terça-feira, 30 de setembro de 2014

Demência (2014)

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Demência de Rafael Almeida é uma curta-metragem portuguesa de ficção que esteve seleccionado para o Prémio MOTELx de Melhor Curta-Metragem Portuguesa de Terror na última edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que decorreu no início do mês no Cinema São Jorge.
Esta curta-metragem, cujo argumento é também da autoria do realizador Rafael Almeida, leva-nos a uma pequena mas intensa viagem ao interior de uma faustosa casa onde um jovem (João Sério) vagueia pelos seus corredores numa viagem quase alucinante.
Numa constante viagem por corredores apertados e repletos de uma simbologia religiosa por demais evidente, este jovem passeia solitário à medida que os fantasmas daquele espaço preenchem a sua frágil mente com uma sensação de que ele não se encontra só. Podemos sentir uma presença que aos poucos consome os últimos traços de uma qualquer sanidade que em tempos ele poderá ter denotado mas agora, tal como a própria casa em si, evidencia os primeiros sinais de uma aparente loucura.
Para além do eficaz argumento, Demência é um filme que vive e transpira uma notória qualidade graças à escolha do espaço em que foi filmado; aquela casa, os seus labirínticos corredores e decoração faustosa, as constantes referências religiosas espalhadas pela casa as quais muito subtilmente são indicadas ao espectador e um evidente contraste de luz e cor que exponenciam a cor vermelha - de pecado ou aqui loucura - fazem o espectador sentir desde o primeiro instante que este demência pode não ser necessariamente devido a uma qualquer ruptura do seu estado psiquico mas sim por estar na presença de uma qualquer outra entidade que aos poucos domina o seu subconsciente levando-o a actos de auto-tortura e até mesmo mutilação psicológica.
Dotado de uma estranha - quase incomodativa - vida, Demência testa os limites da compreensão humana sobre a solidão demonstrando que esta é, por vezes, o fácil motor para ultrapassar aquela pequena linha que separa a sanidade da loucura e o quão susceptíveis todos estão a poder fazer essa passagem.
Com claras referências ao cinema do género - podemos encontrar ali pequenos elementos de O Exorcista (referências religiosas) ou até mesmo de Amityville (a própria sensação de que aquela casa está "viva" - Demência é, à semelhança de outros filmes curtos do género, a prova de que existe cinema português de terror capaz de entregar histórias intensas e originais na sua concepção e que nos fazem questionar o quão longe poderiam chegar com maior investimento e maior duração.
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7 / 10
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European Film Awards - European Achievement in World Cinema 2014

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Depois de em 2012 ter reconhecido o contributo de Helen Mirren e de em 2013 a honra ter recaído sobre Pedro Almodóvar, a Academia Europeia de Cinema revelou que em 2014 o homenageado com o troféu European Achievement in World Cinema será o realizador britânico Steve McQueen.
Depois de uma carreira iniciada na  realização de curtas-metragens mudas e a preto-e-branco entre as quais se destacam Bear (1993), Deadpan (1997) e Drumroll (1998) e que se prolongou até 2007, McQueen ganhou uma projecção internacional com a sua longa-metragem Hunger (2008) na qual relata o cativeiro de Bobby Sands, activista republicano irlandês interpretado por Michael Fassbender, e com a qual venceu o European Discovery of the Year e fora ainda nomeado para o EFA de Melhor Realizador.
A sua segunda longa-metragem Shame (2011), na qual volta a ter como actor principal Fassbender, McQueen entrega-nos um relato sobre a dependência extrema e o cativeiro que dela surge tendo o realizador e o actor sido novamente nomeados para os EFA e ainda conferindo dois prémios da Academia para a Melhor Montagem e Melhor Fotografia.
12 Years a Slave (2013), a terceira longa-metragem de McQueen - novamente com Fassbender - fez um impressionante e bem sucedido percurso não só em festivais de cinema como pela crítica e público tendo recebido três Oscars - incluindo o de Melhor Filme que lhe conferiu o seu primeiro Oscar - e dois BAFTA - Filme e Actor para Chiwetel Ejiofor - sendo que, no entanto, não consta nos pré-seleccionados aos EFA a realizar no próximo dia 13 de Dezembro em Riga, na Letónia, num percurso que o torna num dos nomes mais actuais e fortes do cinema europeu e num digno reconhecido vencedor desta distinção da Academia Europeia de Cinema.
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domingo, 28 de setembro de 2014

Jongens (2014)

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Jongens de Mischa Kamp é uma longa-metragem holandesa que foi exibida no QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Sieger (Gijs Blom) é um jovem de quinze anos desportista e que vive com o seu pai e irmão. A treinar para uma competição de atletismo Sieger forma equipa com Marc (Ko Zandvliet) por quem começa a sentir uma imediata atracção.
Aos poucos, e sempre com receio de ser descoberto, Sieger vive o seu drama pessoal ao sentir um conjunto de sentimentos até então desconhecidos ao mesmo tempo que os tenta esconder não só dos demais como principalmente de si próprio. Conseguirá este amor sobreviver com as sucessivas pressões que sente internamente e com a possível desintegração de uma família que aos poucos aparenta já não o ser?
Henk Burger, Jaap-Peter Enderle e Chris Westendorp assinam o argumento deste filme que relata a história dos diversos conflitos interiores e emocionais que "Sieger" experencia em tão jovem idade. Por um lado percebemos que este jovem vive num ambiente conturbado, não pela falta de amor mas sim pela perda recente da mãe num acidente do qual poucos detalhes temos, mas do qual se sente os efeitos desintegrantes da família que em tempos percebemos terem sido. Ambiente esse que vive dominado pelos constantes conflitos de um irmão mais velho rebelde e de um pai que os tenta proteger de todos aqueles perigos que pensa poderem sofrer, condicionando assim de alguma forma as suas liberdades e auto-descobertas, bem como até algumas aventuras típicas da sua idade.
É assim neste ambiente de excessiva protecção que "Sieger" se auto-condiciona na expressão dos seus sentimentos, e da sua individualidade, ou até mesmo daquelas conversas banais entre família e que tendem sempre a ter alguma "protecção" maternal - aqui ausente. O mesmo ambiente que irá testemunhar o despertar de uma atracção e amor que o próprio não conseguirá explicar nem tão pouco ignorar. Existe assim, por parte da sua personagem, de um certo condicionamento na medida em que avança e retrocede com medo das reacções daqueles que o conhecem nomeadamente o seu melhor amigo "Stef" e a família, a qual já denota "problemas" (aos seus olhos) de sobra.
É este forçado crescimento enquanto indivíduo que Jongens tenta, e consegue, desenvolver sem esquecer a óbvia relação entre "Sieger" e "Marc" que lutam por um amor espontâneo e inocente através de uma notável química existente entre Blom e Zandvliet cujos olhares transparecem uma franca cumplicidade na expressão das suas emoções.
Um (tele)filme simples, emotivo e com uma sentida história de amizade e amor, Jongens vence pela franqueza dos actos, da sua mensagem e expresso conflito interior que se dissipa com a confirmação de um sentimento puro e leal e pelo notável conjunto de interpretações protagonistas e secundárias que se complementam na sua união abordando não só a relação amorosa, como a afectiva, a sentimental e a força das verdadeiras amizades.
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8 / 10
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To Love Somebody (2013)

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To Love Somebody de Alberto Abbate e Dina Naser é um documentário portufuês em formato de curta-metragem portuguesa.
De dia Riccardo Lucena é um cabeleireiro. Pela noite transforma-se e dá vida a Sonya Lacroix uma performer da noite Lisboeta.
O brevíssimo documentário que o realizador italiano nos entrega é um projecto académico sob o título de "Um dia na vida de...", que aqui leva o espectador a um minúsculo retrato na vida de um homem que se transforma numa performer que dá vida a uma casa de espectáculos da noite de Lisboa. Ainda que interessante sob a perspectiva de uma vida profissional dupla - e compreendendo as limitações que o documentário teve para se inserir sob um projecto muito específico - o mesmo torna-se interessante pela dualidade de momentos captados na vida de um indivíduo mas, ao mesmo tempo, falha por não aprofundar essas duas distintas vertentes apresentando 24 horas nuns meros três minutos de duração.
Assim, To Love Somebody torna-se interessante pela perspectiva que abre sobre Riccardo Lucena/Sonya Lacroix mas falha por não ser mais desenvolvido.. mais não fosse pela própria abordagem que o seu título nos dá sobre "amar alguém" - quem?.
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2 / 10
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sábado, 27 de setembro de 2014

QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer 2014: os vencedores

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Competição de Longas-Metragens
Melhor Longa-Metragem: Nånting Måste Gå Sönder, de Ester Martin Bergsmark
Menção Honrosa: Atlántida, de Inés María Barrionuevo
Melhor Interpretação: Saga Becker, Nånting Måste Gå Sönder, Kostas Nikouli, Xenia e Angelique Litzenburger, Party Girl
Prémio do Público: Rosie, de Marcel Gisler
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Competição de Documentários
Melhor Documentário: Julia, de J. Jackie Baier
Prémio do Público: São Paulo em Hi-Fi, de Lufe Steffen
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Competição de Curtas-Metragens
Melhor Curta-Metragem: Mondial 2010, de Roy Dib
Melhor Curta-Metragem Portuguesa: Frei Luís de Sousa, de Silly Season
Prémio do Público: Cigano, de David Bonneville
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Competição In My Shorts
Melhor Curta-Metragem: Bonne Espérance, de Kaspar Schiltknecht
Menção Honrosa: Gabrielle, de Margo Fruitier e Paul Cartron
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Festival Internacional de Cinema de San Sebastian 2014: os vencedores

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Secção Oficial
Concha de Oro - Melhor Filme: Magical Girl, de Carlos Vermut
Prémio Especial do Júri: Vie Sauvage, de Cédric Kahn
Melhor Realizador: Carlos Vermut, Magical Girl
Melhor Actor: Javier Gutiérrez, La Isla Mínima
Melhor Actriz: Paprika Steen, Stille Hjerte
Melhor Argumento: Dennis Lehane, The Drop
Melhor Fotografia: Alex Catalán, La Isla Mínima
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Horizontes Latinos
Melhor Filme: Güeros, de Alonso Ruiz Palacios
Menções Especiais: Gente de Bien, de Franco Lolli e Ciencias Naturales, de Matías Lucchesi
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Nuev@s Director@s
Premio Kutxa–Nuevos Directores: Urok, de Kristina Grozeva e Petar Valchanov
Menção Especial: Modris, de Juris Kursietis
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Sector Industria: Cine en Construcción
Prémio de la Industria Cine en Construcción 26: Magallanes, de Salvador del Solar
Menção Especial: Ixcanul, de Jayro Bustamante
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Sector Industria: III Foro de Coproducción Europa-América Latina
Prémio Egeda - Melhor Projecto: Agosto, de Armando Capó e produzido por La Feria Producciones
Menção Especial: Walls, de Pablo Iraburu e Migueltxo Molina e producido por Arena Comunicación
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Encuentro Internacional de Estudiantes de Cine
Primeiro prémio: Greenland, de Oren Gerner / Minshar for Art
Segundo prémio: Les Oiseaux-Tonnerre, de Léa Mysius / La Fémis
Terceiro prémio: Idle, de Raia Al Souliman / National University of Theatre and Film
Prémio Orona - Curta-Metragem mais Inovadora: Onno de Onwetende, de Viktor van der Valk / Netherlands Film Academy
Torino Award ao Realizador: Mia Spengler, Don’t Hit the Ground / Filmakademie Baden-Württemberg GmbH
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Outros Prémios
Prémio Irizar al Cine Vasco: Negoziatzaile, de Borja Cobeaga
Prémio TVE Otra mirada (Temática femenina): Bande de Filles, de Céline Sciamma
Menção Especial: Gett, The Trial of Viviane Amsalem, de Ronit Elkabetz e Shlomi Elkabetz
Prémio do Público: The Salt of the Earth, Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado
Prémio do Público - Filme Europeu: Relatos Salvajes, de Damián Szifrón
Prémio de la Juventud: Güeros, de Alonso Ruiz Palacios
Prémio Tokyo Hohan Film Festival: Buscando a Gastón, de Patricia Perez
Prémio Sebastiane (Temática LGTB): Une Nouvelle Amie, de François Ozon
Prémio FIPRESCI: Phoenix, de Christian Petzold
Prémio Feroz Zinemaldia: La Isla Mínima, de Alberto Rrdríguez
Prémio SIGNIS: En Chance Til, de Susanne Bier
Menção Especial: Loreak, de Jon Garaño e Jose Mari Goenaga
Prémio de la Asociación de Donantes de Sangre: Tigers, de Danis Tanovic
Prémio Zinemira: Pedro Olea
Prémio Donostia: Denzel Washington e Benicio del Toro
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Recently in the Woods (2012)

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Recently in the Woods de Daniel van Westen é uma curta-metragem de animação alemã presente na secção In My Shorts da décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
No meio da floresta dois cavalos ridicularizam o aspecto e o corno que um unicórnio enverga com orgulho. No entanto, é no meio de alguns acidentes de percurso que se revela finalmente quem sai a ganhar desta inesperada "batalha".
Através de um apurado sentido social, van Westen elabora uma história que apresenta ao espectador o essencial dos valores humanos desde o respeito e tolerância à desejada aceitação pela diferença que prima por exibir um certeiro e aprumado sentido de humor.
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7 / 10
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Imóvel (2014)

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Imóvel de Sérgio Galvão Roxo é uma curta-metragem experimental portuguesa que foi exibida nesta décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorre no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Em aproximadamente sete minutos, Imóvel - de expressões, emoções e de acção vs. reacção - oferece-nos uma belíssima direcção de fotografia que, no entanto, não é devidamente acompanhada por um argumento à sua altura.
O espectador acompanha o corpo - sempre masculino - e a constante necessidade de uma procura e consequente posse que sem ser acompanhada se confirma aquando da interacção (imóvel) da mesma. Os corpos tendem a aproximar-se mas de forma (in)voluntária tocam-se sem que, no entanto, se denote qualquer satisfação, prazer ou contentamento. Imóvel - o corpo - limita-se a ser uma presença sem uma reacção... algo estático e sem movimento.
Ainda que em Imóvel se tente abordar a tal constante procura do "outro" sem que para isso se faça grande esforço - vale sempre mais ser encontrado do que encontrar alguém -, esta curta-metragem peca por não explorar a dinâmica - ou até mesmo a falta dela - da personagem dele (Pedro Velho), limitando-se a um circular de imagens que comprovam a falta de movimento - um minuto bastaria - mas uma que espera ser "encontrada".
Como referi, ainda que a direcção de fotografia seja muito boa - até em demasia para o geral deste filme curto - a mesma não chega para denotar uma positividade transcendente num filme que se leva demasiadamente a "sério"... sem o ser.
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2 / 10
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Ode (2014)

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Ode de Ana Sofia Sousa é uma curta-metragem portuguesa de ficção presente em competição na edição deste ano do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge.
Encontramos um pintor (Romeo Sousa) que mistura as cores antes de iniciar a sua mais recente obra. Num misto de loucura e génio, este pintor está insatisfeito com a sua obra e debate-se com uma mescla de formas que o seu modelo deverá (deveria?) ter.
Ode, adaptado de Ode a Salvador Dalí (1926) escrito por Federico García Lorca e dedicado ao pintor surrealista espanhol é, em primeiro lugar, um ensaio experimental que nos transporta para a tal linha muito ténue que separa a essência de um génio e da sua loucura estando esta, por sua vez, intimamente ligada a uma incompleta concretização sentimental que denota características de uma insatisfação e tragédia latentes.
A representação pretendida que aquele pintor tenta transpôr na sua obra vive pequenos e breves momentos de satisfação que são repentinamente perturbados quando entende que aquilo que esboça não corresponde - ou o satisfaz - com a sua idealização de uma obra (podendo aqui o espectador encontra uma clara ligação à relação de amizade/paixão não correspondida entre os dois artistas espanhóis) e, como tal, dedica-se este pintor de Ode a uma viagem de auto-destruição - da obra como seu reflexo - que o colocam no limbo.
Curta - tanto quando o poema em si - Ode apresenta no entanto uma direcção de fotografia de Rita Laranjeira como seu expoente mais forte que recria num pequeno estúdio todas as sombras e limitações de uma psique conturbada aqui muito bem representada por Romeo Sousa.
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6 / 10
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Rebel Menopause (2014)

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Rebel Menopause de Adele Tulli é um documentário em formato de curta-metragem italo-inglesa presente na secção In My Shorts do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Thérèse Clerc tem 85 anos e é uma fervorosa feminista cuja paixão pela liberdade sexual e dos direitos das mulheres sempre foram os motes da sua vida, e a Casa Baba Yaga para mulheres com idade superior a 65 anos são o último dos seus projectos.
É através deste documentário que vamos descobrir a obra desta mulher que viveu toda uma vida longe das barreiras que foram impostas às mulheres ao longo dos tempos e que se afirmou pela sua vontade incondicional de uma liberdade que lhe fora, pelo seu género, negada. Agora, numa idade avançada, Thérèse sente que a sua vida não terminou e que deve aproveitar o seu tempo a experimentar e inspirar tal como quando era mais jovem de idade.
Adele Tulli consegue através de Rebel Menopause dar a conhecer a vida e obra pessoal e profissional de uma mulher que desafiou limites, barreiras e ausência de liberdades que lhe foram impostas, revoltando-se não só contra as mesmas como desafiando aqueles que lhes colocaram. Ao mesmo temo, é quando a sua vida se aproxima de uma plenitude e de uma etapa que deveria ser mais descontraída e relaxada que Thérèse desafia as ainda existentes "normas" para revelar que ainda vive, ainda sente e ainda se motiva com causas pelos seus - e das mulheres - direitos.
Interessante pela sua frontalidade e irreverência, Rebel Menopause consegue ainda primar por um humor sarcástico e corrosivo sempre presente no pensamento de Thérèse que suscita no espectador uma vontade crescente por saber um pouco mais.
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6 / 10
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Corpo Palco (2014)

Corpo Palco de Tenisha da Cruz é uma curta-metragem experimental presente na secção In My Shorts do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Nesta curta-metragem somos levados a uma representação em palco da transformação do corpo - neste caso de um homem - que num exercício de transformismo modela a sua aparência para uma dada situação. Este exercício numa clara alusão à história do corpo no cinema, retrata a permeabilidade às experiências e às histórias que, em palco, podem ser encenadas e vividas de forma a dar corpo a uma dada situação ou momento.
Sem grande vida ou identificação pessoal entre filme e espectador, Corpo Palco é apenas e só um exercício académico que necessitava de alguma exploração e conteúdo narrativo para além da mera experiência transformista.
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2 / 10
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Vítor (2014)

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Vítor de Daniela Leitão, Francisco Gomes e Tomás Quitério é um documentário em formato de curta-metragem presente na secção In My Shorts da décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Durante o dia Vítor trabalha numa sex-shop. Pela noite dança enquanto animador numa discoteca. Este documentário acompanha-o em alguns desses momentos.
O trio de realizadores entrega ao espectador uma experiência que é assumidamente diferente na medida em que pensamos estar prestes a entrar num domínio de sex-shop e nas suas potenciais loucas aventuras - que certamente seriam muitas - desviando de imediato qualquer tipo de imaginário para uma experiência quotidiana dita normal de alguém que tem dois trabalhos e que se diverte com os mesmos.
É no seio desta rotina diária que acompanhamos Vítor - o documentário e o próprio - desde os preparativos para uma refeição em casa até à sua interacção com amigos ou no seu trabalho nocturno enquanto animador de uma discoteca onde encarna uma excêntrica personagem que dança e anima as noites mais ou menos loucas de quem por lá passa.
Se este documentário surpreende pela positiva por desfazer algumas noções com que o espectador entra em sala, não é menos verdade que desanima por não ter ido mais longe na sua abordagem a este homem - e à sua "personagem" enquanto intérprete - entregando aquilo que é, para mim enquanto espectador, o verdadeiro propósito de um documentário; contar através de factos e momentos a personalidade de um indivíduo que a certa altura foi considerado curioso e de interesse para aqueles que por ele se interessaram.
Longe de ser um apontamento negativo, Vítor é um bem executado, tecnicamente falando, documentário que nos deixa aquela vontade de conhecer mais sobre o homem que vemos no ecrã... como funciona o seu trabalho diurno, o que mais lhe interessa na animação nocturna ou tão simplesmente como é o seu "e depois" destes trabalhos - afinal existe uma vida pessoal para lá destes dois trabalhos - e o que o motiva e faz "mexer".
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6 / 10
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17 Anni (2013)


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17 Anni de Filippo Demarchi é uma curta-metragem de ficção suíça presente na secção In My Shorts do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Matteo (Fabio Foiada) é um jovem de dezassete anos que no despertar da sua sexualidade descobre em D. Massimo (Ignazio Oliva), o padre da aldeia e líder da banda onde toca tambor, o objecto do seu desejo.
Com o passar do tempo e a identificação em D. Massimo de alguém disponível para o escutar e ser seu guia, Matteo sente pela primeira vez ser capaz de falar com alguém que o compreenda. E talvez algo mais...
Demarchi tem em 17 Anni uma verdadeira história de despertar para o mundo. História esta na qual as ânsias e angústias de um jovem perdido numa qualquer aldeia rural ganham proporções cada vez mais desastrosas quando dirige para a pessoa errada toda a sua sexualidade, curiosidade e vontade de experimentação. Vontade esta que num misto de inexperiência e auto-descoberta ganha, a certa altura, um nível de auto-violência pela impossibilidade de ver cumprido a sua própria satisfação sexual e sentimental.
Este misto de confusões pessoais versus o isolamento de um lugar onde todos de uma ou outra forma se conhecem e, como tal, limitam uma saudável exploração do desconhecido, são perfeitamente representados pela prestação de Fabio Foiada que - tal como Demarchi referiu na apresentação do seu filme - enquanto actor inexperiente no seu primeiro trabalho se viu guiado pela mão do realizador, mesmo nos momentos mais íntimos, encarnando assim de forma perfeita a insegurança e incerteza daquilo que o esperava. 17 Anni é ainda complementado com a segura interpretação de Ignazio Oliva enquanto o padre da aldeia que através da sua amabilidade e disponibilidade para com os seus fiéis, entra - sem saber - num terreno "minado" do qual dificilmente conseguirá sair sem que para isso tenha de criar uma rápida e mordaz "fuga".
Um filme interessante pela forma como retrata a prisão interior não só através da interpretação de Foiada como também através do meio geográfico que graças às montanhas suíças qualquer uma destas personagens só se poderá sentir cativo e refém.
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8 / 10
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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Nånting Måste Gå Sönder (2014)

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Nånting Måste Gå Sönder de Ester Martin Bergsmark é uma das longas-metragens em competição no QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Sebastian (Saga Becker) é um jovem de Estocolmo com o sonho de se tornar mulher e que vive uma juventude problemática e auto-destrutiva com encontros sexuais fortuitos com outros homens. Num desses encontros que corre mal é defendido por Andreas (Iggy Malmborg), um tipo descontraído e que não se considera homossexual.
Eli Levén e Ester Martin Bergsmark escrevem o argumento deste filme que aborda temáticas complexas e tantas vezes escondidas e incompreendidas. Percorremos a jovem vida de "Sebastian" - ou "Ellie" como gostaria de ser chamado - um jovem rapaz que sonha de olhos abertos que se tivesse nascido rapariga toda a sua vida seria estranhamente mais simples. Não lhe conhecemos família ou qualquer elo de ligação a outras pessoas que não a uma amiga com quem partilha os seus mais íntimos segredos. Testemunhamos a sua espiral de decadência emocional quando  para criar qualquer tipo de afectividade se relaciona em encontros sexuais fortuitos e quase clandestinos pelos mais variados locais e percebemos que se sujeita aos mesmos como uma demonstração da sua precoce aceitação. Interessante - ainda que momentâneamente óbvia - a breve semelhança estabelecida entre "Sebastian" e a flor de lotus existente na banheira onde se lava... Da mesma forma que esta nasce na lama tornando-se uma bonita flor, também todo o ambiente em que ele se encontra se torna agreste em relação àquilo que ele próprio representa.
Toda esta dinâmica muda com um breve e fortuito encontro com "Andreas", o jovem despreocupado que o salva de uma maior agressão física e com quem estabelece uma imediata empatia. Ainda que esta relação não comece por ser sexual ou afectiva, percebemos que existe uma estranha química que os irá ligar e que estabelecerá os seus destinos mais ou menos em comum. Cumplicidade esta que começa por partilharem uma cama, entrelaçarem os dedos ou num jogo de sedução, posse e exploração física onde se excitam sexualmente como - percebemos - até então não havia acontecido.
É à medida que se conhecem e que se exploram que percebem que esta convivência se forma num misto de desejo e repúdio sentido por ambos em diversos momentos do seu crescimento e que culminam com uma entrega mútua e absoluta, ainda que se entenda que pode ser de curta duração. "Sebastian" nos entretantos com uma extrema necessidade dessa espiral de decadência perceptível pela forma como à medida que a sua relação com "Andreas" o leva a aceitar-se mas, ao mesmo tempo, também o afasta do mesmo e, como tal, da sua oportunidade junto de um verdadeiro amor.
É neste misto de atracção versus afastamento que "Sebastian" vive não só no nível sentimental como principalmente na relação que tem para consigo próprio. Se por um lado sente que é uma mulher presa no corpo de um homem, não é menos verdade que é enquanto homem (ainda que com traços ligeiramente femininos) que encontrou a única pessoa que o aceita como tal. Será a sua transformação a prova de que esta mudança o irá, uma vez mais, afastar dos seus objectivos sentimentais?
É também uma das noções chave de Nånting Måste Gå Sönder, esta explícita referência à atracção entre dois indivíduos que, independentemente do seu sexo, encontram a forma de se conhecer, respeitar, entregar e amar esquecendo a dita "embalagem" e concentrando-se no seu verdadeiro conteúdo. As questões daqui resultantes tornam-se assim por um lado no que será a real definição do que é o amor; o sentimento tido entre duas pessoas ou aquele que a sociedade estabelece como sendo "normal" junto da mesma e, por outro lado, quando esta falta de aceitação é uma presença constante a mutilação - através do corte - torna-se como a última saída para expiar um sentimento que é cada vez mais forte e também ele presente.
Nånting Måste Gå Sönder vive das duas sólidas interpretações tanto de Saga Becker como de Iggy Malmborg que se complementam tanto na sua queda como na sua entrega e é para além de um retrato de auto-aceitação (ou destruição), o espelho de uma relação que esquece a existência de fronteiras que são impostas de fora para dentro transformando-se assim principalmente num honesto olhar sobre a possibilidade de amar ignorando voluntariamente as barreiras que estão previamente estabelecidas.
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7 / 10
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Einfach (2013)

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Einfach de Markus Wende é uma curta-metragem alemã de animação presente na secção competitiva do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorre no Cinema São Jorge, em Lisboa nesta que é a sua décima-oitava edição.
Wende coloca o espectador perante um exercício sobre a vontade e a forma como as diversas sexualidades são experienciadas através dos seus intervenientes. Tida como uma mostra cómica e variada, Einfach é, no final, uma curta-metragem sem grande "sabor" ou conectividade com o espectador limitando-se a uma aparente "publicidade" a um produto que, na prática, ninguém quer comprar.
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1 / 10
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This Is the Way (2014)

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This is the Way de Giacomo Abbruzzese é uma curta-metragem documental holandesa presente na respectiva secção competitiva nesta décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorre actualmente no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Joy é uma adolescente holandesa com duas mães lésbicas, Mo e Frei, e dois pais gay, Floor e Coen. Tem um namorado de origens Nigerianas, Timo e uma amiga portuguesa Bibi. Nascida através de insiminação artificial, este documentário filmado com um telemóvel é um olhar sobre o novo estilo de famílias e relacionamentos e a forma como estes podem influenciar a tradicional concepção sobre a família, a forma como esta é formada e principalmente sobre os afectos ou, em contrapartida, a sua ausência.
Através de um olhar quase mecânico, as relações são, para Joy, algo momentâneo e fugaz. Algo de curta duração com o único propósito de um momento mais ou menos bem passado e do qual podem existir, ou não, poucas consequências ou elos de ligação e identificação.
Com momentos intensos e bem dispostos, This is the Way é um documentário que no seu geral prima por alguma frieza e distância de qualquer tipo de afectividade mesmo que, no seu final, se aproxime da mensagem da continuidade e da família ainda que diferente daquela que tradicionalmente (seja lá o que isso fôr) seja para a maioria.
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6 / 10
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Linda, Uma História Horrível (2013)

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Linda, Uma História Horrível de Bruno Gularte Barreto é uma curta-metragem brasileira de ficção presente na secção competitiva do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que se encontra a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa naquela que é a sua décima-oitava edição.
Pelo escuro de uma noite carregada, um filho (Rafael Régoli) chega inesperadamente a casa da sua mãe (Sandra Dani) como se se tratasse do regresso de um filho em tempos fugido.
Depois de um reencontro distante e francamente frio, mãe e filho sentam-se à mesa onde, por entre conversas vagas, falam sobre o passado - também ele distante - e ficam apenas visíveis as marcas da passagem do tempo e os detalhes aparentemente banais que revelam a degradação física que ambos atravessam.
Bruno Gularte Barreto adapta o conto de Caio Fernando Abreu para nos entregar uma história onde aquilo que não é dito, mas que é perceptível, ganha um peso bem mais avassalador do que a aparente indiferença com que estes dois intervenientes se tratam.
Desde o primeiro instante que sentimos que este reencontro é surpreendente para a idosa mãe. Inesperado - quando não o deveria ser - por se tratar do seu filho que chega vindo após aquilo que percebemos ser uma longa ausência. Surpreendente pela hora tardia em que a acção se desenrola e ainda mais por ser perceptível para o espectador que existe tanto por dizer mas que não é, no entanto, verbalizado.
A distância tida entre os dois não é necessariamente aquela que sentem mas sim a auto-imposta por não saberem lidar com os comportamentos que ambos possam em tempos ter demonstrado, e o afastamento que esta mãe e este filho demonstram ter mais não é do que o rescaldo de algo passado que agora pretendem esquecer mas que os orgulhos feridos ainda sentidos os impedem de agir. Sente-se a vontade de um abraço, de um carinho e principalmente de um conforto. A necessidade de ambos sentirem que as paredes degradadas daquela casa são não só um reflexo da sua relação como também dos seus corpos - um idoso e um doente - e que adivinham uma breve extinção silenciosa. A casa que em tempos servira como um porto de abrigo não é agora mais do que um espaço que esconde as suas mágoas e o desconforto que têm para com algo que não será dito... por receio.
Com uma dupla de fortes interpretações, Linda, Uma História Horrível vive dos silêncios de um filho, num notável desempenho de Rafael Régoli que carrega aos ombros o peso do mundo, e dos ruidosos barulhos conferidos pelo peso da idade de uma mãe numa igualmente notável interpretação de Sandra Dani que não consegue esconder a mágoa de não conseguir confortar o seu filho que sabe estar a viver os seus últimos momentos.
Linda, Uma História Horrível torna-se assim numa história não só sobre a proximidade do fim como também a sua percepção que dificulta e inibe a redenção entre duas pessoas que partilham um dos mais - senão o mais - forte elo de ligação do mundo e que fazem desta história um dos mais fortes filmes exibidos até ao momento nesta edição do QueerLisboa.
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9 / 10
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Pride (2013)

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Pride de Pavel G. Vesnakov é uma curta-metragem búlgara de ficção que esteve presente na secção competitiva de curtas-metragens da décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Manol (Mihail Mutafov) é um general reformado e o patriarca de uma família que pretende ter com valores e costumes tal como aqueles com que foi educado. No entanto, um dia descobre que Georgiy (Aleksandar Aleksiev), o neto que educa desde jovem idade, é homossexual.
Num mundo muito próprio em que as mudanças e as diferenças do seu ego são uma ameaça à sua própria integridade, Manol será obrigado a enfrentar um mundo que lhe foge dos seus pés... ou que nunca esteve sob o seu controlo.
Vanya Rainova e Pavel G. Vesnakov criam um argumento onde espelham um claro conflito de gerações e falta de comunicação entre um avô e um neto que entendemos serem, até certo ponto, o mundo um do outro. Num misto de suspeitas e desconfianças que são aprofundadas pela imagem de valores e princípios de outros tempos, "Manol" é um homem devastado não pela sexualidade do seu neto mas sim pela ideia de que não controla os destinos, as vontades e a essência dos demais, principalmente daqueles com quem partilha o seu espaço e a quem incutiu um conjunto de valores - os seus - sem se preocupar em saber se estes eram do interesse alheio.
É então que "Manol" entra num combate psicológico que primeiro assume como seu mas que, a seu tempo, transpõe para o seu "Georgiy" o seu neto que de coração despedaçado por ver no homem que sempre admirou um "inimigo" de rosto familiar. As maiores ofensas ou desilusões - dizem - chegam não daqueles que não conhecemos mas sim daqueles a quem entregámos o nosso coração e afecto e num silêncio absoluto "Georgiy" vive uma revolta que o impede de verbalizar qualquer tipo de sentimento, angústia ou até mesmo raiva perante aquele homem que desde jovem o educara e que era agora nada mais do que um estranho.
E é no momento em que pensamos que este "combate" está perdido, pelo menos para "Georgiy" que se vê então condenado a uma fuga que lhe permita viver a sua própria vida, que percebemos que afinal é "Manol" que o perdeu. E esta perda é não pelo abandono daqueles que lhe são próximos como reacção à sua violência verbal - e potencialmente física - mas sim pela inevitabilidade dos acontecimentos que se desmoronam ao seu redor - tal a imprevisibilidade que esta história proporciona ao espectador que vive uma tensão constante. Entrado num mundo novo distante de uma Bulgária ditatorial onde todos os seus valores foram uniformizados e Estado e cidadão andavam de mãos dadas, "Manol" tem então de enfrentar tudo o que não conhece (esperamos) e desejar que não seja ele o abandonado por aqueles que sempre o amaram... mas também temeram.
Um tenso - e intenso - filme curto que desperta o ser mais violento que existe dentro de uma magnífica interpretação de Mihail Mutafov que se destaca numa história já de si conflituosa que tem na sua origem o mais nobre - e tão pouco aceite - dos sentimentos... o amor.
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9 / 10
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Neo Joe Pop (2014)

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Neo Joe Pop de Daniel Pinheiro é uma curta-metragem experimental portuguesa presente na respectiva secção competitiva no QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Com base no filme Flesh, de Paul Morrissey (1968) produzido por Andy Warhol, o realizador português estabelece uma relação entre o corpo e o imaginário de desejo que este desperta naqueles que o observam enquanto um modelo de beleza e de perfeição em constante análise e na consciencialização do mesmo e das suas formas.
Poucos são os objectos - encaremos aqui o corpo como um - Neo Joe Pop transforma-se assim num exercício que pretende analisar o físico como um elemento que ao longo dos séculos se manteve imutável estando, no entanto, numa constante mutação que passa desde um instrumento de trabalho, a um "objecto" de beleza retratado em desportos, na humanização de deuses e mitos ou simplesmente como um elemento de beleza, de desejo, de sexo e como tal, carnal, que provoca as mais inúmeras reacções e ânsias nos demais que o observam.
Interessante pela premissa com que se apresenta e com o potencial que tinha para poder desenvolver um guião que desse corpo e também algum desejo ao mesmo - aí residiria a sua alma - Neo Joe Pop acaba por mais não ser do que uma colagem de imagens que sugerem a idolatrização do corpo per si e do seu potencial enquanto objecto - ou máquina - que faz mover o mundo sem que, com o passar das eras, tenha sofrido qualquer mutação.
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1 / 10
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Barba Rija (2014)

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Barba Rija de André Murraças é uma websérie portuguesa apresentada na íntegra e em formato de curta-metragem na décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Seguimos a vida de três bears portugueses: Pedro (Luís Mota), António (Alexandre Gregório) e Ursão (Vitorino Demécio), três amigos que vivem em Lisboa e as suas desventuras e infortúnios amorosos.
Pedro, o romântico do grupo, vive uma desilusão amorosa enquanto luta por manter um trabalho. António, o mais racional e possivelmente o mais divertido dos três, trabalha numa ONG ligada ao HIV (onde são possivelmente desenvolvidos alguns dos segmentos mais cómicos de toda esta curta-metragem) enquanto esconde uma paixão por Ursão que é talvez o mais dominante do grupo mas, ao mesmo tempo, aquele que aparenta ter uma sensibilidade por descobrir e um passado prestes a ser revelado.
Numa Lisboa urbana e onde os novos conhecimentos podem ser uma constante, este trio de amigos prepara-se para ver as suas convicções testadas tendo sempre a amizade em comum como uma certeza.
Com um grande potencial por explorar, Barba Rija assume-se desde já como uma websérie/curta-metragem promissora dentro do género por fugir aos estereótipos a que o género em questão é tantas vezes remetido como também por demonstrar uma capacidade criativa que emerge o espectador num ambiente que por um lado vive de muita comédia como também abre porta para os dramas de uma vida com problemas comuns a todos.
Desde os problemas sentimentais passando por segredos do passado que acabam por bater às suas portas, os três principais intervenientes de Barba Rija brindam o espectador com um conjunto de situações que nos levam a simpatizar com as suas histórias bem como para aquilo que cada um delas pode esconder por detrás de um aparente rosto sorridente. Se uns podem simpatizar com as crises de identidade sentidas por "Pedro", não é menos verdade que o amor vivido em segredo de "António" ou uma aparente afectividade escondida por detrás de um rosto mais austero de "Ursão" irão certamente despertar a curiosidade de outros.
Ainda que Luís Mota tenha uma interpretação mais frágil e aquela que necessita de mais trabalho para se tornar mais credível, não deixa de esconder um elemento cómico que poderia ser mais explorado e dar uma nova vida ao seu "Pedro" sendo que, no entanto, tanto Alexandre Gregório como Vitorino Demécio encarnam as duas personagens com um maior potencial e um "passado" a ser explorado e que entregariam com toda a certeza uma curta-metragem mais intensa e rica pelas expectativas que aqui foram criadas com as mesmas.
A falta de fundos, ou pelo menos aquela que tanto condiciona a realizam de trabalhos mais sólidos e desenvolvidos, também afectou a produção de Barba Rija que se desenvolveu graças a crowdfunding. No entanto não é menos verdade que este projecto prova - ainda que com os seus escassos recursos - que existe não só todo um potencial por explorar e desenvolver as respectivas histórias que aqui (todos sentem) ficaram por contar dando assim uma continuidade às desventuras pessoais e amorosas do trio de amigos como é uma aposta ganha com o confirmado interesse de um público curioso.
No final, Barba Rija deixa o espectador com um sorriso no rosto - seja ou não o seu género preferido de filme - com uma aguçada curiosidade nos "what if" de algumas das suas personagens e a confirmação de que existe todo um potencial (talvez não o dinheiro) de se tornar num projecto que não deveria ficar por aqui e que mesmo com muitas arestas a precisarem ser "limadas", o sucesso junto do público seria, certamente, imediato.
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6 / 10
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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Cariocas (2014)

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Cariocas de António da Silva é uma curta-metragem documental portuguesa que insere o espectador num universo muito particular onde voyeurismo se confunde com sedução e engate onde os intervenientes actuam como presa e predador numa selva muito movimentada na cidade do Rio de Janeiro.
Durante o dia junto à praia do Arpoador, dezenas de homens exercitam e exibem o seu corpo permitindo a todos os que por ali passam uma admiração mais ou menos consentida. Pela noite, o mesmo espaço ganha o estatuto de local de engate homossexual onde também dezenas de homens exibem os seus corpos para uma qualquer satisfação sexual de momento.
António da Silva consegue uma vez mais recriar um mini-documentário que leva o espectador a uma obrigatória posição de elemento participativo pelo voyeurismo que lhe é imposto e por se sentir desde o primeiro instante como um elemento que também percorre as praias cariocas onde o culto do corpo se confunde com a proeminente e precoce sexualidade que transpira por todos os poros dos corpos daqueles que as frequentam.
Através das imagens que capta e mais ou menos involuntariamente quer seja um mero transeunte ou até o próprio espectador, sente-se desde cedo um propósito alcançado quando sentados na sala de cinema nos interessamo-nos pelo que acontece por detrás daquelas árvores - apesar de ser já bastante explícito o que será - e pela facilidade com que certos encontros - sexualmente intencionais ou não - se proporcionam com mais facilidade do que aquela com que se toma um banho nas apelativas praias da cidade. O sexo, a sedução e a química gerada entre todos é instantânea e da Silva capta-os a todos tal como são... fáceis, rápidos e assumidamente descartáveis.
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7 / 10
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Verona (2013)

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Verona de Marcelo Caetano é uma curta-metragem brasileira de ficção presente na respectiva secção competitiva da décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Elias (Marcia Pantera) viaja para o interior do Brasil para visitar Walter (Germano Melo) com quem fez parte do grupo musical Verona dez anos antes. Walter prepara o seu casamento com Filipe (Guto Nogueira), e vive num misto de fim da pós-adolescência e entrada numa idade adulta onde chegam igualmente todas as obrigações de uma vida onde os dias passam a um ritmo alucinante.
Marcelo Caetano e Hilton Lacerda assinam um argumento que transporta o espectador para um cenário que muito se aproxima de um purgatório natural. Aquele espaço que tanto parece perdido no tempo, isolado de qualquer sinal de civilização mas que, ao mesmo tempo, parece idílico é o local ideal para que um não completo "Walter" possa reflectir no presente sobre a sua vida passada e futura. Reflexão essa que se torna quase obrigatória com a presença de "Elias", o rosto mais evidente do seu passado que se percebe ter ficado por cumprir independentemente de nunca se tornarem claros para o espectador os "porquês".
Enquanto uns evoluem - ou pelo menos avançam - nas suas vidas, outros ficam parados no tempo à espera que algo aconteça... algo que os motive, que os faça acordar e despertar para uma estranha e também ela distante realizade, acabando por ficar à mercê da passagem do tempo que não perdoa nem se esquece de nenhum local estando sempre em constante evolução, mudança e transformação.
É rosto dessa passagem to tempo "Elias" que tendo assumido a seu tempo a iniciativa pela mudança volta a surgir na vida de "Walter" que o encara como o símbolo de tudo aquilo que ele não chegara a concretizar. O símbolo de todas as transformações que ficaram por confirmar e de uma evolução que, na prática, nunca chegou tendo sido substituída por algum conformismo e resignação.
No meio de todas estas mudanças é "Filipe" que se assume como a potencial porta de escape de uma rotina à qual "Walter" se entregou e que através dele poderá finalmente, anos depois de uma vida em perfeito marasmo, encontrar um novo rumo com o qual se possa sentir finalmente completo.
Todo este argumento que gira em torno de uma mudança - ou das várias mudanças - que atravessamos e que nem sempre são reconhecidas encontra uma redenção já bem perto do final quando não só as suas personagens principais finalmente aceitam que o seu tempo passou e que é agora o tempo de encontrar um novo rumo, como também o tal purgatório onde esperavam ter o seu sossego - "Walter" no interior brasileiro e "Elias" através de uma carreira profissional no estrangeiro - se transforma finalmente naquele local ao qual poderão chamar casa.
Verona tem ainda um grande factor a seu favor através da direcção de fotografia de Andrea Capella que capta uma interessante luz - quase celestial - que exponencia esse clima de purgatório (ou pelo menos a sua essência) e que transformam inicialmente todo o ambiente natural num local de perdição e finalmente num espaço que se revela como um inesperado lar.
Intensa, mas tranquila, é também a dinâmica entre Germano Melo e Marcia Pantera que através da sua próxima distância e confronto geográfica - entre ambos - denotam uma química natural que faz mover os destinos das personagens que encarnam e que dá uma apelativa e sedutora vida a toda esta inteligente história fazendo de Verona um dos mais bem sucedidos filmes curtos de toda a competição.
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8 / 10
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Nubes Flotantes (2014)

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Nubes Flotantes de Julián Hernández é uma curta-metragem mexicana de ficção presente na secção competitiva internacional da décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Com esta curta-metragem entramos num universo adolescente onde um rapaz observa dois amigos em treinos na piscina. Enquanto admira o seu treino, o jovem admira também os seus corpos e as suas formas e é apenas quando estes abandonam a piscina que ele se aproxima para também disfrutar de um prazer que se auto-renega.
Quando se aproxima da piscina e pensa estar em completa solidão é quando encontra um dos outros rapazes que o ridiculariza pela sua sensibilidade que automaticamente associa a uma sexualidade que o próprio abomina.
Julián Hernández e Sergio Loo, autores do argumento, têm uma interessante abordagem à temática da sexualidade e à cumplicidade entre duas pessoas - que acontece serem do mesmo sexo - na forma como num mundo aparentemente isolado aqui representado pelo fundo de uma piscina onde todos os sons (ou insultos) são ignorados pela beleza das formas que os corpos assumem numa aparente dança perfeita; a dança que cada um faz para poder sobreviver quando tudo e todos parecem querem lutar contra a individualidade dos demais.
Tendo como um dos seus pontos fortes a mensagem que pretende transmitir, Nubes Flotantes prima ainda pela direcção de fotografia de Alejandro Cantú que nas filmagens debaixo de água parece querer transportar o espectador para um qualquer plano divino onde os corpos se confundem e se mesclam como que se nada, para além dos mesmos, importasse... tal como deveria realmente ser.
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7 / 10
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King Kong (2013)

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King Kong de Nikolaos Kyritsis é uma curta-metragem grega de ficção presente na competição de curtas-metragens internacionais do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Kyritsis pega na história de Ivo, um gorila que nascera no Zoo de Atenas e que fora abandonado pela sua mãe impossibilitando-o dessa forma de estabelecer qualquer contacto e interacção entre a sua espécie, e cria um paralelismo com a história de Christos (Vasilis Vasilakis), um homem na casa dos 50 anos que ao cuidar da sua idosa e doente mãe se vê incapaz de pensar não só na sua própria vida como na aceitação da sua sexualidade que não consegue partilhar com ninguém.
É quando o médico tratador de Ivo se prepara para viajar com ele para outro zoológico que Christos - que por ele denota uma atracção sexual evidente - embarca num caminho de violência, desespero e auto-destruição que podem não ter o fim esperado.
Os momentos mais marcantes de King Kong - já de si um trabalho notável de Kyritsis - prendem-se com a extraordinária direcção de actor compenetrado e entregue a uma interpretação que é, desde o primeiro instante, sofrida e de uma contenção e tensão permanentes. Vasilakis transparece uma dor e um sofrimento desarmantes; primeiro devido à constante dedicação a uma mãe doente que definha aos poucos e que, em segundo lugar, num lento e constante ritmo condicionam toda a sua entrega a um potencial amor/paixão que não se permite viver com alguém que - pensa o espectador - evidencia também os seus sinais de interesse. A prisão que este homem vive é não só sexualmente auto-imposta mas ao mesmo tempo emcionalmente reprimida pelo sentido de dedicação que sente para com a sua mãe... aquela que lhe deu a vida e da qual ele próprio se retira.
Muito ocasionalmente encontramos uma interpretação que consiga através de tão poucas palavras e de um conjunto de expressões que são também elas reprimidas encontrar um conjunto tão sentido de momentos que nos façam perceber toda a dinâmica de um corpo e de uma mente isolados dentro de si próprios... Vasilakis e a magnífica direcção imposta por Kyritsis captam toda essa agonizante tensão que nunca desaparece. Pelo contrário, ela é uma constante que teima em não desarmar.
É toda esta tensão que faz adivinhar uma inevitável espiral de violência que não é só marcada para o exterior mas também para o próprio "Christos" que se vê isolado pela impossibilidade de comunicar com uma mãe que de certa forma já não se encontra presente, de alguém confidente em quem confiar os seus mais íntimos segredos e de uma eventual ligação amorosa e sentimental que parecem distantes e impossíveis pela própria falta de aceitação que denota no trato com aquele que poderia sentir por ele o mesmo - sempre uma incerteza - mas que agora se prepara para partir. É então que ao entrar nessa espiral de auto-degradação (a maior violência que poderá perpretrar contra si próprio), que "Christos" embarca numa viagem nocturna sem fim ou destino possível para aquilo que sente ser a única forma de estar próximo de alguém e poder ter algum afecto - ainda que não o seja - com ocasionais encontros sexuais fortuitos, anónimos e potencialmente violentos.
No final o argumento de Kyritsis coloca ao espectador duas questões fundamentais... Primeiro o que acontece quando todo o mundo que conhecemos parece querer ruir lentamente retirando-nos todas as bases de segurança que até então conhecemos? E finalmente pergunta-nos ainda qual será a maior violência: aquela que assistimos e que é física ou, por sua vez, será maior a violência que a sociedade impõe ao colocar barreiras que o levaram a comportamentos socialmente apáticos e que aos poucos, lenta e consistentemente, levaram "Christos" a ser um pária sentimental?
Correndo o risco de utilizar um daqueles lugares comuns que por vezes tão mal caracterizam grandes filmes, mas este King Kong consegue ser um daqueles que nos encosta ao nosso lugar na sala de cinema impossibilitando-nos de sair de lá com grande ligeireza. Sim... é assim tão bom!
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9 / 10
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

The Rugby Player (2013)

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The Rugby Player de Scott Gracheff é um documentário presente na respectiva secção competitiva da décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Mark Bingham foi uma das vítimas dos atentados terroristas do 11 de Setembro de 2001. Este documentário, para além de se centrar nos trágicos acontecimentos associados a esse dia, centra-se principalmente na vida deste homem que apesar de igual a tantos outros se destaca por um inesperado legado que deixa para tantos outros com a história da sua vida.
The Rugby Player torna-se na inesperada história de um homem comum que tem a particularidade de ter sido amado por todos aqueles que o rodeavam desde a sua família aos seus amigos não só graças ao seu comportamento afectuoso como também pela sua honra e pela defesa quase inata de defender aqueles que se encontravam em situações mais complicadas e a necessitar de auxílio facto que é, aliás, referido aquando da sua viagem a bordo do voo 93 da United Airlines que se despenhou na Pensilvânia após ter sido desviado por um grupo de terroristas na já referida data.
Através de um sentido, emocionado mas ao mesmo tempo alegre relato de Alice Hoagland - a mãe de Mark -, este documentário transporta-nos numa sentida viagem ao retrato psicológico daquele homem que tinha uma energia contagiante capaz de a todos cativar pelo seu charme natural tornando-se numa referência para a família que o recorda e para os amigos que o mantêm sempre presente na sua memória. Ao mesmo tempo The Rugby Player explora de forma equilibrada e não sensacionalista, o lado afectivo e sentimental de Bingham revelando para além da sua sexualidade a forma como a sua memória, a sua paixão pelo desporto e a forma como viveu serve, no presente, de inspiração e exemplo para tantos que vivem os seus sentimentos e sexualidade às escuras isolados do mundo tornando-se talvez não num herói - apesar deste facto ser referido inúmeras vezes - mas sim num daqueles exemplos e referências a que todos almejam ser.
Se por um lado The Rugby Player nos leva a conhecer a família e amigos de Bingham, e principalmente os emocionados relatos de Alice Hoagland, a sua mãe, que hoje percorre inúmeros eventos desportivos que divulgam e defendem os direitos LGBT nomeadamente o reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo, por outro o espectador é, ao mesmo tempo, levado numa viagem pelo tempo para um conjunto de imagens e gravações de época nas quais fica a conhecer um pouco mais deste homem - então um jovem adolescente e adulto - sendo involuntariamente levado a pensar em todas as palavras que dele vão sendo ditos e no quão este homem olhava para os demais como seus pares... Alguém com que o próprio se identificava independentemente das suas origens e que via nos "outros" potenciais novas amizades ou parceiros que poderiam com ele seguir e trilhar um mesmo caminho fosse ele qual fosse.
São estes dois momentos distintos mas intimamente ligados que nos fornecem todo um interessante perfil sobre um homem que (in)conscientemente lutava pelos direitos dos mais fracos, daqueles que não eram reconhecidos criando com eles uma imediata empatia e solidariedade natural que o tornam hoje, anos após a sua morte, um exemplo a seguir por uma comunidade na qual o próprio se inseria e que pretende hoje ter reconhecidos os seus direitos que estão ainda longe de um reconhecimento absoluto e natural. Perfil esse que se torna apaixonante não só por se perceber ter estado naquela pessoa alguém com quem era fácil criar um elo de ligação - de amizade para uns e sentimental para outros - e que esse era apenas uma ínfima parte de todo um potencial que ficou infelizmente curto pelos trágicos acontecimentos que rodearam a sua (e a de tantos outros) morte.
Bingham tornou-se assim num exemplo não só para os seus amigos e familiares que com ele partilharam todos os momentos mais especiais da sua vida mas também para aqueles que hoje lutam por um reconhecimento pelos seus direitos - e dignidade - e que têm na sua figura alguém intocável graças à sua integridade, ao seu sentido companheirismo e lealdade (por todos referido) e que pode ser a figura referência de todo um movimento.
Scott Gracheff consegue através da edição e montagem de The Rugby Player criar um sentido e emotivo documentário que foca assuntos e temáticas actuais tendo como base a vida de um homem que olhava para os demais como seus semelhantes. Homem esse que já não se encontrando presente cria, no entanto, no espectador uma eterna questão... "e se?"... E se fosse diferente? E se fosse possível? E se de facto todos fossem iguais e com os mesmos direitos? E tudo isto sem nunca se esquecer que na realidade já todos somos iguais e com esses mesmos direitos que não são ainda reconhecidos num qualquer papel... pela mesma vontade do homem...
No final The Rugby Player leva-nos ainda a ir mais longe e questionarmo-nos sobre a origem dos fundamentalismos... Quando Bingham (e tantos outros) morreu pela vontade fundamentalista de um grupo de homens, estão hoje tantos outros privados de alguns dos seus direitos fundamentais por vontade também de um grupo de homens que se recusa a ver - e aceitar - que só não somos todos iguais graças a um conjunto de vontades e caprichos demagogos.
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Mondial 2010 (2013)

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Mondial 2010 de Roy Dib é uma curta-metragem documental libanesa já vencedora do Teddy no Festival Internacional de Cinema de Berlim e presente na secção competitiva de Curtas-Metragens do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Esta curta-metragem leva-nos a uma viagem feita por um casal homossexual libanês até Ramallah, na Palestina. Sempre rodado de câmara na mão e nunca visualizando os dois principais intervenientes, a viagem do espectador é feita através das desoladoras imagens que povoam o ecrã ao mesmo tempo que escutam os diálogos de um casal e dos seus problemas sentimentais.
Numa área geográfica onde as fronteiras físicas têm uma importância divina, o espectador é colocado num interessante paralelismo entre estas e aquelas que separam não só os povos como, para além disso, a sua sexualidade.
A filmagem em vídeo utilizada como forma de registar o universo em questão como se de um diário se tratasse e a viagem feita quase ilegalmente rumo à Palestina - ultrapassando fronteiras israelitas as quais proibem a viagem de qualquer um vindo do Líbano - captam o medo sentido pelos dois intervenientes que efectuam esta viagem não só devido à sua nacionalidade como também devido à sua sexualidade que é, desde o primeiro instante, escondida daqueles com quem convivem.
Num registo que aproxima o espectador tanto do medo como da intimidade, dos limites que separam a segurança e a sua falta e que distinguem cada indivíduo e cada comunidade, Mondial 2010 torna-se numa interessante reflexão sobre se as supostas "diferenças" que separam cada indivíduo, cada comunidade e cada povo... sobre as supostas fronteiras - nada mais do que linhas imaginárias impostas pelo Homem (tal como as diferenças) - e o quão limitantes (limitadoras) podem ser naquilo que poderia (deveria) ser um real entendimento entre os seus dois lados que, na prática, não o são.
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7 / 10
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