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Crimes do Coração de Bruce Beresford é um drama familiar com a presença de três grande actrizes norte-americanas... Jessica Lange, Diane Keaton e Sissy Spacek.
Lenny (Keaton) é uma solteirona que toma conta de idosos até ao dia que a sua irmã Babe (Spacek) é acusada da tentativa de assassinato do seu marido. Depois de Babe detida, é a vez de Meg (Lange) voltar a casa depois de uma suposta carreira como cantora em Hollywood e dar-se assim o reencontro das três irmãs.
Todas elas vivem os seus dramas pessoais, alguns dos quais só serão revelados com este reencontro. Meg (Lange) afastou-se de tudo e todos devido a um amor não correspondido. Numa tentativa de o esquecer dá asas ao seu sonho artístico e tenta levar uma vida despreocupada que, a seu tempo, percebemos não corresponder à verdade.
Babe (Spacek) é uma mulher casada, de bem na sociedade local mas infeliz por não viver um amor que a complete. Até um dia... E é nesse mesmo dia que toda a sua vida toma diferentes contornos para percebermos o porquê daquele personalidade até então reprimida.
Quanto a Lenny (Keaton) é a irmã reprimida e solteirona que sempre dedicou a sua vida a cuidar primeiro das irmãs e depois de um avô moribundo nunca pensando em si ou nas suas necessidades.
Todas estas mulheres acabam por, de certa forma, complementar-se entre si. Várias são as características que cada uma delas tem e falta às demais, e não só por serem irmãs mas também por serem grandes amigas, independentemente da distância física que as pode separar, complementam-se.
O argumento deste filme da autoria de Beth Henley, que também assina a peça onde este filme se baseia, não só nos mostra as relações humanas, tão bem captadas pela mão de Beresford de quem mais tarde viríamos a assistir a um estrondoso Miss Daisy, como também retrata muito bem certas nuances e comportamentos tão presentes à altura, em muitos relatos das famílias sulistas. Um certo complexo rácico ainda presente, famílias disfuncionais que "funcionavam" apenas e só com base num retrato de estatuto social mas com pouca, ou nenhuma, base no respeito ou afecto entre as pessoas, isto no que aos casais diz respeito, e finalmente um retrato de auto-sacrifício em nome daqueles com mais de mais perto privamos.
Estas três actrizes, à altura já todos galardoados com um Oscar (Secundário no caso de Lange que só quase dez anos depois viria a vencer a sua estatueta numa categoria principal), são aquilo que se poderá facilmente chamar de "primeira linha". Confesso a minha especial simpatia e empatia para com Lange que sempre que a vejo, e aqui não é excepção, interpreta uma mulher aparentemente forte e com uma mente decidida mas que, bem analisada, mostra ser sensível e ter alguém que demonstre afecto ou compreensão pelo seu ser. A cada interpretação que vejo desta actriz cada vez mais a considero uma das mais fortes actrizes do panorama cinematográfico que, infelizmente, cada vez menos nos brinda com a sua forte presença.
Este tipo de filmes baseados em peças teatrais têm aquilo que muitas vezes pode ser considerado um defeito que é o facto de se concentrarem quase exclusivamente em cenários interiores e, como tal, poderem em certo ponto saturarem o espaço. No entanto, e como aqui se confirma, quando se encontram repletos de interpretações de topo, onde ainda se destaca por exemplo Sam Shepard, é impossível quase prestarmos atenção ao que se passa para além da aura que estes actores têm e o "simples" facto de estarem ali a representar de forma tão natural que mais parece a história dos nossos vizinhos do lado é profundamente envolvente.
Este filme foi nomeado, entre outros, para três Oscars. Um para argumento adaptado e dois de interpretação para Sissy Spacek e outro para Tess Harper que interpreta a prima alcoviteira das três irmãs. Apesar do reencontro destas irmãs se dever à personagem de Spacek, confesso que a personagem mais atormentada e possivelmente aquela que demonstra um comportamento mais destrutivo é a de Lange que, a meu ver, teria ela sim sido nomeada ao galardão de actriz principal.
Este é um filme que funciona bastante bem principalmente pela sua simplicidade ao não pretender ser mais do que aquilo que é, e também pelas fortes e espontâneas interpretações que se complementam entre si.
.7 / 10
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