terça-feira, 22 de outubro de 2019

Outside the Oranges are Blooming (2019)

.
Outside the Oranges are Blooming de Nevena Desivojevic (Portugal/Sérvia) é um documentário em formato de curta-metragem que remete o espectador para uma aldeia por entre as montanhas onde um grupo de habitantes resiste ao acelerado desaparecimento da vida na mesma.
A breve descrição desta curta-metragem acaba não só por revelar toda a dinâmica da mesma como, ao mesmo tempo, ser insuficiente para transmitir ao espectador todos os pequenos grandes detalhes que lhe dão corpo e alma.
Tudo começa com a imagem de um vale por onde ecoam cantares tradicionais vindos de parte incerta. Os seus intérpretes, nunca revelados de forma directa, são (supomos) aqueles habitantes que resistem nestas paragens que cada vez mais parecem traços de uma memória - também ela - ausente que agora permanece oculta não só pelo esquecimento como também pelo nevoeiro que se instala por todas aquelas paragens. Aos poucos conhecemos um homem que, tal como o espaço, permanece anónimo. Na realidade, e para a perspectiva do espectador, pouco importa quem ele foi mas o estado (psicológico principalmente) em que ele se encontra como, deduzimos, uma directa influência do espaço envolvente. Ali ele, e todos os demais que brevemente encontramos pelo caminho, definham como memórias vivas de um local que lentamente desaparece e que se deixa dominar pela Natureza, pelo ambiente e pelas memórias que apenas os silêncios dos locais e as estruturas que resistem podem testemunhar.
A vida é aqui quase imóvel e esta apenas é comparável à deslumbrante imponência da Natureza que se assume como o principal elemento de todo este filme. Natureza essa que se afirma perante o próprio espaço e para o espectador que se deixa levar pelo imaginário de um qualquer paraíso natural onde o Homem, pela sua extinção, não (já não) tocou. A Natureza encontra o seu rumo - ouvia-se num filme da década de '90 -, e pode ser aqui referenciado como a melhor descrição para tudo o que "nos" envolve. Aqui, toda a forma de vida é lentamente "tomada" por essa Natureza que apenas deixa subsistir os esqueletos de antigas estruturas que se constituíam como as formas de subsistência do Homem e das suas actividades e, como tal, da sua presença no espaço.
Agora, aquele homem, é convidado a sair daquele local... a encontrar um trabalho noutro sítio mas, à medida que tudo ali parece terminar, o próprio não aparenta querer sair daquele local onde possivelmente toda a sua vida tomou forma e onde residem todas as suas memórias e experiências. Como ele, todos os poucos anónimos que observamos ainda resistirem naquele local permanecendo, todos eles, numa certa espera pelo auto-desaparecimento que os aguarda como se de uma morte social se tratasse e apenas a presença da realizadora parece constituir, para aquele homem, a única réstia de novidade e curiosidade (ou incómodo?!)que poderia encontrar neste aparente "final".
Sem se enquadrar em qualquer género de cinema apocalíptico onde o fim é um potencial início de algo porvir, Outside the Oranges are Blooming parece, por sua vez, ser esse início para lá da presença humana... um espaço real, não dizimado pelo Homem mas sim abandonado pelo mesmo permitindo, dessa forma, a sua recuperação para algo de novo... que o próprio Homem desconhece. Tal como o próprio título parece querer fazer "acontecer"... lá fora... esse outro local agora próspero, prepara-se para revelar que resistiu à acção (ou destruição?!) humana e que apenas o chilrear dos pássaros faz adivinhar essa prosperidade natural tanto desejada.
.
7 / 10
.

Sem comentários:

Enviar um comentário