Demência de Rafael Almeida é uma curta-metragem portuguesa de ficção que esteve seleccionado para o Prémio MOTELx de Melhor Curta-Metragem Portuguesa de Terror na última edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que decorreu no início do mês no Cinema São Jorge.
Esta curta-metragem, cujo argumento é também da autoria do realizador Rafael Almeida, leva-nos a uma pequena mas intensa viagem ao interior de uma faustosa casa onde um jovem (João Sério) vagueia pelos seus corredores numa viagem quase alucinante.
Numa constante viagem por corredores apertados e repletos de uma simbologia religiosa por demais evidente, este jovem passeia solitário à medida que os fantasmas daquele espaço preenchem a sua frágil mente com uma sensação de que ele não se encontra só. Podemos sentir uma presença que aos poucos consome os últimos traços de uma qualquer sanidade que em tempos ele poderá ter denotado mas agora, tal como a própria casa em si, evidencia os primeiros sinais de uma aparente loucura.
Para além do eficaz argumento, Demência é um filme que vive e transpira uma notória qualidade graças à escolha do espaço em que foi filmado; aquela casa, os seus labirínticos corredores e decoração faustosa, as constantes referências religiosas espalhadas pela casa as quais muito subtilmente são indicadas ao espectador e um evidente contraste de luz e cor que exponenciam a cor vermelha - de pecado ou aqui loucura - fazem o espectador sentir desde o primeiro instante que este demência pode não ser necessariamente devido a uma qualquer ruptura do seu estado psiquico mas sim por estar na presença de uma qualquer outra entidade que aos poucos domina o seu subconsciente levando-o a actos de auto-tortura e até mesmo mutilação psicológica.
Dotado de uma estranha - quase incomodativa - vida, Demência testa os limites da compreensão humana sobre a solidão demonstrando que esta é, por vezes, o fácil motor para ultrapassar aquela pequena linha que separa a sanidade da loucura e o quão susceptíveis todos estão a poder fazer essa passagem.
Com claras referências ao cinema do género - podemos encontrar ali pequenos elementos de O Exorcista (referências religiosas) ou até mesmo de Amityville (a própria sensação de que aquela casa está "viva" - Demência é, à semelhança de outros filmes curtos do género, a prova de que existe cinema português de terror capaz de entregar histórias intensas e originais na sua concepção e que nos fazem questionar o quão longe poderiam chegar com maior investimento e maior duração.
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7 / 10
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