segunda-feira, 15 de maio de 2023

A Entrevista (2022)

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A Entrevista de Susana Sampedro e Fernando Tato (Espanha) é uma das curtas-metragens em competição na secção Nacional da décima-terceira edição do Festival Internacional de Cine de Piélagos a decorrer na Cantábria até ao próximo dia 20 de Maio.
Sara (Sílvia V. Lorenzo) chega à revista Cosmo Fashion para uma entrevista de trabalho. Rapidamente esta entrevista ganha contornos desconfortáveis quando ela se depara com as perguntas de Laura (Martina Stetson) que parece conhecê-la.
O realizador Fernando Tato escreve o argumento desta curta-metragem com a colaboração da dupla de actrizes Lorenzo e Stetson que, desta forma, conferem às suas palavras uma interpretação francamente mais pessoal e igualmente intensificando a dramatização de um momento que para lá de tenso esconde não só traumas do passado como também alguns de um presente não verbalizado. Aquilo que temos inicialmente nesta curta-metragem é a história de uma mulher - Lorenzo - que, achamos, está há muito tempo afastada do mercado de trabalho. A vida deu-lhe outras prioridades mais ou menos esperadas e ela é, agora, uma estranha num mundo laboral nem sempre simpático para aqueles que se ausentam "tempo demais". O que a leva a esta ressurgimento, seria uma pergunta perfeitamente natural, não fosse a dinâmica da entrevistadora - Stetson - estranha desde os primeiros instantes. Ainda que duas mulheres de idade próxima e que eventualmente até poderiam ter estudado no mesmo local e ao mesmo tempo, o espectador repara que a mulher que "Sara" é uma mulher mais fragilizada e apagada no tempo. As tais consequências da vida ou agruras do tempo estão nela bem mais vincadas. Por sua vez "Laura" é uma mulher forte, dinâmica e com pouco tempo para perder com alguém que se "lembrou" de voltar ao mundo profissional depois de o ter preterido em favor de "coisas menores".
É nesta aparentemente "estranha" dinâmica que encontramos dois mundo tão diferentes criando uma imediata empatia com "Sara" que não tão secretamente queremos ver vencer uma entrevista que parece ter tudo para lhe correr mal. "Laura" não está disposta a dar-lhe qualquer oportunidade e todos os passos em falso poderão ser aproveitados para a preterir em favor de outra pessoa. Qualquer outra pessoa. Implacável e com alguma satisfação pessoal por agora ter aquela mulher à sua frente, a personagem interpretada por Stetson lentamente revela que conhece "Sara" e que havia sido vítima de bullying quando ambas eram mais novas. Se a simpatia do espectador estava inteiramente dedicada à personagem de Sílvia Lorenzo, rapidamente oscilamos para o outro lado quando percebemos que apesar das mágoas do passado estamos, agora, perante alguém que sobreviveu e que conseguiu transformar a sua vida e cair com os pés bem assentes na terra e alcançar os seus objectivos. As perguntas, cada vez mais pessoais e francamente menos inocentes, revelam que "Laura" não esqueceu "Sara" e que está disposta a tudo para a recusar e cancelar tal como anos antes se havia sentido às mãos desta última.
Mas, todas as histórias de vida parecem encontrar uma qualquer redenção para os seus portadores mesmo que ninguém "trabalhe" para aplicar uma esperada justiça. As circunstâncias em que estas duas mulheres se voltam a encontrar estão longe de ser perfeitas e a outrora agressora é, também ela, uma vítima não da sua "inimiga" mas sim de uma vida que escolhera e que, afinal, não havia sido tão perfeita como inicialmente ela poderia tê-la imaginado. "Sara" é uma vítima sim, mas de um casamento cheio de problemas, de humilhações e cancelamentos pessoais que a transformou num vulto fantasmagórico sem personalidade, vontade ou ideias. Esta entrevista pode ser a sua última oportunidade de recuperar algo e construir uma vida diferente e melhor ou então um inesperado fim que continuará a lançá-la numa vida secundária e cheia de dificuldades das quais dificilmente terá hipótese de recuperar.
Num ambiente sempre tenso onde papéis sociais se invertem, onde a história, bem como um desejo de vingança são recuperados e onde finalmente se demonstra a capacidade evoluir e ultrapassar um passado por vezes complicado, a dupla de realizadores bem como a dupla de actrizes e co-argumentistas cativam e dominam esta curta-metragem que se centra, sobretudo, na possibilidade de uma segunda oportunidade... Primeiro aquela tida pela personagem interpretada por Stetson que conseguir passar de uma indefesa vítima a uma mulher profissionalmente bem sucedida que dirige e comanda uma empresa e, finalmente aquela de Stetson, uma mulher que nos idos anos de juventude era uma agressora psicológica (talvez física) e que agora, anos passados ao sentir a mesma perseguição que em tempos provocara, procura também ela uma segunda oportunidade de se redimir mas principalmente de sobreviver e não sucumbir a uma destruição que primeiro lhe abalou o físico e depois a auto-confiança que percebe ter tido e perdera.
Intensa, muito intensa pela mensagem mas também pela forma como é filmada num espaço que parece ser tão pequeno como as perspectivas sentidas pelas duas protagonistas, mas sobretudo actual, A Entrevista para uma segunda oportunidade - a destas duas mulheres - cativa pelo que se diz e sobretudo pela forma como ambas conseguem num posterior silêncio sobre aquilo que não se diz, compreender que as suas histórias, em dado momento, não estão tão distantes como poderiam imaginar.
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8 / 10
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