My Sweet Nurse de Pedro Murad é uma curta-metragem de ficção brasileira que coloca o espectador dentro de um quarto de um velho hospital. Num convívio silencioso onde parecem apenas resistir as memórias, Ele (Pietro Mário) e Enfermeira (Elaine Moreira) são a única companhia numa eternidade que parece não se extinguir.
Num silêncio entre as duas personagens que se prolonga durante os quinze minutos de My Sweet Nurse, o espectador apenas retém que o tempo passa através dos pequenos sinais exibidos desta mesma interacção nomeadamente os relatos na rádio ou a sempre presente revista LIFE. Ao mesmo tempo prevalece a sensação de que embora o tempo desta história passe... aquele que as personagens vivem percorre um tempo físico bem mais distante. As músicas que ambos escutam na rádio assim como as revistas que trazem notícias de épocas temporais sempre distantes deixam a impressão de que aquele quarto não será necessariamente um hospital - afinal pouca actividade temos que nos demonstre qualquer tipo de vida para além desta - mas sim um qualquer purgatório no qual ambos têm de penar.
Dos tempos dos primeiros ensaios nucleares e Eisenhower sem esquecer Kennedy, João Paulo II ou os brutais ataques terroristas do 11 de Setembro, as duas personagens não exibem qualquer marca de que o tempo ou a idade passou por eles apresentando-se sempre com o mesmo aspecto. Não falam, mas comunicam e percebemos que entre ambos existe uma qualquer cumplicidade. Conhece(ra)m-se mas distanciaram-se. Talvez a morte de um e as alucinações do outro os façam agora reencontrar-se mas mantendo ainda um distanciamento intelectual.
Como dois velhos fantasmas que atormentam um espaço abandonado conferindo-lhe uma mística que ao mesmo tempo os isola num purgatório mútuo, "Ele" e "Ela" - de outros tempos - espantam-se com as transformações que percebem ocorrer para lá das suas quatro paredes. Quem são - serão ou terão sido - eles? Terão sido esquecidos? O que acontece no mundo que eles não conseguem testemunhar em primeira mão para lá daquilo que lhes chega?
Entre o realismo do tempo que passa e o horror das novidades que não presenciam, estas duas almas . vultos - transfiguram-se numa amargura distante, sem contacto, fria e que apenas se sente viva pelo deambular de expressões e gestos que os fazem sentir vivos... à sua maneira. Enquanto uns vivem e outros morrem, estes dois permanecem imóveis e inalterados num tempo que decididamente já não é o seu.
De execução enigmática que prende o espectador pela sua composição, My Sweet Nurse revela uma amargura latente nos rostos das suas personagens por saberem que tendo feito parte de um mundo comum já o abandonaram sem conseguir saber para onde seguir ou que rumo levar. Este já não é o seu mundo e como tal necessitam recomeçar e criar toda uma nova forma de comunicação... noutro lugar.
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