Guerreiros de Daniel Calparsoro é um filme cuja história decorre durante o último conflito que assolou os Balcãs e conta a vivência de um grupo de militares espanhóis que aí se encontram destacados e as interpretações principais ficam a cargo de Eloy Azorín, Eduardo Noriega e Rubén Ochandiano.
Neste, como em tantos outros filmes de guerra, analisamos os comportamentos humanos. Temos sempre em consideração como actuam os soldados, preparados para conflitos armados e para situações mais agrestes e tensas. Prestamos atenção à bravura de uns e à loucura de outros.
Estamos então preparados para assistir a desempenhos frios e relativamente bem calculados que nos entreguem aquilo que esperamos... um perfil de soldado.
Dito isto, agrada-me ver um filme onde os actores se deixam levar não só pelo que é esperado como também por aquilo que de facto se deve passar no íntimo de quem passa por um conflito, esteja ele ou ela preparado ou não.
Uma guerra apela, e leva sempre, tanto o melhor como o pior de cada um. Apela a actos de bravura e de coragem ao mesmo tempo que retira de nós um instinto selvagem de sobrevivência para com o qual nos entregamos e agimos sem pensar duas vezes.
A guerra que transforma fracos em heróis é a mesma que transforma os bravos em racionais. É nesta primeira descrição que se enquadra o Soldado Vidal, interpretado por Eloy Azorín, um idealista humanitário que pretende com os seus conhecimentos ajudar um povo e um país a sair da guerra mas que, ao lá chegar, se vê transformado por ela para um indíviduo mais frio e calculista. Gostei do papel que este actor interpretou pois confirma aquele velho pensamento de que a guerra transforma de facto as pessoas para o seu oposto. Azorín tem aqui uma personagem bem trabalhada e realista que demonstra na perfeição um retrato do ser humano no seu estado puro.
Sou obrigado também a fazer um pequeno destaque ao imenso actor que é Eduardo Noriega. Este desvia-se um pouco dos papéis de vilão de serviço aos quais o ligo desde que o vi no Tese, e tem aqui o comportamento exactamente oposto de Azorín, ou seja, um Tenente que assume um comportamento mais recatado face às amarguras da guerra.
Não sendo um filme brilhante nem tão pouco maior dentro do cinema espanhol que tanto aprecio, não consigo deixar de simpatizar com este filme que de certa forma nos dá um retrato de um dos conflitos maiores que assolou o nosso continente nos últimos anos. Uma guerra tão destrutiva e cruel mas que passou tão desligada dos olhares do mundo.
Um filme cru mas ao mesmo tempo que não se consegue desligar da emoção, da loucura e das tormentas da guerra. Mas que acima de tudo transmite o essencial. Numa guerra não há vencedores. Há sempre vítimas. Os que morrem fisicamente e principalmente os que morrem psicologicamente.
8 / 10
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