segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Shortcutz Viseu 2015: os nomeados

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Nomeados aos prémios anuais do Shortcutz Viseu:
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Melhor Curta-Metragem do Ano
Bicho, de Carlos Jesus e Miguel Munhá
Bodas de Papel, de Francisco Antunez
Boy, de Bruno Gascon
Cigano, de David Bonneville
Contactos 2.0, de Bernardo Gomes de Almeida e Rodrigo Duvens Pinto
Dédalo, de Jerónimo Ribeiro Rocha
Margem, de Miguel Pereira
Mulher. Mar., de Filipe Pinto e Pedro Pinto
Não são Favas, são Feijocas, de Tânia Dinis
Pela Boca Morre o Peixe, de João P. Nunes
O Reino, de Paulo Castilho
Salomé, de Sofia Bairrão
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Melhor Produção
Dédalo, Frederico Serra e Take It Easy
Longe do Éden, Rodrigo Areias e RIOT Films (Júlio Alves e Paulo Castilho)
Mulher. Mar., Pedro Medeiros e Um Segundo Filmes
Pela Boca Morre o Peixe, João P. Nunes
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Melhor Actor
Tiago Aldeia, Cigano
Duarte Grilo, Boy
Pedro Lamares, Dois Mil Pés
Fernando Luís, Terra 2084
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Melhor Actriz
Teresa Andrade, Mulher. Mar.
Daniela Love, Videoclube
Paula Neves, Sam Samurai
Joana de Verona, Bodas de Papel
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Melhor Realização
Francisco Antunez, Bodas de Papel
David Bonneville, Cigano
Bernardo Gomes de Almeida e Rodrigo Duvens Pinto, Contactos 2.0
Jerónimo Ribeiro Rocha, Dédalo
Filipe Pinto e Pedro Pinto, Mulher. Mar.
Luís Costa, Pena Fria
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Melhor Argumento
Cigano, David Bonneville e Diego Rocha
Margem, Miguel Pereira
 Mulher. Mar., Filipe Pinto e Pedro Pinto
Videoclube, Ana Almeida e José Pedro Lopes
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Melhor Montagem
Cigano, David Bonneville
Dédalo, Jerónimo Ribeiro Rocha
Mulher. Mar., Diogo Mando, Filipe Pinto e Pedro Pinto
Vida Tramada, Salvador Palma e Rui Rodrigues
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Melhor Fotografia
Cigano, Vasco Viana
Dois Mil Pés, Bruno Nacarato
Longe do Éden, Paulo Castilho
Vida Tramada, Nelson Guerreiro
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Melhor Som
Boy, Filipe Goulart
Cigano, Tiago Matos e Adriana Bolito
Contactos 2.0, Tiago Vicente (Soundframe)
Dédalo, Henrique Lima (Som de Lisboa)
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Melhor Cartaz
Boy
Dédalo
Pela Boca Morre o Peixe
Pena Fria
Ponto Morto
Por Aqui Nada de Novo
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Os vencedores serão conhecidos numa cerimónia a realizar no próximo dia 12 de Setembro pelas 16 horas, no Teatro Viriato, em Viseu.
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domingo, 30 de agosto de 2015

Wes Craven

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1939 - 2015
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Oliver Sacks

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1933 - 2015
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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Shortcutz Viseu - Sessão #58

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O Shortcutz Viseu está de volta ao Carmo'81 para a sua Sessão #58 que se iniciará com mais uma secção de Curtas-Metragens em Competição na qual serão exibidos os filmes curtos Deus Providenciará, de Luís Porto e Tu, de Luciano Sazo estando ambos os realizadores presentes na sessão para a apresentação dos seus filmes.
Finalmente a Sessão #58 termina com o segmento Shortcutz Around the World e com a exibição de Broken Basket, de Roberto Ruiz Cespedes (Espanha).
A sessão decorrerá no Carmo'81 na Rua do Carmo, em Viseu amanhã, sexta-feira, a partir das 22 horas.
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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Prémios Fénix 2015: participação portuguesa

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Foram hoje anunciados os filmes pré-seleccionados aos Prémios Fénix de Cinema Ibero-Americano onde, entre os quais, se encontram três obras portuguesas sendo elas As Mil e Uma Noites - Volume 1: O Inquieto, Volume 2; O Desolado e Volume 3: O Encantado, de Miguel Gomes - indo estrear o primeiro volume em Portugal já no final de Agosto -, bem como Cavalo Dinheiro, de Pedro Costa e ainda Visita ou Memórias e Confissões, a obra póstuma de Manoel de Olveira.
Os Prémios Fénix que se destinam a reconhecer e celebrar o trabalho daqueles que se dedicam ao cinema na América Latina e na Península Ibérica terão a sua segunda cerimónia a 25 de Novembro próximo no Teatro da Cidade do México, na capital daquele país.
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domingo, 16 de agosto de 2015

Grande Prémio do Cinema Brasileiro 2015: os nomeados

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Melhor Longa-Metragem de Ficção
Getúlio, de João Jardim. Produção: João Jardim e Carla Camurati por Copacabana Filmes
Hoje Eu Quero Voltar Sózinho, de Daniel Ribeiro. Produção: Daniel Ribeiro e Diana Almeida por Lacuna Filmes
O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra. Produção: Caio Gullane, Fabiano Gullane, Debora Ivanov e Gabriel Lacerda por Gullane e Rodrigo Castellar e Pablo Torrecillas por TC Filmes
Praia do Futuro, de Karim Aïnouz. Produção: Geórgia Costa Araújo por Coração da Selva
Tim Maia, de Mauro Lima. Produção: Rodrigo Teixeira por RT Features
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Melhor Longa-Metragem Comédia
Confissões de Adolescentes, de Daniel Filho e Cris D’amato. Produção: Daniel Filho por Lereby Produções Ltda
O Candidato Honesto, de Roberto Santucci. Produção: André Carreira por Camisa Listrada e Roberto Santucci por Panorama Filmes
Os Homens são de Marte… É Pra Lá que Eu Vou, de Marcus Baldini Produção: Bianca Villar, Fernando Fraiha e Karen Castanho por Biônica Filmes
Júlio Sumiu, de Roberto Berliner. Produção: Rodrigo Letier por TV Zero e Manfredo G. Barreto
S.O.S Mulheres ao Mar, de Cris D’Amato. Produção: Julio Uchôa por Ananã Produções
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Melhor Longa-Metragem Documentário
A Farra do Circo, de Roberto Berliner e Pedro Bronz. Produção: Rodrigo Letier e Roberto Berliner por TV Zero
Brincante, de Walter Carvalho. Produção: Caio Gullane, Fabiano Gullane e Debora Ivanov por Gullane
Dominguinhos, de Eduardo Nazarian, Joaquim Castro e Mariana Aydar. Produção: Deborah Osborn, Felipe Briso e Gilberto Topczewski por BigBonsai
Olho Nu, de Joel Pizzini. Produção: André Saddy e Paloma Rocha por Canal Brasil
Tim Lopes - História de Arcanjo, de Guilherme Azevedo. Produção: Emilio Gallo por Filmi di Luzzi e Guilherme Azevedo por Avexi Filmes
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Melhor Longa-Metragem de Animação
As Aventuras do Avião Vermelho, de Frederico Pinto e José Maia. Produção:Aletéia Selonk por Okna Produções, Camila Gonzatto  e Frederico Pinto por Armazém de Imagens.
O Menino e o Mundo, de Alê Abreu. Produção: Fernanda Carvalho e Tita Tessler por Filme de Papel
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Melhor Longa-Metragem Infantil
As Aventuras do Avião Vermelho, de Frederico Pinto e José Maia. Produção:Aletéia Selonk por Okna Produções, Camila Gonzatto  e Frederico Pinto por Armazém de Imagens.
O Menino e o Mundo, de Alê Abreu. Produção: Fernanda Carvalho e Tita Tessler por Filme de Papel
O Menino no Espelho, de Guilherme Fiúza Zenha.Produção: André Carreira por Camisa Listrada e Guilherme Fiúza Zenha por Solo Filmes
O Segredo dos Diamantes, de Helvécio Ratton Produção: Simone Magalhães Matos por Quimera Filmes
Os Caras de Pau em O Misterioso Roubo do Anel, de Felipe Joffily. Produção: Augusto Casé por Casé Filmes
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Melhor Curta-Metragem de Ficção
A Era de Ouro, de Leonardo Mouramateus e Miguel Antunes Ramos
Nua por Dentro do Couro, de Lucas Sá
O Caminhão do Meu Pai, de Maurício Osaki
O Filme de Carlinhos, de Henrique Filho
Voltando pra Casa, de Thiago Kistenmaker
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Melhor Curta-Metragem Documentário
Do Petróleo e do Cinema, de Artêmio Macedo
Efeito Casimiro, de Clarice Saliby
O Canto da Lona, de Thiago Mendonça
Se Essa Lua Fosse Minha, de Larissa Lewandoski
Sioma, O Papel da Fotografia, de Eneida Serrano e Karine Emerich
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Melhor Curta-Metragem de Animação
A Pequena Vendedora de Fósforo, de Kyoko Yamashita
Edifício Tatuapé Mahal, de Carolina Markowicz e Fernanda Salloum
Guida, de Rosana Urbes
Miroca e seu Cuco Caduco, de Diego Lopes
Viagem na Chuva, de Wesley Rodrigues
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Melhor Longa-Metragem Estrangeira
Boyhood, de Richard Linklater (EUA)
Dallas Buyers Club, de Jean-Marc Vallée (EUA)
The Grand Budapest Hotel, de Wes Anderson (EUA)
Relatos Selvajes, de Damiãn Szifrón (Argentina)
The Wolf of Wall Street, de Martin Scorsese (EUA)
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Melhor Realizador
Carolina Jabor, Boa Sorte
Fernando Coimbra, O Lobo Atrás da Porta
João Jardim, Getúlio
Karim Aïnouz, Praia do Futuro
Daniel Ribeiro, Hoje Eu Quero Voltar Sózinho
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Melhor Actor
Alexandre Borges, Getúlio
Babu Santana, Tim Maia
Matheus Nachtergaele, Trinta
Milhem Cortaz, O Lobo Atrás da Porta
Tony Ramos, Getúlio
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Melhor Actriz
Bianca Comparato, Irmã Dulce
Deborah Secco, Boa Sorte
Drica Moraes, Getúlio
Fabiula Nascimento, O Lobo Atrás da Porta
Leandra Leal, O Lobo Atrás da Porta
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Melhor Actor Secundário
Adriano Garib, Getúlio
Antônio Fagundes, Alemão
Babu Santana, Júlio Sumiu
Cauã Reymond, Tim Maia
Cauã Reymond, Alemão
Jesuíta Barbosa, Praia do Futuro
José Wilker, Isolados
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Melhor Actriz Secundária
Alice Braga, Os Amigos
Fabiula Nascimento, Não Páre na Pista: A Melhor História de Paulo Branco
Glória Pires, Irmã Dulce
Thalita Carauta, O Lobo Atrás da Porta
Zezé Polessa, Irmã Dulce
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Melhor Argumento Original
Alê Abreu, O Menino e o Mundo
Anna Muylaert e L. G. Bayão, Irmã Dulce
Daniel Ribeiro, Hoje Eu Quero Voltar Sózinho
Fernando Coimbra, O Lobo Atrás da Porta
George Moura, Getúlio
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Melhor Argumento Adaptado
Cristiano Abud, André Carreira e Guilherme Fiúza Zenha, O Menino no Espelho
Jorge Furtado e Pedro Furtado, Boa Sorte
Matheus Souza, Confissões de Adolescente
Mauro Lima e Antonia Pellegrino, Tim Maia
Susana Schild, Mão na Luva
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Melhor Fotografia
Adriano Goldman, Trash
Ali Olcay Gözkaya, Praia do Futuro
Gustavo Hadba, Irmã Dulce
Lula Carvalho, O Lobo Atrás da Porta
Walter Carvalho, Getúlio
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Melhor Montagem Ficção
Cristian Chinen, Hoje Eu Quero Voltar Sózinho
Isabela Monteiro de Castro, Praia do Futuro
Joana Ventura e Pedro Bronz, Getúlio
Karen Akerman, O Lobo Atrás da Porta
Sergio Mekler, Boa Sorte
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Melhor Montagem Documentário
Giba Assis Brasil, Mercado de Notícias
Joana Collier, Tim Lopes - História de Arcanjo
Joaquim Castro, Dominguinhos
Pablo Ribeiro, Brincante
Pedro Bronz, A Farra do Circo
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Melhor Direcção de Arte
Cláudio Amaral Peixoto, Tim Maia
Daniel Flaksman, Irmã Dulce
Daniel Flaksman, Trinta
Tiago Marques, Getúlio
Tiago Marques, O Lobo Atrás da Porta
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Melhor Guarda-Roupa
Camila Soares, Praia do Futuro
Cris Kangussu, Irmã Dulce
Kika Lopes, Trinta
Marcelo Pies, Getúlio
Reka Koves, Tim Maia
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Melhor Caracterização
André Anastácio, Alemão
Auri Mota, David Martí, Montse Ribé e Stephen Murphy, O Lobo Atrás da Porta
Auri Mota, Irmã Dulce
Lucila Robirosa, Tim Maia
Martín Macias Trujillo, Boa Sorte
Martín Macias Trujillo, Getúlio
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Melhores Efeitos Visuais
Adam Rowland, Trash
Cláudio Peralta, Rio, Eu te Amo
Guilherme Ramalho, Tim Maia
Robson Sartori, Irmã Dulce
Sérgio Farjalla e Robson Sartori, Alemão
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Melhor Som
Danilo Carvalho, Dirk Homann, Waldir Xavier e Matthias Schwab, Praia do Futuro
Felipe Schultz Mussel, Alessandro Laroca, Armando Torres Jr. e Eduardo Virmond Lima, Alemão
George Saldanha, François Wolf e Armando Torres Jr., Tim Maia
Pedro Melo, Alessandro Laroca e Branko Neskov, Getúlio
Vampiro e Ricardo Cutz, O Lobo Atrás da Porta
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Melhor Banda-Sonora
André Moraes, Copa de Elite
Berna Ceppas e Mauro Lima, Tim Maia
Lina Chamie, Os Amigos
Mariana Aydar, Eduardo Nazarian e Duani Martins, Dominguinhos
Roberto Berliner e Pedro Bronz, A Farra do Circo
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Melhor Banda-Sonora Original
André Abujamra, Trinta
Antonio Nóbrega, Brincante
Anyónio Pinto, Trash
Fabiano Krieger e Lucas Marcier, Irmã Dulce
Federico Jusid, Getúlio
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sábado, 15 de agosto de 2015

Bom Yeoreum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom (2003)

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Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera de Kim Ki-duk é uma longa-metragem de co-produção sul-coreana-germânica que levam o espectador a uma viagem ao interior de uma floresta na Coreia onde um mestre Budista educa moralmente uma jovem criança para que esta cresça com um sentido de compaixão superior ao da sociedade que "lá fora" se propaga com valores duvidosos para com a sua consciência.
Sem exposição para com o exterior, é já em adolescente que tem o primeiro contacto com outras pessoas e com uma jovem que permanece no mesmo templo flutuante em que ele se encontra e com ela, desenvolve os seus primeiros e únicos contactos sexuais que poderão colocar em risco todos os valores morais que até então lhe foram conferidos. Poderá e conseguirá ele resistir às provocações vindas do exterior mantendo a sua consciência contemplativa acima de uma sociedade que não conhece?
Dividido em cinco segmentos respeitando, cada um deles, um processo ou etapa no desenvolvimento humano e social de um indivíduo, o argumento da autoria do próprio realizador - e também actor desta longa-metragem - inicia o seu percurso com a Primavera de um jovem que, dividido na sua condição de aprendiz e criança, recebe os ensinamentos de um mestre dedicado ao mesmo tempo que os transgride dando corpo à irracionalidade de uma criança que experimenta e tenta viver pequenas descobertas de uma vida ainda não definida. Da segunda etapa, ou o Verão que finalmente chega, o espectador acompanha o despertar de um jovem adolescente para uma sexualidade até então apenas observada nas serpentes existentes na floresta vizinha do tempo flutuante em que vive, e que experimenta com uma jovem - a única que conhece - que com ele irá partilhar a mesma habitação.
Do Verão ao Outono no qual este jovem regressa ao templo que abandonara para perseguir o amor da sua vida numa sociedade desumana para a qual não estaria preparado. Da sociedade à marginalização da sua consciência e sentimentos adulterados para uma radicalização dos mesmos dando lugar ao lado "humano" que o seu mestre tanto pretendia moldar e a uma forçada detenção que chega depois de um crime hediondo, rapidamente Bom Yeoreum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom dá lugar à sua última etapa - ou estação - que com o Inverno vê este agora homem chegar e transformar-se num adulto que se quer redimir com o passado e formação que abandonara. A Primavera, tal como todos os ciclos, chega finalmente transformando-o agora no mestre que em tempos também ele tivera.
Tal como todos os ciclos e, no fundo, como o próprio ano, Bom Yeoreum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom dá corpo a uma tradição cíclica que o espectador presencia não só como o passar dos trezentos e sessenta e cinco (ou seis) dias físicos mas principalmente a transformação do Homem enquanto tal, ou seja, o seu crescimento não só físico como intelectual e emocional de criança ao homem que se transforma como resultado das experiências vividas e experimentadas. De criança em plena aprendizagem que não distingue o Bem do Mal que o rodeia - e principalmente daquele que o próprio pode provocar e proporcionar - ao adolescente que experimenta a (sua) sexualidade pela primeira vez terminando no homem que violentamente o consumou e por ele pagou enquanto um crime na sociedade em que, mais tarde, tentou viver.
Mas Bom Yeoreum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom é também um olhar aos elementos naturais que circundam e que espreitam o jovem monge sempre de muito perto. Da floresta que o abraça em todo o seu redor protegendo-o das ameaças que uma sociedade do outro lado está pronta para lhe impingir sem esquecer os pequenos elementos judaico-cristãos (num filme budista) que denotam o despertar da já referida sexualidade personificada pela presença constante de serpentes que copulam e (o) tentam a um prazer desconhecido e encarnado pela jovem que, já na sua adolescência, partilha a mesma casa e o mesmo espaço que ele. Elemento feminino este que, aliás, apenas surge com esta jovem (e breves momentos com a sua mãe), e dele está vedado nunca cruzando os olhares do espectador de forma tão explícita como aqui. Refira-se que a única outra vez em que surge uma mulher neste filme é quando o então já adulto monge volta ao templo flutuante para o próprio assumir funções de mentor de outra criança ali deixada por uma mãe não identificada e que por força dos elementos naturais também definha no mesmo lago congelado.
Elementar, contemplativo e uma pura reflexão sobre a moral, o sacrifício, a tentação e da forma como todos influenciam o crescimento e a formação de uma criança escudada da constante interacção das mesmas, Bom Yeoreum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom é um filme que demora a criar uma empatia com o espectador não habituado ao referido estilo de cinematografia, à demora evolução dos acontecimentos que, no entanto, se anunciam trágicos desde o primeiro instante e, sobretudo, pela forma como os avisos sobre os perigos que o rodeiam não surgirem da forma mais evidente. De pequenos apontamentos moralistas e filosóficos inerentes ao desfolhar de uma estação mais primaveril às duras consequências invernais de punição e sofrimento, Bom Yeoreum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom relata um ano, tal como uma vida, nas suas vertentes de ganho e sobretudo naquelas em que o Homem, tal como a vida, pagam pelos devaneios não planeados mas que suscitam duras consequências àqueles que os atravessam.
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6 / 10
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Festival Internacional de Cinema de Locarno 2015: os vencedores

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Selecção Oficial
Leopardo de Ouro: Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da, de Hon Sang-soo
Prémio Especial do Júri: Tikkun, de Avishai Sivan
Actor: Jung Jae-young, Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da
Actriz: Tanaka Sachie, Kikuchi Hazuki, Mihara Maiko e Kawamura Rira, Happy Hour
Realizador: Andrzej Zulawski, Cosmos
Menção Especial do Júri: Shai Goldman, Tikkun (fotografia)
Menção Especial do Júri: Hamaguchi Ryusuje, Tadashi Nohara e Tomoyuki Takahashi, Happy Hour (argumento)
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Concorso Cineasti del Presente
Leopardo de Ouro: Thithi, deRaam Reddy
Prémio Especial do Júri: Dead Slow Ahead, de Mauro Herce
Realizador Emergente: Bi Gan, Lu Bian Ye Can
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Primeiras-Obras
Prémio Swatch Primeira Obra: Thithi, de Raam Reddy
Prémio Swatch Art Peace Hotel: Ma Dar Behesht, de Sina Ataeian Dena
Menções Especiais: Lu Bian Ye Can, de Bi Gan e Kiev/Moscow. Part 1, de Elena Khoreva
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Pardi di DomaniSelecção Internacional
Pardino d’oro - Curta-Metragem - Prémio SRG SSR: Mama, de Davit Pirtskhalava
Pardino d’argento SRG SSR: La Impresión de una Guerra, de Camilo Restrepo
Prémio Pianifica - EFA: Fils du Loup, de Lola Quivoron
Prémio Film und Video Untertitelung: Mama, de Davit Pirtskhalava
Menção Especial: Nueva Vida, de Kiro Russo
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Selecção Nacional
Pardino d’oro - Curta-Metragem Suíça - Prémio Swiss Life: Le Barrage, de Samuel Grandchamp
Pardino d’argento Swiss Life: D'Ombres et d'Ailes, de Eleonora Marinoni e Elice Meng
Revelação Suíça: Les Monts s'Embrasent, de Laura Morales
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Prémio do Público UBS: Der Staat gegen Fritz Bauer, de Lars Kraume
Prémio Variety Piazza Grande: La Belle Saison, de Catherine Corsini
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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Baise-moi (2000)

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Baise-moi de Virginie Despentes e Coralie Trinh Thi é uma longa-metragem francesa que revela a história de Manu (Raffaëla Anderson) e Nadine (Karen Bach) que embarcam numa viagem por França depois da primeira ter sido violada e a última ter assistido ao assassinato de alguém que lhe era próximo. Rumo a uma auto-destruição e colisão com as normais sociais que, até então, cumpriram para a sua vivência em comunidade, Manu e Nadine entram numa espiral de decadência e violência para com todos os homens da sociedade.
Também com argumento da dupla de realizadoras, Baise-moi começa como um retrato de uma sociedade decadente e degradante onde os menos protegidos pelas normais sociais acabam por ser as vítimas repetentes dos próprios vícios que essa sociedade faz criar para terminar como um relato de ruptura não só com a mesma como principalmente com o homem enquanto símbolo dessa sociedade onde todos não são tão iguais como se publicita diariamente. Assim, e numa total negação desse conjunto de valores sociais, as duas mulheres formam um improvável duo - muito ao estilo de Thelma & Louise (1991), de Ridley Scott mas com muito mais sexo e violência à mistura - que cruza as estradas francesas neste semi-atípico road movie gaulês.
Incerto se um ensaio sobre a vingança para com os perpetradores de violência física e sexual - novamente o homem enquanto o seu principal objecto de estudo - ou se sobre um plano de libertação das normais sociais instauradas que, de facto, não protegem os mais frágeis - aqui a mulher no seu todo -, este Baise-moi é a negação de um todo social que impõe o homem como o mais forte em comunidade mas que, principalmente, afirma a mulher como o ser frágil, desprotegido e, como tal, vulnerável que sai como a vítima primeira de todos os malefícios da mesma. Contrariando voluntariamente este papel social que lhes é conferido - enquanto mulheres - a dupla de actrizes embarca numa viagem onde o seu comportamento anarca - aos olhares dos demais - se transforma não só num estilo de vida como principalmente na forma de justiça (ainda que contraditória) encontrado para poderem sobreviver num mundo onde têm tudo a funcionar contra a sua vontade.
Se até aqui tudo funciona como um interessante e apelativo argumento que dinamiza o espectador a deixar-se levar pela sua premissa é, no entanto, a sua elaboração prática que o deixa, ao mesmo tempo, distante da história destas duas mulheres iguais a tantas outras com muito mais que contar do que um simples papel social que lhe fora atribuído. Os primeiros instantes de Baise-moi são sobre a dinâmica destas duas mulheres em sociedade... claras marginais desse "jogo social", violentadas pela perda, pela dor, pelo abuso e claro, pela humilhação que deles resulta, tanto "Manu" como "Nadine" embarcam na já referida viagem francesa onde se vingam e punem todos aqueles que se atravessam no seu caminho - homens exclusivamente -, primeiro fazendo-lhes perceber que vivem agora o mesmo tormento delas e finalmente que não o voltarão a perpetuar nas futuras vítimas inocentes que possam encontrar. De óbvias vítimas a justiceiras em potência, e ainda que os seus propósitos possam ser "nobres", é a forma como a dupla de realizadoras as expõe que leva a uma fraca, senão nula, empatia por parte do espectador que agora passa a encará-las como tão ou mais violentas e cruéis que aqueles que delas abusaram, e a possível empatia que se poderia estabelecer com estas personagens tão representativas de um vasto conjunto de mulheres anónimas desaparece no imediato.
Mas, se esta debilidade do argumento não ajuda a criar a tal empatia por parte do espectador é, no entanto, a excessiva violência gráfica e mal executada que transforma a dinâmica das personagens quase patética, a certo ponto, e que o espectador já não quer ver por não só já não parecer uma longa-metragem mas sim um violento videoclip onde vale tudo para parecer sensacionalista.
Com interpretações banais e voluntariamente porno-interessantes (ou gratuitas) nas quais se destacam as duas protagonistas concentradas em fazer cumprir uma história que, em última análise, não as dignifica nem às personagens que se propuseram representar, esta longa-metragem apenas parece querer vibrar pelo explícito e pelo gratuito que domina boa parte da atenção que o espectador lhe dedica (quando aguenta o banal) e não tanto pelos dramas aqui expostos e que não deveriam ser encobertos pelo óbvio sensacionalismo de uma obra que pode, inicialmente, confundir-se com Irrevérsible (2002), de Gaspar Nöe mas que fica a milhas da sua execução, dramatização ou mesmo qualidade cinematográfica.
Tendo uma interessante direcção de fotografia de Benoît Chamaillard que capta alguma da alucinação das duas personagens em plena espiral de decadência moral e social, Baise-moi fica muito distante de alguma credibilização do seu propósito... Não pela forma como expõe o sexo, afinal quantos filmes não exibem uma latente componente sexual, mas sim por exibi-lo como uma vulgar arma de destruição moral lançando vítimas e agressores no mesmo barco amoral onde vale tudo... mesmo repetir o crime pelo qual (ambas) passaram. Dispensável e perfeitamente banal - aliás, banal é quase uma palavra chave nesta obra -, esta longa-metragem não convence não só pela sua fraca credibilidade narrativa mas principalmente pela banalidade com que tenta apresentar temas sérios de forma risível e plástica onde tudo parece querer ser vingado mas onde (muito) pouco é levado a sério... No mundo das obras que querem chocar mas que todos nós preferimos esquecer... esta encontra-se lá... e na linha da frente.
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1 / 10
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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Excuse Me Lisbon (2015)

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Excuse Me Lisbon, de Guilherme Fernandes é uma curta-metragem luso-americana de ficção cuja história nos remete para o mais recente desgosto sentimental de Bobby (Bobby Rodríguez). Relutante, Bobby aceita o convite dos amigos para sair da cidade por uns dias e embarcar numa viagem até Lisboa para poder descontrair e pensar na sua vida.
No entanto, é no regresso à sua realidade que é finalmente revelado o verdadeiro problema de Bobby...
A um passo relativamente lento, Excuse Me Lisbon centra a atenção do espectador desde o primeiro instante para uma história sentimental e de reencontro com o "eu" perdido e desgostoso de "Bobby", um tipo já perto dos seus trinta('s) que fora uma vez mais abandonado por uma das suas namoradas. Ainda que de forma ligeira, a sensação que é transmitida ao espectador é que esta não é a primeira vez - ou quem sabe a última - que alguém o abandona. De expressão pacata e até algo desinteressada, "Bobby" parece aquele tipo de amigo que todos têm - e aparentemente é mesmo esse o caso - e no qual todos depositam a sua confiança e entusiasmo. Mas... e se "Bobby" fosse uma pessoa totalmente diferente daquilo que deixa transparecer aos seus inúmeros amigos? E se por detrás de toda aquela tranquilidade existisse outro "Bobby" que ninguém conhece?
Depois de uma viagem promocional por Lisboa onde o mais desatento dos espectadores pode sempre encontrar a Ponte 25 de Abril, um jogo na Luz ou até mesmo a tão famosa ginjinha, é com base nesta referida premissa que Excuse Me Lisbon termina. Sim, termina. Depois de um cartão promocional que possa induzir ao turismo lisboeta, que poderá funcionar se esta curta-metragem tiver público exterior ao português, o melhor é deixado praticamente de lado. O que existe dentro do apartamento de "Bobby" com o qual ele acabou por ser tão (des)cuidado... Quem será na realidade este homem? Alguém a quem as mágoas e traumas do passado marcaram e o transformaram ou simplesmente um monstro escondido por detrás de uma pacata existência?!
Com a clara noção de que esta curta-metragem tinha - tem? - pernas para andar para outros rumos e desenvolver todas as personagens que aqui são ligeiramente abordadas - quem sabe a visita de "Amália" (Alexandra Negrão) a "Bobby" ou até mesmo aquele senhorio "George" (Daniel Kellman) que começa finalmente a suspeito do insuspeito, Excuse Me Lisbon mostra as fragilidades de um eventual primeiro trabalho do realizador mas que, ao mesmo tempo, expõe a necessidade de contar bem uma história que aqui apenas se introduz e que desperta o espectador quando a cortina está prestes a tapar o ecrã.
Interessante mas ainda não um filme "essencial", Excuse Me Lisbon precisa de terminar a construção de personagens que aqui inicia e dar um fundamento às acções de "Bobby"... nem que esse seja o simples "prazer" por detrás dos seus actos.
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6 / 10
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Irène (2002)

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Irène de Ivan Calbérac é uma longa-metragem francesa protagonizada por Cécile de France, um mulher a ultrapassar os trinta anos de idade e que ainda não encontrou o seu par perfeito.
Irène (de France) é uma mulher nos trinta anos que dedicou toda a sua vida aos estudos e a uma carreira de jurista com a qual parece já não se identificar.
Chegada a um novo apartamento que tem de renovar, Irène conhece François (Bruno Putzulu) que lhe irá remendar a casa e tentar remendar-lhe o coração enquanto ela parece mais centrada em Luca (Olivier Sitruk), um colega do trabalho.
Tida como uma das actrizes maiores do cinema francófono - Cécile de France é belga - Cécile de France cria uma personagem cómica retraída com a sua "Irène". Típica de um meio burgês de classe média alta, "Irène" é uma mulher a quem escasseiam amigos e principalmente o tal homem que fala o seu coração vibrar. Vítima da pressão parental desejosa de saber que o ambiente sentimental da filha está saudável e recomendado, enquanto pelos amigos parecem divergir as opiniões sobre as vantagens e desvantagens de uma relação, "Irène" parece isolar-se cada vez mais dentro do seu pequeno mundo até conhecer alguém que é literalmente o seu oposto. "François" - numa interpretação secundária de Bruno Putzulu - que está nos seus antípodas. Divertido, bem disposto e com um sorriso no rosto mesmo face às tempestivas respostas de "Irène", ambos parecem complementar-se de uma estranha e divertida forma levando o espectador a perguntar-se se esta relação poderá (ou conseguirá) sobreviver.
Mas por detrás das eventuais boas relações entre dois perfeitos estranhos, Irène - o filme - mais não é do que uma mostra (não tão sensível) das pressões sociais a que cada um de nós está sujeito nesta nova sociedade do século XXI onde, para lá de todas as inovações e modernizações, os velhos valores continuam bem presentes. Se algures no tempo pareceu indispensável ter uma boa formação académica para procurar e ter uma boa carreira profissional, é também certo que certas pressões familiares e dos "pares" continuam de olhos postos - e fixamente - apenas num único aspecto.. as relações pessoais e sentimentais. "Irène", agora nos trinta's, é uma mulher bem sucedida profissionalmente mas as questões dos que a rodeiam centram-se única e exclusivamente num único aspecto... "quando é que leva o namorado lá a casa?" ou "quando é que se casa?"... Esqueçam-se repentinamente todos os sucessos extra... o que interessa é que ninguém a vê numa relação duradoura.
E, é exactamente neste momento, que o espectador encontra um segundo aspecto, ou seja, como encontrar essa relação num momento em que todos vivem de acasos e instantes provocados e proporcionados numa via cibernética em expansão onde o toque, a convivência e um conhecimento in loco dão lugar a uma nova forma de expressar "interesse" - nunca sentimentos ou afectos - e onde tudo termina à distância de um click?
Numa constante incerteza entre o profissional e o pessoal nesta já referida mudança dos "tempos" (ou talvez a sua evolução não necessariamente positiva - "Irène" terá de encontrar uma resposta para duas importantes questões... quem é ela e qual o seu verdadeiro lugar neste mundo do qual parece estar francamente distante perdida no pensamento que vagueia por um eventual "nada".
Se Cécile de France é a protagonista e aquela que o espectador acompanha para a perceber e saber que opções toma é, no entanto, em Bruno Putzulu que encontra o mais equilibrado de todos (os mundos?)... O seu "François" é não só um homem estabelecido - e já pai - que, apesar de uma relação sentimental falhada consegue encontrar a força necessária para enfrentar o mundo... sem um trabalho fixo e que lhe pague bem tem, por sua vez, trabalho sempre que precisa e que lhe chega para viver uma vida feliz, com sonhos e eventuais projectos não estando, no entanto, condicionado por todo um conjunto de obrigações que parecem "chover" vindas de trabalhos de secretaria. "François" não se limita à tal "passagem" mas sim a viver plenamente encontrando, nesse percurso, espaço para tudo e todos com quem ou por onde se cruza. "Irène" está, por sua vez, concentrada numa compreensão hérculea sobre como estar no mundo agradando a todos tentando, pelo meio, compreender quem ela verdadeiramente é. Cécile de France dá-lhe alguns toques de contemporaneidade mas uma que é neurótica, obsessiva, impulsiva e principalmente descontrolada na medida em que tudo é um problema quando não decorre milimetricamente a seu gosto.
Com alguns propósitos sentimentais - mas pouco sentimentalistas - Irène é uma reflexão sobre o mundo moderno, as relações contemporâneas e sobretudo sobre a forma como o indivíduo resiste no seio de um mundo em constante mutação e no qual dificilmente se encontra a tal réstia de humanidade que lhe permita criar empatia, envolvimento e uma vida... a dois. Capaz de fazer sorrir e manter (ou criar) alguma empatia com o espectador, esta longa-metragens de Ivan Calbérac foi, no fundo, uma ainda ingénua reflexão sobre o mundo e como ele era no início do século confirmando, também, que as pressões sociais existentes então não iriam abrandar mas que sim estavam apenas no seu início tendo o indivíduo de lhes resistir ou nelas lamentavelmente se perder.
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terça-feira, 11 de agosto de 2015

O Pátio das Cantigas (2015)

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O Pátio das Cantigas de Leonel Vieira é uma longa-metragem portuguesa e o primeiro de três remakes de clássicos portugueses da já ida década de 40 do século passado, ao qual se seguirão O Leão da Estrela em 2015 e A Canção de Lisboa em 2016.
Num bairro típico de Lisboa onde todos se conhecem e convivem no seio das suas tristezas e alegrias, os sonhos de alguns dos seus habitantes confundem-se com os de todos os demais. No seio de toda a trama temos Evaristo (Miguel Guilherme), dono de uma mercearia gournet perdido de amores por Rosa (Dânia Neto) que está, por sua vez, mal de amores com Narciso (César Mourão). À sua volta, todo um conjunto de enredos que demonstra que este bairro típico, mas muito alternativo, da capital vive muito para lá do que as festividades dos santos populares podem proporcionar.
Pedro Varela adapta o argumento original de 1942 da autoria de Vasco Santana, António Lopes Ribeiro e Francisco Ribeiro e recria sim as vivências de um então bairro popular de Lisboa transformando-o naquilo que se equaciona - em alguma medida - ao século XXI do mesmo. Já não temos mercearia típica mas sim gourmet nem tão pouco uma certa ingenuidade de então que é agora reencarnada com o cinismo e alguma hipocrisia destes novos tempos em personagens tipo sedentas de poder, fama e dinheiro... e onde vale tudo. Se no original de '42 o espectador assistia ao desenrolar das relações permitidas na época onde o amor e a afectividade tinham de ser às claras para que todos testemunhassem as boas intenções alheias - fruto do regime então vivido - neste O Pátio das Cantigas de 2015, a sexualidade é não vivida no calor e na intensidade da noite como também se espelham as realidades - então - escondidas, onde nem a saudosa "Maria da Graça" (Oceana Basílio) vinda do Brasil para o seu bairro Lisboeta deixa de denotar a sua homossexualidade em pela representação Shakespeariana.
Que a sexualidade existe e que faz parte do dia-a-dia todos nós sabemos mas, no entanto, o espectador é obrigado a questionar-se sobre os seus propósitos narrativos quando na prática apenas parece existir para atrair um mais vasto público... Propósito este falhado quando não só se encontra descontextualizado e despropositado como já o vimos melhor enquadrado e com lógica - se é que o sexo o deve ter - em milhentos outros filmes. Dito isto... "não havia necessidade"...
Com alguns elementos típicos nomeadamente no que diz respeito à celebração das festas populares de Lisboa ou até mesmo uma certa tentativa de recriar o espírito de bairro - na vizinhança, na decoração dos apartamentos e ainda no convívio entre moradores -, não é menos verdade que O Pátio das Cantigas peca por uma extensa dispersão de personagens bem como por um total e completa ausência de uma estrutura narrativa que consiga credibilizar a maioria das mesmas. Se esta obra tinha como objectivo o tal conceito de remake daquela dos anos 40, não é menos verdade que apenas consegue transportar essa vivência de bairro para o século XXI esquecendo a essência das personagens originais, ou seja, não existe tanto uma transposição das mesmas mas sim a sua recriação para se enquadrarem na realidade do presente. Dito isto, o espectador mais atento questiona-se se existia necessidade de criar enredos alternativos cujo único propósito é credibilizar estas personagens que, na prática, são nulas e sem qualquer importância para o filme apenas dando "vida" a referida vizinhança mas atropelando-se com uma total desconexão de histórias, momentos ou qualquer sentido. É certo que Lisboa ganha o dono do hostel que também é carteiro (Manuel Marques), a sua cozinheira que também é vendedora de sapatos (Dânia Neto), as oportunistas do bairro que nunca irão chegar a lado algum (Sara Matos e Bruna Quintas) e até o bombeiro desatento e a divorciada sem estima (Rui Unas e Anabela Moreira) mas, ainda assim, precisaria esta história de tantas personagens que se anulam e atropelam em momentos inconsequentes que não só não conseguem ser desenvolvidos como para lá disso conseguem ser por momentos absurdas?!
Aqueles que deveriam ser protagonistas o "Narciso" de César Mourão e o "Evaristo" de Miguel Guilherme, perdem-se nesta história graças a essa avalanche de personagens. Mourão constrói uma pobre e muito barata imitação de Vasco Santana, e nem o eterno momento homem versus candeeiro consegue ter qualquer "carisma" ou marca para o futuro, e o "Evaristo" de Miguel Guilherme que na altura de António Silva era uma personagem tipo não só da época como do cinema declamatório português é aqui uma caricatura - igualmente pobre - de alguém com um sério problema na sua fala que mais parece ser alguém com prisão de ventre e que tenta descontroladamente controlar-se. Miguel Guilherme que sai de 2015 com uma intensa e seguríssima interpretação secundária em Capitão Falcão aparece aqui com um registo que oscila entre o absurdo/cómico e o irrelevante.
O que se salva de O Pátio das Cantigas versão 2015?! Pouco... Francamente muito pouco. Para lá de um registo secundário interessante e bem composto a cargo de Rui Unas - o bombeiro "Carlos" tem a sua graça - e de um sentido cheiro a século XXI - um condutor de tuk tuk como meio e método de vida e a presença dos actuais hostel com os seus sempre presentes turistas espanhóis (quase mudos) - há ainda a vontade de mostrar Lisboa como a tal cidade multicultural deste século... Portugueses, brasileiros, espanhóis e indianos, todos co-habitam nesta Lisboa moderna num filme que até se dá ao luxo de terminar com um momento musical à Bollywood que, ainda que "enfiado" neste argumento não deixa de estar bem executado e ser um dos momentos mais simpáticos do filme que se quisesse realmente ter primado pela originalidade teria começado por aqui e não por uma recriação barata de um clássico do cinema português.
Que é, esteja ou venha a ser o "maior sucesso do ano no cinema português"... não tenho a menor das dúvidas... mas está longe - muito longe - de se distanciar daquela corrente cinematográfica onde se inserem títulos como 7 Pecados Rurais, Sei Lá, Eclipse em Portugal ou Ruas Rivais... muito público... mas muito pouca parra... e menos ainda conteúdo...
Se existia expectativa quanto a este título, a sua confirmação veio apenas permitir a extrapolação sobre o que aí vem no final do ano com O Leão da Estrela e depois em 2016 com A Canção de Lisboa... que é como quem diz... medo... muito medo.
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2 / 10
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La Propina (2015)

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La Propina de Esteban Crespo é uma curta-metragem espanhola de ficção e o mais recente trabalho do realizador da curta-metragem vencedora do Goya e nomeada ao Oscar na sua categoria Aquel No Era Yo.
O improvável encontro entre uma diva de outros tempos (Amparo Soto) e o jovem empregado de uma florista (Alberto Ferreiro) converte-se numa história com um inesperado final quando a primeiro se recusa a assinar o recibo de entrega das flores e o jovem fica sem forma de cobrar o seu valor.
Num engenhoso e algo sentimental argumento que o próprio realizador escreve, La Propina insere o espectador em duas distintas dinâmicas entre passado e presente à semelhança do que já acontecera com a já referida Aquel No Era Yo. A primeira dessas dinâmicas surge com o conto no passado, ou seja, a dinâmica inicial (re)criada entre as duas personagens principais e que, de certa forma, é não só a central como a principal pois é a partir dela que somos levado para o segundo momento - o futuro - onde todas as não coincidências ganham forma e dimensão.
No passado o espectador observa a estranha cumplicidade formada entre a diva e o jovem, a falta de futuro sentida pela dificuldades económicas de um e, por outro lado, a distância de um passado que fora a maior glória da vida do outro. Num ardiloso plano que junta as necessidade de ambos - um de ser recordado e o outro de ser pago pelos seus serviços - Crespo e a sua La Propina perspectivam de imediato a possibilidade de um futuro através da confirmação dessa glória passada e que por algo tão simples como um autógrafo poder confirmar a satisfação - futura - do outro.
De acaso em acaso e de eventualidade em eventualidade que aos poucos se confirma, La Propina mescla harmoniosamente um certo cinema clássico com as inevitabilidades do mundo moderno onde sonhos e prazer vivem de mãos dadas confirmando que o Homem não só espera a confirmação da sua glória passada mas que tem, obrigatoriamente, de olhar para um futuro que no presente se apresenta incerto e quase impossível.
Num distinto registo daquele apresentado com Aquel No Era Yo, Esteban Crespo confirma uma vez mais o seu toque de sensibilidade para contar histórias que o próprio dirige recorrendo a sentidas homenagens àqueles que por vezes os tempos esquecem mas que se encontram sempre grandes e eternos como aquilo que em tempos foram - e são - deixando não só uma marca óbvia à interpretação de Amparo Soto como a confirmação de Alberto Ferreiro como um dos novos rostos do cinema espanhol.
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8 / 10
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La Piel y el Alma (2013)

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La Piel y el Alma de Marc Nadal é uma curta-metragem espanhola de ficção que retrata um cenário de um amor proibido.
As irmãs Mar (Núria Molina) e Celia (Montserrat Ocaña) conversam. Tudo parece uma estranha despedida que se confirma quando Mar se expõe à sua irmã mais velha. Conseguirá uma relação entre duas irmãs sobreviver a uma invulgar e inesperada revelação?
Marc Nadal constrói toda uma atmosfera de terror interno não só pela difícil questão que aqui coloca sobre um eventual amor romântico e sentimental entre duas irmãs como também pela densa atmosfera que a direcção de fotografia - também da sua autoria - cria num pequeno espaço que se sente enclausurado e reprimido.
Dividida em dois claros segmentos, esta curta-metragem apresenta-se inicialmente como uma história de duas irmãs cúmplices nos seus desabafos e sentimentos sendo "Celia" - a irmã mais velha - a eterna confidente de "Mar" até que esta última revela ter um segredo constrangedor. O segundo momento apresenta-se então na revelação de que este segredo poderá por um lado comprometer esta amizade como, por outro, se não o conseguir revelar a irá consumir de forma devastadora.
Sem tréguas ou atenuantes, o espectador é forçado a entrar nesta dinâmica semi-labiríntica quando a partir de um certo momento se torna impossível regressar e onde todas as evidências têm de ser expostas. De forma fria e avassaladora - para as personagens e para o espectador que cedo percebe não existir qualquer tipo de condescendência ou retorno - La Piel y el Alma retrata de forma crua o incesto não cometido - mas desejado - e a quebra de um elo ao qual jamais irão regressar.
Sem pudor Marc Nadal cria assim uma interessante e tensa curta-metragem que esquece os tabus apresentando-se como uma filme desafiante e com duas fortes e intensas interpretações que (se) consomem toda a réstia de uma esperança... não no amor/desejo sentido por uma das personagens mas sim pela forma como se percebe que a ideia da família perfeita cedo desmorona em favor de um afastamento que se torna anunciado.
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7 / 10
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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Marta (2015)

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Marta de Bernardo Gomes de Almeida é uma curta-metragem de ficção portuguesa cuja personagem homónima é interpretada por Sara Barros Leitão.
Quando Marta e Tiago (Tomás Alves) chegam a casa sente-se o clima de desespero e agonia. Quando se preparam para tomar um chá Ele (Filipe Vargas) bate à porta e pede para falar com ela. A tensão é notória até que Marta revela finalmente parte do seu passado.
O realizador e também argumentista Bernardo Gomes de Almeida assina esta história onde a dor e a perda andam de mãos dadas com um passado já longo. Se por um lado o espectador percebe de imediato a tensa relação entre "Marta" e o "Homem" que acaba de lhe bater à porta depois do funeral da sua mãe, não é menos verdade que é no momento em que a sua identidade é revelada que percebemos - ou pelo menos desconfiamos - dos porquês de o ter recebido de forma que oscila entre a indiferença e o ódio. É então que percebemos a sua perda... A perda da inocência que lhe chegou em muito jovem idade com o desconhecimento - ou pacto silencioso - da mãe e que a tornavam imediatamente numa jovem em risco cuja dor provocada, desde esse momento, lhe modelaram não só a capacidade de confiança, de entrega como também a vulnerabilidade perdida fruto da desconfiança que tem para com o "outro".
Mas a relação entre a sua perda e a sua dor não ficariam por aí quando "Marta" confessa que o abuso iria dar lugar a uma nova e indesejada vida provocada por aquele por quem deveria ter mais confiança e amor... o seu pai. Num aguardado confronto onde os ódios renascem e onde "Marta" revela um misto de fragilidade e de uma força desconhecida que a fazem enfrentar o rosto de um mal próximo e Sara Barros Leitão revela em escassos minutos toda a grande alma entregue a uma personagem atormentada e que ficou perdida algures no tempo com a sua perda, a sua dor e a mágoa acrescida de uma jovem que foi forçada a crescer muito antes do seu tempo.
A dinâmica entre Filipe Vargas e Sara Barros Leitão é por demais evidente e bastam estes breves minutos de Marta para perceber o extremo empenho de dois grandes actores capazes de personificar com aprumo dois lados bem opostos. Vargas nunca se assume como o "mau" guardando para a sua personagem toda uma calma e tranquilidade que apenas alguém convencido que agiu por bem pode ter e, por sua vez, Barros Leitão faz da sua personagem - uma clara vítima aos olhos da sociedade - uma sobrevivente que não se vitimiza... Pelo contrário, "Marta" reage de frente e sem vacilar àquele que lhe roubou tudo quanto tinha de mais puro especialmente quando este regressa como se no passado não existisse nada de transcendente, qual pai "perfeito".
Depois de Projecto V (2012) e Contactos 2.0 (2014), Marta é a afirmação de Bernardo Gomes de Almeida como um interessante cineasta português cujo trabalho deve ser seguido, e cujas histórias não encerram na sua totalidade deixando sempre uma margem para que um dia mais tarde estas suas personagens regressem e nos revelem um pouco mais da sua história.
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8 / 10
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O Último Dia de Um Homem Morto (2013)

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O Último Dia de Um Homem Morto de Joel Rodrigues e André Agostinho é uma curta-metragem portuguesa de ficção na qual Alfredo (José Freixo) surge coberto de sangue e a arrastar o corpo de Joaquim (Joel Rodrigues) por umas escadas. Quando Joaquim desperta e percebe a sua nova condição em cativeiro, o espectador é levado a um passado em que conhece toda uma terrível história de dor física mas principalmente uma dor psicológica que destrói a mente humana.
Joel Rodrigues, André Agostinho, José Freixo e Diogo Silva assinam um argumento que roça os princípios do terror físico na medida em que praticamente toda esta história se desenvolve num espaço onde uma vítima enclausurada é sujeita à mais variada tortura mas, ao mesmo tempo, é também verdade que aos poucos percebemos que esta tortura é mais psicológica quando descobrimos quem é realmente "Alfredo".
A certa altura, e graças a uma sobreposição de imagem, o espectador compreende a complexidade de uma mente perturbada como é a de "Alfredo", um homem atormentado pela sua vida e experiências, que o condicionam a um estado de constante alucinação não distinguindo o "eu" do "outro" e até mesmo mesclá-lo num novo ser que o próprio não reconhece.
Quando a dor provocada pela vida intensifica um sofrimento já de si extremo, a mente, o pensamento e a consciência desligam-se da realidade vivida fazendo-a escapar para uma realidade paralela que o façam ignorar o momento que vive. Assim, num duelo entre o real e o imaginado, a verdade e a mentira, apenas uma alucinação extrema o conseguem fazer sentir-se vivo quando, na realidade, a vida escapa perante os seus dedos sem que disso se dê conta.
Com uma química presente entre os dois actores, Joel Rodrigues dirige-se a si próprio nesta curta-metragem mas, ao mesmo tempo, distancia-se do seu duplo papel para entregar um determinante protagonismo a José Freixo que encarna na perfeição o retrato de um corpo e de uma mente perdidos no seu próprio labirinto de dor que o fazem escapar à sua realidade entrando num domínio onde ele realmente se perde.
O Último Dia de Um Homem Morto é assim uma interessante curta-metragem sobre a dualidade do ser e da mente mas que, ao mesmo tempo, mereceria uma maior exploração das suas personagens, dos seus passados e das suas limitações que os transportaram àquele espaço e àquele local que estranhamente fazem parte do seu ser sem que, os próprios, sejam dali.
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7 / 10
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domingo, 9 de agosto de 2015

Dark Places (2015)

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Lugares Escuros de Gilles Paquet-Brenner é uma longa-metragem franco-americana e a mais recente estreia cinematográfica de Charlize Theron depois do esperado Mad Mad: Fury Road.
Libby Day (Theron) tinha apenas oito anos em 1985 quando a mãe e duas irmãs foram brutalmente assassinadas na sua casa durante a noite. Depois da detenção de Ben (Tye Sheridan), o seu irmão mais velho, Libby viveu toda uma vida como a "criança vítima" que toda a comunidade decidiu auxiliar.
Mas quando trinta anos depois uma comunidade de investigadores decide recuperar o caso e desvendar todas as pequenas questões que ficaram por responder, Libby vê toda a verdade ressurgir num caso que a atormentou toda a sua vida revivendo assim os trágicos acontecimentos daquele noite.
Num ano em que se assume como uma presença constante nos ecrãs, Charlize Theron não só protagoniza como produz este Dark Places, um thriller dramático no qual volta a contracenar com Nicholas Hoult - tal como no já referido Mad Max: Fury Road - e que coloca o espectador no centro de uma história que mescla o passado e o presente, as memórias e uma confusão de sentimentos que apenas são desvendados no final. No centro de um Kansas rural, as vidas desgastadas não só pelas crises financeiras como principalmente por um conjunto de elementos pessoais que esvaziam as esperanças daqueles que atravessam uma já de si complicada situação, levam a que todas aquelas pequenas grandes diferenças que fogem ao "normal" do meio sejam apontadas como as causadoras de todo o mal. Um mal que não existe necessariamente no "outro" mas sim no "eu" que o observa com desdém e até alguma inveja por conseguir e querer ser diferente... algo que "deste lado" nunca é conseguido.
É com base nesta premissa que se desenvolvem os destinos de "Ben", um jovem solitário e com um espírito relativamente grande demais para o pequeno espaço em que vive e que fruto das suas escolhas de adolescente "alternativo" - para o meio - se vê no centro de um conflito social em que é apontado por tudo... e todos. É quando a tragédia invade a sua casa com a morte da mãe e de duas das suas irmãs que "Ben" vê todos os rumores da cidade caírem sobre si como se de factos já confirmados se tratassem sendo ele culpado de todo o mal que aconteceu dentro do seu lar. Mas... o que aconteceria se anos depois alguém resolvesse olhar para os factos e não para o preconceito que o resolveu "julgar"? Numa América de várias "Américas" - que é como quem diz diversas realidades - que importância tem o elemento diferente que destoa da realidade socialmente aceitável? No seio de um conservadorismo atroz que julga sem conhecer, quem é que ousa ser diferente? Quem ousa pensar pela sua própria cabeça ou até mesmo viver independente? E mais importante que tudo isto, quem poderia sequer demonstrar solidariedade perante uma família que tem - na opinião dos demais - um adorador de Satanás no seio das suas quatro paredes?!
Dark Places é para além do "ensaio" sobre a diferença, um conto sobre aqueles lugares onde a mudança e o tempo não passaram - ou passaram sem deixar marca - e que exteriormente tudo é muito bonito e polido mas que no seu interior esconde um núcleo podre que se refugia no poder do dinheiro e naqueles que na sua falta são engolidos pelo mesmo. Esses lugares onde a sobrevivência depende do engenho próprio e da capacidade de resistir no silêncio a um mundo adverso onde o sacrifício pessoal dita a qualidade de cada um e os sentimentos são uma miragem desconhecida.
O engano e o rumor estão sempre presentes em Dark Places. A incerteza paira no ar e a única coisa que o espectador mantém como certa é que as aparências revelam-se - a seu tempo - correctas e que os culpados (pelo menos alguns...) são verdadeiramente culpados estando, no entanto, a atenção desviada daqueles que o são. As evidências nem sempre o são... tal como as certezas. E aquilo que inicialmente era dado como uma prova da culpa de alguém não o é... assim como todas as vítimas... nem sempre o são. No fundo, aquilo que Dark Places nos faz descobrir é que nem sempre quem sofre é uma vítima inocente... por vezes contribuiu para a sua condição - com um sentido de abnegação - e por outras é uma vítima consciente em nome da salvação de alguém que desconhecendo faz parte do seu ser. Sem nunca esquecer que nem tudo é como inicialmente parece aos olhos dos espectador que sente desde o primeiro momento que a história tem mais do que aquilo que revela... mas que as surpresas só poderão - irão - chegar no final.
Para lá dos pré-julgamentos que sabemos existirem nos meios pequenos onde todos são "obrigados" a parecer mais do que aquilo que realmente são, Dark Places lança ao espectador uma outra questão fundamental... até onde estaria disposto a ir para salvaguardar aqueles de que mais ama? Esta questão que é "encarnada" por "Patty" (Christina Hendricks), a matriarca dos "Day", mas também por "Diondra" (Andrea Roth/Chloë Grace Moretz) que esconde durante anos o seu próprio segredo apenas conhecido de "Ben". Se para a primeira esta questão pode ser respondida por motivos de segurança e de planeamento de um futuro ao qual (não) poderá - irá - assistir, para a outra esta salvaguarda é meramente animal e instintiva sendo que a sua preservação só estará garantida se tudo for executado sem deixar as tais "pontas soltas".
Mas esta sobrevivência não se prende apenas com o poder chegar à frente mais um dia. Ela prende-se principalmente com a capacidade de chegar a esse dia sabendo que tudo aquilo que foi deixado para trás está resolvido fazendo com que seja possível viver de consciência tranquila com esse momento. Saber que somos capazes de impedir que o "mal" - tal como é a certa altura referido por "Libby Day" -, apenas pode(rá) entrar se lhe permitirmos entrada. Saber que perdoámos aquele "eu" que deixámos para trás e que por muito assustado que se encontrasse em tempos mais conturbados da sua (nossa) existência, o dia de amanhã será mais tranquilo e pacífico apenas conseguido com o perdão que lhe (nos) reservámos.
"Libby Day", ainda que uma vítima inconsciente, torna-se uma nova criação quase insensível de Charlize Theron na medida em que nada da sua história pessoal lhe reserva uma memória agradável do seu "eu", assumindo-se uma vez mais como a anti-heroína de serviço. O espectador fica quase indiferente à sua condição/situação durante a maior parte do filme e apenas aos poucos já bem perto do final consegue sentir alguma empatia com a sua personagem. No fundo, ainda que uma vítima desde jovem idade, Charlize Theron consegue criar uma personagem com a qual não existe grande simpatia mesmo tratando-se de uma jovem que esteve no centro de um brutal triplo homicídio tendo perdido toda a família no processo. Para lá de vítima ou de uma ocasional oportunista da sua própria situação, a personagem de Charlize Theron consegue manter-se ora distante e insensível ora curiosa e perdida. Afinal, o que será a realidade?
Destaque ainda para as interpretações de Tye Sheridan e Chloë Grace Moretz, dois dos novos jovens talentos de Hollywood com um percurso seguro e forte que conferem esperança para a nova geração de actores que com as suas personagens se colocam em planos bem distintos entre o Bem e o Mal e ainda as participações secundárias mas decisivas de Nicholas Hoult e Corey Stoll que não tendo grande tempo de antena em Dark Places se assume como uma figura central na evolução de toda a história.
Dark Places é assim um filme cuja história dá ênfase à eterna questão: e se o rumor ganhar vida própria? Mas acima de tudo isso faz ainda uma outra questão... e se depois de ganhar essa vida tudo o que acontecer à sua volta for imediatamente considerado como uma verdade que não se questiona? Confirmado que fica, onde poderá alguém encontrar a sua defesa?
Numa altura em que as salas de cinema ficam cheias de filmes pipoca na sua maioria sem o mínimo de interesse, Dark Places afirma-se como uma interessante e segura aposta através de uma história que para lá das evidências se afirma com as surpresas que reserva porque nem tudo é como parece ser.
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"Libby Day: The truly frightening flaw in humanity is our capacity for cruelty - we all have it."
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8 / 10
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Minhas Piores Lembranças do Fim do Mundo são Aquelas que não Guardei nem por um Segundo (2014)

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Minhas Piores Lembranças do Fim do Mundo são Aquelas que não Guardei nem por um Segundo de Danilo Godoy é uma curta-metragem de ficção brasileira que cruza passado e presente numa história de um amor perdido num trágico acontecimento.
Em casa, Maria (Rita Batata) assiste a uma VHS cujo título é "Barcelona 1989". Lá fora junto à sua porta Ele (Guilherme Gorski) faz distribuição de encomendas para a casa sua vizinha. Maria observa-o com uma curiosidade que rapidamente se transforma em voyeurismo confundindo esta observação com as suas próprias memórias.
Neste processo Maria conhece a sua vizinha... uma professora de Ikebana (Massae Yamaguti) que lhe devolve as fotos que Maria havia deitado fora.
Danilo Godoy, também o autor deste argumento, cria uma história que cruza de forma determinante o passado com o presente, a memória com a realidade e principalmente a relação que o antes e o depois têm na condição física e psicológica de cada um de nós onde a comunicação presente é quase exclusivamente tida através do gesto, da expressividade e daquela que é não verbalizada. "Maria" é uma jovem mulher afectada pelos acontecimentos traumáticos do seu passado que - deduzimos - estarem presos com a morte daquele que foi possivelmente o único amor da sua vida. Numa clara relação entre o seu passado e o seu presente - ambos encarnados pelo personagem que conduz uma mota, antes como seu namorado e agora como um rapaz que entrega recados e encomendas interpretado por Guilherme Gorski - "Maria" sente uma clara recordação daquilo que em tempos tivera e que agora nada mais é do que um passado perdido e distante.
Presa nas quatro paredes da sua casa e das memórias que ainda conserva, "Maria" definha num claustro que a impediu de viver, de sentir e até de evoluir. Constrangida pela prisão que essas memórias lhe conferem, ela apenas desperta deste "sono" quando uma mota pára em frente da sua casa e, ainda que não seja para ela ou tão pouco quem esperaria que ali estivesse, "Maria" passa a ter o que até então lhe tinha desaparecido... o desejo. O desejo de saber, de conhecer, de experimentar e de criar que lhe são igualmente despertados pela inesperada presença da professora de Ikebana que lhe faz perceber que a criação nunca está errada sendo sim um espelho de um estado de espírito, de um sentimento, da perda e da tristeza, da alegria e da descoberta. São o reflexo no presente de um passado tido, vivido e experimentado.
Do silêncio solitário em que observava o mundo através da sua janela, "Maria" passa a procurar o "outro" - que não o "seu" - na esperança (in)consciente de poder voltar a conectar-se com o mundo que abandonara para sarar as suas feridas da perda sendo este o exacto momento que, sem perceber, se liberta do passado que a enclausurava e que reentrava no mundo presente que esperava por ela. O fim do mundo foi, para "Maria", a perda da única pessoa que eventualmente significava algo para a sua própria existência sendo desde esse preciso momento consumida pela memória de algo que já não tinha. Algo que não a tendo abandonado deliberadamente a deixou perdida num mundo de memórias e de lembranças que que a faziam pensar no quão bom "havia sido". É esta lembrança que aquela mota e o seu condutor vêm uma vez mais despertar na sua memória.
Ainda que as personagens secundárias de Minhas Piores Lembranças do Fim do Mundo são Aquelas que não Guardei nem por um Segundo sejam fundamentais para a dinâmica desta história, não é menos verdade que é em Rita Batata que existe toda uma evolução que oscila entre a mulher apagada e afastada por vontade própria do mundo até àquela que pretende todo um novo contacto humano mesmo que este surja através de um hobbie para o qual jamais havia pensado tomar parte. De mulher amargurada a alguém que (des)espera por voltar a sentir "algo", Rita Batata assume-se como uma força relativamente silenciosa mas assumidamente viva. Um apontamento positiva para Guilherme Gorski que se sente presente durante toda esta curta-metragem mas de uma forma invulgar uma vez que parece ser apenas um fantasma do passado que resolveu surgir na vida da mulher que em tempos amara. Ou pelo menos um que resolveu na medida das suas possibilidades trazê-la de volta à vida que abandonara.
Destaque ainda para a direcção de fotografia de Alexandre Escanfella que faz o espectador sentir-se constantemente num espaço etéreo, inexistente e que apenas habita a mente daqueles que viveram uma dada situação... Perdidos entre o paraíso - ou purgatório - ou as ideias de um ser, a luminosidade captada nesta curta-metragem assumem-se pouco "terrestres" e mais presentes no campo do sonho, da imaginação e da memória realçando uma invulgar história de amor que parou no tempo... sem se perder.
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8 / 10
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sábado, 8 de agosto de 2015

La Famille Bélier (2014)

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A Família Bélier de Eric Lartigau é uma longa-metragem de ficção francesa nomeada a vários César da Academia Francesa de Cinema tendo saído vencedora do de Actriz Revelação atribuído a Louane Emera.
Paula (Emera) é uma jovem adolescente e a única na família que consegue ouvir. O pai Rodolphe (François Damiens), a mãe Gigi (Karin Viard) e o irmão Quentin (Luca Gelberg) são surdos-mudos desde nascença e Paula ajuda-os em todas as tarefas burocráticas e laborais tendo-se tornado adulta antes do seu tempo.
Na escola Paula tem uma paixoneta por Gabriel (Ilian Bergala) pelo que se inscreve nas aulas de coro para poder passar mais algum tempo com ele. No entanto, e contra tudo aquilo que ela própria pensava, Paula revela uma magnífica voz sendo convidada para um concurso de canto e bolsa de estudo pelo seu professor Fabien (Eric Elmosnino). Conseguirá Paula deixar a sua família e rumar para outra cidade?
O argumento original de Eric Lartigau, Thomas Bidegain, Victoria Bedos e Stanislas Carré de Malberg é uma pequena pérola e este filme poderá - infelizmente - passar ao lado do grande público que prefere ignorar cinema falado que não em língua inglesa. Para lá de mais uma comédia francesa, La Famille Bélier é sim uma comédia mas uma que prefere abordar as excentricidades de uma família invulgar sem esquecer todos os dramas que estão associados não só à condição que afecta três dos seus membros mas também aqueles de uma família com dois adolescentes e uma activa vida profissional que não esquece um pequeno toque de política.
Longe de uma qualquer comiseração ou indulgência pelo casal protagonista, La Famille Bélier aborda questões de dois pais que vivem uma vida livre de preconceitos e com uma acentuada dose de carisma onde residem os seus espíritos livres, encarando a fase de crescimento dos seus filhos de forma livre e libertária celebrando não só a vida como todos aqueles pequenos momentos que partilham de forma empolgante como se o último momento que vivem fosse o seu último. Os Bélier são, essencialmente, uma família longe de todas as formalidades e códigos... Aliás, o único código que têm é simplesmente não existirem regras per si.
Mas o que acontece quando um destes elementos, aqui pela personagem "Paula" interpretada por uma inspirada Louane Emera, revelam que a sua vida está para lá daquela pequena vila onde sempre viveu? O que acontece quando se percebe que existe tanto para lá daquilo que sempre se conheceu mas que, ao mesmo tempo, separar-se daqueles com quem se têm os mais fortes elos provoca uma dor nostálgica profunda? É esta mesma dor que leva a que se inicie o primeiro momento de tensão entre pais e filha - principalmente mãe e filha - que revela a dor que sentiu ao ter uma filha "diferente" - para eles... tal como já havia sido mencionado ao longo do filme que também o tal bezerro era diferente dos demais - e que sempre havia odiado pessoas que ouviam... "Gigi", num desempenho magnífico de Karin Viard nomeado ao César, é uma mulher que sofre pela segunda vez... Primeiro por ter uma filha que revela ter pensado com quem não saberia comunicar, e agora de quem tem uma dependência extrema e que vê finalmente "partir".
Neste que é um dos mais tensos e "amargos" momentos de La Famille Bélier, o que se celebra não é essa indiferença entre mãe e filha mas sim a forma encontrada pela primeira de se separar - arriscaria dizer rejeitar se não fosse tão cruel - da sua prole em nome de uma auto-preservação sentimental e emocional que percebe não conseguir controlar. "Paula" é como o elo de ligação da família ao resto do mundo e ainda que sabendo interagir com os demais, "Gigi" entende que não poderá voltar tão depressa a contar com o apoio da sua filha sendo mais fácil afastá-la do que viver com a dor de lhe ter dado a sua benção.
Mas não há momento como aquele em que a família se "reencontra", e Eric Lartigau filma com uma sensibilidade extrema os momentos em que os pais Bélier assistem não só ao dueto da sua filha com "Gabriel" como também à audição que a jovem "Paula" faz na escola. Se no primeiro momento Lartigau priva o espectador de escutar o dueto colocando-o na mesma situação que os seus pais podendo apenas assistir às reacções e emoções que o restante público emite, no segundo faz da audição da jovem um momento de verdadeira comunicação com os seus pais através da linguagem gestual que esta havia ensaiado. Dois momentos verdadeiramente emotivos que apenas encontram igual na despedida final da jovem e da restante família que não revelarei na esperança de que este comentário chegue a alguém e desperte a sua curiosidade em assistirem a um filme diferente mas que preenche pela sua franqueza e transmissão de momentos de uma disposição verdadeiramente contagiante.
Se de Karin Viard ou de François Damiens muito se poderia dizer sobre o seu mais que confirmado talento, é de Louane Emera - justa vencedora do César Revelação - que se tem de fazer notar um comentário bem positivo não só pelo seu sentido de comédia recatada como principalmente pela sua entrega e dedicação à expressão de um conjunto de sentimentos que podendo ou não fazer uma lágrima fazem, com toda a certeza, despoletar todo um conjunto de emoções.
Um filme simples, bem disposto mas também emotivo... La Famille Bélier é a confirmação de que o cinema francês (sobre)vive com boa saúde, com disposição e muita dedicação sem medo de contar bem histórias diferentes mas simples. E o espectador que atente aos momentos musicais... os mais poderosos de todo o filme...
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8 / 10
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