quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Larkin Malloy

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1954 - 2016
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European Film Awards 2016 - nomeados a Melhor Curta-Metragem

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A Academia Europeia de Cinema divulgou hoje a lista oficial das quinze curtas-metragens seleccionadas ao EFA na respectiva categoria. Seleccionadas a partir dos festivais de cinema europeus participantes, os nomeados são:
  • 9 Days - From My Window in Aleppo, de Issa Touma, Thomas Vroege e Floor van der Meulen (Holanda) - Bristol
  • 90 Grad Nord, de Detsky Graffam (Alemanha) - Cork
  • El Adiós, de Clara Roquet (Espanha) - Valladolid
  • Amalimbo, de Juan Pablo Libossart (Suécia/Estónia) - Veneza
  • Edmond, de Nina Gantz (Reino Unido) - Uppsala
  • Home, de Daniel Mulloy (Kosovo/Reino Unido) - Vila do Conde
  • L'Immense Retour (Romance), de Manon Coubia (Bélgica/França) - Locarno
  • In the Distance, de Florian Grolig (Alemanha) - Clermont-Ferrand
  • Limbo, de Konstantina Kotzamani (França/Grécia) - Sarajevo
  • A Man Returned, de Mahdi Fleifel (Reino Unido/Dinamarca/Holanda) - Berlim
  • Le Mur, de Samuel Lampaert (Bélgica) - Ghent
  • Padashta Zvezda, de Lyubo Yonchev (Bulgária/Itália) - Drama
  • Small Talk, de Even Hafnor e Lisa Brooke Hansen (Noruega) - Tampere
  • Tout le Monde Aime le Bord de la Mer, de Keina Espiñeira (Espanha) - Roterdão
  • Yo No Soy de Aquí, de Maite Alberdi e Giedré Zickyte (Dinamarca/Chile/Lituânia) - Cracóvia
Os vencedores - bem como das demais categorias - serão conhecidos numa cerimónia a realizar no próximo dia 10 de Dezembro em Wroclaw, na Polónia, Capital Europeia da Cultura 2016.
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O Menino do Dente de Ouro (2014)

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O Menino do Dente de Ouro de Rodrigo Sena - que também desempenha funções de argumentista - é uma curta-metragem brasileira presente na secção competitiva de Setembro do Shortcutz Rio de Janeiro que conta a história do jovem Wesley, um jovem de um bairro empobrecido que num dia de gazeta às aulas se vê envolvido num negócio arriscado mas muito lucrativo.
Num mundo cada vez mais afectado pelas consequências de uma crise económica onde todos são, de uma ou outra forma afectados pela mesma, a história do pequeno "Wesley" é, no fundo, idêntica à de tantos jovens que, como ele, se perdem num imaginário onde primeiramente a educação parece não fazer sentido e depois as possibilidades e oportunidades abertas pela conquista do dinheiro fácil os deixam rendidos a um mundo onde o mesmo... provoca estatuto... mas pouco respeito ou dignidade.
De família desfeita - ou incompleta... é incerto - "Wesley" é o fruto de um bairro popular, empobrecido e onde o ideal de uma oportunidade está longe de pertencer ao imaginário daqueles que nele habitam. A única esperança é na hipótese de uma educação que é, por vezes, colocada em causa pela desistência dos sonhos considerados impossíveis substituída, portanto, pela chance de fazer dinheiro fácil (e rápido) nem sempre - nunca - pelas vias mais correctas.
Tendo este pressuposto em mente, O Menino do Dente de Ouro é, portanto, uma reflexão sobre as vítimas indefesas de um conjunto de predadores dispostos a desviar a inocência dos que mais precisam, para uma vida de crime - mais ou menos violento - que lhes proporcione a satisfação de algumas lacunas e o enriquecimento fácil daqueles que têm o olho maior que a barriga.
Mas como nem tudo é ou aponta para - felizmente - aquilo que inicialmente pensamos, Rodrigo Sena surpreende o espectador inicialmente com a pronta resposta de uma mãe atenta e que se sacrifica na esperança de um dia melhor e depois com o inesperado desfecho (e surpresa) que coloca cada um dos intervenientes no seu lugar e a revelação daquilo que era não tão inocentemente traficado pelo jovem "Wesley".
Um reflexo dos tempos de uma crise que parece não terminar, O Menino do Dente de Ouro é o espelho de uns tristes tempos modernos onde tudo parece muito fácil... escondendo as reais consequências de cada acto tomado.
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7 / 10
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The Player (2015)

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The Player de Carlos Guilherme Vogel é uma curta-metragem brasileira de ficção filmada em Praga, presente na competição do mês de Setembro do Shortcutz Rio de Janeiro que nos relata o breve e inesperado encontro entre Hans (Marek Zelinka), um homem inglês, e Brenda (Jana Trisková), uma americana de férias na capital checa.
Mas, e se este encontro não fosse tão inesperado como parece ser... e se a relação entre este casal tiver mais por detrás da brevidade do momento?
O realizador e também argumentista Carlos Guilherme Vogel recria uma interessante premissa onde o role play e a possibilidade de interpretar personagens ganha uma perspectiva extrema quando as personagens que aqui cria parecem querer - elas próprias - transformar a sua realidade num universo paralelo que define e distorce uma personalidade. Quem são realmente os nossos protagonistas senão as versões daquilo que os próprios querem enquanto indivíduos de um mundo anónimo, distante e pouco altruísta? Interessará ao "mundo" saber quem eles são ou, por sua vez, interessa aos próprios saber quem são aqueles que os rodeiam e que dinâmicas podem (re)criar com os mesmos possibilitando-lhes não conhecer o "outro" mas sim os diversos "eu" dentro dos próprios?
Na impossibilidade de ter uma resposta concreta sobre quem são estes dois indivíduos - aparentemente libertinos e pouco "responsáveis" -, o espectador entra numa dinâmica onde é perceptível que o melhor é acompanhá-los esperando - talvez o impossível - de saber quem eles realmente são. Hoje "Hans"... amanhã um outro qualquer nome que lhe possibilite uma aproximação a uma qualquer pessoa com quem espera desenvolver uma dinâmica mais ou menos próxima sem, no entanto, invadir o tal "eu" real - se existir - e expôr-se perante alguém com quem não aparenta querer qualquer criação de laços... ou talvez preencher um qualquer vazio que o espectador desconhece, The Player é, literalmente, um estudo sobre alguém que está desconectado do espaço e que com ele quer forçosamente criar uma empatia experimentando, pessoa a pessoa, aquela que lhe poderá trazer um nível superior de satisfação pessoal.
Quem é o "eu" sozinho no mundo... em que medida os outros relativizam (ou não) o papel do "eu" social e, mais importante, de que formam contribuem para que um relacionamento ou empatia se possa desenvolver e avançar quando o "eu" vive uma espécie de desconforto social ocultando - e até mesmo fugindo - da minha própria realidade?
Desconcertante - assumo que esperava que esta curta-metragem fosse bem mais longe no desenvolvimento das múltiplas personagens e personalidades de Marek Zelinka - e extremamente engenhoso, The Player questiona o espectador sobre o quão conhece de facto os verdadeiros "eu" daqueles com quem priva diariamente... sabendo que muito do que conhece pode ser parte de um boneco social criado para essa mesma interacção.
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7 / 10
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E as Coisas se Encostam (2016)

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E as Coisas se Encostam de Fabiano Araruna é uma curta-metragem brasileira de ficção presente na competição de Agosto do Shortcutz Rio de Janeiro e que relata uma pequena história de incomunicabilidade no seio de uma família dita tradicional.
Quando pai e filha não conseguem comunicar entre si, a jovem adolescente cria um jogo infantil que lhe permite captar a atenção do seu pai... um artista.
Este distanciamento entre pai e filha - e de certa forma de toda a família incluindo uma mãe distante - fruto de um conflito geracional que separa o casal da sua filha adolescente, pode inicialmente atribuir-se a uma vida desprendida de uma certa responsabilidade, ou até mesmo libertinagem, tanto de pai - um artista com uma notória e aparente sede de criar - como por parte da sua filha adolescente que necessita de uma vida rebelde e tenta de forma quase desesperada criar uma forma de comunicação com um pai que parece ter tempo para a sua arte... mas não para ela.
Através das palavras de um livro outrora escrito mas que é - agora - apagado transformando toda a sua mensagem numa nova forma de comunicar, E as Coisas se Encostam é, essencialmente, a vontade de comunicação e diálogo não oral num mundo que com todas as tecnologias que aproximam os indivíduos parece, lentamente, criar inúmeras barreiras que os afastam dentro do mesmo espaço. De forma (in)consciente, Fabiano Araruna estabelece então uma directa relação entre as palavras escritas noutros tempos, e a possibilidade desse veículo - o livro - conseguir aproximar duas mentes separadas pela idade mas, no entanto, próximas pelos laços familiares, pela arte a que ambos recorrem para se (re)conhecerem e pela franca vontade de se sentirem alguém num lar onde todos parecem ser invisíveis.
Tendo sempre em mente que E as Coisas se Encostam é um elogio à necessidade de se sentir sem que esta acção se manifeste de facto num toque ou que a necessidade da jovem adolescente em estar ligada a algo que parece nunca ter experimentado, esta curta-metragem centra toda a sua dinâmica na construção de um clímax que, a certo momento, se torna perceptível para o espectador como o falhanço de uma ligação familiar inexistente. Da construção de uma união não sentida e que apenas se confirma pela execução de facto de laços familiares genéticos mas pouco vividos.
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7 / 10
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Coração Pela Boca (2015)

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Coração Pela Boca de Bruno Autran é uma curta-metragem brasileira presente na secção competitiva de Agosto do Shortcutz Rio de Janeiro.
Um homem (Bruno Autran) parado num terminal de comboios. Milhares de pessoas que passam. Entre a indiferença e a identificação, este homem cruza o mesmo espaço com mulheres com quem desenvolve relações platónicas. Será alguma delas "a tal"?
Bruno Autran, naquele que é um verdadeiro one man show - realizador, argumentista e intérprete principal - cria uma história curiosa do ponto de vista de uma meditação sobre a solidão e os tempos modernos. Num espaço que é cruzado por milhares de pessoas todos os dias criando todo um espelho de uma sociedade ao mesmo tempo que o indivíduo pode - em toda a realidade - sentir-se uma ínfima gota de água num vasto oceano, o espectador pergunta-se em que medida poderá ele encontrar aquilo que vulgarmente se chama de "cara metade"?!
Os instantes iniciais de Coração Pela Boca, que através de um preto e branco criam a ilusão de um espaço frio e onde predomina a indiferença, remetem o espectador para aquilo que facilmente se identificaria como uma situação limite onde os destinos de um homem (então anónimo) parecem estar prestes a chegar ao fim, dissipam-se com o avançar de uma história que se perde pelos domínios de uma história de solidão sim... mas uma solidão na qual o principal interveniente - Autran - parece distorcer para um conto de obsessão, de perseguição e de um anonimato social que lhe é conveniente pois... sem qualquer ligação, laço ou empatia, observa um conjunto de mulheres com quem "sonha" manter relações próximas de uma afectividade que lhe é desconhecida.
De uma existência que é . aparentemente - solitária e uma busca de um amor no espaço mais movimentado da cidade, são várias as estações de metro onde ele fica "doente de amor"... de um amor irreal, imaginado, vivido apenas por uma das partes e que, de forma obsessiva, parece atormentar o "outro" (as outras) a um constante sentimento de uma perseguição sórdida, doentia, sem justificação e causadora de um medo (in)consciente do próprio espaço. O que divide a aparente solidão de uma doença psicológica que o leva a confortar-se nas pequenas relações que julga estabelecer com o mais variado grupo de mulheres - anónimas como ele - e que poderá (da mesma forma fácil) provocar-lhe uma dor física pelos danos que pode auto-infligir?
Numa oscilação entre uma eventual dor psicológica e a mais que confirmada dor física que pode ser executada, Coração Pela Boca é um ensaio sobre a procura de um amor (platónico ou não...) e a ténue linha que separa essa busca de uma obsessão confirmando que o indivíduo pode encontrar-se só no mais movimentado local do mundo onde tudo e todos enfrentam o mais "mortal" de todos os perigos... a confirmação dessa solidão e do anonimato social que representam.
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"Ele: A vida passa num segundo quando se está prestes a morrer."
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7 / 10
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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Fénix - Premio Iberoamericano de Cine 2016: os nomeados

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Foram hoje divulgados os nomeados aos Fénix - Premio Iberoamericano de Cine, cuja terceira edição se irá realizar a 7 de Dezembro próximo na Cidade do México. São os nomeados:
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Melhor Longa-Metragem de Ficção
Aquarius, de Kleber Mendonça Filho
Boi Neon, de Gabriel Mascaro
El Clan, de Pablo Trapero
Desde Allá, de Lorenzo Vigas
La Mort de Louis XIV, de Albert Serra
Neruda, de Pablo Larraín
Te Prometo Anarquía, de Julio Hernández Cordón
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Melhor Documentário - Longa-Metragem
327 Cuadernos, de Andrés Di Tella
Cinema Novo, de Eryk Rocha
Tempestad, de Tatiana Huezo
Todo Comenzó por el Fin, de Luis Ospina
El Viento Sabe que Vuelvo a Casa, de José Luis Torres Leiva
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Melhor Realização
Aquarius, Kleber Mendonça Filho
Boi Neon, Gabriel Mascaro
El Clan, Pablo Trapero
La Mort de Louis XIV, Albert Serra
Neruda, Pablo Larraín
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Melhor Interpretação Masculina
Alfredo Castro, Desde Allá
Ricardo Darín, Truman
Guillermo Francella, El Clan
Gael García Bernal, Neruda
Luis Gnecco, Neruda
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Melhor Interpretação Feminina
Juana Acosta, Anna
Sónia Braga, Aquarius
Jana Raluy, Un Monstruo de Mil Cabezas
Erica Rivas, La Luz Incidente
Magaly Solier, Magallanes
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Melhor Argumento
La Academia de las Musas, José Luis Guerín
Boi Neon, Gabriel Mascaro
El Clan, Julián Loyola, Esteban Student e Pablo Trapero
Desde Allá, Lorenzo Vigas
Un Monstruo de Mil Cabezas, Laura Santullo
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Melhor Montagem
La Academia de las Musas, José Luis Guerín
Boi Neon, Fernando Epstein e Eduardo Serrano
El Clan, Alejandro Carrillo Penovi e Pablo Trapero
Desde Allá, Isabela Monteiro de Castro
Neruda, Hervé Schneid
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Melhor Fotografia - Ficção
Boi Neon, Diego García
Cartas da Guerra, João Ribeiro
Eva no Duerme, Ivan Gierasinchuk
Neruda, Sergio Armstrong
Oscuro Animal, Fernando Lockett
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Melhor Fotografia - Documentário
Eldorado XXI, Luis Armando Arteaga
Oleg y las Raras Artes, Carmen Torres
Tempestad, Ernesto Pardo
Treblinka, João Ribeiro
El Viento Sabe que Vuelvo a Casa, Cristian Soto
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Melhor Música Original
Boi Neon, Otávio Santos e Cláudio N. Carlos Montenegro
El Clan, Sebastián Escofet
John From, João Lobo
Oleg y las Raras Artes, Oleg Karavaychuk
Tempestad, Leo Heiblum e Jacobo Lieberman
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Melhor Direcção Artística
Boi Neon, Maira Mesquita
El Clan, Sebastian Orgambide
La Luz Incidente, Ailí Chen
La Mort de Louis XIV, Sebastian Vogler
Neruda, Estefanía Larraín
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Melhor Guarda-Roupa
Boi Neon, Flora Rebollo
El Clan, Julio Suárez
La Luz Incidente, Mónica Toschi
La Mort de Louis XIV, Nina Avramovic
Neruda, Muriel Parra
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Melhor Som
Aquarius, Ricardo Cutz e Nicolás Hallet
El Clan, Leandro de Loredo e Vicente d'Elia
Desierto, Sergio Diáz, Vincent Arnardi e Raul Locatelli
Neruda, Miguel Hormazábal e Rubén Piputto
Oscuro Animal, Roberta Ainstein e César Salazar
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sábado, 24 de setembro de 2016

QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer 2016: os vencedores

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Competição de Longas-Metragens
Longa-Metragem: Antes o Tempo Não Acabava, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo

Prémio do Público: Rara, de Pepa San Martín
Actor: Anderson Tikuna, Antes o Tempo Não Acabava
Actriz: Julia Lübbert, Rara
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Competição de Documentários
Documentário: Irrawaddy Mon Amour, de Valeria Testagrossa, Nicola Grignani e Andrea Zambelli
Menção Especial do Júri: Coming Out, de Alden Peters
Prémio do Público: Waiting for B., de Paulo César Toledo e Abigail Spindel
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Competição de Curtas-Metragens
Curta-Metragem: 1992, de Anthony Doncque
Menção Especial do Júri: Como en Arcadia, de Jordi Estrada
Prémio do Público: Pink Boy, de Erick Rockey

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Competição In My Shorts
Prémio Melhor Curta-Metragem de Escola: Children, Madonna and Child, Death and Transfiguration, de Ricardo Vieira Lisboa
Menção Especial do Júri: Climax, de Fulvio Balmer Rebullida e La Tana, de Lorenzo Caproni
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Competição Queer Art
Filme: A Paixão de JL, de Carlos Nader
Menção Especial do Júri: Trilogie de Nos Vies Défaites, de Vincent Dieutre

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Bill Nunn

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1953 - 2016
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Zinemaldia - Festival Internacional de Cine de Donostia/San Sebastian 2016: os vencedores

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Prémios Oficiais
Concha de Oro: Wo Bu Shi Pan Jinlian, de Xiaogang Feng
Prémio Especial do Júri: El Invierno, de Emiliano Torres e Jätten, de Johannes Nyholm
Concha de Plata - Realizador: Hong Sangsoo, Dangsinjasingwa Dangsinui Geot
Concha de Plata - Actor: Eduard Fernández, El Hombre de las Mil Caras
Concha de Plata - Actriz: Fan Bingbing, Wo Bu Shi Pan Junlian
Prémio do Júri - Argumento: Isabel Peña e Rodrigo Sorogoyen, Que Dios nos Perdone
Prémio do Júri - Fotografia: Ramiro Civita, El Invierno
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Outros Prémios Oficiais
Prémio Kutxabanl - Nov@s Realizador@s: Sofia Exarchou, Park
Menção Especial: Morgan Simon, Compte tes Blessures
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Prémio Horizontes: Rara, de Pepa San Martín
Menção Especial: Alba, de Ana Cristina Barragán
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Prémio Zabaltegi-Tabakalera: Eat That Question: Frank Zappa in his own Words, de Thorsten Schüte
Menção Especial: La Disco Resplandece, de Chema García Ibarra
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Prémio do Público Donostia/San Sebastian 2016 - Capital Europeia da Cultura: I, Daniel Blake, de Ken Loach
Prémio Film Europeu: Ma Vie de Courgette, de Claude Barras
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Prémio Irizar Cinema Basco: Pedaló, de Juan Palacios
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Prémio EROSKI da Juventude: Bar Bahar, de Maysaloun Hamoud
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Prémios do V Fórum de Co-Produção Europa-América Latina
Prémio ao Melhor Projecto: 7:35AM, de Javier van de Couter
Menção Especial: Hogar, de Maura Delpero
Prémio EFADs-CACI: Los Días Según Ellos, de Juan Pablo Félix
Prémio ARTE International: Hogar, de Maura Delpero
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Prémios Cine en Construcción 30
Prémio de la Indústria: La Educación del Rey, de Santiago Esteves
Prémio CACI/Ibermedia: La Educación del Rey, de Santiago Esteves
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Prémios XV Encontro Internacional de Estudantes de Cinema
Prémio PANAVISION: Étage X, de Francy Fabritz
Prémio PANAVISION - Menção Nominal: Umpire, de Leonardo van Dijl
Prémio Orona: 24º 51' Latitud Norte, de Carlos Lenin Treviño
Prémio Orona - Menção Especial Nominal: A Quien Corresponda, de Valeria Fernández
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Outros Prémios
Prémio TVE - Otra Mirada: Bar Bahar, de Maysaloun Hamoud
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Prémio Cooperação Espanhola: Oscuro Animal, de Felipe Guerrero
Menção Especial: Viejo Calavera, de Kiro Russo e Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
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Prémio Tokyo Gohan: Theater of Life, de Peter Svatek
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Prémios Paralelos
Prémio FIPRESCI: Lady Macbeth, de William Oldroyd
Prémio Feroz Zinemaldia: El Hombre de las Mil Caras, de Alberto Rodríguez
Prémio Argumento Basco: Mikel Rueda, Nueva York, Quinta Planta
Prémio Lurra - Greenpeace: L'Odyssée, de Jérôme Salle
Prémio SIGNIS: Nocturama, de Bertrand Bonello
Prémio SIGNIS - Menção Especial: A Monster Calls, de Juan Antonio Bayona
Prémio da Associação de Doadores de Sangue de Gipuzkoa à Solidariedade / Elkartasun Saria: La Fille de Brest, de Emmanuelle Bercot
Prémio Sebastiane: Bar Bahar, de Maysaloun Hamoud
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Prémios Honorários
Prémios Donostia: Ethan Hawke e Sigourney Weaver
Prémio Jaeger-Lecoultre ao Cinema Latino: Gael García Bernal
Prémio Zinemira: Ramón Barea
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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O Ninho (2016)

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O Ninho de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon é uma mini-série brasileira exibida enquanto longa-metragem de ficção na secção Panorama da vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge.
Bruno (Nicolas Vargas) foge do cumprimento do serviço militar para, rumo a Porto Alegre, tentar encontrar o paradeiro do irmão desaparecido há anos. Chegado ao local que o irmão costumava frequentar, Bruno encontra as memórias que ele deixou... os amigos que formou e um espaço onde ele próprio pode expressar o seu ser de forma livre de preconceitos. Bruno encontra em Porto Alegre o lar que sentiu faltar-lhe.
Depois de Beira-Mar (2015), a dupla Matzembacher e Reolon regressa ao QueerLisboa com mais uma intensa história sobre uma descoberta do passado que influencia de forma dramática a percepção de um presente sentido. A dupla de realizadores em parceria com Eleonora Loner escrevem  o argumento desta mini-série - brilhantemente apresentada neste festival enquanto uma longa-metragem - cuja narrativa se subdivide em quatro importantes segmentos (os quatro episódios da mini-série) apelando, cada um deles, a uma distinta fase evolutiva no comportamento e no pensamento de "Bruno", um jovem perdido numa encruzilhada sobre o seu passado (desconhecido) enquanto família e o seu presente a nível emocional e afectivo.
Num primeiro momento intitulado Para Além do Muro do Meu Quintal, o espectador acompanha um jovem "Bruno", perdido numa encruzilhada sentimental onde o seu pensamento oscila entre a memória de um irmão desaparecido que tenta encontrar e o despertar da percepção de um conjunto de sentimentos que nutre - e que vive - no silêncio do seu anonimato.
Oriundo de uma família conservadora e recentemente chegado a uma grande cidade "fugido" do cumprimento do serviço militar, "Bruno" tem apenas um único pensamento... passar o seu fim-de-semana a tentar descobrir um irmão de quem nada sabe há anos. Perdido numa grande cidade onde não tem amigos, não tem sinais físicos do seu irmão e num ritmo de contra-relógio, "Bruno" começa a frequentar os locais que sabe terem sido os espaços do seu irmão. Os poucos detalhes que o espectador recebe sobre a vida desse irmão desaparecido prendem-se exclusivamente com a vida sentimental do mesmo... Sabemos que o irmão de "Bruno" era homossexual, fugido do conservadorismo de uma família que não o queria compreender e que o renegavam à indiferença fazendo dele um dos muitos jovens adolescentes que se vêem perdidos não só na exclusão de seu núcleo primário como depois ameaçados por um mundo que nem sempre está disposto a aceitar a dita "diferença".
Depois de um primeiro segmento em que "Bruno" chega a Porto Alegre, O Ninho entrega um segundo momento intitulado Suave Coisa Nenhuma, no qual o espectador percebe que o jovem militar tem, também ele, os seus próprios segredos sentimentais e que tenta compreender enquanto descobre todo um novo grupo de amigos que - saberemos mais tarde - tal como o seu irmão, compõem a sua nova família longe do lar que, até então, não encontrou. É também neste segmento que "Bruno" conhece "Leon" (Luiz Paulo Vasconcellos), um homem mais velho que viveu uma sexualidade algo reprimida e que tenta lançar auxiliar as novas almas perdidas pela cidade na aceitação de um "eu" que se abre lentamente. Num interessante paralelismo entre o passado e o presente, onde se reflecte sobre o que fora escondido noutros tempos e que é agora conscientemente aceite como parte desse "eu" reprimido, este segundo segmento de O Ninho é aquele onde se estabelecem as amizades que se formam para toda uma vida; os conhecimentos nos quais se encontram - se assim se poderá dizer - os seus "pares"... aqueles que os (se) compreendem e os mesmos que irão formar uma boa parte de uma memória colectiva de um passado vivido com uma maior abertura e liberdade.
No entanto são os dois segmentos finais - episódios 3 e 4 - aqueles que maior definem o clímax dramático de O Ninho na medida em que num primeiro momento são definidas as relações entre "Bruno" e "Stella" - aquela que fora a maior cúmplice de "Leo" - o irmão do jovem militar - quando este chega à grande cidade fugido da família, e no qual são revisitados lugares e momentos da sua juventude e adolescência como que num paralelismo com a vida de "Bruno" que agora procura o seu próprio lugar no mundo. É exactamente neste mesmo segmento que existem todas as dúvidas... será "Stella" algo mais do que uma amiga de "Leo"? Quão cúmplices foram realmente? Desconhecerá de facto o paradeiro do irmão de "Bruno"? Por momentos - e sem revelar muito - o espectador questiona-se, graças a breves indícios, sobre até que ponto não será "Stella" uma extensão de "Leo"... e, por muito absurda que possa parecer a suposição que paira no ar, a realidade é que a relação criada entre ela e "Bruno" parece transcender a de meros conhecidos in loco estabelecendo laços afectivos que parecer caminhar lado a lado como se de dois familiares próximos se tratassem.
Da visita à casa da praia - novamente a paisagem estival fora de época presente na obra de Matzembacher e Reolon tal como no já referido Beira-Mar - este terceiro segmento de O Ninho dá lugar a uma mescla de sentimentos que oscilam entre uma proximidade cada vez mais presente e uma distância muito semelhante àquela da perda... da desilusão e até mesmo a um vazio, as questões levantadas neste momento parecem ser mais e maiores do que aquelas que foram - até então - respondidas contribuindo apenas para a percepção de um perdido "Bruno" de que a sua vida aparenta estar agora apenas a começar. É com isto em mente que entramos nos últimos instante de O Ninho onde "Bruno" tem finalmente de encontrar a sua realidade... aquela que abandonou momentaneamente para encontrar um irmão desaparecido... Alguém de quem nada sabe e que, na realidade, não conhece mas de quem sente a falta como se se tratasse de um membro socialmente "amputado" da sua realidade e da sua vida. É o momento em que "Bruno" tem finalmente de encarar quem são realmente os membros de uma nova família que construiu - e irá construir - com o passar dos tempos... aqueles de quem irá agora despedir-se mas que sabe serem os únicos que alguma vez o irão receber de braços abertos independentemente dos seus actos, do seu passado, das suas posses ou até mesmo das suas escolhas.
Com um elenco que prima pela excelência O Ninho faz destacar a superior interpretação de Nicolas Vargas que capta a essência de um jovem perdido no mundo. Perdido sob uma perspectiva familiar - o tal núcleo base onde se deveria sentir em segurança - mas também perdido a nível afectivo e até mesmo sexual. Vargas capta essa essência sempre através de um olhar - também ele - perdido, mas que faz transparecer a clara convicção de que segue por um caminho que o irá levar ao seu devido destino. No fundo, Vargas faz do seu "Bruno" um jovem que para lá de procurar o destino do seu irmão desaparecido, um que procura as suas próprias raízes - não de origem mas construídas - estabelecendo-as como o local e o momento aos quais pode recorrer em caso de uma necessidade... Ali - numa Porto Alegre aparentemente desiludida - onde sabe que o irão receber sem questionar o porquê da sua chegada.
A acompanhar Nicolas Vargas encontramos ainda uma Sophia Starosta dona de uma contenção emotiva sem limites. Uma actriz que faz da sua "Stella" alguém que espera encontrar num jovem "Bruno" a amizade que perdera com um desaparecido "Leo" sabendo que apenas irá encontrar num uma ínfima parte de outro. A emotividade que faz transparecer da sua personagem são um íman imediato da atenção do espectador que espera que "Stella" rompa uma qualquer máscara que a impede de exalar todos os seus pensamentos. Finalmente, e não menos digno de um devido apontamento pela sua intensidade - também ela relativamente contida -, o espectador encontra Guilherme Bassan que através de "Ariel" - a personagem a quem dá vida e uma alma silenciosa - destila uma emotividade capaz de romper o silêncio da sua expressão desarmando um espectador que já se havia encantado com as duas personagens protagonistas e encontra aqui um actor cuja personagem "rouba" o seu quinhão de protagonismo transformando-o numa das mais importantes desta história.
Emotivo pela sua capacidade emotiva que surge num constante crescendo e que dá vida a uma empatia por parte do espectador que se "cola" ao ecrã com toda esta história de busca e redenção, O Ninho é o franco e honesto resultado de uma belíssima equipa de profissionais - técnicos e actores - preocupados com a sua capacidade de contar uma história - entre histórias - de sentimentos, de perdas, de aceitação e principalmente uma história que conta aquilo que todos procuram na sua essência... aquele lugar... aquele pequeno lugar ao qual se sinta pertencer, livre de julgamentos e sentenças, e a que se possa chamar de lar.
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10 / 10
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A Seita (2015)

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A Seita de André Antônio é uma longa-metragem brasileira presente na Competição Queer Art da vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorre até amanhã no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Recife, 2040. Uma cidade deserto após um abandono que levou a população a emigrar para as colónias espaciais. Um dos seus antigos moradores decide, um dia, regressar à cidade e à casa onde nascera na qual passa o seu tempo a ler, passear pelas ruas desertas e envolver-se sexualmente com vários homens. Um dia descobre "A Seita" que povoa o submundo da cidade.
Com argumento também da autoria do realizador, A Seita inicia a sua viagem com uma premissa interessante sobre um imaginário de um futuro já não tão distante. Desde o que que levou a população a abandonar o planeta ou o estado em que este ficou com cidades agora fantasmas de uma memória passada sem esquecer aqueles que podem ter permanecido na mesma como que se de uma resistência se tratasse fazem o espectador ansiar por acontecimentos que expliquem os porquês de uma sociedade no futuro que, no entanto, poucos sinais do mesmo exibe. Pelo contrário, em A Seita aquilo que o espectador confirma é o facto desse mesmo futuro ser não só desolador pela aparente extinção de boa parte da vida citadina como pelo próprio ruir das suas estruturas que aqui são meros sinais decadentes de um passado eventualmente próspero.
Eis que chegamos então à nossa personagem principal... Um jovem regressado das colónias espaciais onde vive boa parte de uma população com recursos para ter abandonado a degradação terrestre, e que aqui se presta a uma vida de uma decadência social apenas comparável - na nossa actualidade - a uma anunciada colonização onde colonizador "testa" os nativos para uma vida de ascenção social que, no entanto, não poderão manter. Este jovem, dotado de uma soberba sem paralelo, recupera a sua antiga casa para um ambiente senhorial, com finas e trabalhadas porcelanas, cortinas de veludo, arte e livros... muitos livros que cuidadosamente estão dispersados pelo apartamento e que ele exibe com orgulho como explicativo da sua condição social... quanto mais livros... mais culto é (será?).
É neste mesmo apartamento que ele tece frívolos diálogos com os homens que atrai para a sua casa, na qual se deleita pelos prazeres da carne mas com os quais nunca estabelece qualquer tipo de empatia para lá da frivolidade necessária para se exibir e ali os atrair como que uma aranha que aguarda a sua próxima presa. Numas ruínas - que julgamos fazer parte da cidade do Recife - este jovem passeia-se sem qualquer preocupação a escolher a "vítima" para uma nova noite sem nunca repetir... tal a sua aparente indiferença face a uma necessidade carnal que precisa saciar.
As ruas - escutamos por breves momentos - são inseguras. As pessoas desaparecem e apesar da sua aparente tranquilidade, percebemos que existe um desconforto e sobressalto com as ocasionais sirenes da polícia que se fazem ouvir. Os edifícios estão, também eles, desertos e a vida humana da cidade parece apenas residir em espaços como as ruínas onde ele engata... Por medo, vergonha, receio ou incerteza, todos parecem habitar os meandros mais escuros de uma cidade repleta de luz. Não existe população mais velha. Não existe nenhuma lei aparente. Existem encontros casuais, de circunstância e a sombra de uma seita que governa o lado oculto de uma cidade decadente e em ruínas.
Ao contrário das colónias espaciais, no Recife todos dormem. Todos sonham. Todos vivem tranquilos na sua incerteza. Divertem-se de noite num clube e a vida que em tempos predominava é agora - para eles - o único conforto que os faz distanciar-se de uma população mais velha com o peso de uma qualquer responsabilidade. Incerto, o espectador, vislumbra todo este cenário pouco apelativo com a esperança de poder enfrentar aquilo que se avizinha... sem saber o quê...
Perdido numa vaga de momentos pseudo-intelectuais que teorizam sobre uma sociedade superior embelezada com elementos do passado - a arte, as xícaras, os comportamentos trabalhados e os livros como mostra de uma qualquer intelectualidade - fazem de A Seita uma longa-metragem à qual o espectador se sente indeciso sobre uma de duas possibilidades... a primeira, e mais simplista, é sobre uma qualquer mensagem que se pretendeu transmitir sobre uma sociedade de falsas aparências na qual todos levam uma vida dupla... aquela que durante o dia é minimamente aceite aos olhares exteriores mas que, durante a noite, se catapulta para uma estranha boémia onde - finalmente - todos os sentidos ficam apurados para os prazeres reais. A segunda interpretação - e aparentemente aquela que consegue fazer mais sentido no imediato (e não só) - que leva o espectador a reflectir sobre a presunção do argumentista e realizador face a uma obra que tenta ser intelectual e metafórica mas que, na realidade, não ultrapassa essa pseudo-intelecutalidade mergulhando em lugares comuns - mais banais - sem eira nem beira, sentido ou mensagem encriptada, tornando-se facilmente ridicularizada, propositadamente ofensiva e altamente aborrecida. Não sou de adormecer na exibição de um filme mas... que escutei bocejos... escutei.
A Seita vive de uma premissa desafiadora. De um objectivo comprometido com uma mensagem vinda de um eventual futuro e até de uma tentativa de teorizar sobre uma potencial questão ambiental que fez o Homem abandonar o seu espaço natural... mas perde-se com a frivolidade, com a mediocridade e com o fraco savoir faire que se espera de uma obra ambiciosa na sua mensagem e que poderia ser competente mesmo com os eventuais parcos recursos que estariam disponíveis para a mesma e que não definiriam a sua limitação.
Com personagens pouco empáticas e - também elas - a exalar comportamentos que mesclam o banal, o ridículo e o preconceito (ou pré-conceito), A Seita é - à data - o filme mais dispensável e com menor qualidade que o QueerLisboa exibiu em qualquer uma das suas secções... o mesmo filme do qual o público saiu com sorrisos esboçados sobre a sua mediocridade... ou atónito pelo non sense que muitas das suas personagens recriaram... com aparente prazer.
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1 / 10
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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Gian Luigi Rondi

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1921 - 2016
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Grandma (2015)

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Grandma de Paul Weitz é uma longa-metragem norte-americana que passou na secção Panorama desta vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorre no Cinema são Jorge, até ao próximo dia 24 de Setembro.
Depois de terminar o seu mais recente relacionamento, Elle (Lily Tomlin) recebe a visita de Sage (Julia Garner) a sua neta adolescente, que lhe revela precisar urgentemente de dinheiro.
A inesperada união destas duas mulheres leva-as a revisitar o passado de Elle enquanto, ao mesmo tempo, ambas estabelecem uma forte e cúmplice ligação fazendo-a abraçar um passado, até então, não lembrado.
A mais recente longa-metragem de Paul Weitz - na qual exerceu funções de produtor, realizador e argumentista - é o grande regresso em força de uma sempre espera Lily Tomlin (figura central de todo o filme), no papel de uma mulher de feitio algo complicado que se encontra num momento de viragem na sua vida. Viúva após a morte da sua companheira de toda uma vida, "Elle" (Tomlin) separa-se da sua mais recente relação com uma mulher mais nova que, segundo ela, não iria garantir-lhe mais do que uns breves momentos de prazer. Neste momento de viragem onde não mantém relações afectivas, de amizade ou mesmo familiares com uma filha que se mantém distante, "Elle" recebe uma jovem neta naquele que é - também ele - um momento da sua vida. Com poucas perspectivas de uma velhice mais descansada, "Elle" decide então encarregar-se da neta que acompanha e protege enquanto revisita todo o seu passado como esperança de poder saldar algumas dívidas... monetárias e sentimentais.
Dividido em seis breves capítulos, o argumento de Paul Weitz inicia a sua narrativa com a concretização de um final - 1."endings" - onde "Elle" encerra a mais recente etapa da sua vida que, por medo da entrega, da cumplicidade ou de voltar a perder o que mais estima, a levam a considerar que a (sua) solidão será mais reconfortante do que a imagem de um futuro incerto. A abrir com uma expressão reveladora de toda a dinâmica de Grandma, "Time passes. That's for sure", o espectador delicia-se com o comportamento irascível de uma mulher que se afirma pelo sua faceta dura e rude que oculta todos os sentimentos sentidos e ignorando a dor que acumula como uma penitência.
Com uma viagem pelo passado em busca do dinheiro perdido e esperado - 2."ink", 3."apes" e 4."The ogre" - são o tal caminho que será necessário percorrer pelos velhos amigos e espaços conhecidos que a poderão salvar de uma situação angustiante e necessariamente transformadora. De todos estes segmentos, e eventualmente de todo o filme, é "The Ogre" aquele que contém a maior carga dramática e emotiva, aquando da visita de "Elle" a "Karl" o seu ex-marido do qual fugiu durante uma noite quando compreendeu a sua verdadeira sexualidade. De uma recepção inicialmente amistosa ao remexer de um passado sofrido que o espectador compreende esconder mais do que um simples sorriso de um inesperado encontro, este segmento termina com o rancor de uma vida interrompida - literalmente - e com a mágoa que tornou duas pessoas aparentemente alegres em amargos e relativamente destruídos num íntimo desconhecido dos demais.
Do ressentimento de uma vida passada àquele tido para com uma filha ausente - 5."kids" -, Grandma revela a relação agreste de "Elle" com "Judy" (Marcia Gay Harden). Mãe e filha distantes pelo viver libertino de uma e o excesso de responsabilidade da outra, encontram agora a aproximação que lhes era necessitada graças a um evento da neta que recorre a uma avó que sente distante mas como o seu único recurso face a uma mãe austera. A morte separa... a morte une... é com base nesta premissa que se pode caracterizar a relação das duas mulheres... de mãe e de filha... e destas para com uma neta que, não sendo descurada é, no entanto, sentimentalmente negligenciada vivendo uma vida que é relativamente livre nos actos mas austera nas consequências encontrando, agora, na presença de uma avó que é assumidamente um poço de alguma sabedoria, irascível mas acolhedora, que as três mulheres acabam por encontrar todo o apoio - por confirmar - que necessitavam.
Finalmente o último segmento - 6."dragonflies" - de Grandma é como que uma reflexão da vida - passada e presente - onde "Elle" percebe finalmente que tem o seu lugar no mundo - e no mundo de alguém - estando, no entanto, solitária num percurso que fora, até então, percorrido a duas mãos e que agora terá de abraçar enquanto um caminho sim... mas o seu... livre e descomprometido, solitário mas com a certeza de que alguém a poderá e estará a esperar no seu final.
Eventualmente o filme mais quente e mais emotivo - à data - desta edição do QueerLisboa, Grandma é um triunfo não só para o realizador que aparentava não ter um filme do mesmo calibre desde o ido About a Boy (2003), mas também para Lily Tomlin que aqui encontra uma personagem à altura da sua qualidade interpretativa, entregando à sua "Elle" uma alma maior, uma personalidade única e um sentimento de um desespero controlado como manifestação face a um mundo que se transformou desde os tempos da sua juventude mais libertina - que nunca chegou a perder - e agora a encontra numa nova experiência mas, no entanto, com um olhar mais fechado e conservador que não faz jus à sua enorme vontade de viver nem tão pouco à sua (des)esperança sentida no(s) - e para com - demais.
Emotivo, divertido, sentido, reflexivo e com uma alma intensamente grande como a de Lily Tomlin, Grandma é aquele pequeno - em duração - grande filme que contém tudo aquilo que o espectador necessita para sair de uma sala de cinema com a percepção de que no final de um caminho tudo parece - estranhamente - terminar tal como devia garantindo a confirmação de uma vida bem vivida... independentemente dos seus percalços.
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"Elle Reid: You need to be able to say 'screw you' sometimes."
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8 / 10
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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

2 Minutos (2016)

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2 Minutos de Afonso Pimentel - também o argumentista - é uma curta-metragem portuguesa de ficção com a interpretação de duas grandes actrizes portuguesas: Alexandra Lencastre e Beatriz Batarda.
Duas mulheres... um instante de uma noite. Uma declaração. Uma separação que parece inevitável. Pelo meio a confirmação de um desejo.
Criada pelo actor e realizador português Afonso Pimentel sob a premissa de "La Nuit" lançada pela Academia Francesa de Cinema, 2 Minutos é o registo de um encontro e de uma separação entre duas mulheres anónimas e amantes que, naquele instante de uma qualquer noite, confirmam o mútuo desejo e efectivam um distanciamento face a algo que aparentemente nunca poderá acontecer.
Uma dessas mulheres - Batarda - afasta-se da outra - Lencastre - que a persegue por desejar aquilo que parece estar a perder. A primeira quer algo mais... quer a presença de alguém que nunca está, que nunca dá notícias e que se afasta deixando um sempre presente desconforto. A que persegue - uma sempre fabulosa Alexandra Lencastre - deseja, seduz, insinua-se, toca, sente e confere à personagem interpretada por Beatriz Batarda aquilo que persegue ser desta uma vontade... o sentimento.
A noite - a tal personagem omnipresente nesta história - tudo esconde e tudo revela. Esconde a proveniência destas duas mulheres, esconde o momento que as trouxe ali, as origens de um problema que, por sua vez, se revela no anonimato de um movimentado Príncipe Real criando uma troca de palavras que tem tanto de sedutor e poético como de despedida e de revolta pela não confirmação de um sentimento - ou desejo - que parece expirar a cada momento que passa. As promessas são vãs... diz a certa altura uma Beatriz Batarda desesperada com a percepção de que o seu sentimento não foi retribuído criando na personagem de Alexandra Lencastre a compreensão de que tudo foi fugaz... sentido enquanto o deteve.. mas irreal numa concretização de facto do sentido e cobiçado. O proibido, o segredo, a sombra que a noite conferiu estão agora revelados debaixo de uma luz artificial que tem a durabilidade de umas poucas e breves horas. O desejo, tal como o momento, passa... deixando o nada.
Em pouco menos de três minutos duas das mais intensas actrizes portuguesas entregam ao espectador um breve mas marcante momento sobre o desejo. Um desejo mútuo mas que não sendo confirmado as obriga a um distanciamento inadiável. A noite revela nos seus rostos as marcas de um sentimento sofrido, constante e dilacerante. O talento destas duas actrizes revela, também ele, que as deveríamos ter mais presentes no nosso cinema... E se Batarda confirma a marca a sua presença de forma regular, a personagem criada por Afonso Pimentel confirma uma ideia que paira no pensamento de muito de nós - no meu, pelo menos, assumo-o sem qualquer reserva - ou seja, porque motivo não temos mais presente uma actriz como Alexandra Lencastre que consegue, de forma "fácil" e - na falta de palavra melhor - marcante, entregar corpo, alma e uma intensidade dramática desarmante às personagens a que dá vida?
Com "corpo" suficientemente interessante para poder dar vida a uma longa-metragem, Afonso Pimentel criou duas intensas personagens - através de duas intensas actrizes - que teriam muito para explorar sobre os seus passados, origens e (des)encontros revelando algo que já havia por estes lados afirmado graças ao seu Noiva Precisa-se (2012), que enquanto realizador teria ainda muito por explorar com qualidade filmica e narrativa dando corpo mas ainda mais alma a personagens que sendo comuns... nada têm de vulgares.
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7 / 10
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terça-feira, 20 de setembro de 2016

Curtis Hanson

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1945 - 2016
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Virgindade (2015)

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Virgindade de Chico Lacerda é uma curta-metragem experimental brasileira presente na Competição de Curtas-Metragens desta vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge até ao próximo dia 24 de Setembro.
Numa sucessão de comentários sobre um passado vivido mas não experimentado, o realizador em voz-off relata e revela momentos da sua infância e adolescência onde se proporcionaram todo um conjunto de momentos onde a experiência sexual poderia ter acontecido mas... por inocência, um certo desconhecimento ou falta de coragem não se concretizaram.
Do fetiche de infância - apenas reconhecido em idade adulta - à curiosidade com todo um universo proibido mas que se encontrava à distância de um pequeno passo, sem esquecer os primeiros contactos com um universo homossexual nos balneários, cinemas e através de revistas da especialidade, ao espectador são ainda fornecidos nus integrais nos mais variados cenários como que uma adulação desse imaginário outrora proibido mas agora vivido como que recuperar o tempo perdido.
Quase como um diário visual, Virgindade é fundamentalmente o registo de toda uma experiência pessoal em forma de testemunho enquanto se vagueia por todo um ambiente citadino e campestre que - deduz o espectador -, fez parte da evolução e crescimento do realizador enquanto indivíduo bem como também funciona enquanto um ensaio exibicionista versus voyeurista que tenta provocar e entusiasmar pela facilidade com que exibe sem preconceitos todo um conjunto de nus.
Funciona enquanto "confessionário" de uma doco-evolução pessoal mas não consegue ser cativante enquanto obra cinematográfica por não criar uma ampla identificação com o espectador que assiste e espera um certo "ponto de situação" com a realidade presente do narrador.
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4 / 10
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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

AWOL (2016)

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AWOL de Deb Shoval é uma longa-metragem norte-americana presente na Competição de Longas-Metragens da vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que agora decorre no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Joey (Lola Kirke) vive num subúrbio perdido no interior dos Estados Unidos. Sem grandes objectivos ou propósitos para o seu futuro imediato, Joey pretende seguir uma carreira militar que lhe permita uma entrada mais facilitada na Universidade um dia mais tarde, até que conhece Rayna (Breeda Wool), uma mulher e mãe negligenciada por um marido rude e por quem se apaixona.
Num caminho que a divide entre um futuro mais promissor e um amor até então não sentido, Joey oscila sem conseguir perceber por qual optar. Poderá esta jovem tão perdida quanto o meio de onde provém encontrar o seu destino certo?
Tendo por base a curta-metragem homónina de 2010, Deb Shoval e Karolina Waclawiak escrevem o argumento desta longa-metragem que se centra, logo de imediato, em questões que qualquer espectador mais desatento identifica como uma certa realidade norte-americana prolífera em sonhos grandes demais para o momento imediato. Nesta terra de oportunidades e sonhos - muitos não cumpridos - AWOL retrata a realidade de uma jovem, comum a tantas outras, que se encontra perdida no espaço e divide o seu tempo entre trabalhos menores em feiras locais e um intenso desejo de poder ser alguém "melhor" num futuro que parece não querer chegar. Os planos, que facilmente se confundem com esses ditos sonhos não concretizáveis, perdem-se por entre desejos, ideais e um medo omnipresente sobre o que poderá ser melhor... arriscar o desconhecido ou manter-se fiel às suas raízes sabendo de antemão que o seu destino será ser "mais uma", entre tantas, mulheres que se torna "mulher de" e mãe no espaço de poucos anos sem que esse projecto faça parte do seu próprio imediato.
Com uma realidade que se apresenta cada vez mais limitada no que a escolhas e oportunidades diz respeito, "Joey" depara-se com o impensável... um amor platónico que rapidamente se confirma por outra mulher da sua pequena cidade: "Rayna", exuberante e propositadamente vistosa, consegue a sua atenção, e ambas desenvolvem uma relação tanto sentimental como sexual estando, esta última, já a viver o seu próprio - e aceitável para a sociedade - casamento que revela as suas próprias agruras e infidelidades. Com o sonho de uma família feliz, mas longe daquele espaço constrangedor e manipulador, onde todos se conhecem e onde a felicidade é impossível, a dupla de mulheres encontra a concretização da oportunidade nos braços uma da outra estando, no entanto, todo um outro futuro possível em risco. No limite da fronteira entre aquilo que é aceitável e o conforto de uma realidade que, não sendo boa, é garantida, a questão que o espectador (se) coloca é se existe a possibilidade destas duas mulheres serem algo mais do que um simples e ocasional affair que ambas recordarão como "aquela" oportunidade que em tempos se lhes proporcionou...
Com duas interpretações que estão - assumidamente - nos respectivos antípodas, Lola Kirke encarna a alma e o espírito de alguém que sabe merecer - e querer - algo mais do que as limitações sociais, económicas e sexuais que o seu meio lhe "impôs" estando disposta a lutar contra elas - curiosa a escolha de um eventual futuro militar associado a essa "luta" - e um dia obter a sua própria libertação e futuro... mesmo que para tal se necessite descolar de todo um passado que a marca. No outro lado da barricada encontramos Breeda Wool, uma mulher que abandonou os seus sonhos e se entregou a uma vida controladamente infeliz num relacionamento que não só não o sente como se deixa viver por uma estranha conveniência sob a alçada de um marido a quem ela apenas interessa quando chega a casa vindo de longas temporadas na estrada.
Do vazio de sonhos e desejos à esperança de uma vida melhor, estas duas mulheres caminham num limbo afectivo e sentimental onde "Joey" sonha com um amor e "Rayna" se condiciona com um lado (não) confortável de uma vida à qual se habituou. O espectador, que caminha este limbo com as duas, reconhece que o impossível é apenas e só delimitado por elas, pelos seus entraves psicológicos e pela já referida incerteza que as - mais a "Rayna" - condicionou ao hábito de uma vida (certa) mas infeliz.
Com um retrato fiel - penso - de um interior profundo dos Estados Unidos em que apenas a esperada limitação de uma vida corresponde à certeza de um destino sonhado e perdido, AWOL concentra ainda a tal vontade de viver um profundo e cúmplice amor mesmo que voluntariamente incompreendido ou negado por aqueles que a - a "Joey" - rodeiam. Desejo esse que persiste no seu interior e que quer viver... mesmo que tenha de desafiar todas as regras e compromissos de uma vida que será, a partir de então, perdida. Contido, e raramente exuberante, AWOL revela para lá do acto final cometido por "Joey", o seu sempre presente estado sentimental que longe das expectativas dos demais (cor)responde, única e exclusivamente, ao seu desejo de algo por vezes tão proibido... ser feliz
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7 / 10
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Antes o Tempo Não Acabava (2016)

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Antes o Tempo Não Acabava de Sérgio Andrade e Fábio Baldo é uma longa-metragem brasileira presente na Competição de Longas-Metragens da vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que agora decorre no Cinema São Jorge até ao próximo dia 24 de Setembro.
Anderson (Anderson Tikuna) é um jovem indígena que vive numa pequena comunidade nos arredores de Manaus. No seio de um conflito interno que o colocam em primeiro lugar resistente aos hábitos da sua comunidade e, de seguida, numa luta pela sua auto-afirmação, Anderson decide partir para a grande cidade e conhecer todo um novo conjunto de sentimentos e sensações aos quais estava, até então, privado.
A dupla de realizadores e também argumentistas de Antes o Tempo Não Acabava, apresenta com esta obra, um conjunto de elementos curiosos que passam desde a sexualidade pela dicotomia campo versus cidade sem, no entanto, esquecer o poder da tradição, da passagem do tempo e, acima de tudo o demais, a vontade explícita de uma auto-afirmação que parece não querer chegar.
"Anderson" é um jovem nativo que se vê a braços com o poder dos hábitos e tradições de uma comunidade em que nasceu onde os ritos de passagem são uma etapa determinante para o nascimento, crescimento e desenvolvimento de qualquer jovem. Tendo em mente uma primeira iniciação que o traumatiza pela agressividade da "prova" com que se depara, "Anderson" regista em jovem idade que os costumes que fazem parte da sua História enquanto membro de um clã mais não são do que uma violência da qual se quer distanciar. Ao mesmo tempo que atravessa esta etapa, o jovem começa ainda a descobrir a sua própria sexualidade, aquilo que cobiça e deseja e, no fundo, a sua forma pessoal de expressar os sentimentos que mais não são do que um aparente tabu numa comunidade fechada em si mesma. Com um trabalho "europeízado" mas que, no entanto, lhe possibilita comprar os poucos alimentos que tem, "Anderson" deseja aquilo que na sua perspectiva poderá conferir-lhe uma vida "de branco", longe das superstições e rituais que o marcaram de forma tão negativa... um nome não tribal.
Desesperado por sair da sua comunidade afectada pelo esquecimento e pela escassez - a todos os níveis - "Anderson" embarca numa viagem pela grande cidade, pelo conhecimento de novas músicas, novas pessoas e encontros sexuais fortuitos tanto com homens como com mulheres que possam, eventualmente, conferir-lhe uma percepção mais real daquilo que é, sente e que emana numa - e para uma - sociedade que é mais do que os pequenos rituais de transição que em tempos o marcaram pela força de uma brutalidade que não regista como sua.
O elemento queer de Antes o Tempo Não Acabava acaba por centrar-se nestes mesmos elementos, ou seja, na diferenciação de um estilo e modo de vida do campo que, no fundo, está às portas de uma cidade onde tudo existe e acontece, no fosso abismal que separa uma vida ocidentalizada dos costumes, rituais e tradições de uma comunidade fechada na vontade extrema de auto-preservação e sobrevivência de uma História milenar que aqui parece prestes a diluir-se pela força da tal "modernidade" e claro, como de sentimentos também se fala, na busca incessante de uma identificação de género - inicialmente "Anderson" parece denotar alguns elementos transgénero pela incerteza da sua sexualidade - e depois com uma aparente bissexualidade que o completam num mundo que está, no fundo, também ele em constante transformação e incerteza.
Antes o Tempo Não Acabava acaba, portanto, por demonstrar todo um registo docu-ficcionado das referidas comunidades indígenas que aprendem forçadamente a conviver com as inovações de um mundo ocidental que entra (entrou) pelos seus territórios sem pedir licença, apoderando-se de muitos modos e estilos de vida ou, pelo menos, alterando-os através da incerteza e da "possibilidade" de outra via. Alterando-os sem, no entanto, esquecer os já referidos rituais de passagem - legais ou não face aos olhos da lei dita ocidental - e da importância que estes têm face à preservação de um património quer histórico quer imaterial dos hábitos, costumes e tradições de comunidades que vão lentamente desaparecendo e tornando-se, também elas, parte de um mundo global que não consegue controlar - ou por vezes até registar - tudo aquilo que nele "acontece".
Mas, acima de todo o legado proto-filosófico que o espectador possa encontrar nas entrelinhas, Antes o Tempo Não Acabava transforma-se sobretudo no registo pessoal de um dos membros dessa mesma comunidade que ousou reclamar e aceitar o seu património histórico - o "nós" no "eu" - abraçando, por sua vez, todas as possibilidades de um "outro" mundo à sua porta onde se permitia expressar e manifestar a sua individualidade - sentimental, afectiva, sexual e não só - livre de amarras e julgamentos alheios que, independentemente de lhe poderem facultar diversas outras oportunidades no seu futuro conseguiam, pelo menos, mostrar-lhe que as mesmas existem dando-lhe o poder de uma escolha que anteriormente parecia sentir não as ter.
Com um sempre presente elemento natural, Antes o Tempo Não Acabava transmite ainda toda uma mancha cultural diversificada que caracteriza o Brasil contemporâneo, que o enriquece pela amálgama de cor e de sabor que as suas centenas de tribos, imigrações europeias e asiáticas ali fizeram chegar e que tantas vezes fica esquecido no cinema brasileiro... também ele rico graças a este quase sempre tímido registo - mas presente -, que relata que o país é muito mais do que as paradisíacas praias do Rio de Janeiro, e que deixa o espectador pensar sobre a sua aceitação num Brasil que aparenta, por momentos, querer ser mais "igual" e não único num século XXI cheio de pequenas grandes transformações.
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7 / 10
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European Film Awards - European Discovery: Prix FIPRESCI 2016: os nomeados

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A partir do Festival Internacional de Cinema de Oldenburg, na Alemanha, a Academia Europeia de Cinema divulgou os cinco nomeados deste ano ao European Film Award - European Discovery: Prix FIPRESCI, prémio que se destina a reconhecer um jovem realizador europeu naquela que é a sua primeira longa-metragem.
São nomeados:
  • Caini, de Bogdan Mirica (Roménia/França/Bulgária/Qatar)
  • Hymyilevä Mies, de Juho Kuosmanen (Finlândia/Alemanha/Suécia)
  • Liebmann, de Jules Herrmann (Alemanha)
  • Sufat Chol, de Elite Zexer (Israel/França)
  • Thirst, de Svetla Tsotsorkova (Bulgária)
O vencedor desta e demais categorias será conhecido numa cerimónia a realizar em Wroclaw - Capital Europeia da Cultura -, na Polónia a 10 de Dezembro próximo.
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sábado, 17 de setembro de 2016

Charmian Carr

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1942 - 2016
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Absolutely Fabulous: The Movie (2016)

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Absolutely Fabulous: The Movie de Mandie Fletcher é uma longa-metragem britânica e o filme escolhido para a cerimónia de abertura da vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa até ao próximo dia 24 de Setembro.
Edina (Jennifer Saunders) e Patsy (Joanna Lumley) estão de volta. Com a mesma vontade de viver a vida ao seu máximo cruzando toda uma vida de glamour e sedução, a dupla de amigas vê-se inesperadamente envolvida num escândalo internacional quando tentavam dar a volta às suas vidas.
Com a percepção de que os "amigos" são - infelizmente - raros e de que estão dependentes unicamente do seu próprio sucesso, Edina e Patsy embarcam numa viagem para um dos locais mais mediáticos do mundo - a Riviera Francesa - onde esperam escapar à polícia e manter o nível de vida a que sempre estiveram habituadas.
Com argumento da própria Jennifer Saunders, Absolutely Fabulous: The Movie recupera muito daquilo que a dupla de bonnes vivantes britânicas nos havia apresentado com a série que as eternizou já ida na década de 90. Droga, muito alcoól e a premissa de que, à mistura, existe (ou existiu) muito sexo, "Edina" e "Patsy" são duas mulher que se preocupam pouco - muito pouco - com as coisas pequenas da vida. Champagne, dinheiro de plástico e a confirmação de que tudo se resolve sem que elas (na prática) percebam como, é a receita ideal para que estas duas mulheres desfrutem dos bons dias que as suas vidas têm para lhes oferecer. No entanto, o que acontece quando essa realidade supostamente paralela é ameaçada com os problemas reais de uma vida... real?! O que acontece quando a crise económica, o tal "viver acima das possibilidades" e a confirmação de que o tempo e os anos realmente passaram pelos seus rostos lhes batem, finalmente, à porta e que agora têm de confirmar os seus dotes ou, pior ainda, a sua ausência, como forma de sobreviver num mundo que está longe de lhes ser contemplativo, brando ou até empático?!
A resposta - como seria de esperar - está longe de ser amarga mesmo que, pelo caminho, sejam tecidas algumas considerações sobre essa realidade à qual esta dupla sempre esteve alheia - e à qual assim se quer manter -... No fundo, o que é a realidade senão um estado pouco sóbrio e, como tal, longe do estado de espírito em que ambas vivem? "Edina" e "Patsy" poderiam ser - e são - o fruto de uma geração de 70, livre, despreocupada e com anseios de uma realidade perfeita onde todos no mundo desfrutassem das ditas "coisas mundanas"... o que é pagar contas... ter um trabalho... responsabilidades ou até mesmo obrigações quando tudo no mundo poderia ser resolvido com uma enorme, gigantesca e permanente festa que, sem constrangimentos ou carga negativa corresponde, no fundo, àquilo que elas próprias já vivem? A realidade, a mesma a que elas se vêem obrigadas a defrontar quando tudo parece começar a correr mal, atinge-as de frente numa sucessiva e instantânea confirmação de eventos e à parte da amizade que as une há décadas, tudo o demais parece concentrado em ameaçar a sua existência perfeita... mas, não é assim que se descobre realmente o que é o poder da amizade e o tal "mundo real"?
Numa sucessão de estrelas bem conhecidas da comédia britânica como a eterna e martirizada Julia Sawalha - "Saffy", a filha de "Edina" - Jane Horrocks, Kathy Burke, Celia Imrie ou Dawn French numa breve participação, à qual se juntam rostos como Chris Colfer, Jon Hamm, Jerry Hall, Emma Bunton, a lenda da canção ligeira britânica Lulu, a (aqui) mais ou menos martirizada Kate Moss e até mesmo Joan Collins, Absolutely Fabulous: The Movie é uma assumida sucessão de momentos hilariantes que, com o mesmo espírito da série à qual dá continuidade - e que suspeito será o primeiro de mais alguns títulos -, seduzem o espectador para o tal lado "brilhante" e despreocupado da vida, comprova que um dos laços mais fortes da mesma são as amizades que se criam e formam ao longo de anos e que tudo, por mais perdido que possa parecer, terá a seu tempo uma "fácil" - ainda que desastrada - resolução.
Com um conjunto de barreiras quebradas, um humor sempre acutilante e deveras corrosivo, muita verve nas palavras e nas acções, Absolutely Fabulous: The Movie é uma comédia inspirada, divertida, sem limites na vontade de auto-parodiar sem, no entanto, entrar na estrada da auto-destruição e com um espírito maior que a vida... ou pelo menos tão mordaz quanto se espera que ela seja e uma francamente boa aposta para iniciar este que é o festival de cinema mais antigo da capital.
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7 / 10
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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

W.P. Kinsella

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1935 - 2016
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Edward Albee

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1928 - 2016
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