quarta-feira, 14 de maio de 2014

No Tiene Gracia (2013)

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No Tiene Gracia de Carlos Violadé é uma curta-metragem espanhola de ficção inserida na secção competitiva Nacional/Internacional da quinta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu na Cantábria até ao passado dia 10 de Maio, e na qual tive a honra de estar presente enquanto membro do júri.
Manolo (Andrés Berlanga) e María (Mercedes Bernal) são um jovem casal apaixonado e que partilha a vida em comum. Manolo, um eterno bem disposto, passa o tempo num conjunto de partidas mais ou menos bem dispostas para provocar a boa disposição de María.
No entanto, um dia María resolve ter algo mais para dizer...
O argumento, também da autoria de Violadé, consegue captar não só a essência de uma história romântica onde duas pessoas convivem e se conhecem nos seus momentos alegres como também nos seus momentos mais aborrecidos, e para os quais é necessário quebrar a rotina, mas também consegue ser bem sucedido numa abordagem a uma temática mais séria, complexa e igualmente perturbadora quando nos faz reflectir sobre o lado mais sombria da mente humana.
Questionamo-nos no decorrer desta história sobre o que acontece quando algo corre mal? O que fazer quando somos colocados à prova pelos nossos actos mas, principalmente, pela moral que nos define enquanto seres humanos no exacto momento em que temos necessidade de enfrentar, e escolher, como será a nossa própria vida a partir daquele instante. É este pequeno grande factor que torna No Tiene Gracia, uma curta-metragem cuja sua história poderia ser linear e algo previsível, num filme que não tendo uma carga propriamente negativa consegue, no entanto, firmar-se como bruta e intensa na forma como nos faz olhar para nós próprios pois é, no fundo, isso a que o espectador se sente "obrigado".
Enquanto a "María" de Mercedes Bernal se apresenta como uma mulher seca e algo cansada de uma vida em "eterna juventude" e que sabe ter chegado a altura de se tornar adulta, é no entanto Andrés Berlanga enquanto "Manolo", o namorado bem disposto e folião que consegue reunir a empatia do espectador desde o primeiro instante. Sentimo-nos cativados pela sua genuinidade e vontade de fazer com que tudo corra bem mas é também ele que, ao mesmo tempo, se revela pelo inesperado e pelas decisões drásticas, e completamente amorais, que revela quando algo aparenta ter corrido mal. É esta dualidade entre as composições dos dois actores que dá uma vida (quando ela aparenta ter sido perdida) a toda a trama e que conquista o espectador quando percebemos que tantas vezes tomamos decisões más que nos irão comprometer para o resto da nossa vida.
Ainda um breve mas positivo destaque para a direcção de fotografia de Alex Catalán que transforma um aparentemente simpático e convidativo apartamento no local onde as almas mais negras dos seus intervenientes se revelam, graças a um jogo de luz escassa e sombras que nos revelam como o "lado negro" (no verdadeiro sentido da expressão) se apoderou daquele que em tempos foi para ambos um "lar".
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8 / 10
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