A Herança que Veio do Frio de Bob Spiers é uma longa-metragem canadiana com a participação de Skeet Ulrich, Leslie Nielsen e Natasha Henstridge.
Kevin Manley (Ulrich) é um tipo apagado e a quem a vida nunca sorriu. Conformado com uma existência desinteressante e banal, Manley recebe a notícia de que o seu avô faleceu e que lhe deixou todos os seus pertences no Alaska. No entanto, uma vez lá chegado, Manley é confrontado com a ideia de que para receber a sua herança terá de percorrer a corrida Iditarod por todo o Estado só depois recebendo aquilo a que tem direito.
Pelo meio de toda a aventura, Manley conhece Clive (Nielsen) um homem desesperado em receber os seus terrenos e ainda Bonnie (Henstridge) neta do seu rival e que poderá tornar-se na mulher da sua vida. Conseguirá ele chegar ao final da corrida com tantas adversidades pelo meio?
Independentemente da história, qualquer espectador que cresceu com os grandes êxitos dos anos 80 e 90 de Leslie Nielsen vai obrigatoriamente ver qualquer um dos filmes que este grande cómico estreava. De Repossessed (1990) a The Naked Gun (1988), (1991) e (1994) se, esquecer Mr. Magoo (1997) ou os mais recentes Scary Movie 3 e 4 de (2003) e (2006) que para lá da sua qualidade enquanto obras cinematográficas faziam as delícias dos seus fãs. Kevin of the North não é, portanto, nenhuma excepção.
No entanto, para lá de Nielsen que aqui é um contrapeso de Ulrich - apesar de algum protagonismo na longa-metragem - a realidade é que este filme fica para lá de qualquer parâmetro mínimo de qualidade que o espectador possa e deva exigir. A personagem interpretada por Ulrich está longe de conseguir ter graça. De um momento desastroso ao outro, o protagonista de Kevin of the North parece não ter um rumo a dar à sua personagem vivendo exclusivamente de um ridículo e absurdo sem fim de situações que arruínam qualquer momento mais gracioso que possa - poderia - existir. Ulrich vagueia então por um sem fim de momentos que ninguém - real - atravessaria e as repetições de "acidentes" dos quais é vítima parecem retiradas de um qualquer sketch de sitcoms manhosas e sem graça. A sua personagem , que para lá de distraído é, ou pelo menos aparenta, ser mentalmente limitado, ofende as pessoas distraídas, desastradas e vítimas dos maiores e mais inoportunos desastres na vida. Se uma única palavra chegar para caracterizar a sua personagem, essa seria "nulidade". E o pior é que são interpretações destas que conseguem - com infeliz sucesso - destruir carreiras cinematográficas.
O argumento de William Osborne é outro dos grandes erros de todo o filme. Não só transforma as personagens em exagerados cómicos de situação como, principalmente, caracteriza toda uma população de um Estado como meros pilantras desejosos de alcoól, trapaças e QI que ficam longe da média (para baixo) e que graças a essa debilidade mental apenas podem fazer concorrência a testes primários de inteligência. A mulher não é deixada de lado sendo esta um exemplo de masculinização forçada pois apenas assim se valida a sua presença num mundo que subtilmente se caracteriza como não sendo próprio para ela.
Para lá de ofensivo, Kevin of the North é o retrato de uma comédia sem sucesso, que tenta sobreviver pelo exagero e por momentos declaradamente absurdos como que o retrato de uma população voluntariamente mentalmente debilitada que até tem alguma sorte na vida... mas nem por isso consegue evoluir ou perceber o mundo de outra forma. De piadas sem graças aos já referidos momentos ofensivos sem esquecer as personagens over the top, Kevin of the North falha como comédia, filme sobre a perseverança ou até mesmo um filme de aventura que poderia ser, transformando-se numa pobre paródia de si próprio que, nem assim, consegue obter qualquer graça.
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