segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Marta (2015)

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Marta de Bernardo Gomes de Almeida é uma curta-metragem de ficção portuguesa cuja personagem homónima é interpretada por Sara Barros Leitão.
Quando Marta e Tiago (Tomás Alves) chegam a casa sente-se o clima de desespero e agonia. Quando se preparam para tomar um chá Ele (Filipe Vargas) bate à porta e pede para falar com ela. A tensão é notória até que Marta revela finalmente parte do seu passado.
O realizador e também argumentista Bernardo Gomes de Almeida assina esta história onde a dor e a perda andam de mãos dadas com um passado já longo. Se por um lado o espectador percebe de imediato a tensa relação entre "Marta" e o "Homem" que acaba de lhe bater à porta depois do funeral da sua mãe, não é menos verdade que é no momento em que a sua identidade é revelada que percebemos - ou pelo menos desconfiamos - dos porquês de o ter recebido de forma que oscila entre a indiferença e o ódio. É então que percebemos a sua perda... A perda da inocência que lhe chegou em muito jovem idade com o desconhecimento - ou pacto silencioso - da mãe e que a tornavam imediatamente numa jovem em risco cuja dor provocada, desde esse momento, lhe modelaram não só a capacidade de confiança, de entrega como também a vulnerabilidade perdida fruto da desconfiança que tem para com o "outro".
Mas a relação entre a sua perda e a sua dor não ficariam por aí quando "Marta" confessa que o abuso iria dar lugar a uma nova e indesejada vida provocada por aquele por quem deveria ter mais confiança e amor... o seu pai. Num aguardado confronto onde os ódios renascem e onde "Marta" revela um misto de fragilidade e de uma força desconhecida que a fazem enfrentar o rosto de um mal próximo e Sara Barros Leitão revela em escassos minutos toda a grande alma entregue a uma personagem atormentada e que ficou perdida algures no tempo com a sua perda, a sua dor e a mágoa acrescida de uma jovem que foi forçada a crescer muito antes do seu tempo.
A dinâmica entre Filipe Vargas e Sara Barros Leitão é por demais evidente e bastam estes breves minutos de Marta para perceber o extremo empenho de dois grandes actores capazes de personificar com aprumo dois lados bem opostos. Vargas nunca se assume como o "mau" guardando para a sua personagem toda uma calma e tranquilidade que apenas alguém convencido que agiu por bem pode ter e, por sua vez, Barros Leitão faz da sua personagem - uma clara vítima aos olhos da sociedade - uma sobrevivente que não se vitimiza... Pelo contrário, "Marta" reage de frente e sem vacilar àquele que lhe roubou tudo quanto tinha de mais puro especialmente quando este regressa como se no passado não existisse nada de transcendente, qual pai "perfeito".
Depois de Projecto V (2012) e Contactos 2.0 (2014), Marta é a afirmação de Bernardo Gomes de Almeida como um interessante cineasta português cujo trabalho deve ser seguido, e cujas histórias não encerram na sua totalidade deixando sempre uma margem para que um dia mais tarde estas suas personagens regressem e nos revelem um pouco mais da sua história.
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8 / 10
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