grandes laços afectivos como algures é referido - permitem-nos (a eles e a nós) verificar que por mais diferentes que todos sejamos existem sempre um igualmente forte conjunto de elementos que nos ligam... sejam as paragens que nos são familiares, alguns costumes com os quais nos identificamos ou até mesmo a universalidade da língua que transmite toda uma mensagem de comunhão que nos aproximam destas histórias - as suas mas também nossas - e que fazem pairar ao longo de todo o documentário uma sensação de liberdade sem esquecer que todos pretendem pertencer a algum lugar. Esta liberdade não é eterna - no sentido de desligada de raízes - mas sim uma sentida pela capacidade de poder e querer fazer aquilo de que se gosta e não simplesmente algo que confere a mais imediata contrapartida financeira mas que (n)os prende a uma qualquer escravidão psicológica. Essa liberdade que os permite exporem uma arte mas, ao mesmo tempo, dela retirar um prazer absoluto de entrega e dedicação.
A Ras del Cielo é também um sentido hino à liberdade no medida em que está inerente ao seu próprio princípio, o fim das fronteiras culturais pois aqui assistimos a um verdadeiro intercâmbio de nacionalidades, culturas, hábitos e costumes que são obrigatoriamente partilhados por todos. Num circo não existem apenas artistas oriundos de um local ou país mas sim de todo o mundo sendo "obrigados" a conviver no mesmo espaço durante largos meses e, como tal, partilhar e dividir experiências que acabam por se tornar comuns a todos.
Como uma direcção de fotografia de David Palacios que capta todo um brilho de palco e dos locais por onde passam que confere a A Ras del Cielo momentos verdadeiramente melancólicos, e ainda uma brilhante banda sonora na qual figuram temas como "Two Men in Love" de Jamie McDermott dos The Irrepressibles ou temas cantadas por Bahoz Temaout como "Wicked Game", este é um documentário sobre a liberdade mas que consegue emanar uma sentida melancolia e admiração por aqueles que cedo perceberam que o seu lugar estava muito para lá dos sítios onde nasceram... Aqueles que descobriram que o mundo era o seu lugar, que nele criaram raízes mentais que os ligam a vários portos e a nenhum em especifico transformando-se em cidadãos não de um país mas sim de um mundo que tem muito mais a uni-lo do que a dividi-lo.
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8 / 10
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El Baile (2014)

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El Baile de Galder Arriaga - também o argumentista - é uma curta-metragem espanhola de ficção que nos relata a rotina diária de um homem solitário. Acorda sempre à mesma hora para efectuar todo um conjunto de acções já cronometradas ao segundo para sair de casa sempre no mesmo momento.
É, no entanto, no momento em que Ela surge na sua vida que todos estes pequenos rituais que ele pensava ter adquirido se vão questionar e pôr em causa.
Ainda que o argumento de El Baile remeta o espectador para os pequenos gestos e movimentos que diariamente cada um de nós efectua como se realmente de uma dança se tratasse, com a precisão cronometrada de uma peça já ensaiada, não será menos correcto afirmar que esta história se prende com algo mais profundo.
A questão que realmente deveremos colocar ao assistir a esta curta-metragem prende-se sim com esse ritual diário mas, ao mesmo tempo, o que acontece quando um elemento exterior - aqui na pele de uma outra personagem - interfere na coreografia já delineada ao transferir os seus próprios hábitos e movimentos para uma peça já tida como garantida. Ou seja, quão permeável é o ritual que "Ele" tem ao ponto de se deixar influenciar por "Ela" com quem agora parece estabelecer uma ligação - ou relação. Assim, se é justo questionar a referida dança que cada um de nós faz sózinho a um ritmo diário, não é menos verdade constatar que a mesma se transforma quando tida a dois cedendo, cada um, um pouco do seu espaço para que este novo elemento se apodere um pouco do espaço do "palco" - que mais não é do que a vida.
Mas ainda mais importante é a última questão de Arriaga nos deixa no final ao questionar-se (-nos) sobre o que acontece quando as pequenas adaptações se transformam em grandes problemas, sobre a forma como estes podem ser ultrapassados e acima de tudo o que fazer para que a reconciliação seja uma confirmação para que a dança - e o caminho - sejam feitos a dois.
Simpática pela sua mensagem e pela engenhosa e inovadora forma como é dirigida onde os actores mais não são do que mãos que compõem movimentos, El Baile recria sem uso directo de actores, uma relação a dois... o seu início, a sua adaptação e o seu ponto ideal onde duas pessoas podem pensar em constituir-se como uma potencial família.
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7 / 10
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Marioneta Ciega (2013)

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Marioneta Ciega de Jaime Fidalgo é uma curta-metragem de ficção de produção mexiano-espanhola e que leva o espectador para uma viagem a uma mente atormentada por um crime do passado.
Tommy (Tomás Pozzi) é um marionetista depressivo e por vezes até maníaco que já no extremo das suas capacidades actua pelas ruas da cidade como forma de expiar os seus tormentos. Por detrás de uma profissão que fará - em princípio - rir os demais, Tommy esconde um terrível passado ensombrado por um segredo que o condiciona.
Conseguirá ele dominar as memórias que o atormentam ou, por sua vez, irá ele ceder ao monstro que tem dentro de si?
Por vezes em narração ou entrevista directa quase documental, por vezes como uma encenação de um passado e presente traumático, o argumento de Marioneta Ciega da autoria do realizador Jaime Fidalgo, Paco Martínez e Tomás Pozzi confere ao espectador uma interessante experiência e descida aos infernos de uma mente perturbada não só pela sua própria decadência como principalmente pelos actos bárbaros cometidos na sua espiral descendente. Com um constante medo presente em todos os seus actos e acções, "Tommy" é um homem perdido na memória de um passado rico em afecto mas que devido aos seus próprios demónios e excessos lançou num rumo de perdição do qual alguma vez conseguiria sair.
No seio de uma vida de alcoól e alguns problemas mentais e de afirmação, "Tommy" apenas conseguiria afirmar-se pela libertação do animal que tinha dentro de si. Os afectos e os laços estabelecidos com aqueles (aquela) com quem de mais perto vivia e estabelecia o seu porto seguro ruíam sempre que se aproximava de alcoól. Ao libertar o tal monstro desconhecido do qual tanto se refere, "Tommy" dava lugar ao irracional, à violência e à brutalidade de um ser que aparentava não existir. É então que num breve mas violento momento condena não só a sua sanidade como a segurança da mulher que lhe trazia conforto numa experiência traumática para ela e reveladora da sua verdadeira essência.
Marioneta Ciega vive num constante recriar de um espírito carnavalesco, feirante ou até mesmo burlesco. No seio de artistas de rua sempre tão místicos como exagerados, esta curta-metragem dá lugar ao tal "outro eu" presente dentro de cada um destes seres que semeiam os sorrisos mas vivem dentro de uma psique desconhecida e instável - brilhante a inserção de um actor tão característico como é Javier Botet como um "Peter Pan" não tão simpático quanto aparenta mas sim uma mente igualmente alheada e que testa - e tenta - o lado escuro dos demais.
Grande a interpretação de Tomás Pozzi que desde o primeiro instante revela o corpo e alma de uma mente atormentada e perdida nos seus pensamentos e pecados, assim como grande é a direcção de fotografia de Jorge Delgado e Lucas Romeo que juntamente como a direcção de arte de Deborah Deneo, David Bermejo, Enma Domínguez e Diego Duarte recriam as luzes, as cores e o espírito de um ambiente circense sem esquecer, no entanto, todo o lado negro que se apodera de um conjunto de almas que aparentam estar perdidas nos seus próprios pecados.
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8 / 10
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terça-feira, 16 de junho de 2015

10 Sombras Douradas (2015)

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10 Sombras Douradas de Duarte Oliveira é uma média-metragem portuguesa de ficção numa adaptação livre de Ten Little Indians, de Agatha Christie.
Dez amigos são convidados para uma festa mistério na sua antiga escola tendo como única condição o uso de uma máscara para aquando da sua chegada. Uma vez iniciado o jantar de confraternização, recebem algumas mensagens indo um por um caindo às mãos de um misterioso assassino.
Ainda que o jovem realizador tente construir um filme com uma premissa suficientemente interessante para a construção de uma história de mistério e suspense, na verdade 10 Sombras Douradas encontra-se a milhas de uma qualidade aceitável para a história que se propõe recriar. No entanto, comecemos pelo seu lado positivo... Todo o segmento inicial das filmagens aéreas - feitas pelo realizador ou obtidas por outros meios - revelam uma qualidade muito interessante e apelativa para conseguir prender o espectador logo nos instante iniciais. No entanto, à medida que 10 Sombras Douradas ganha a sua própria "vida", percebemos que a qualidade ficou, também ela, pelos referidos instantes iniciais.
Se o espectador conseguir esquecer todo aquela instabilidade que a "câmara na mão" tráz à dinamização do filme mas que podem facilmente ser justificados pelos poucos recursos que o realizador eventualmente tenha, não é menos verdade que somos incapazes de esquecer o extremamente frágil e pouco livre argumento que nos remete para uma cópia "barata" da referida obra de Agatha Christie não tendo qualquer rumo próprio que se distancie da mesma ou conseguindo afirmar-se ou à sua originalidade. Mas, comecemos...
Após o simpático momento inicial onde o espectador é levado a uma interessante viagem pelo espaço geográfico e ao som de uma interessante banda-sonora - não original mas bem pensado há que dizê-lo - 10 Sombras Douradas apenas sobrevive com momentos pouco trabalhados de um argumento pobremente representado. Esqueçamos que estamos perante uma obra amadora onde todos os intervenientes não terão - em princípio - qualquer tipo de formação na área mas, na prática, uma boa parte do texto parece estar a ser lido à medida que é representado, sem qualquer espontaneidade ou descontracção.
Os erros interpretativos tidos em certos casos como extensões do argumento prendem-se com momentos como por exemplo aquando da primeira morte um dos intervenientes diz "ela não está a respirar"... Ora... se supostamente levou um tiro na cabeça estranho seria se respirasse... Se a isto juntarmos o facto da captação de som ser extremamente débil tendo por diversas ocasiões lábios que mexem e som que chega depois... passamos de uma história de mistério a uma que obrigatoriamente começa a fazer (sor)rir.
Existem ainda os cómicos de situação... Jovens (muito jovens) actores a interpretar adultos bem sucedidos e com carreiras empresariais e diplomáticas de sucesso que vestem Armani e afins ou até mesmo mulheres (jovens raparigas) que defendem a moral e bons costumes em ruas de prostituição com o único intuito de assassinar aquelas que "fazem pela vida". "Less is more" é um conselho sempre presente para um realizador em início de "carreira"... e quando os meios são poucos é preferível apresentar uma história, que mesmo tendo como inspiração um dos mais interessantes e intensos contos de suspense e mistério, se apresente como algo original e bem executado... algo que aqui não consegue ser.
Depois temos ainda as falhas técnicas que prejudicam a obra na sua credibilidade nomeadamente a captação de som que torna muitos dos diálogos imperceptíveis ou mesmo a caracterização que aquando do esfaqueado... se percebe o saco de "sangue" dentro do bolso da sua camisa. E finalmente o espectador pergunta-se... para quê a máscara com que todos chegam inicialmente se, na prática, ela é imediatamente removido revelando a identidade de todos? Não deveria estar ser mantida durante algum tempo? (pelo menos mais do que aquele que é!).
10 Sombras Douradas não diverte, não entretém ou tão pouco se afirma como uma média-metragem com algum detalhe de qualidade firmada. No entanto, e em defesa do jovem realizador há que dar-lhe os parabéns pela iniciativa, pelo espaço em que filmou que denota potencial para uma história do género (que é como quem diz parabéns pelos meios reunidos e pelos apoios que possa ter conseguido), bem como pela vontade de criar que teve neste filme o seu objecto de estudo... que se espera ser aperfeiçoado para um futuro novo trabalho.
Ainda como nota pessoal... parabéns pelos bloopers finais que conseguiram ser de qualidade bem superior ao resultado final de 10 Sombras Douradas conferindo alguma comédia a alguns momentos que supostamente seriam sérios mas que na realidade não passaram de aborrecidos.
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1 / 10
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Globo d'Oro Itália 2015: os vencedores

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Grande Prémio da Imprensa Estrangeira: Torneranno i Prati, de Ermanno Olmi
Filme: Il Giovane Favoloso, de Mario Martone
Comédia: Noi e la Giulia, de Edoardo Leo
Primeira Obra: Vergine Giurata, de Laura Bispuri
Documentário: Rondi, la Vita, il Cinema e la Passione, de Giorgio Treves
Curta-Metragem: 2 Piedi Sinistri, de Isabella Salvetti
Actor: Luca Zingaretti, Perez
Actriz: Alba Rohrwacher, Hungry Hearts
Argumento: Il Racconto dei Racconti, Edoardo Albinati, Ugo Chiti, Matteo Garrone e Massimo Gaudioso
Fotografia: La Giovinezza, Luca Bigazzi
Música: Latin Lover, Andrea Farri
Carreira: Dante Ferreti
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segunda-feira, 15 de junho de 2015

O Mundo Cai aos Bocados e Ainda Assim as Pessoas Apaixonam-se (2014)

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O Mundo Cai aos Bocados e Ainda Assim as Pessoas Apaixonam-se de Henrique Pina é uma curta-metragem portuguesa de ficção que conta com as interpretações de Albano Jerónimo, Joana Solnado, António Victorino d'Almeida e José Wallenstein.
Ele (Albano Jerónimo) é um assassino profissional. Ela (Joana Solnado) é casada com Bebé (António Victorino d'Almeida), um dos mafiosos mais poderosos do país. Ambos procuram uma forma de deixaram a vida que até então têm seguido. Conseguirão eles fugir de uma vida que os persegue?
Francisco Baptista escreveu o argumento desta curta-metragem dando-lhe um ambiente que vive num limbo, ou seja, tão depressa o espectador se acha num espaço negro que está prestes a explodir de violência como, de seguida, sente ter acabado de entrar num qualquer espaço pacífico onde nada de terrível pode acontecer. Dito isto, aquilo que mais sobressai das histórias que se interligam a certa altura reside na sensação de escape e consequente esperança que se percebe nos intuitos de cada uma das referidas personagens. Se por um lado "Ele" é um homem marcado por uma vida em que a morte sempre esteve à sua volta, não é menos verdade que Albano Jerónimo lhe confere uma aparente humanidade que deseja fervorosamente sair daquele estilo de vida e da convivência com aquelas pessoas que em nada abonam à sua integridade. É quando se vê no seio de um final de vida - eventualmente o seu - que finalmente percebe ter chegado o fim. Ao mesmo tempo, temos "Ela", a mulher de um perigoso mafioso, interpretada por Joana Solnado que deseja desesperadamente um novo começo de vida... a maternidade... talvez um amor. Mas a sua liberdade tem um custo que terminará com o mesmo pagamento.
As segundas oportunidades são difíceis... para alguns até impossíveis pressupõe este argumento de Francisco Baptista. Impossíveis porque toda a sua vida esteve dependente de uma existência alternativa onde muitos foram os contratos e cedências efectuados em nome de um estilo de vida diferente... sem problemas, excepto os morais. A liberdade, quando desejada, é aqui um bem difícil de alcançar. Ela é comprometedora e pressupõe que muitas são as pontas soltas e traições que se imaginam. Muitos são os contratos que são colocados em causa e que fazem renascer o medo das traições ou das chantagens. No fundo, a liberdade é um bem precioso demais do qual algures no tempo se abdicou sem contrapartidas e que agora não se recupera.
Ainda que todas estas premissas funcionem na sua forma mais básica, O Mundo Cai aos Bocados e Ainda Assim as Pessoas Apaixonam-se é uma daquelas curtas-metragens que pelo seu argumento merecia ter ido mais longe e explorar mais o lado negro da cidade, das suas pessoas e dos seus ambientes. Filmar o "outro lado" da cidade, aquele que poucos conhecem e a maioria prefere nem sequer pensar que existe. O lado escuro... o lado ilegal... e o lado perigoso. Ainda que qualquer um de nós simpatize com a figura de António Victorino d'Almeida, é quase impossível olhar para o maestro e pensar nele enquanto um mestre do crime... um vilão. A sua personagem deveria ter ido ao limite e ultrapassá-lo... deveria ter sido mais negro... menos disponível e acentuadamente mais presente.
Jerónimo e Solnado denotam alguma química que, também ela, não tem a sua devida exploração e confirmação (ou não), conferindo apenas uma ligação que pouco mais existe que para além da conveniência - há que ver para perceber - e o espectador fica com um certo amargo de boca por não conseguir confirmar algumas ligações e fundamentos destas personagens.
Um apontamento positivo ainda para a direcção de fotografia de António Lima e Paulo Segadães que captam a luz e as sombras em doses iguais conseguindo separa os dois segmentos do filme... aquele que se prende com o lado negro e aquele no qual se espera por uma redenção e oportunidade.
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7 / 10
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Cavalo Dinheiro premiado em Espanha

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O filme Cavalo Dinheiro, de Pedro Costa, saiu vencedor do Prémio Especial do Júri da primeira edição do FILMADRID - Festival Internacional de Cine de Madrid.
O FILMADRID nasceu "com a determinação de descobrir caminhos inéditos e movediços dentro da paisagem cinematográfica contemporânea, promovendo e exibindo um cinema de marcado carácter autoral" proporcionando "uma maior cultura cinéfila aos madrilenos".
De destacar que a obra de Pedro Costa iniciou o seu percurso no Festival Internacional de Cinema de Locarno onde recebeu - entre outros - o Prémio de Melhor Realizador.
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Palmarés
Melhor Filme da Competição Oficial: Belluscone. Una Storia Siciliana, de Franco Maresco (Italia)
Prémio Especial do Júri - 1ª edición #FILMADRID: Cavalo Dinheiro, de Pedro Costa (Portugal)
Melhor Filme - Prémio Vanguardias: Resistfilm, de Pablo Marín (Argentina)
Menção Especial Competição Vanguardias: The Last Mango Before the Monsoon, de Payal Kapadia (Índia)
Melhor Filme - Prémio Júri Jovem: Things of the Aimless Wanderer, de Kivu Ruhorahoza (Ruanda/Reino Unido)
Melhor Filme - Prémio Júri CAMIRA: The Reaper, de Zvonimir Juric (Croácia/Eslovénia)
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Jameson Notodo FilmFest 2015: os vencedores

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Prémio Jameson Melhor Filme de Triple Destilación: Algunos Hombres Siguen Sin Aclararse, de Claudia Loring Rude e Víctor Nanclares
Prémio Paramount Melhor Remake: Mamen, de Mario Martínez Duque
Prémio LG Melhor Curta Gravada com Telemóvel: El Palo, de Miki Esparbé
Prémio Latinoamérica en Corto: El Teorema de la Salchicha, de Samuel Chalela Puccini e Fidel Alfonso Barboza Gómez (Colômbia)
Prémio Canal + #ABUSADETUIMAGINACIÓN: Tu Viejo, de Pablo Vara
Prémio ECAM Melhor Realizador: 5 Segundos, de David González Rudiez
Prémio Melhor Argumento: Show Cooking, de Juan Cavestany
Prémio TVE Cámara Abierta 2.0 Melhor Documentário: Ártico Extremo, de Jorge Juárez López
Prémio Melhor Filme de Animação: La Merienda, de Armando Jiménez Rodríguez
Prémio Público de EL PAÍS: Para Sonia, de Sergio Milán
Prémio IED Melhor Direcção Artística:
Ana Rodríguez, BlaBlaBla
Prémio Melhor Actor: Luis Zahera, El Club de los 27
Prémio Melhor Actriz: Beatriz Arjona, Los Pies Fríos
Prémio Talento Visual: Eat My Shit, de Eduardo Casanova
Prémio Melhor Som: Julio Revilla e Miguel Torres, BlaBlaBla
Prémio de Distribuição: BlaBlaBla, de Alexis Morante Portillo, Hostiable, de David Galán Galindo, Uno+Uno, de Juanca Vellido e Eva Moreno e El Club de los 27, de Carlos Solano
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domingo, 14 de junho de 2015

FIKE - Festival Internacional de Curtas-Metragens de Évora 2015: os vencedores

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Prémio FIKE Melhor Ficção: ФЕВРАЛЬ, de Ruslan Magomadov (Rússia)
Prémio FIKE Documentário - Troféu FIKE / Estação Imagem: Formalin und Spiritus, de Iris Fegerl (Alemanha)
Menção Especial Documentário: Noz w Wozie, de Vita Drygas (Polónia)
Prémio FIKE Melhor Animação: Fuligem, de David Doutel e Vasco Sá (Portugal)
Menção Especial Animação: Padre, de Santiago Bou Grasso (Argentina)
Prémio Direção Reginal de Cultura do Alentejo para o Melhor Filme Português: Fuligem, de David Doutel e Vasco Sá (Portugal)
Prémio Comendador Rui Nabeiro para a Melhor Curta-Metragem Europeia: Anomalo, de Aitor Gutierrez (Espanha)
Prémio FIKE Melhor Argumento: Tormenta de Verano, Florencia Román (Argentina)
Prémio FIKE Melhor Fotografia: Soroa, Gaizka Bourgeaud (Espanha)
Menção Especial Fotografia: ФЕВРАЛЬ, de Ruslan Magomadov (Rússia)
Prémio FIKE Melhor Representação: Dominique Pinon, Ferdinand Knapp
Menção Especial Melhor Representação: Nicholas Denton, Rabbit
Prémio do Público: Conte de Fées à l'Usage des Moyennes Personnes, de Chloé Mazlo (França)
Prémio da Organização: Cinema, de Rodrigo Areias (Portugal)
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sexta-feira, 12 de junho de 2015

David di Donatello 2015: os vencedores

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Filme: Anime Nere, de Francesco Munzi
David Giovani: Noi e la Giulia, de Edoardo Leo
Documentário: Belluscone. Una Storia Siciliana, de Franco Maresco
Curta-Metragem: Thriller, de Giuseppe Marco Albano
Filme Europeu: The Theory of Everything, de James Marsh (Reino Unido)
Filme Estrangeiro: Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), de Alejandro González Iñárritu (EUA)
Produtor: Anime Nere, Cinemaundici e Babe Films, com Rai Cinema
Realizador: Francesco Munzi, Anime Nere
Realizador Revelação: Edoardo Falcone, Se Dio Vuole
Actor Protagonista: Elio Germano, Il Giovane Favoloso
Actriz Protagonista: Margherita Buy, Mia Madre
Actor Secundário: Carlo Buccirosso, Noi e la Giulia
Actriz Secundária: Giulia Lazzarini, Mia Madre
Argumento: Anime Nere, Maurizio Braucci, Francesco Munzi e Fabrizio Ruggirello
Montagem: Anime Nere, Cristiano Travaglioli
Fotografia: Anime Nere, Vladan Radovic
Música Original: Anime Nere, Giuliano Taviani
Canção Original: "Anime Nere", de Anime Nere, por M. de Lorenzo (intérprete) e Giuliano Taviani (letra e música)
Som: Anime Nere, Stefano Campus
Direcção de Produção: Il Giovane Favoloso, Giancarlo Muselli
Guarda-Roupa: Il Giovane Favoloso, Ursula Patzak
Caracterização: Il Giovane Favoloso, Maurizio Silvi
Design de Cabelo: Il Giovane Favoloso, Aldo Signoretti e Alberta Giuliani
Efeitos Especiais Digitais: Il Ragazzo Invisibile, Visualogie
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Globo d'Oro 2015: os nomeados

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Melhor Filme
Anime Nere, de Francesco Munzi
Fango e Gloria, de Leonardo Tiberi
Il Giovane Favoloso, de Mario Martone
Mia Madre, de Nanni Moretti
Il Racconto dei Racconti, de Matteo Garrone
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Melhor Comédia
Arance e Martello, de Diego Bianchi
Buoni a Nulla, de Gianni Di Gregorio
Il Nome del Figlio, de Francesca Archibugi
Latin Lover, de Cristina Comencini
Noi e la Giulia, de Edoardo Leo
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Melhor Primeira Obra
Arance e Martello, de Diego Bianchi
Cloro, de Lamberto Sanfelice
La Terra dei Santi, de Fernando Muraca
N-Capace, de Eleonora Danco
Vergine Giurata, de Laura Bispuri
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Melhor Documentário
Il Diario di Feliz, de Emiliano Mancuso
Musica Valida per l'Espatrio, de Francesco Cordio
Rada, de Alessandro Abba Legnazzi
Rondi, Vita, Cinema e Passione, de Giorgio Treves
Triangle, de Costanza Quatriglio
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Melhor Curta-Metragem
Articolo 4, de Paolo Zaffaina, Alberto Guariento e Matteo Manzi
Due Piedi Sinistri, de Isabella Salvetti
L'Impresa, de Davide Labanti
Sugar Plum Fairy, de Marco Renda
A Vuoto, de Adriano Giotti
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Melhor Actor
Diego Bianchi, Arance e Martello
Gianni Di Gregorio, Buoni a Nulla
Fabrizio Ferracane, Anime Nere
Francesco Scianna, Latin Lover
Luca Zingaretti, Perez
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Melhor Actriz
Margherita Buy, Mia Madre
Virna Lisi, Latin Lover
Michaela Ramazzotti, Il Nome del Figlio
Alba Rohrwacher, Hungry Hearts
Sara Serraiocco, Cloro
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Melhor Argumento
Anime Nere, Francesco Munzi, Fabrizio Ruggirello e Maurizio Braucci
Il Giovane Favoloso, Mario Martone e Ippolita Di Majo
Il Racconto dei Racconti, Matteo Garrone, Edoardo Albinati, Ugo Chiti e Massimo Gaudioso
La Giovinezza, Paolo Sorrentino
Mia Madre, Nanni Moretti, Francesco Piccolo e Valia Santelli
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Melhor Fotografia
Arance e Martello, Roberto Forza
Il Giovane Favoloso, Renato Berta
La Giovinezza, Luca Bigazzi
Maraviglioso Boccaccio, Simone Zampagni
Perez, Ferran Paredes
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Melhor Música
Io sto con la Sposa, Diso Logoi
La Buca, Pino Donaggio
Latin Lover, Andrea Farri
Perez, Riccardo Ceres
Take Five, Giordano Corapi
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quinta-feira, 11 de junho de 2015

Ornette Coleman

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1930 - 2015
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The Crow: City of Angels (1996)

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O Corvo - Cidade dos Anjos de Tim Pope é uma longa-metragem norte-americana sequela de The Crow (1994), de Alex Proyas que não ressuscita a personagem "Eric Draven" interpretada por Brandon Lee mas dá sim corpo a "Ashe Corven" (Vincent Perez), mais uma vítima da violência de uma Los Angeles futurista e degradada onde reina o crime.
Tempos depois de Ashe e o seu filho terem sido selvaticamente assassinados por um gang do submundo da droga, este ressuscita para vingar a morte do seu filho e limpar as ruas de uma cidade que há muito encontrou a sua perdição.
Primeira, e única à data, longa-metragem de ficção de Tim Pope, este The Crow: City of Angels faz jus àquilo pelo qual o realizador mais tem destacado a sua carreira... os videoclips. Esqueçamos por momentos a dificuldade que é dirigir uma sequela de um filme de culto como o foi The Crow e concentre-se o espectador naquilo que assiste nesta longa de Tim Pope. Aquilo que aqui é entregue e com alguns apontamentos positivos no que ao aspecto técnico diz respeito, é um elaborado videoclip cujo cenário é brilhantemente apimentado com ideias e transformações quase pós-apocalípticas deixando para trás o tal cenário de uma cidade devastada pela violência que poderia, muito facilmente, ser o resultado de uma sociedade perdida e destruída por algo maior que não é mencionado.
Em The Crow: City of Angels temos uma cidade completamente dominada pela escuridão, pela noite, pela violência, pela marginalidade, droga, homicídios e gangs que controlam os passos e a existência de todos aqueles que por ali ousam permanecer. Temos os ocasionais criminosos e aqueles que, mais organizados, impõe as regras e as leis, e uma total ausência de existências ditas normais até que chega o nosso protagonista "Ashe Corven" que metido nos seus próprios assuntos - se é que alguns - se vê involuntariamente envolvido num acontecimento que lhe irá provocar - e ao seu filho - o trágico destino de uma morte antes de tempo.
No seio desta cidade alternativa e que não dá sinais de outra existência que não a da perdição, The Crow: City of Angels tenta revitalizar o espírito do seu predecessor de 1994 e criar a tal dinâmica de que o "corvo" - personagem central mas quase ignorada, não fossem as suas breves aparições e era perfeitamente secundado - procura as vítimas injustiçadas de uma cidade que não dorme e não perdoa. No entanto, e sem qualquer dinamismo, o realizador falha na construção das personagens envolvidas removendo-lhes qualquer sentido ou carisma que Brandon Lee ou Michael Wincott haviam conferido anos antes aos seus "alter-egos" cinematográficos - e que bem que vão - tendo os mesmos contribuído e muito para o já mencionado estatuto de "culto" que esta obra adquiriu (não exclusivamente claro está, pois o trágico desaparecimento de Brandon Lee isso consolidou).
Assim o que pode o espectador esperar de The Crow: City of Angels? Na realidade... pouco! Temos a tal construção de uma cidade "perdida" bem executada... o retrato de um mundo do crime interessante mas que, bem visto, acaba por ser suficientemente forçado para que não se sinta o ar tenebroso que aparenta querer fazer chegar ao espectador mas, com tudo isto, temos sim aquele ambiente de "videoclip" bem executado e, com uma música bem escolhida... eventualmente até estaríamos perante um intenso e bem elaborado videoclip que poderia, inclusive, servir de referência para o género. Fora isso, temos uma pobre tentativa de fazer subir a fasquia para igualar a obra de Proyas e um conjunto de desempenhos que ficam muito longe do melhor de Vincent Perez - sem grande dinamismo ou entrega ao seu "Ashe" - um Iggy Pop que quase arriscaria dizer... igual a si mesmo, ou até Thomas Jane aqui quase como um pobre figurante de uma obra que... pouco tem ou guarda a seu favor.
Repleta de lugares comuns sobre a marginalidade e o tal "submundo" do crime organizado, sobre o que é ser "alternativo" ou com um rumo próprio, The Crow: City of Angels permanece, no entanto, com um ponto positivo pela sua direcção de fotografia a cargo de Jean-Yves Escoffier que capta o essencial de uma cidade tenebrosa e perdida nessa mesma escuridão, que serve como um potencial passatempo para o espectador desejoso de não perder muito do seu tempo a pensar nas dinâmicas desta história ou então para os assumidos fãs desta saga que, no entanto, não irão ter uma longa-metragem tão coerente como aquela tida com a de Alex Proyas.
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3 / 10
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Shortcutz Viseu - Sessão #55

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O Shortcutz Viseu está de volta para a sua Sessão #55 com mais duas Curtas-Metragens em Competição sendo elas 2000 Pés, de Bruno Nacarato e ainda Margem, de Miguel Pereira sendo que esta sessão conta com a presença dos dois realizadores que irão apresentar os seus filmes ao público presente.
Finalmente no segmento de Curta-Metragem Convidada será exibido o filme curto Memórias de um Filme, de Tiago Resende que também estará presente nesta sessão.
Assim amanhã a partir das 22 horas será uma vez mais o Museu Grão Vasco a sede para uma noite de muito bom cinema em formato curto.
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Denali (2015)

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Denali de Ben Moon é uma curta-metragem documental norte-americana realizada com base não só em fotografias como em vídeos que documentam a relação de amizade entre o realizador e o seu falecido cão Denali, e tudo a partir da perspectiva deste último.
Desde os momentos passados na praia passando pela doença oncológica de Ben na qual Denali revela o medo que sentiu pela solidão que poderia atravessar, uma constante nesta curta-metragem é a inquestionável dedicação entre ambos que transcende as barreiras Homem vs. Animal e faz dos dois um único elemento. Denali não é apenas o "cão" da casa mas sim um elemento participativo da família que constitui com Ben. Um par... uma dupla que atravessam as mais diversas aventuras - que apenas poderemos imaginar - e que terminam com o desaparecimento - apenas físico - de Denali.
No final uma mensagem... O Homem tem muito a aprender com o seu mais fiel amigo, principalmente a sua extrema capacidade de amar e dedicar-se àquele com quem vive e pelo qual consegue expressar as mais sentidas mensagens de amor e de dedicação... um afecto extremo e incondicional. Tal como a certa altura se refere "quando alguém que amas entra pela porta, mesmo que aconteça cinco vezes ao dia, deves ficar completamente louco de alegria"... é assim que este mais fiel amigo - o de Ben e, de certa forma, o de qualquer um de nós - nos recebe, e ao qual devemos a nossa mais sentida e sincera amizade.
Um documentário invulgar narrado na perspectiva não do "homem" mas sim do "animal" que não comunicando verbalmente tem através destas palavras em sete breves minutos a sua mais fiel e íntima interpretação. Denali é uma curta-metragem que nesses minutos tanto transmite e uma daquelas que não devemos perder.
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"When someone you love walks through the door, even if it happens five times a day, you should go totally insane with joy."
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9 / 10
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quarta-feira, 10 de junho de 2015

Robert Chartoff

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1933 - 2015
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Festival Ibérico de Cinema de Badajoz 2015: selecção oficial

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Selecção Oficial
40 Aniversario, de J. Enrique Sánchez (Espanha)
El Abrazo, de Iñaki Sánchez (Espanha)
Bloquejats Apilats, de Marc Riba e Anna Solanas (Espanha)
Boa Noite Cinderela, de Carlos Conceição (Portugal)
O Canto dos 4 Caminhos, de Nuno Amorim (Portugal)
Cuentas y Cuentos, de Sergio Prado (Espanha)
The Dream Player, de Curro Royo (Espanha)
Fortunato - d'Aqui até São Torcato, de João Rodrigues (Portugal)
Fuligem, de David Doutel e Vasco Sá (Portugal)
Hostiable, de David Galán (Espanha)
Los Huesos del Frío, de Enrique Leal (Espanha)
Inquilinos, de Jaume Balagueró (Espanha)
Interior. Familia, de Esteve Soler (Espanha)
Line-Up, de Alex Juliá (Espanha)
Miami, de Simão Cayatte (Portugal)
Sailor’s Grave, de Direccão Colectiva (Espanha)
Videoclube, de Ana Almeida (Portugal)
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Secção Curtas-Metragens da Extremadura
Amigas Íntimas, de Irene Cardona
Cefalea, de María Sánchez Testón
Podredumbres, de Juan Carlos Guerra
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terça-feira, 9 de junho de 2015

Maman (2013)

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Maman de Ugo Bienvenu e Kevin Manach é uma curta-metragem de animação francesa que leva o espectador ao interior de uma casa onde co-habitam pai, mãe e filho.
Por entre aquelas quatro paredes reina o silêncio. O silêncio de um desespero que os consome lentamente e de cuja comparação imediata serve o vapor que sai daquela panela ao lume.
A casa - como uma "máquina" - reduz-se à interacção necessária para poder funcionar diariamente de forma regular, evitando toda e qualquer outra forma de comunicação lançando todos os seus mecanismos - a família - para um estado de isolamento num espaço confinado. A "loucura" que aos poucos deles se apodera define, ao mesmo tempo, o espaço pertencente a cada um deles - ou pelo menos aquele onde melhor se sentem - afastando-os individualmente de uma notada tensa convivência. Num nervosismo constante, o espectador apenas se questiona para quando o momento que tudo irá fazer destronar.
Ainda que interessante pela construção da dinâmica - ou sua ausência - familiar, Maman é um retrato da mesma que necessitava de uma maior exploração dando a conhecer os antecedentes deste distanciamento - que apenas poderemos imaginar ou deduzir - e desenvolvendo os métodos e formas pelos quais cada um opta como forma de sentirem o seu "escape".
Forte pela forma como retrata a família, esta curta-metragem centra o seu nome numa personagem que divide o protagonismo com os demais delegando - (in)voluntariamente - as "suas" funções tidas como tradicionais, perdendo-se mutuamente com os outros elementos presentes - filho que dança às escondidas... pai que engoma em agonia... -, esquecendo que se é da "mãe" que pretende falar, a deixa sózinha numa cozinha que parece prestes a explodir.
Simpática - mas não memorável - Maman necessitava de um desenvolvimento superior àquele que lhe é conferido sendo, no entanto, um interessante relato sobre a "família" - mais ou menos moderna.
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6 / 10
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Nuno Melo

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1960 - 2015
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Spy (2015)

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Spy de Paul Feig é uma longa-metragem de ficção e o mais recente filme do realizador de Bridesmaids (2011), The Heat (2013) e do ainda por estrear Ghostbusters (2016).
Susan Cooper (Melissa McCarthy) é uma assistente administrativa na CIA e a directa auxiliar no terreno de Bradley Fine (Jude Law). Mas, quando Fine é morto por Rayna Boyanov (Rose Byrne), líder de um grupo mafioso búlgaro, Susan é directamente enviada enquanto infiltrada para uma missão de reconhecimento.
Quando todas as apostas jogam contra Susan, ela mostra-se uma inesperada mais valia para a agência revelando-se como uma experiente e astuta agente... com alguns enganos pelo caminho.
Depois de ter dado um dos desempenhos mais memoráveis de Bridesmaids a Melissa McCarthy, o realizador e argumentista Paul Feig decide retomar esta evidente química frente e por detrás das câmaras voltando a chamar a actriz para aqui se assumir como a protagonistas de Spy. Numa evidente homenagem aos filmes de espionagem - nomeadamente ao eterno espião James Bond bastando lembrarmo-nos dos créditos iniciais - mas tendo como "modelo" o mais improvável de todos os agentes Austin Powers, Feig dá a McCarthy a magnífica personagem de "Susan Cooper", uma mulher que se contentou com o lado menos brilhante e aventureiro da vida deixando-se levar pelos encantos do melhor agente infiltrado de todos os tempos.
McCarthy que se destacou como a simpática secundária "Sookie" na já ida série Gilmore Girls e que aos poucos tem vindo a afirmar-se no cinema tendo já conquistado uma nomeação ao Oscar no referido Bridesmaids, consegue com Spy transformar-se na mais recente esperada e merecida protagonista de comédia com uma interpretação espontânea, directa, cândida mas, ao mesmo tempo, forte e destemida nunca esquecendo uma origem simples que a diferencia de todo um mundo prestes a devorar aqueles que se sentem diferentes.
Fresco pela capacidade inventiva de fazer rir e internacional quanto baste para fazer dele o filme de espiões do momento - afinal, temos viagens que nos levam de Varna a Paris sem esquecer a eterna Roma - Spy prima ainda pelos magníficos secundários como o "Bradley Fine" de Jude Law, o espião demasiadamente concentrado na sua própria imagem, a "Rayna Boyanov" de Rose Byrne - outra actriz retirada de Bridesmaids - como a implacável dama do crime que afinal parece apenas necessitar de alguém que seja verdadeiramente seu amigo, o "Rick Ford" interpretado por um surpreendente Jason Statham que sem se afastar do seu registo de filme de acção consegue primar na comédia com uma inventiva e bem humorada personagem e finalmente a "Nancy Artingstall" de Miranda Hart, eventualmente a mais desconhecida dos actores principais, mas que consegue afirmar-se nos seus momentos.
Livre, bem disposto e com um conjunto de personagens que têm uma vida própria incapaz de ser travada, Spy é o filme que coloca Melissa McCarthy como a protagonista do momento. O espectador é incapaz de não criar uma imediata empatia com a sua "Susan Cooper" e esperar por todos os momentos hilariantes que sabemos nos ir entregar - sem esquecer aqueles onde, ao mesmo tempo, se assume como uma improvável actriz de acção ao estilo Matrix (sem exageros) - deixando uma assumida expectativa quanto à sua participação em Ghostbusters já no próximo ano.
Sendo um género tradicionalmente difícil não só pela falta de originalidade como principalmente pela falta de actores que consigam elevar o filme ao seu estatuto, Spy cai em boas mãos com o já referido (improvável) conjunto de actores e realizador/argumentista. Dos primeiros retira as características pelas quais são normalmente conhecidos - a faceta de galã de Law, a divertida e inocente McCarthy, o "acelera" Statham ou a pérfida Byrne - mas parodiando com as mesmas de forma a que todos eles se tornem um pouco mais humanos e próximos dos espectadores que os acompanham nos mais variados registos.
De entretenimento e divertimento fácil sem cair no absurdo, Spy é o tipo de filme do qual todos nós esperamos a sequela. E que ela seja tão boa como esta não caindo nos estereótipos ou lugares comuns que estão, tantas vezes, reservas às sagas que insistem em não terminar. McCarthy não irá ao Oscar pois este não é o tradicional filme que a Academia norte-americana tem por hábito premiar mas suspeito que pelo menos a (merecida) nomeação a Globo de Ouro em Comédia não lhe irá escapar.
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8 / 10
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