domingo, 25 de novembro de 2012

La Chispa de la Vida (2011)

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A Chama da Vida de Álex de la Iglesia passou finalmente numa sala de cinema nacional graças à excelente programação do Cine Fiesta deste ano que, apesar de não contar (infelizmente) com  presença de nenhum convidado que representasse este filme, conseguiu ser um dos que mais reacções retirou do seu público.
Roberto Gómez (José Mota) é um publicitário no desemprego que tenta desesperadamente encontrar novamente o seu lugar no mundo laboral e assim conseguir renovar a sua dignidade junto dos seus pares e amigos mas particularmente junto da sua família.
Após mais uma tentativa frustrada de o obter, Roberto dirige-se para o hotel onde passou a lua-de-mel com a sua mulher Luísa (Salma Hayek), apenas para descobrir que desapareceu e são agora umas antigas ruínas romanas pertença do museu da cidade. Com uma desastrada entrada no museu prestes a ser inaugurado, Roberto vê-se metido numa caricata situação que o leva a um iminente desastre e uma espantosa acção mediática, da qual não só ele pretende tirar proveito, mas que a todos acaba por surpreender pelo seu desfecho.
Para quem já conhece um pouco da filmografia de Álex de la Iglesia não estranha que exista uma quantidade bem doseada de comédia negra, ironia e sarcasmo nos seus filmes. Assim o vimos com O Dia da Besta, com A Comunidade ou com o seu anterior Balada Triste de Trompeta onde é retratada toda uma sociedade através de pontuais momentos de comédia que são quase de imediato apagados com a realidade dura e crua da vida passada ou presente. A Chama da Vida não foge a esta sua "regra", e novamente temos um retrato dos nossos dias. Se por um lado o argumento de Randy Feldman nos aproxima de uma família aparentemente feliz independentemente dos seus inúmeros problemas económicos que afectam a estabilidade emocional do casal, não enquanto tal mas na sua auto-estima de "Roberto" que o impede de ser feliz de facto, também é certo que a certa altura este liberta-se do estigma do desemprego e aceita-o como uma inevitabilidade da vida que é, a partir desse momento, algo que deve ser vivido deixando o amanhã... para quando ele chegar.
É também nesta altura que somos confrontados com a realidade. Com o "problema" tal e qual como ele é e, no meio da desgraça, com a forma como se pode ultrapassá-la e dela tirar proveito. Se a tragédia pessoal de um existe e dá lucro a terceiros, porque não o próprio a utilizar e também se livrar de alguns dos seus próprios problemas e demónios, alcançando assim a sua tão desejada concretização pessoal.
Por outro lado somos também confrontados com o outro lado da barricada, quando nos é dada a conhecer a reacção daqueles que procuram um lucro fácil e imediato graças à desgraça alheia, representando eles próprios vários segmentos de uma sociedade que aos poucos se perdeu e parece não conseguir encontrar um caminho próprio. Johnny (Fernando Tejero),o publicitário e manager que tenta tirar proveito pessoal da situação debilitada de Roberto. Mercedes (Blanca Portillo), uma curadora de museu mais preocupada com o património museológico, esquecendo por isso a sua própria Humanidade. Um Alcayde (Juan Luis Galiardo), unica e exclusivamente preocupado com a continuidade da sua própria carreira política, uma classe jornalística apenas preocupada com o "furo" que esta notícia pode dar e, finalmente, toda uma população sedenta de saber o último detalhe sobre a vida e morte de um homem, como se de um qualquer reality-show se tratasse.
No final... quem sobrevive? Os únicos capazes de comprovar que afinal existe mesmo uma "chama da vida", que não se encontra ou alcança através de uma concretização profissional mas sim através dos pequenos grandes laços de afectividade familiar ou de Humanidade (essa palavra tão esquecida) que conseguimos celebrar enquanto estamos nesta nossa mais ou menos grande passagem pela vida. É isso que Roberto e Luísa conseguem entre si, com os seus filhos Lorenzo (Eduardo Casanova) e Bárbara (Nerea Camacho), e na relação que Luísa consegue criar com Pilar Álvarez (Carolina Bang), a única jornalista realmente preocupada com a pessoa e não com a notícia.
José Mota, justamente nomeado ao Goya de Actor Revelação, tem uma interpretação surpreendente como este homem literalmente à beira de um precipício. Cómico e cmovente em doses iguais, consegue tanto emocionar-nos com o seu retrato da sociedade em que vive(mos), como com a sua astúcia como clarividência para com o futuro daqueles que sabe, ir deixar. Quanto a Salma Hayek (também nomeada ao Goya na categoria de Melhor Actriz e que, arrisco dizer, continua a ser uma das mulheres mais bonitas do mundo), prova aqui mais uma vez que com o realizador certo e a personagem ideal, continua a dar sólidas interpretações que conseguem realmente demonstrar todo o seu talento na composição de uma personagem marcada pelos anos, pelas dificuldades e com todo o seu dramatismo, mas sempre fiel, e sem vacilar, aos seus valores e afectos.
Álex de la Iglesia confirma... A chama da vida existe mesmo, e pode estar ao alcance de qualquer um. Ele conseguiu.
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9 / 10
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