terça-feira, 31 de maio de 2016

Kevin of the North (2001)

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A Herança que Veio do Frio de Bob Spiers é uma longa-metragem canadiana com a participação de Skeet Ulrich, Leslie Nielsen e Natasha Henstridge.
Kevin Manley (Ulrich) é um tipo apagado e a quem a vida nunca sorriu. Conformado com uma existência desinteressante e banal, Manley recebe a notícia de que o seu avô faleceu e que lhe deixou todos os seus pertences no Alaska. No entanto, uma vez lá chegado, Manley é confrontado com a ideia de que para receber a sua herança terá de percorrer a corrida Iditarod por todo o Estado só depois recebendo aquilo a que tem direito.
Pelo meio de toda a aventura, Manley conhece Clive (Nielsen) um homem desesperado em receber os seus terrenos e ainda Bonnie (Henstridge) neta do seu rival e que poderá tornar-se na mulher da sua vida. Conseguirá ele chegar ao final da corrida com tantas adversidades pelo meio?
Independentemente da história, qualquer espectador que cresceu com os grandes êxitos dos anos 80 e 90 de Leslie Nielsen vai obrigatoriamente ver qualquer um dos filmes que este grande cómico estreava. De Repossessed (1990) a The Naked Gun (1988), (1991) e (1994) se, esquecer Mr. Magoo (1997) ou os mais recentes Scary Movie 3 e 4 de (2003) e (2006) que para lá da sua qualidade enquanto obras cinematográficas faziam as delícias dos seus fãs. Kevin of the North não é, portanto, nenhuma excepção.
No entanto, para lá de Nielsen que aqui é um contrapeso de Ulrich - apesar de algum protagonismo na longa-metragem - a realidade é que este filme fica para lá de qualquer parâmetro mínimo de qualidade que o espectador possa e deva exigir. A personagem interpretada por Ulrich está longe de conseguir ter graça. De um momento desastroso ao outro, o protagonista de Kevin of the North parece não ter um rumo a dar à sua personagem vivendo exclusivamente de um ridículo e absurdo sem fim de situações que arruínam qualquer momento mais gracioso que possa - poderia - existir. Ulrich vagueia então por um sem fim de momentos que ninguém - real - atravessaria e as repetições de "acidentes" dos quais é vítima parecem retiradas de um qualquer sketch de sitcoms manhosas e sem graça. A sua personagem , que para lá de distraído é, ou pelo menos aparenta, ser mentalmente limitado, ofende as pessoas distraídas, desastradas e vítimas dos maiores e mais inoportunos desastres na vida. Se uma única palavra chegar para caracterizar a sua personagem, essa seria "nulidade". E o pior é que são interpretações destas que conseguem - com infeliz sucesso - destruir carreiras cinematográficas.
O argumento de William Osborne é outro dos grandes erros de todo o filme. Não só transforma as personagens em exagerados cómicos de situação como, principalmente, caracteriza toda uma população de um Estado como meros pilantras desejosos de alcoól, trapaças e QI que ficam longe da média (para baixo) e que graças a essa debilidade mental apenas podem fazer concorrência a testes primários de inteligência. A mulher não é deixada de lado sendo esta um exemplo de masculinização forçada pois apenas assim se valida a sua presença num mundo que subtilmente se caracteriza como não sendo próprio para ela.
Para lá de ofensivo, Kevin of the North é o retrato de uma comédia sem sucesso, que tenta sobreviver pelo exagero e por momentos declaradamente absurdos como que o retrato de uma população voluntariamente mentalmente debilitada que até tem alguma sorte na vida... mas nem por isso consegue evoluir ou perceber o mundo de outra forma. De piadas sem graças aos já referidos momentos ofensivos sem esquecer as personagens over the top, Kevin of the North falha como comédia, filme sobre a perseverança ou até mesmo um filme de aventura que poderia ser, transformando-se numa pobre paródia de si próprio que, nem assim, consegue obter qualquer graça.
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1 / 10
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segunda-feira, 30 de maio de 2016

João da Ponte

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1957 - 2016
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domingo, 29 de maio de 2016

André Rousselet

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1922 - 2016
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sábado, 28 de maio de 2016

Ariel 2016 - Academia Mexicana de Cinema: os vencedores

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Filme: Las Elegidas, de David Pablos
Primeira-Obra: 600 Millas, de Gabriel Ripstein
Documentário: El Hombre que Vio Demasiado, de Trisha Ziff
Filme de Animação: La Increíble Historia del Niño de Piedra, de Miguel Ángel Uriegas, Miguel Bonilla, Jaime Romandía e Pablo Aldrete
Filme Ibero-Americano: El Abrazo de la Serpiente, de Ciro Guerra (Colômbia)
Curta-Metragem de Ficção: Trémulo, de Roberto Fiesco
Curta-Metragem Documental: Ausencias, de Tatiana Huezo
Curta-Metragem de Animação: Zimbo, de Juan José Medina, Rita Basulto
Realizador: David Pablos, Las Elegidas
Actor: Marco Pérez, Gloria
Actriz: Sofía Espinosa, Gloria
Actor Secundário: Noé Hernández, 600 Millas
Actriz Secundária: Adriana Paz, Hilda
Revelação Masculina: Martín Castro, El Jeremías
Revelação Feminina: Nancy Talamantes, Las Elegidas
Argumento Original: David Pablos, Las Elegidas
Argumento Adaptado: Laura Santullo, Un Monstruo de Mil Cabezas
Montagem: Adriana Martínez e Patricia Rommel, Gloria
Fotografia: Carolina Costa, Las Elegidas
Música Original: Jacobo Lieberman, El Hombre que Vio Demasiado
Guarda-Roupa: Gilda Navarro, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
Direcção Artística: Bárbara Enríquez e Alejandro García, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
Som: Matías Barberis, Jaime Baksht e Michelle Couttolenc, Gloria
Efeitos Especiais: Alejandro Vázquez, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
Efeitos Visuais: Charlie Iturriaga e Natalia de la Garza, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
Caracterização: David Gameros, Gloria
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Vicente da Câmara

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1928 - 2016
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Giorgio Albertazzi

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1923 - 2016
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quinta-feira, 26 de maio de 2016

The Huntsman: Winter's War (2016)

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O Caçador e a Rainha do Gelo de Cedric Nicolas-Troyan é uma longa-metragem norte-americana e a sequela de Snow White and the Huntsman (2012), de Rupert Sanders.
Anos antes da história tal como a conhecemos, a Rainha Ravenna (Charlize Theron) descobre a gravidez de Freya (Emily Blunt), a sua irmã. Depois do seu amado matar o fruto do seu amor, Freya liberta toda a sua força congelando metade do reino e tornando os filhos dos seus súbditos em fortes guerreiros que conquistavam territórios além fronteiras.
Num reino que é agora desprovido de amor, Eric (Chris Hemsworth) e Sara (Jessica Chastain) desafiam as ordens de Freya escondendo a relação que os une. No entanto, quando as forças do mal se unem tentando destruir todos aqueles que as desafiam, eis que nos lugares mais sombrios do reino surge uma Branca de Neve doente e um Espelho Mágico com os seus próprios segredos por revelar.
Em The Huntsman: Winter's War existe um antes e um depois em relação a Snow White and the Huntsman. Num primeiro segmento de The Huntsman: Winter's War, o espectador é levado aos primórdios das duas rainhas irmãs - "Ravenna" e "Freya" - e das relações de confiança cega de uma em relação à outra ao mesmo tempo que "Freya" se afirmava como uma rainha fria (literalmente) e despeitada para quem o amor passara de elemento fundamental àquele que era veemente repudiado e contra o qual lutava com todas as suas forças. É neste mesmo segmento que o espectador conhece os primeiros instantes de um jovem "Eric" - o Caçador - como ele se transformou num guerreiro experto e as origens do seu coração despedaçado que assistimos - sem compreender - em Snow White and the Huntsman.
Num segundo momento, The Huntsman: Winter's War aborda os anos seguintes a Snow White and the Huntsman e a transformação de um reino pacífico no qual todos tentam e conseguem encontrar a prosperidade e a tranquilidade que não sentiram durante o reinado de "Ravenna". No mesmo reino em que uma "Branca de Neve" se assume como rainha bondosa que todos respeitam mas que, no seio do seu próprio palácio, o Espelho Mágico começa a controlar e atormentar não só o seu juízo como a sua vontade. Eis que começa a acção de The Huntsman: Winter's War.
Tendo sempre em mente as origens das suas personagens, nomeadamente as de "Eric" que volta a ser protagonista, as de "Sara" que agora se revela como o par romântico do caçador e obviamente "Freya", a origem da sua violenta separação, The Huntsman: Winter's War volta a despertar a magia de um típico filme de aventura e fantasia que apela à imaginação do espectador para que as mesmas ganhem vida e cor. Sempre com um antes e depois em mente, o espectador deixa-se levar pelas aventuras e pelo universo dos reinos encantados que, uma vez mais, comprovam que nem sempre eles são perfeitos e recheados de pequenas grandes personagens com vidas imaginárias fabulosas mas sim, que no seio dessa imaginada perfeição existe maldade, corrupção, vilanagem e um sem fim de más intenções que tentam - e atentam - contra aqueles que estando mais desprevenidos se deixam levar numa teia de intrigas e inuendos dignos das mais pérfidas intenções.
Ainda que The Huntsman: Winter's War consiga captar todo o imaginário do primeiro filme não deixa de, no entanto, ter a sua própria vida e enveredar pelo ambiente de conto de fadas mas, desta vez, apenas dando destaque ao "Caçador" de Chris Hemsworth que aqui revela o seu lado mais sentimental ou, pelo menos, as origens do seu bloqueio amoroso sentido pelo espectador no título que se lhe precedeu. A sua relação com "Sara" interpretada por Jessica Chastain que oscila entre o amor e a repulsa fruto de um evento não explicado no passado de ambos é a pedra basilar destas duas personagens. Tal como é habitual no género, a ilusão assume aqui um papel importante na medida em que distancia as personagens principais criando um vácuo nas suas relações que necessita ser colmatado com o desenrolar da história e, ao mesmo tempo é ela também que acaba por dar corpo à segunda personagem principal da mesma, ou seja, "Ravenna", em mais uma inspirada interpretação de Charlize Theron que regressa tão ou mais pérfida que no primeiro título, desesperada por dar corpo a um ideal de beleza e juventude que não a irão travar no caminho pela destruição de todos aqueles que possam reter mais do que aquilo que ela pretende irradiar.
Com os seus novos e mais elaborados "tentáculos do mal" - literalmente falando - "Ravenna" acaba por, tal como no primeiro título, ser a personagem mais rica de toda esta longa-metragem. O espectador não só cria uma estranha empatia com ela - que é como quem diz... com o mal - como também percebe que a sua origem e ambições poderiam potenciar todo um filme próprio onde a juventude tão cobiçada de "Ravenna" fosse finalmente explorada dando a conhecer os porquês de uma obsessão que roça o doentio. Nos breves instantes em que cruza o grande ecrã - afinal só no início e depois no final de The Huntsman: Winter's War -, Charlize Theron exala o seu implacável magnetismo roubando toda a atenção que o espectador possa depositar nas demais personagens tendo apenas rival numa gélida Emily Blunt vidrada numa idêntica obsessão com o ódio que sente por aqueles... que sentem.
De um Hemsworth linear com a personagem que já havia apresentado em Snow White and the Huntsman e uma Jessica Chastain em modo guerreira completam o elenco protagonista que, no entanto, dá ainda lugar a Nick Frost e Rob Brydon como o par de anões também eles guerreiros e que os acompanham na demanda pelo enigmático e malévolo Espelho Mágico tão central em toda a trama mas tão secundário na exposição que aqui tem caindo, de certa forma, para um décor necessário mas pouco presente.
Do amor presente em Snow White and the Huntsman à sua falta em The Huntsman: Winter's War, a este último falta uma certa verve de fábula existente no título inicial estando aqui mais presente uma necessidade de fazer rentabilizar o franchise com todo um conjunto de novas personagens que têm - obviamente - as suas próprias histórias esquecendo, por sua vez, de dar corpo àquele lado imaginado, fantástico e de fantasia que deveria estar presente nesta história. É certo que todos os elementos estão lá presentes, e podemos confirmá-lo desde logo com os sumptuosos elementos de uma exímia direcção artística e de um guarda-roupa de fazer inveja a qualquer longa-metragem mas, na sua essência, existe um certo fio condutor que se perde de SWatH que aqui dá lugar a uma história onde a acção e a aventura ganham um corpo mais resistente. Não desce a qualidade mas sim a dinâmica e seria mentira se qualquer um de nós que aprecia o género não admitisse que esperava um pouco mais do perceptível magnetismo de uma Charlize Theron disposta e com capacidade de levar a sua "Ravenna" a um campo mais longínquo, sombrio e onde o medo conseguisse imperar face a todas as coisas bonitas da vida.
Vale a pena enquanto uma continuidade e um potencial "filme do meio" rico em pequenos grandes detalhes de cenário e composição mas, no entanto, desengane-se aquele que aqui chegue e pense que vai encontrar uma obra superior a Snow White and the Huntsman.
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7 / 10
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Premios Platino del Cine Iberoamericano 2016: os nomeados

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Foram hoje anunciados os nomeados para a terceira edição dos Prémios Platino de Cinema Ibero-Americano que serão atribuídos a 23 de Julho próximo em Punta del Este, no Uruguai. Entre os nomeados encontramos alguns dos maiores sucessos de bilheteira e da crítica do cinema da Ibero-América e a presença do segundo volume da trilogia As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes.
E os nomeados são:
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Melhor Filme Ibero-Americano
El Abrazo de la Serpiente, de Ciro Guerra
El Clan, de Pablo Trapero
El Club, de Pablo Larraín
Ixcanul, de Jayro Bustamante
Truman, de Cesc Gay
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Prémio Platino Camilo Vives - Obra Prima
600 Millas, de Gabriel Ripstein
El Desconocido, de Dani de la Torre
Ixcanul, de Jayro Bustamante
Magallanes, de Salvador del Solar
El Patrón: Radiografía de un Crimen, de Sebastián Schindel
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Melhor Documentário
Allende, Mi Abuelo Allende, de Marcia Tambutti Allende
El Botón de Nácar, de Patrício Guzmán
Chivas Nuevas 24 Horas, de Mabel Lozano
La Once, de Maite Alberdi
The Propaganda Game, de Álvaro Longoria
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Melhor Filme de Animação
El Americano, de Ricardo Arnaiz e Mike Kunkel
Atrapa la Bandera, de Enrique Gato
Don Gato 2: El Inicio de la Pandilla, de Andrés Couturier
El Secreto de Amila, de Gorka Vázquez
Un Gallo con Muchos Huevos, de Gabriel Riva Palacio Alatriste e Rodolfo Riva Palacio Alatriste
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Melhor Realizador
Ciro Guerra, El Abrazo de la Serpiente
Pablo Trapero, El Clan
Pablo Larraín, El Club
Alonso Ruizpalacios, Güeros
Cesc Gay, Truman
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Melhor Interpretação Masculina
Damián Alcázar, Magallanes
Javier Cámara, Truman
Alfredo Castro, El Club
Ricardo Darín, Truman
Guillermo Francella, El Clan
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Melhor Interpretação Feminina
Elena Anaya, La Memoria del Agua
Penélope Cruz, Ma Ma
Inma Cuesta, La Novia
Dolores Fonzi, Paulina
Antonia Zegers, El Club
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Melhor Argumento
El Abrazo de la Serpiente, Ciro Guerra e Jacques Toulemonde
El Club, Pablo Larraín, Guillermo Calderón e Daniel Villalobos
Ixcanul, Jayro Bustamante
Magallanes, Salvador del Solar
Truman, Cesc Gay e Tomás Aragay
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Melhor Montagem
El Abrazo de la Serpiente, Etienne Boussac e Cristina Gallego
El Clan, Pablo Trapero e Alejandro Carrillo Penovi
El Desconocido, Jorge Coira
Ixcanul, César Díaz
Magallanes, Eric Williams
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Melhor Fotografia
El Abrazo de la Serpiente, David Gallego
El Club, Sergio Armstrong
Ixcanul, Luis Armando Arteaga
La Memoria del Agua, Arnaldo Rodríguez
La Novia, Miguel Ángel Amoedo
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Melhor Música Original
El Abrazo de la Serpiente, Nascuy Linares
Ixcanul, Pascual Reyes
Ma Ma, Alberto Iglésias
Magallanes, Federico Jusid
Nadie Quiere la Noche, Lucas Vidal
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Melhor Direcção Artística
El Abrazo de la Serpiente, Angélica Perea
El Clan, Sebastián Orgambide
Ixcanul, Pilar Peredo
As Mil e Uma Noites: Volume 2, O Desolado, Bruno Duarte e Artur Pinheiro
La Novia, Jesús Bosqued Maté e Pilar Quintana
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Melhor Som
El Abrazo de la Serpiente, Carlos García e Marco Salavarria
El Clan, Vicente d'Elía e Leandro de Loredo
El Desconocido, David Machado, Jaime Fernández e Nacho Arenas
Ixcanul, Eduardo Cáceres e Julien Cloquet
Paulina, Federico Esquerro, Santiago Fumagalli e Edson Secco
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quarta-feira, 25 de maio de 2016

Shortcutz Viseu - Sessão #76

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O Shortcutz Viseu está de volta na próxima sexta-feira dia 27 de Maio para a sua Sessão #76. No segmento de Curtas em Competição serão exibidos os filmes curtos Arcana, de Jerónimo Rocha e Lux, de Bernardo Lopes e Inês Malveiro estando os três realizadores presentes na sessão para apresentar os seus filmes.
Finalmente no segmento Curta-Metragem Convidada será exibido o filme Plumés, de Camille Pernin (França).
Como é habitual a partir das 22 horas o local ideal é o Carmo'81, em Viseu.
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terça-feira, 24 de maio de 2016

Burt Kwouk

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1930 - 2016
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segunda-feira, 23 de maio de 2016

IEC Long (2015)

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IEC Long de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata é um documentário em formato de curta-metragem e um dos mais recentes trabalhos da dupla de realizadores de A Última Vez que Vi Macau, filme vencedor do Sophia de Melhor Filme atribuído pela Academia Portuguesa de Cinema.
Naquela que é uma revisita a Macau, a dupla de realizadores apresenta ao espectador um documentário onde pode conhecer um pouco mais da antiga região administrativa portuguesa e principalmente uma das outrora mais importantes actividades - culturais e económicas - da zona que se prende com a produção de panchões (cartucho de pólvora usado tradicionalmente no Ano Novo Chinês).
Numa fase inicial deste documentário, o espectador é levado por uma viagem à ilha onde um conjunto de actividades lúdicas decorrem e claro, estando sempre presente o panchão acesso com um pau de incenso para afugentar - segundo rezam as lendas - um animal sobrenatural. É então, num segundo momento de IEC Long que o espectador é então levado a uma viagem à antiga fábrica de panchões - agora em ruínas - mas que em tempos foi um dos mais importantes elementos da vida económica da região contribuindo para muito do consumo da própria China e confundindo-se a sua existência com a própria História de Macau.
"A vida do Homem é presa de fantasmas" diz Teng, um seu antigo operário da fábrica, que faz uma visita guiada pelas agora ruínas da mesma que, fechada desde o início dos anos 70 do século passado, é agora considerada como património de interesse cultural e passível de recuperação para posterior transformação em atracção turística.
Interessante de um ponto de vista histório, IEC Long peca unicamente pela pouca proximidade que o espectador comum pode ter para com o antigo território sob administração portuguesa sendo, no entanto, mais um dinâmico trabalho da dupla de realizadores que se mantém por terras asiáticas a recuperar parte de um imaginário colectivo português pouco estudado - e ainda menos filmado - desbravando um terreno que será certamente rico em histórias - reais e ficcionadas - e que poderia (poderá?) ultrapassar fronteiras e momento muito "europeus".
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6 / 10
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No Deserto (2015)

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No Deserto de Lino M. Gomes - também o autor do argumento - é uma curta-metragem portuguesa de ficção que numa mescla de realidade e ficção levam Miguel (Luís Oliveira) a uma inesperada aventura ao cruzar-se com uma misteriosa e sedutora Samirah (Vânia Rodrigues).
O argumento de No Deserto transporta o espectador para uma viagem que o faz perder nos primeiros instantes. Incerto não só sobre as origens como também sobre o destino do protagonista, o espectador concentra-se na "chegada" de "Miguel" a um proeminente deserto que o próprio desconhece como ali chegou. Divagando pelo calor que se faz sentir e incerto sobre qual o seu destino, "Miguel" alucina com uma jovem bailarina por quem se sente - em sonho - imediatamente atraído. Mas... algo parece idêntico a uma realidade que (de momento) desconhece tanto ele... como o espectador.
No mundo real - o seu - "Miguel" leva uma vida aparentemente normal... Percorrendo as ruas de uma cidade igual a tantas outras, ele leva uma existência normal até que passa por uma mulher... Será a mesma dos seus sonhos? Ou será esta o reflexo daquele com quem se cruzou? Imaginação ou a vivência de uma realidade paralela?
Momentos marcantes... sinais identificativos... Realidades paralelas... Temos um pouco de tudo em No Deserto, facto que leva o espectador a perder-se na incerteza da realidade dos protagonistas, o que se agudiza com a presença de um grupo de inesperados criminosos que espreitam sem um motivo aparente mas que apenas confirmam que do inesperado - ainda que transgressor - pode surgir a confirmação de um destino por escrever... já estando escrito.
No Deserto apresenta uma dinâmica interessante do ponto de vista oscilante entre a realidade e a ficção (das personagens claro está) bem como pela ideia de que o futuro está - de certa forma - escrito desde o primeiro instante, sendo todas as adversidades colocadas no caminho pequenos detalhes que fazem com que a vitória saiba a uma conquista relativamente inesperada. No entanto, a curta-metragem de Lino M. Gomes denota também as suas fragilidades com alguma "incoerência" no segmento que tenta unir a ficção - de "Miguel" - à sua realidade, ou seja, quem são aqueles improváveis vilões? Quais as suas motivações? Quais os seus propósitos? O que os fez perseguir um pacato "Miguel" metido na sua própria vida?
Este segmento - do restaurante árabe - não prejudicando a dinâmica sentida na história do protagonista torna-a, por momentos, mais frágil na medida em que o espectador se perde com um momento tido como elo de ligação entre os dois segmentos mas que, sem explicação ou motivações explícitas, transforma o mesmo num momento difuso entre ambos.
Com uma interessante e bem captada direcção de fotografia de Rodrigo Caetano que cria uma dinâmica interessante entre sonho e realidade, No Deserto destaca-se ainda pela sua música original de Filipe Goulart e Diogo Jourdan que confere uma atmosfera mística e romântica à relação entre os dois protagonistas.
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6 / 10
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Olhos Pretos, Cabelo Azul (2012)

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Olhos Pretos, Cabelo Azul de João Meirinhos e Emanuel Garcia é uma curta-metragem portuguesa de ficção que leva o espectador à mente - e ao comportamento - de uma jovem mulher incapaz de controlar os seus impulsos sexuais. Ela (Vanessa Guimarães) vive no isolamento de um pequeno apartamento com as comodidades básicas para a sua sobrevivência. O namorado (Francisco Sousa) está de viagem. Ela deseja mais e encontra-o num amante (Emílio Mota) ocasional e num Voyeur (João Reis) como atrelado. Poderá ela conseguir manter uma relação de aparente conveniência e que não a satisfaz?
João Meirinhos entrega, enquanto argumentista, uma história (não) simples sobre a dupla personalidade de uma jovem mulher que (re)age conforme a sua solidão. Enquanto acompanhada pelo seu namorado, esta mulher perde-se em devaneios infantis e sexuais que com ele satisfaz como se mais ninguém existisse no mundo. No entanto, uma vez separada dele - ainda que momentaneamente - pergunta-se sobre como poderão ser preenchidos estes vazios "sentimentais".
Sem uma ocupação profissional (legal) com que ocupar o seu tempo, os seus rendimentos provêm de encontros sexuais que provoca via redes sociais e que a satisfazem não só sexualmente como economicamente. Assim, num dilema entre solidão versus relação, esta mulher divaga numa espiral lunática e decadente que parece ser limitada a um futuro próximo.
Ainda que as intenções sobre a decadência da mente humana e a vontade de encontrar um "complemento" junto do "outro" expressas em Olhos Pretos, Cabelo Azul, a realidade é que esta curta-metragem está longe de cumprir os requisitos mínimos para que o desfecho final não seja mais do que um cómico de situação sobre os limites - ou falta deles - da devassidão e da plena satisfação.
Com um conjunto de interpretações medianas, especialmente da protagonista de quem se pedia muito mais e muito melhor, o espectador tem apenas um vislumbre sobre a sua mente - que apenas poderá igualar à decadência e degradação das imagens que a própria vê no vídeo - completa com momentos e formas de atingir uma plenitude económico-sexual instantâneas mas que, na realidade, pouco mais que isso lhe irão conferir.
Com excertos que oscilam entre as mais pobres sitcoms televisivas e alguma incoerência fruto de um amadorismo inocente, reconhecendo no entanto as boas intenções com que esta curta-metragem tentou ser elaborada, Olhos Pretos, Cabelo Azul está para lá da convicção de uma obra simples e com objectivos entrando estrondosamente na dinâmica do "pobre mas feliz".
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2 / 10
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domingo, 22 de maio de 2016

Bunker (2015)

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Bunker de Sandro Aguilar é uma curta-metragem portuguesa de ficção na qual uma jovem adolescente (Clara Jost) vive com os seus pais num parque de campismo. Quando conhece um tipo (António Júlio Duarte) num concerto, o fascínio que ele lhe desperta é proporcional à instabilidade emocional que as suas vidas emanam.
Poderá entre eles existir um amor correspondido?
Seguindo alguma ambiência comum a Undisclosed Recipients, Sandro Aguilar consegue construir com Bunker uma história que é tanto subversiva pelo seu silêncio como involuntariamente (?) futurista pelo seu cenário. Se as duas curtas-metragens apresentam um espaço comum - o concerto - e se em ambas toda a comunicação é momentaneamente abafada pelo volume da música transformando-se num diálogo corporal que tanto é fluído pelo movimento mas também instintivo, animal e por vezes sexualizado e, como tal primário, não será incorrecto afirmar que em Bunker o espectador depara-se como uma história que transcende os limites do próprio espaço/concerto sendo encaminhado para as vidas - ou direi existências - das duas personagens principais.
Se o concerto aparenta ser, como já referi, algo selvagem, não será menos correcto afirmar que as existência d'"Ele" e d'"Ela" também o são fora dali. Os espaços que ambos ocupam enquanto aquilo que podem chamar dos seus lares são o espelho de uma vida marginal à sociedade (se pensarmos que ainda existe uma), e se "Ele" vive num complexo abandonado como que um eremita, já "Ela" vive numa roulotte num parque de campismo onde os seus pais se dedicam a relações de swing. Ambos os locais são imediatamente "transformados" ou equiparados a espaços claustrofóbicos onde a existência se resume a uma sobrevivência recorrem apenas ao essencial e despojada de qualquer posse.
Este clima de uma aparente sobrevivência e no qual a comunicação é apenas ocasional e principalmente feita de sussurros, de escassos olhares expressos de forma instintiva ou animal num local perdido que aparenta ter sido esquecido pelo passar do tempo criam uma atmosfera futurista - semi-pós apocalíptica - onde os poucos sobreviventes de uma qualquer intempérie se refugiam nos lugares que, afastados de grandes núcleos populacionais, resistiram à destruição. Esta não existe como nos é confirmado com o decorrer do tempo, mas o clima está presente, sente-se e os próprios comportamentos das personagens em questão - pais e vizinhos de parque de campismo incluídos - parecem ser auto-destrutivos e isentos da tal vontade de viver que se espera de qualquer um.
A relação entre "Ele" e "Ela" parece ser, também ela, de uma comiseração. Se inicialmente existe uma mútua atracção - talvez, também ela, instintiva - aos poucos distanciam-se e a convivência parece não ter futuro para lá daqueles meros e breves instantes. Os mundos - de ambos - consomem-se (e consomem-nos) revelando a impossibilidade de ambos mundos - interna e externamente.
Dotado de um ambiente decadente - no espaço - e degradante - entre as pessoas -, Bunker é seguramente o mais enigmático e intenso filme de Sandro Aguilar, rico num ambiente presente e ao mesmo tempo distante pela sua vertente futurista (o tal isolamento) já referido e que o coloca num momento incerto, inseguro e instável onde o espectador se perde na eventualidade ou na iminência de factos que levaram todos aquelas personagens àquele espaço e àquele lugar.
Com uma interpretação secundária - mas determinante - de Isabel Abreu enquanto a mãe "ausente" d'"Ela", Bunker prima ainda por uma exímia direcção de fotografia de Rui Xavier e uma direcção de arte de Nádia Henriques que dá um toque especial a toda a degradação sentida nesta curta-metragem.
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8 / 10
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Festival International du Film Cannes 2016 - Selecção Oficial: os vencedores

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Termina hoje a mais recente edição do Festival Internacional de Cinema de Cannes que decorre na cidade francesa desde o passado dia 11 de Maio.
Os vencedores são:
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Palma de Ouro - Longa-Metragem: I, Daniel Blake, de Ken Loach
Grande Prémio do Júri: Juste la Fin du Monde, de Xavier Dolan
Prémio Especial do Júri: American Honey, de Andrea Arnold
Palma de Ouro - Curta-Metragem: Timecode, de Juanjo Gimenez
Palma de Ouro de Honra: Jean-Pierre Léaud
Caméra d'Or: Divines, de Houda Benyamina
Realizador: Cristian Mungiu, Bacalaureat e Olivier Assayas, Personal Shopper
Actor: Shahab Hosseini, Forushande
Actriz: Jaclyn Jose, Ma Rosa
Argumento: Asghar Farhadi, Forushande
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O Guardador (2015)

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O Guardador de Rodrigo Areias é uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos conta a história de Constantino (Valdemar Santos), um homem pacato que guarda um rebanho de ovelhas durante o dia e durante a noite serve de segurança num museu. Metido com os seus próprios pensamentos, Constantino é abordado por Aurora (Carmo Teixeira) que tanta, após alguma contemplação, saber um pouco mais daquele homem.
Sem um lugar certo ao qual chamar de "lar" - ou pelo menos de "casa" - "Constantino" é o espelho de uma certa camada populacional que parece não ter origens. Sem família, posses ou espaço que lhes sejam (re)conhecidos, vive toda uma existência isolado do mundo nos seus próprios pensamentos como se de um fantasma se tratasse. Ninguém o vê... ninguém sabe que ele existe... E as suas próprias funções mais não são do que aquelas tidas na solidão dos seus actos quando ninguém está por perto.
Tem todo o tempo do mundo para pensar... Acto este que é, aliás, aquele que predomina todo O Guardador e que está não só implícito n'O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeira (heterónimo de Fernando Pessoa), livro que lhe é emprestado por "Aurora", como na tarefa principal das ocupações que executa. O pensamento - fruto do silêncio - acabam por ser os "hobbies" de um homem que pouco ou nada parece ter e apenas estes são o testemunho não verbal da sua passagem pela Terra.
"O prazer do trabalho aperfeiçoa a obra" - frase impressa na parede por cima do local onde "Constantino" faz a sua refeição, poderia ser no fundo o resumo da sua existência. Ele trabalho, pois a sua subsistência tem de provir de alguma parte mas, ao mesmo tempo, executa as suas tarefas com rigor e uma qualidade que lhe são reconhecidos por "Aurora" que decide - provavelmente também pelo fruto da sua própria solidão - "conhecer" um pouco mais daquele homem que todos os dias encontra à sua frente sem sequer saber quem ele é. A obra - que poderá também ser ele próprio - aperfeiçoa-se lentamente, primeiro pela troca de conhecimentos e depois por uma mudança de visual que (ele) pensa poder ser atractivo para aquela com quem troca as primeiras palavras em muito tempo. Só o tempo - desconhecido para o espectador - poderá revelar os segredos e os  momentos que lhe estão reservados para lá - ou não - da sua própria solidão.
Com uma intensa interpretação de um sempre empático Valdemar Santos, Rodrigo Areias cria uma obra que apenas "falha" pela incerteza do futuro de um "Constantino", homem num mundo que parece desconhecer a sua presença mas que confirma que tem muito mais para dar do que aquilo que o seu silêncio revela.
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6 / 10
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Outubro Acabou (2015)

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Outubro Acabou de Karen Akerman, Miguel Seabra Lopes e António Akerman Seabra é uma curta-metragem luso-brasileira na qual uma jovem criança se prepara para filmar a sua grande obra cinematográfica.
Com a ajuda dos pais, este menino sonha e deseja criar um filme feito inteiramente pelo seu pulso e através de um conjunto de imagens que capta diariamente. Mas, insatisfeito com aquilo que consegue filmar, os seus sonhos (ou pesadelos) tornam-se cada vez mais intensos e preocupantes.
Num registo de cinema familiar, Outubro Acabou tem um conjunto de elementos interessantes não só sobre a sua feitura - como uma jovem criança sente que precisa criar uma obra cinematográfica que valide a sua presença no mundo - como também reais - quando se sente confrontado com a realidade do mundo e dos (inexistentes) apoios cinematográficos - e simbólicas - se pensarmos numa vertente em que o próprio título (Outubro) e a cor vermelha do seu pijama e de alguns apontamentos ao longo da curta-metragem - lençol, sapatos, unhas... - que remetem imediatamente para um período soviético ou, mais concretamente Oktyabr (1928) - Outubro -, de Eisentein que, tal como a obra do casal Akerman/Seabra Lopes e do seu jovem filho, também se assume como uma obra documental mas... em períodos e contextos históricos assumidamente distintos.
Aqui o foco é a necessidade de criar uma obra... um registo de um momento... uma marca de uma presença sentida pelo jovem António Akerman Seabra que levam o espectador a acompanhar todo o processo de criação desde a filmagem à edição sem esquecer claro o óbvio argumento/narrativa e, dessa forma, poder contemplar uma continuidade não há obra em si - apesar de implícito - mas sim ao registo de memórias, do tempo, das pessoas e, no fundo, da sua existência como um todo.
No final, quanto Outubro finalmente acaba, a obra está concluída com o recurso às suas próprias imagens - de António - aquando do seu nascimento. No fundo Outubro acaba... com o nascimento do seu próprio criador.
Interessante de um ponto de vista simbólico, e de certa forma, talvez a principal, numa perspectiva familiar e de construção de obra em conjunto, Outubro Acabou - grande vencedora da última edição do Córtex - Festival de Curtas-Metragens de Sintra - pode ser uma obra terna e algo cúmplice mas no final poderá não chegar a um público mais abrangente não só graças à sua duração como principalmente por essa vertente mais íntima que não chegará a todos os públicos.
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6 / 10
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Undisclosed Recipients (2015)

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Undisclosed Recipients de Sandro Aguilar é uma curta-metragem portuguesa que mescla os géneros ficção, documentário e experimental numa simbiose quase perfeita.
Num registo durante o Festival Paredes de Coura, acompanhamos dois momentos. O antes e o depois de um acto afectivo ou de atracção enquanto a música percorre o espaço e os movimentos se confundem por entre a multidão.
Tendo a música como um dos principais intervenientes - personagens - Undisclosed Recipients ficciona uma eventual história entre dois dos espectadores, documenta o concerto em si e, finalmente, sem se assumir como pertença de qualquer um dos género, experimenta e navega por ambos entregando uma história original... mas diferente.
Sobrepostos tal como a música que nunca entoa uma melodia coerente ao ouvido do espectador, Undisclosed Recipients perde-se no registo dos movimentos - nunca perceptíveis - tentando enquadrar todos os actos, acções e comportamentos daqueles que se perdem no meio da multidão e desfrutam do concerto a que assistem. Ao mesmo tempo, e fora do concerto, esta curta-metragem tenta apresentar duas pessoas ao espectador. Dois intervenientes que se encontraram no meio do improvável - dada a multidão - e que se confundem no mesmo com os demais. Num registo de individual versus grupo, Undisclosed Recipients tenta contar uma história de amor (?), paixão (?), cumplicidade (?) quando, na prática, o espectador nunca chega a criar uma empatia nem com a história... nem com os seus intervenientes que são, de certa forma, anónimos tal como todos os demais.
Dotada de uma percepção assumidamente difusa, esta curta-metragem vive quase exclusivamente de uma brilhante direcção de fotografia de Rui Xavier que mescla ordenadamente luzes, sombras, vultos e momentos criando, dessa forma, percepções e potenciais conclusões na mente do espectador que se perde nas mesmas questionando o estado físico e mental das personagens e desafiando aqueles do espectador.
Num registo quase experimental que faz de Undisclosed Recipients uma curta-metragem nem sempre acessível ao espectador não pela falta da sua compreensão mas por se perder em caminhos desse mesmo (tentado) experimentalismo.
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4 / 10
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sábado, 21 de maio de 2016

Festival International du Film Cannes 2016 - FIPRESCI: os vencedores

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A Federação Internacional de Críticos Cinematográficos (FIPRESCI) entregou hoje os seus prémios para as diferentes secções do Festival Internacional de Cinema de Cannes. São os vencedores:
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Competição: Toni Erdmann, de Maren Ade
Un Certain Regard: Câini, de Bogdan Mirica
Secções Paralelas: Grave, de Julia Ducournau
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Gasolina (2015)

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Gasolina de João Teixeira é uma curta-metragem portuguesa de ficção e uma das participante na última edição do Prémio MOTELx de Melhor Curta-Metragem Portuguesa de Terror.
Um homem (Marco Trindade) percorre um caminho deserto em busca de auxílio. Um outro homem (Ruben Garcia) persegue-o sem motivo aparente. Ao chegar a uma casa habitada por um homem mais velho (Carlos Santos), o fugitivo ensanguentado explica-lhe a situação e pede-lhe ajuda.
O argumento de António Nascimento e João Teixeira é, para lá de uma banal história de terror, uma sobre a dimensão e qualidade humana nos momentos de crise e de tensão. Considerando que temos aqui uma situação de perigo e de vida ou morte - a de Joana Ribeiro - de alguém que sucumbe lentamente a um ferimento após uma agressão, então o espectador perde-se nos meandros de uma relação que ultrapassa o auxílio entrando em campo uma bizarra transacção comercial.
O que aconteceria quando, numa situação de perigo, aquele que pode prestar auxílio cobra pelos seus "serviços"? Quando um telefone se torna inexistente perante o perigo... ou um litro de gasolina tem de ser paga a peso de ouro... e mesmo o próprio auxílio médico tem um preço?
"Quando há sangue nas ruas... compra propriedades", frase vulgarmente atribuída ao Barão de Rothschild pode aqui ser facilmente atribuída na medida em que é quando um indivíduo se encontra numa situação de carência ou necessidade que se conhecem as verdadeiras dimensões e carácter daqueles que os rodeiam.
Numa parábola que o espectador pode retirar de Gasolina - intencional ou não - consideremos o jovem fugitivo como um Portugal em crise... e um idoso abastado como uma Alemanha que impõe regras. Quem precisa é forçado a pagar elevados preços pelos bens que lhe poderão conferir segurança e conforto... ou então ceder às amarguras de uma vida e de um perigo eminente.  Tendo isto em mente, Gasolina tem uma última grande questão... até que ponto se torna maleável a consciência humana perante uma situação de emergência tido por outrem?
É no momento em que esta questão assola a mente do espectador que finalmente se assiste ao reverso da medalha e, inesperadamente, o agressor se transforma numa "vítima" provando um pouco do remédio que tinha aplicado e... num receptáculo de uma nova... e assustadora proposta.
Engenhoso pelo seu argumento e equilibrado pelo ambiente em que ocorre toda a trama, Gasolina não será tanto um filme de terror visual mas sim de um terror psicológico que se aproveita da mente, do receio e das necessidades dos indivíduos colocando-os no centro de um dilema no - e pelo - qual terá de encontrar o "lado" onde se sente mais presente.
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7 / 10
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Despedida (2015)

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Despedida de Tiago Rosa-Rosso é uma curta-metragem portuguesa de ficção e eventualmente um dos trabalhos mais dinâmicos sobre a transição de idade mais bem sucedidos do cinema português.
Três amigos - Zé Bernardino, Miguel Plantier e António Dente - estão na praia num perfeito silêncio apenas interrompido pelo barulho das ondas do mar que contemplam. Mas, de repente, dois deles parecem despertar para um conjunto de memórias distantes.
Aquilo que mais me surpreendeu em Despedida foi a sua capacidade em tão breves minutos conter todo um conjunto de simbolismo sobre a memória, a amizade, a cumplicidade e claro, a tal transição de idade que se percebe e sente num exacto momento da vida.
Sem o recurso a diálogos directos entre as três personagens que, por esse mesmo motivo, são apenas um grupo de amigos anónimo para o espectador, o argumento escrito pelos próprios protagonistas desenvolve-se num final de tarde de um qualquer Verão que aos poucos se sente - independentemente do seu título - como uma despedida de algo.
De um conjunto de frases soltas e jogos de palavras que passam pelos nomes de raparigas ou mulheres que conheceram, cidades ou até séries, dois deles parecem vibrar com as recordações que despertam entre si enquanto um outro olha, estático, para o mar à sua frente. De despedida do Verão a despedida de uma juventude quase esquecida ou até mesmo da despedida de um deles, o espectador recorda a sua própria juventude - muito há anos 80 do século passado - através de todas as músicas que aquele duo entoa ao longo de toda a Despedida.
Com uma certa nostalgia - o grande efeito provocado com e por esta curta-metragem - lembramo-nos de uma certa meninice e os tempos da infantil onde os jogos de palavras e as séries de televisão, o aparecimento de um novo canal de televisão ou até mesmo os tão saudosos Jogos Sem Fronteiras - e as referências aqui não são poucas - faziam as delícias de todos os jovens (hoje adultos) que cruzaram aqueles magníficos anos.
A Despedida... do sol, da praia, do Verão, da adolescência, de um deles, de um outro alguém (?) ficam aqui eternamente representados não só através dos seus jogos que parecem querer abstraí-los de uma qualquer realidade como também pelos seus olhares finais rumo ao infinito no qual (dão) percebem que os dias a partir daquele instante não voltarão a ser os mesmos. Não tivemos todos nós um momento assim?!
Depois de um olhar aos dias de hoje com Deus Dará (2013) e de um inventivo e curioso Lei da Gravidade (2014), Tiago Rosa-Rosso revela uma vez mais a sua genialidade a criar uma história que consegue reflectir não só o tempo como o estado de espírito de uma geração que dá agora lugar à seguinte. Uma Despedida de um tempo vivido e passado, de uma época ou era agora terminadas e que abre as portas à que se segue com a nostalgia e compreensão de que aqueles sim... foram "os" tempos.
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8 / 10
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Nocturna (2015)

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Nocturna de Pedro Farate é uma curta-metragem portuguesa de ficção que em breves minutos mescla uma potencial transgressão a um encontro sobrenatural numa escola deserta... e durante a noite.
Ele entra na escola. Percorre os seus corredores e os seus espaços numa aparente busca incerta. É quando parece desistir que Ela aparece.
Num misto de filme de terror naquele que é um ambiente típico dos filmes do género... espaços desertos mas cheios de uma vida ausente durante uma noite escura e de filme sobrenatural com a presença de alguém já desaparecido que regressa para confirmar um amor que não encontra barreiras.
Sempre num silêncio cortante, Nocturna que se inicia com uma atmosfera de suspense e de mistério, termina com a vontade de confirmar um amor vivido, perdido e sofrido onde toda a viagem pelo interior daquela escola se revela, afinal, como os espaços comuns entre um jovem casal que - por motivos desconhecidos - se viu repentinamente separado.
Com a necessidade de se desenvolver para lá do formato argumentativo já conhecido, Nocturna capta um interessante estilo e noção de espaço - a escola que estando deserta durante a noite parece conter a alma de todos aqueles que durante o dia lá permanecem - mas peca pelo desfecho sobrenatural que depois de visto... se transforma em algo esperado.
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4 / 10
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sexta-feira, 20 de maio de 2016

Festival International du Film Cannes 2016 - Quinzena dos Realizadores: os vencedores

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Foram hoje anunciados os vencedores da Quinzena dos Realizadores no Festival Internacional de Cinema de Cannes tendo o galardão maior recaído sobre Wolf and Sheep, de Shahrbanoo Sadat, uma longa-metragem dinamarquesa.
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Prémio Art Cinema: Wolf and Sheep, de Shahrbanoo Sadat
Prémio SACD: L'Effet Aquatique, de Solveig Anspach
Menção Especial: Divines, de Houda Benyamina
Label Europa Cinemas: Mercenaires, de Sacha Wolff
Prémio Melhor Curta-Metragem: Chasse Royale, de Lise Akoka e Romane Gueret
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American Ninja (1985)

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O Regresso do Ninja Americano de Sam Firstenberg é uma longa-metragem norte-americana com a interpretação protagonista de Michael Dudikoff.
Joe Armstrong (Dudikoff) é um errante que encontra numa base americana nas Filipinas a sua nova "casa" depois desta ser a sua opção face a uma provável prisão. Perito em artes marciais, Joe encontra dentro do exército muito da vida que o levou até ali mas... conseguirá ele agora resistir às pressões e sobreviver a um regime que parece cada vez mais aprisioná-lo?
Numa longa tradição de filmes do género que imortalizaram de uma ou outra forma um conjunto de actores como Chuck Norris, Jean-Claud Van Damme, Dolph Lundgren, Sylvester Stallone e até o próprio Arnold Scwarzennegger, American Ninja tentou fazer o mesmo com Michael Dudikoff transformando mais um actor versado de dotes "marciais", elemento no qual reside - aliás - grande parte (senão toda) da dinâmica deste filme.
O argumento de Paul De Mielche, Avi Kleinberger, Gideon Amir e James R. Silke não tem - na prática - nada de novo ao género. Tudo em American Ninja são os habituais lugares comuns da obra cinematográfica que tenta por todos os meios exaltar os valores americanos da honra e da pátria existentes no género onde o culto pela bandeira, pelas forças militares e pela "fraternidade" são os elementos primordiais da existência (humana). No entanto, nem tudo é perfeito e temos, claro, de embarcar na viagem onde a corrupção e a imoralidade tenta desviar do bem comum.
Num mundo onde os mais improváveis acabam transformados nos heróis de ocasião e onde aqueles já firmados única e exclusivamente pela farda que vestem são corruptos e passíveis de corrupção, restam apenas os "seguidores" para perceber que lado devem seguir. Se a isto juntarmos o já tradicional tráfico de armamento graças a um qualquer multimilionário com um sotaque europeu manhoso, então temos a obra cinematográfica perfeita para entender que estamos perante um filme para as massas - norte-americanas - e que tenta (a seu tempo) criar um certo preconceito para com o outro lado do Atlântico.
O que temos de novo em American Ninja? Absolutamente nada. Corrupção, militares, o "filho perdido" que salva a pátria, os mafiosos com ar "pouco americano" que conspiram contra a pátria noutro país que não o seu e finalmente - o elemento mais ou menos mistério - as artes marciais que fazem notar quem é realmente o herói no meio de tanto interveniente... porque os Estados Unidos são a terra das oportunidades onde todos têm a sua oportunidade de um cantinho ao sol... mas apenas e só depois das mais duras provações.
Com um conjunto de interpretações que parecem ter sido retiradas de um curso intensivo de formação profissional de três dias, onde se aprende um pouco de tudo menos de interpretação, nenhum dos actores se destaca por algum tipo de qualidade, e nem mesmo os momentos de artes marciais se destacam pela fluidez dos mesmos mas sim pela evidente manipulação de momentos e acontecimentos que após provocados prevêem o desfecho filmado. Dito isto... resta-nos alguma coisa desta longa-metragem? Pouco... muito pouco.
Aquilo no qual American Ninja consegue ser de facto exemplar é a sua capacidade de se afirmar como um filme do qual o espectador não espera absolutamente nada... Bom... espera nada esperar deleitando-se apenas com os breves momentos em que este filme o faz esquecer a realidade "lá fora" e as poucas gargalhadas - não se chega a tanto - que o espectador dá pelo amadorismo com que se filma uma história tão típica dos anos 80 em que sistematicamente se insistia em criar algo que espelhasse os dois lados de um mundo imaginariamente dividido.
De Michael Dudikoff pouco há a dizer para lá de conseguir manter-se ao longo de noventa minutos com uma personagem que pouco - se é que algo - de emoção ou expressão denota como que numa constante preparação mental para o próximo golpe marcial que pretende utilizar... e isto para não entrarmos na dinâmica de e com os demais actores que parece ser ou nula... ou num registo cómico que é facilitado pelas dobragens mal executadas. Afinal, por momentos parece que estamos a assistir a um conjunto de momentos manhosos daqueles filmes de artes marciais dos anos 60 e 70 totalmente dobrados num estúdio da "esquina" e que foi lançado sem o mínimo de verificação do trabalho final.
De pobre a fraco a classificação de American Ninja oscila sem limites... mas na realidade há que saber gabar-lhe a capacidade exímia que tem em fazer com que o espectador se divirta com uma história praticamente sem argumento e que se deixa levar sem rumo... a caminho de algo sem explicação.
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2 / 10
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quinta-feira, 19 de maio de 2016

Alan Young

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1919 - 2016
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Alexandre Astruc

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1923 - 2016
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Festival International du Film Cannes 2016 - Semana da Crítica: os vencedores

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Foram hoje anunciados os vencedores da Semana da Crítica do Festival Internacional de Cinema de Cannes tendo o Grande Prémio ficado nas mãos de Oliver Laxe pela sua segunda longa-metragem Mimosas, uma co-produção entre Espanha, França e Marrocos.
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Grande Prémio: Mimosas, de Oliver Laxe
Prémio Visionário France 4: Albüm, de Mehmet Can Mertoglu
Prémio Fundação GAN Distribuição: Sophie Dullac Distribution, por One Week and a Day, de Asaph Polonsky
Prémio SACD: Davy Chou e Claire Maugendre, Diamond Island
Prémio Discovery Leica Cine - Curta-Metragem: Prenjak, de Wregas Bhanuteja
Prémio Canal+ Curta-Metragem: L'Enfance d'un Chef, de Antoine de Bary
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A Caverna (2015)

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A Caverna de Edgar Pêra é uma curta-metragem portuguesa de ficção e um dos últimos trabalhos do realizador de A Janela (Maryalva Mix) (2001), Oito Oito (2002) e O Barão (2011).
O que acontece quando um grupo de espectadores se encontra fechado numa sala de cinema e se vê forçado a conviver entre si?
Desde o primeiro instante que o espectador mais atento reconhece a mão criadora de Edgar Pêra em A Caverna na medida em que apenas um realizador - e argumentista - com um dedo criativo com este realizador poderia criar - e filmar - uma história em que no centro da mesma se encontra a dinâmica espectador versus sala de cinema/filme e espectador versus espectador.
Se por um lado observamos uma inicial relação do espectador comum que parece viver naquela sala como se dela dependesse a sua própria existência tendo, ao mesmo tempo, uma experiência quase extra-sensorial ao observar as inúmeras imagens que lhe chegam da tela - e das quais apenas temos breves vislumbres e imagens reflectidas nas faces dos espectadores -, é também justo afirmar que A Caverna cedo se transforma numa obra onde a dinâmica principal passa para a relação entre espectadores e a comunhão de espaço que denotam entre si.
Se o espectador dorme na sala de cinema como que de uma "caverna" onde passam pelo seu estado de hibernação se tratasse, é também justo afirmar que os rituais estão de tal forma entranhados nos diversos indivíduos que todos agem a uma passada lenta e semelhante que os transforma não em vários mas sim num aparente único organismo que sobrevive dentro daquelas paredes. Desde o período de descanso às refeições sem esquecer a breve socialização que têm entre si, todos vivem para assistir ao próximo filme efectuando apenas breves pausas entre momentos que se repetem sucessivamente. Rapidamente esquecem - se é que alguma vez os tiveram - outros rituais ou uma vida para lá daquilo que ocorre naquela sala e a cumplicidade é de tal forma presente que a seu tempo as suas relações passam do individual a um colectivo ou, numa palavra que o poderá melhor caracterizar, a uma tribo cujos hábitos são socialmente coordenados.
Alheados de uma normal socialização para lá daquela sala, os comportamentos evoluem - ou melhor, transformam-se - denotando momentos mais intensos, apaixonados e até mesmo selvagens talvez naquilo que poderá ser uma réplica assumida como "normal", daquilo que assistem e que percebemos consideram como a sua vida "real".
A sala de cinema é portanto, a tal "caverna" onde a tribo - ou irmandade - vê crescer uma cumplicidade de momentos e de comportamentos que transformam o espectador de um simples assíduo em sala num cúmplice de situações que apenas os demais elementos da tribo pode aceitar ou compreender e onde apenas podem pertencer aqueles que, tal como os demais, comungam da mesma "ordem". Espaço este que apenas a direcção de fotografia de Luís Branquinho - um habitual cúmplice de Pêra - transforma de uma banal sala de cinema numa gruta ou caverna real com recantos desconhecidos e perigos que podem estar à espreita.
Qualquer obra de Edgar Pêra é - por estas bandas - um acontecimento que se espera e aguarda com ânsia e dedicação - enquanto espectador - e A Caverna levanta um pouco aquele sentimento de que por muito bom que seja... não chegou. Não chegou na medida temporal, ou seja, os breves vinte minutos desta curta-metragem funcionam para deixar o espectador com vontade de uma longa-metragem onde o "espectador" (personagem) tivesse oportunidade de ser levado - e levar - ao limite mostrando o seu universo próprio e quais são as regras do jogo.
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7 / 10
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Shortcutz Viseu - vencedor de Março

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O Shortcutz Viseu anunciou que a curta-metragem Kuru, de Francisco Antunez é a vencedora do mês de Março tornando-se portanto a mais recente candidata ao prémio de Melhor Curta do Ano.
A curta-metragem Kuru junta-se assim às anteriores vencedoras que estão a competir pelo prémio de Melhor Curta-Metragem do Ano sendo elas Deus Providenciará, de Luís Porto, O Silêncio Entre Duas Canções, de Mónica Lima, Doce Lar, de Nuno Baltazar, Lei da Gravidade, de Tiago Rosarosso, Oobe, de Joana Maria Sousa e Manuel Carneiro, Xico+Xana, de Francisco Falcão a.k.a. Fakano e Gasolina, de João Teixeira.
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terça-feira, 17 de maio de 2016

Blood for Dracula (1974)

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Sangue Virgem para Drácula de Paul Morrissey é uma longa-metragem franco-italiana e uma das muitas incursões do universo de Drácula que aqui é interpretado pelo actor alemão Udo Kier.
Drácula (Kier) viaja com Anton (Arno Juerging) para Itália de forma a poder encontrar uma noiva... virgem. Pensando ter encontrado o lugar certo em casa do Marquês Di Fiore (Vittorio De Sica), o Conde Drácula seduz as suas jovens filhas para encontrar a noiva perfeita.
Tido como um marco no género, esta obra produzida por Andy Warhol é interpretada por alguns nomes de primeira linha do cinema europeu como são Udo Kier, Milena Vukotic e Vittorio De Sica sem esquecer aquele que foi - provavelmente - o nome mais eternizado por esta obra (e que a ela ficou conotado), o actor norte-americana Joe Dalessandro.
Blood for Dracula poderia ser um dos muitos contos sobre o famoso Conde da Transilvânia, não fosse a sua componente altamente erotizada que o destaca de praticamente todas as demais. Aqui a "sede" é tanto de sangue para "Drácula" como o é de sedução, erotismo e algum sexo tido como "pouco convencional" para a época. Num universo em que procura desesperadamente a sua sobrevivência, o Conde Drácula de Udo Kier é um ser quase romântico que procura a noiva perfeita num mundo de encanto, opulência e valores éticos e morais. No entanto, aquilo do qual nem o próprio suspeita é que a sociedade tal como a romantiza... já não existe. A opulência apenas está travestida de um conjunto de outrora sumptuosos palácios cujos donos agora mais não querem do que a sua própria sobrevivência e manutenção graças a um portentoso conde vindo dos confins de uma Europa - também ela - decadente.
A ética e a moral são, elas igualmente, concepções desaparecidas de um mundo à beira da mudança onde as convulsões sociais se perfilam e no qual as diferenças de classe opõem aqueles que pouco têm aos que - supostamente - sempre tudo tiveram. A figura de "Mario Balato" (Dalessandro) como o criado de uma rica família de nome e brasão é disso o perfeito retrato na medida em que encarna o espírito de uma sociedade onde os ideais comunistas começavam a ser propagados. É neste conflito entre valores, classe e política que encontramos um "Drácula" (Kier) que tão depressa pode morrer por falta do perfeito alimento - sangue de uma virgem - como ainda mais rapidamente da estaca de madeira atirada pelo conflituoso comunista que desdenha de famílias ricas e com título para as quais, no entanto, trabalha sem as respeitar.
No seio de todos os conflitos... eis que surgem as irmãs "Di Fiore" que se auto-promovem como virgens imaculadas mas que se rendem aos encantos de "Mario" que pouca as ama mas tenta levar à condição de nobres com gostos carnais mais operários. Enquanto "Drácula" definha lentamente à procura da sua princesa... todo o mundo gira à volta de planos mais ou menos programados para defender os seus próprios interesses.
Não fosse este filme apresentado como uma obra de terror - que não é - o espectador comum pensaria de imediato que, graças a estas premissas, iria encontrar uma obra de comédia - da qual bem perto está - e não fosse um ou outro momento mais politicamente activo (ainda que camuflado), este questionar-se-ia sobre o que afinal foi pretendido com este filme. Esta questão, ainda que muitas teorias sejam sobre ela levantadas - está longe de ter uma resposta consensual. Aqui encontramos um "Drácula" praticamente moribundo, uma nobreza não só financeira como moralmente falida e uma nova revolução à beira de ser consumada onde as classes iriam ser colocadas à prova. Sem dinheiro e sem trabalho... só os mais aptos conseguiriam sobreviver. Um "Drácula" doente face a um operário robusto e com ideias de classe bem distintas... não poderá resistir para além de uma esperança, também ela, moribunda. No essencial, Blood for Dracula é isso mesmo... um relato sobre a luta de classes e a sobrevivência dos mais aptos numa nova era que acabara de despertar. Longe dos velhos contos sobre o tão famoso conde transilvano, esta longa-metragem perde-se em momentos semi-eróticos onde a sexualidade é tida com desprezo e desdém - sempre no ponto de vista de classe social - e onde a sobrevivência está para lá da próxima gota de sangue que é consumida. Num mais ou menos admirável mundo novo... apenas sobrevivem as aparências e aquilo que delas se pretende retirar.
Sem grande empatia para com o espectador, estas personagens deambulam num ritmo semi-automático - por vezes robótico - distanciando-as de qualquer réstia de humanidade que poderiam ter... Nobres que sem nada se imaginam mais do que os demais, outros que apenas comungam em sociedade pelo alimento - sangue - de que precisam e finalmente a classe emergente que desespera por um momento de vingança contra um opressor para o qual trabalha. Blood for Dracula sobrevive - ele próprio - como um filme com um bom décor e um ou dois momentos mais gore - se bem que também eles pobremente elaborados - e por um conjunto de actores e personagens que parecem - eles próprios - não se levar a sério fazendo assim brilhar a pouca "comédia" que parece querer ter.
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5 / 10
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A Breath of Peace (2016)

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A Breath of Peace de Rui Pedro Sousa é um documentário / diário de viagem em formato de curta-metragem português e o mais recente trabalho do realizador de Tsintty (2013).
Tendo como ponto de partida os brutais atentados terroristas de 13 de Novembro de 2015, em Paris que provocaram a morte de 130 pessoas, uma viagem à cidade luz três dias depois poderia parecer improvável. Num breve registo documental, eis Paris pelo olhar deste realizador português.
Quando o imaginário do terror e da desolação deixam de estar apenas no ecrã e nós, comuns cidadãos, nos vemos a braços com o mesmo e com o breve que pode ser a vida e a liberdade de cada um, resta a curiosidade sobre aquilo que fica no "depois" de um trágico acontecimento. Quando a pergunta que permanece na nossa mente é "e agora?", eis que surge a necessidade de testemunhar aquilo que ficou.
Tendo esta premissa como a base fundamental para A Breath of Peace, o realizador Rui Pedro Sousa volta a apresentar uma curta-metragem / diário de viagem que prima pela presença de um elevado sentido humanista e a perfeita noção de que é necessário registar a continuidade de uma vida - até então - que tinha como primado inquestionado a liberdade. Não cedendo ao medo, ao terror, à barbárie e ao terrorismo per si, o realizador encetou uma viagem já planeada mas agora como uma nova dimensão no seu propósito. Como estará Paris? Como vive a cidade pós um dos mais brutais ataques de que fora alvo desde os dias negros da guerra da década de 40 do século passado em que se vira também então, privada desse primado supremo como o é a liberdade?
Com o recurso a brilhantes discursos de três personalidades marcantes na História - cada um à sua maneira individual - como o são Robert Kennedy, Charles Chaplin ou a jovem Ellen Page, Rui Pedro Sousa leva o espectador a uma fundamental e indispensável viagem pela cidade onde, por recantos mais ou menos "pequenos" e outros internacionalmente identificados, se sente que ainda que abalada e a tremer pela barbárie, Paris encontra-se de pé, eterna e com a constante necessidade de saber acolher e celebrar a vida dos que ficaram... homenageando os que partiram.
Sem ceder à guerra, às armas, ao terror e ao medo, A Breath of Peace celebra uma visão sobre uma cidade que resiste, que reaprende a viver e que se mantém eterna redimindo-se com a sua História, com as suas mágoas, com a sua saudade mas sobretudo com a sua magnificência.
Não sendo eu realizador mas um atento espectador sobre os potenciais estados de alma que aqueles que o são tentam captar e transmitir, afirmo sem nenhuma reserva que Rui Pedro Sousa capta/captou a essência e a alma de uma cidade que me é querida. Uma cidade que comunica pela sua cultura, pela sua forma de deixar e fazer viver e que ainda que ferida não deixará a sua multiculturalidade e a vontade de fazer próximos aqueles que são distantes.
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8 / 10
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American Film Institute premeia John Williams

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O American Film Institute anunciou no passado dia 11 de Maio que irá premiar o compositor John Williams com o seu troféu Carreira.
O American Film Institute, cuja cerimónia se irá realizar no próximo dia 9 de Junho no Dolby Theatre em Hollywood, homenageia assim pela primeira vez na sua história alguém que, na indústria cinematográfica, se distinguiu na composição musical. Williams, cuja carreira se estende do cinema à televisão, é um dos mais emblemáticos compositores cinematográficos tendo colaborado em algumas das mais representativas obras do século XX nomeadamente a saga Star Wars e a saga Indiana Jones, sendo um dos compositores de eleição de Steven Spielberg que lhe irá entregar o galardão.
John Williams já arrecadou cinquenta nomeações aos Oscars da Academia norte-americana tendo saído vencedor por cinco ocasiões com Fiddler on the Roof (1971), Jaws (1975), Star Wars (1977), E.T. the Extra-Terrestrial (1982) e Schindler's List (1993) pela composição da música original. Entre as demais nomeações a música original e canção original, John Williams recebeu ainda nomeações por Valley of the Dolls (1967), Goodbye, Mr. Chips (1969), The Poseidon Adventure (1972), Tom Sawyer (1973), The Towering Inferno (1974), Close Encounters of the Third Kind (1977), Superman (1978), Star Wars: Episode V: The Empire Strikes Back (1980), Raiders of the Lost Ark (1981), Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi (1983), The River (1984), Indiana Jones and the Temple of Doom (1984), The Witches of Eastwick (1987), Empire of the Sun (1987), Indiana Jones and the Last Cruzade (1989), Born on the Fourth of July (1989), JFK (1992), Nixon (1995), Sleepers (1996), Amistad (1997), Saving Private Ryan (1998), Angela's Ashes (1999), The Patriot (2000), Harry Potter and the Sorcerer's Stone (2001), Artificial Intelligence: AI (2001), Munich (2005), Memoirs of a Geisha (2005), War Horse (2011), The Adventures of Tintin (2011), Lincoln (2012), este ano pela última entrega de Star Wars com o Episode VII - The Force Awakens (2015) entre outras.
Willians é ainda detentor de vinte e cinco nomeações aos Globos de Ouro da Imprensa Estrangeira de Hollywood sendo vencedor de quatro troféus por Jaws (1975), Star Wars (1977), E.T. the Extra-Terrestrial (1982) e Memoirs of a Geisha (2005), vencedor de três EMMY's por Heidi (1969), Jane Eyre (1970) e Great Performances em 2009. Vencedor ainda de sete BAFTA's por Jaws e The Towering Inferno em 1976, Star Wars em 1979, E.T. the Extra-Terrestrial em 1983, Empire of the Sun em 1989, Schindler's List em 1994 e finalmente Memoirs of a Geisha em 2006. John Williams é ainda detentor de vários troféus da crítica, dezassete Grammy's e inúmeros outros prémios e nomeações pelas mais diversas instituições e organizações que premeiam as composições musicais.
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O Life Achievement Award atribuída pelo American Film Institute é a mais alta distinção atribuída a uma carreira cinematográfica, é apresentada a um único galardoado anualmente baseado em critérios de excelência e "numa carreira considerada fundamental para a arte cinematográfica cujos feitos são reconhecidos pelos académicos, críticos, pares e pelo público de uma forma geral sobre um trabalho que resiste no e ao tempo".
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