domingo, 15 de março de 2015

Corações Periféricos (1991)


Corações Periféricos de Fernando Ávila (Portugal) é um dos quatro telefilmes produzidos pela RTP no início da década de '90 centrados em histórias de adolescentes em época de transição para a idade adulta. Aqui somos levados para so dias de afirmação e sobrevivência da banda rock Kharman Ghia que tem em Artur Brandão (Pedro Urbano) o seu mentor e líder espiritual tendo a cidade do Porto e o despertar de um romance como pano de fundo.
Fruto de um período muito específico em que se afirmava pela primeira vez uma geração que atingia agora a maioridade no pós-25 de Abril este Corações Periféricos centra-se sobretudo nos pequenos problemas existências de uma geração cujos objectivos estavam ainda, e em boa medida, por se afirmar. Sente-se ao longo deste telefilme, cujo propósito é o já mencionado retrato de uma geração num momento específico da sua vida, um certo ambiente de perda (ou talvez tentativa de descoberta) que acaba por nunca ser "resolvido" por nenhuma das personagens. Uns, por um lado, tentam vingar numa vida artística que nem sempre rende os frutos pretendidos especialmente numa época sentida pelas incertezas de um futuro ainda "verde" como também pelas próprias agruras que a transição etária traz a cada um dos seus protagonistas. Sente-se ainda uma certa decadência do espaço que parece ainda perdido na transição do tempo pré e pós-25 de Abril e nas marcas que deixou em muitos dos intervenientes... desde os revolucionários que agora se sentem, também eles, perdidos na incerteza do que a liberdade lhes pode trazer como também na vivência familiar que está tão incerta como os próprios dias.
Não existe portanto em Corações Periféricos nenhuma certeza sobre as suas personagens, sobre os seus destinos ou mesmo sobre os seus propósitos que, em boa medida, oscilam e vagueiam alegremente nessa mesma incerteza como que se se tratasse de uma descoberta ou "estudo" sobre as possibilidades do futuro. A existir certeza, essa prende-se exclusivamente com a capacidade de compreender que o futuro irá chegar. Que as mudanças se afirmam (ou confirmam?) e que nada é tão certo ou garantido como inicialmente alguns poderiam esperar... nos amores... na família... nas relações, no futuro dito profissional ou até mesmo na própria vida.
Assumindo-se como um estudo sobre uma geração específica em mudança e em transição, este Corações Periféricos assume-se como uma obra ensaio que reflecte sobre o destino, incerto ou não, de cada uma destas personagens que acima de tudo procuram o seu "eu" perdido pela forma das mudanças que se manifestam.

6 / 10

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