Una Nit de Marta Bayarri - aqui também a actriz principal e argumentista - é uma curta-metragem de ficção espanhola que transporta o espectador até uma dura realidade.
Um homem (Oriol Ruiz) e uma mulher (Bayarri) conhecem-se e dirigem-se para o apartamento dele. Existe um flirt, um desejo e uma vontade mútua de passar uma noite intensa. Mas, o que acontece quando as perguntas se tornam cada vez mais íntimas e geradoras de uma tensão que os incomoda? Esta sim será uma noite que nenhum deles irá esquecer.
Marta Bayarri assume-se com a força motora - realizador, argumentista e actriz - de uma curta-metragem que desde o primeiro instante faz com que o espectador se sinta prestes a testemunhar algo de transformador. Aquilo que parece ser o resultado de um qualquer encontro nocturno pelos bares da cidade, rapidamente se transforma num jogo de gato e do rato em que apenas o mais forte vai ganhar a "caçada" da noite.
"Ele" - o gato - de encantador, charmoso e até sedutor subitamente sente o seu espaço a ser invadido e começa a estabelecer um conjunto de defesas que têm como único intuito um ataque ainda por anunciar e "Ela", de de audaz e corajosa rapidamente se sente presa numa gaiola da qual parece não encontrar a porta de saída embrenhando-se num jogo que parece não querer jogar. As palavras utilizadas ganham contornos que definem o dominador e o dominado, o gato e o rato, o recluso e o polícia sendo que assumidamente se percebe que um irá controlar os passos do outro sem lhe permitir fazer o jogo da forma que deseja. A violência anuncia-se e naqueles breves instantes assistimos a uma dinâmica entre "Ele" e "Ela" que nos aproxima de uma realidade que afinal não é assim tão ficcionada.
Una Nit destaca-se por representar aquele momento de viragem numa vida. O momento em que o ser apanhado de surpresa por um encontro com alguém de quem na prática nada conhece e que podendo ser exteriormente atraente e sedutor é, no entanto, um perigo escondido. Ao assistir a esta curta-metragem quantos de nós não pensaram nas inúmeras histórias de violências física e psicológica das quais tantas vezes ouvimos falar sem lhes prestar devida atenção e que resultam sempre numa personificação da tragédia alheia? Quantos não se revêem até na própria história tendo nela encontrado pontos de semelhança com "encontros" trágicos que representaram não a felicidade mas sim o tormento de um momento? Representará esse algo sedutor algo mais do que apenas aquilo que os olhos captam no primeiro instante?
Se Marta Bayarri tem uma descontraída e finalmente séria interpretação, não será menos justa afirmar que é Oriol Ruiz que domina - na teoria e na prática - toda esta curta-metragem conferindo à sua personagem a tal graciosidade que cativa quem para ele olha e que quando o consegue se revela como o verdadeiro perigo disfarçado com pele de cordeiro. São seus os momentos mais intensos e as palavras realmente assustadoras. É sua a dinâmica e o rosto do mal que se escondem "às claras" e aos olhos de todos nós. É dele que inicialmente gostamos mas que de seguida nos causa toda a repulsa do mundo não só pelas suas palavras mas principalmente pelos seus actos que - não confirmados - mas se mostram assustadoramente perigosos.
Jordi Azategui - director de fotografia - é também ele uma das personagens silenciosas de Una Nit pois se inicialmente nos coloca num espaço cuja luminosidade confere ao espectador a sensação de que está num local não só acolhedor como sedutor, aos poucos transforma aquele apartamento num local que parece labiríntico ou até mesmo uma prisão da qual não se consegue escapar.
Intensa pela sua mensagem - nada escondida - e por duas sólidas interpretações que tão depressa nos fazem sorrir pela sedução do momento como de repente nos conferem medo pelo destino da personagem feminina, Una Nit poderá ser o sólido retrato de uma noite entre tantas noites... mas aquela que nenhum dos intervenientes irá certamente esquecer.
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8 / 10
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