sábado, 30 de abril de 2016

Franco Di Giacomo

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1932 - 2016
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sexta-feira, 29 de abril de 2016

James White (2015)

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James White de Josh Mond é uma longa-metragem norte-americana e um dos filmes "sensação" da última temporada de prémios nos Estados Unidos que retrata quatro breves meses na vida de James (Christopher Abbott), um homem prestes a entrar nos seus trinta's.
Tudo começa em Novembro quando James se depara com a morte do seu pai. Num velório que tem tudo menos de convencional, James tenta consolar Gail (Cynthia Nixon), a sua mãe que - também ela - se depara com um momento difícil ao lidar com um cancro em estado avançado enquanto tenta encontrar o rumo para a sua própria vida.
Josh Mond - também argumentista de James White - constrói uma intensa e dramática longa-metragem que se centra quase exclusivamente na história desta personagem interpretada por Christopher Abbott. "White" é - foi? - um homem com grandes sonhos, expectativas e desejos mas que viveu os últimos anos da sua vida a cuidar de uma mãe doente vivendo no sofá da casa dela e satisfazendo todas as suas necessidades para o seu conforto. No processo, "James White" esqueceu-se dele próprio. Sem trabalho, sem casa e sem qualquer tipo de expectativas, ele representa não só o típico "young adult" que não conseguiu encontrar um rumo nos anos posteriores à universidade - o reflexo perfeito de toda uma geração nos seus trinta's - e que parece ter o futuro adiado a cada dia que passa, diminuindo as expectativas e assistindo a todos os seus sonhos a desaparecerem.
Dividido entre uma intensa vontade de encontrar a sua liberdade auto-retirada por dedicação a uma mãe cujo estado de saúde se degrada de dia para dia, "White" afoga as suas mágoas em excessos de violência, em alcoól e num constante sono que parece reflexo de uma depressão não assumida. Há excepção de "Nick" (Scott Mescudi) com quem partilha muitas das suas aventuras, o espectador não lhe conhece grandes amizades mas sim alguns conhecimentos e locais banais onde se encontram. A única certeza - para ele e para o espectador - é que "James White" tem a clara consciência que a sua vida parou e que os objectivos, sonhos e desejos que tinha para a sua vida estão rapidamente a tornar-se numa memória de um futuro que parece já não ver.
Ao mesmo tempo "White" tem uma outra grande preocupação. Se a sua vida parou, mais não foi pelo amor e dedicação que depositou no acompanhamento de uma mãe que começa gradualmente a abandonar o mundo físico. Se o seu estado de saúde se vai degradando à medida que o tempo passa é também verdade que a demência se mescla com momentos de sanidade e pensamentos que poderão - a seu tempo - fazer um sentido que ele agora não vislumbra. É esta relação com "Gail" (Nixon) que ganha um especial foco na segunda metade desta longa-metragem onde mãe e filho não só se aproximam como também começam lentamente a criar um ritual de despedida e de noção que todo um novo processo irá ser iniciado para "White". Perdido na noção de que o seu futuro foi abandonado, quem será ele uma vez que se encontre sózinho no mundo sem ninguém com quem se preocupar para além dele próprio? Dito de outra forma, o que irá ele pensar quando se olhar ao espelho e perguntar "quem sou eu?"?
Num misto de reflexão sobre o "eu" em conflito com os "meus" sonhos - adiados ou perdidos - e o filme de família onde impera a dedicação filial, James White consegue colocar o espectador numa dinâmica de observador que, como uma terceira personagem, acompanha os destinos da relação entre mãe que ambiciona partir sabendo que tudo foi "entregue" da melhor forma, e um filho que luta com uma dinâmica entre a perda (dos seus progenitores) e a continuidade (sua) face a um momento difícil e de reflexão sobre o que virá a seguir. No fundo, como não perder o rumo quando a perda se instala e cria todo um conjunto de dúvidas adicionais àquelas que já tem para consigo próprio.
Se o argumento de Josh Mond é um dos pontos fortes desta longa-metragem, é também válido dizer que o mesmo ganha duas grandes e intensas almas que o conduzem a bom porto. Cynthia Nixon - a quem faltava um merecido protagonismo desde aquele obtido com Sex and the City - encontra aqui o seu momento de glória com "Gail", uma mulher à beira do fim que vive involuntariamente dividida entre a demência e o esquecimento sabendo que, ao mesmo tempo, precisa deixar tudo em ordem antes de partir. Esta consciência é, para ela, omnipresente ao compreender que "reteve" o seu filho de forma a poder acompanhá-la tendo colocado toda a sua vida numa pausa indeterminada. Agora que se prepara para partir, que conselho dar a "James" para que ele perceba que tem - e deve - continuar? Mais... como fazê-lo de forma lúcida e consciente de que se usam as melhores palavras?
Finalmente é Christipher Abbott e a sua intensa interpretação enquanto "James White" que fazem o espectador render-se aos seus dotes de representação. Abbott saído de Martha Marcy May Marlene (2011) e de A Most Violent Year (2014) encontra aqui o protagonismo como este jovem adulto perdido num mundo que evoluiu e avançou tendo-o deixado para trás. Abbott tem uma interpretação digna de Oscar - apesar deste se ter "esquecido" dele - e a oscilação entre uma contenção sentimental e uma explosão de sentimentos e violência tornam a sua personagem não só credível como alvo de uma instantânea empatia pois, em muitos dos seus traços, identificamos um pouco de nós naquele percurso de uma estrada perdida sem grandes planos ou ambições frutos - por vezes - de um auto-descrédito naquilo que outrora fora ambicionado.
Inteligente, perspicaz e dono de uma estranha sensibilidade - nem sempre a lágrima é a melhor forma de conquistar o público e Josh Mond parece sabê-lo muito bem -, James White é um intenso, sentido e sofrido drama que não fará o espectador chorar mas sim reflectir convictamente sobre a sua vida, o seu percurso, aqueles que perde e qual a memória que deles - e de nós - permanece depois de percorrido um caminho sofrido.
Considerando que - tal como "White" diz - a "vida está à espera", só resta uma palavra para caracterizar esta obra-prima dos nossos dias... belíssimo.
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"James White: I am not going to drink. And I am not going to smoke. I'm going to write and I'm going to meditate and I'm going to eat healthy and I'm going to swim and I'm going to work out and I'm going to write about all those feelings that are welled up inside me and when I get back I will get a place and a job but I need to go away. And when I come back I will be ready for life."
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9 / 10
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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Estive em Lisboa e Lembrei de Você (2015)

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Estive em Lisboa e Lembrei de Você de José Barahona é uma longa-metragem luso-brasileira presente na competição nacional do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente a decorrer em várias salas da capital até ao próximo dia 1 de Maio.
Sérgio (Paulo Azevedo) vive em Cataguases, uma pacata cidade do interior brasileiro. Uma cidade tão pacata como a sua própria vida que se resume a trabalho, casa e algumas saídas com o seu grupo de amigos.
Após conhecer Noémi (Amanda Fontoura) por quem se apaixona, casa e tem um filho, Sérgio depara-se com uma vida de "pai solteiro" e com a extrema necessidade de ter algo mais na sua vida. Quando Lisboa surge como um destino de eleição, Sérgio ruma à capital portuguesa onde esperar lucro e uma vida não só mais fácil com mais agitada. Estará ele capaz de se aguentar a toda uma nova e transformadora experiência?
Tendo como base a obra homónima da autoria de Luiz Ruffato, Estive em Lisboa e Lembrei de Você é para além de um relato sobre a emigração, uma história sobre um homem - igual a tantos outros - que esperou e tentou algo mais da vida. Esta história que se desenvolve em torno de "Sérgio", um homem encantado com as possibilidades sentimentais e profissionais que sente poderem ser suas numa "outra vida", divide-se em dois momentos muito particulares.
O primeiro desses referidos momentos o espectador poderia apelidar simplesmente de "Brasil"... Ou, por outras palavras, aquele em que "Sérgio" desperta para um mundo para lá de si. É nesta primeira metade de Estive em Lisboa e Lembrei de Você que o espectador conhece este homem inicialmente metido para com os seus próprios pensamentos, fumador compulsivo que vê o seu estado de saúde deteriorar-se lentamente e que se deixa levar por um lado romântico da vida oferecendo simpáticas flores de papel às mulheres por quem platonicamente se apaixona. De uma vida que oscila entre casa e trabalho com os ocasionais momentos entre amigos onde se queixam das oportunidades que têm e das banalidades da vida, o espectador sente que "Sérgio" tem - terá? - uma vida para além daqueles breves momentos que partilha. Com um mundo inteiro por descobrir... quem será ele se não o fizer?
No entanto, é também neste segmento que a sua vida dá o primeiro grande salto. O casamento, a paternidade, a depressão maternal de "Noémi" e os encargos que são grandes demais para as suas possibilidades levam-no numa odisseia para um imaginado el-dorado... Lisboa.
É com a viagem para Portugal que o espectador encontra o segundo segmento desta longa-metragem, agora com todo um novo conjunto de personagens, de espaços, de situações e, principalmente, com toda uma vida nova que parece reclamá-lo ainda que não assumindo que "Sérgio" é, agora, um dos seus.
Em Lisboa a vida é assumidamente diferente. As pessoas são mais secas e distantes, e os momentos de comunhão parecem ser difíceis de encontrar. Ao contrário da "tribo" que tinha no Brasil, em Lisboa a sua vida resume-se a tentar encontrar um trabalho que lhe garanta algumas economias, bem como é complicado ter papéis de residência, amigos, alguém em quem confiar e, no fundo, um espaço que seja o seu para lá daquele quarto de pensão que, também ele, representa um pouco do mundo ali centrado. De el-dorado repleto de oportunidades, Lisboa vai lentamente simbolizando um calvário difícil de suportar com alguma xenofobia a impedi-lo que prosseguir a sua vida, e o desencanto assume o lugar que outrora fora ocupado pela esperança.
No entanto é com a emergência de um novo amor que "Sérgio" volta a ganhar encanto e gosto pela expressão dos seus sentimentos e a ideia de que finalmente uma nova vida espera por ele. Com a entrada num mundo mais escuro das noites Lisboetas, este homem passa a viver num limbo entre aquilo que esperava e aquilo que tem desta sua nova vida.
Estes dois distintos segmentos da vida de "Sérgio" são narrados pelo próprio numa dimensão futura dos acontecimentos aos quais o espectador assiste. Logo de início o espectador conhece um "Sérgio" num registo de confessionário onde (se) apresenta a sua história. Quem ele era... o que esperava da sua pacata vida e os desejos que tinha para um futuro melhor expressos não só pelos seus actos como através de um olhar melancólico. No entanto, aquele "Sérgio" que fala para a câmara como que para um amigo próximo, é diferente. Física e psicologicamente diferente. Mais magro, novamente fumador e residente num qualquer subúrbio de Lisboa, ele divaga sobre toda uma experiência confessando, ao mesmo tempo, que a sua vida mudou não só em Portugal como para com aquilo que deixou num Brasil cada vez mais distante. Sem saber da sua mãe, do seu filho ou da sua mulher, ele agora parece não manter qualquer tipo de desejos para si que vão além do imediato e de uma vida dia-a-dia. Assistimos a esta transformação silenciosamente... São pequenos gestos como o guardar a foto de família que marcam a sua viragem para um novo - não necessariamente melhor - homem que agora prefere evoluir libertando-se de amarras tidas com o seu passado.
Quem será ele esquecendo o que foi? Quem será sem novas perspectivas? Sem novos sonhos... desejos... ambições? "Sérgio" o brasileiro... o emigrante... o rosto anónimo... o vulto que trabalha a servir os demais sem que ninguém - nem ele - saiba quem é?
Perdido num limbo entre o Brasil e Portugal, "Sérgio" vive e sente o desencanto de uma vida que não lhe sorriu. Por um lado pensa na vida despreocupada que tinha no Brasil onde, mesmo com as responsabilidades que a paternidade lhe trouxe, se sentia como alguém capaz de levar uma vida tranquila e preenchida. No entanto, como voltar a esse Brasil onde todos esperam que ele chegue com sucesso, com dinheiro, com uma vida abastada e com perspectivas de ser o novo "rei do bairro"? Como voltar para junto daqueles que conhece revelando que todas as suas perspectivas e expectativas falharam? Como voltar pensando - ou fazendo pensar - que mais não é do que um falhado com sonhos grandes demais dentro da sua cabeça? É o cortar de laços - com amigos e família - do seu Brasil natal que fazem com que ele consiga, à sua maneira, dar o passo em frente num Portugal que, no fundo, nada de bom lhe trouxe a não ser desencanto, desilusão e um confronto com a banalidade que são os sonhos sonhados.
Com um registo semi-documental - afinal "Sérgio" fala na primeira pessoa para a câmara - Estive em Lisboa e Lembrei de Você pode ser a história de tantas pessoas independentemente da sua nacionalidade, que nesta ou em qualquer outra cidade tentaram um dia vencer. Talvez não enriquecer mas simplesmente vencer. Conhecer outra parte do mundo, poder ter uma vida um pouco melhor... Poder providenciar e satisfazer os seus sonhos e os daqueles que tem consigo. No entanto, como nem todos os contos terminam num romance ou na perspectiva do final feliz, aqui encontramos uma entre tantas histórias que não o são... Por outras palavras... encontramos histórias que são as realidades silenciadas de muitos. Encontramos perguntas não respondidas, desejos nunca satisfeitos, momentos nunca vividos e histórias que poderão nunca encontrar um final - feliz ou não - enquanto deparamos também com alguns sinais de uma sociedade que não queremos ver... a crise, a imoralidade, o crime, a prostituição e finalmente o desamor.
Nenhuma boa história sobrevive se não tiver um rosto, e Paulo Azevedo confere a Estive em Lisboa e Lembrei de Você e à temática da emigração a expressão necessária para uma imediata empatia com a sua personagem. Nesta interpretação marcada pela excelência, Paulo Azevedo cria uma imediata ligação com o espectador que sente e vive os seus dramas. A expectativa de uma vida melhor, a procura silenciosamente incessante de um amor, a paternidade, a partida da sua terra natal, a chegada a um novo espaço que tendo a mesma língua parece ser numa outra dimensão, a solidão, a falta de oportunidades, de amigos, de família e finalmente o desencanto - este que parece persegui-lo como sendo a sua cruz. Com uma expressão quase sempre marcada por uma tristeza avassaladora, Azevedo consegue fazer-nos "distrair" do mundo à sua volta para obrigar o espectador a estar ali sentado com ele a recordar todos os seus momentos. Dono de uma intensidade dramática marcante, sentimos que por diversos momentos todos aqueles desgostos... são os seus.
Para os portugueses - Lisboetas como eu - é também curioso assistir a Estive em Lisboa e Lembrei de Você na perspectiva de um emigrante, na medida em que observamos a nossa cidade que todos temos como acolhedora, com olhos de quem se sente nela perdido e desamparado. Uma cidade que se tem fria, distante, pouco receptiva e como qualquer outra grande cidade, prestes a engolir aqueles que não conseguem resistir.
Uma das surpresas maiores do IndieLisboa, Estive em Lisboa e Lembrei de Você é uma interessante e rica aposta do novo cinema nacional - não esquecer que estamos perante uma co-produção luso-brasileira de José Barahona, um realizador português - que espero não ficar esquecida na gaveta sem encontrar a sua estreia comercial no nosso país (o quanto antes).
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"Rodolfo: O que são eles em Portugal? Nada... são os brasileiros. E no Brasil? Nada... são os estrangeiros."
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8 / 10
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quarta-feira, 27 de abril de 2016

Paul (2016)

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Paul de Marcelo Félix é uma longa-metragem portuguesa presente na secção de Competição Nacional do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente a decorrer até ao próximo dia 1 de Maio.
Uma legendadora (Alice Medeiros) está em processo de trabalho para um filme. Observa as imagens com atenção deixando-se levar de forma enigmática pelas mesmas. No filme temos um protagonista... Alguém (Rómulo Ferreira) que trabalha numa fábrica mas que secretamente vive uma paixão pela música.
Marcelo Félix cria o argumento de Paul que leva o espectador a uma história que tem tanto de improvável como de Lynchiano. Num primeiro segmento desta longa-metragem, o espectador é inserido no imaginário de uma mulher que tenta legendar um filme. Quase sem reacção para lá da estritamente necessária para a prossecução do seu trabalho, esta mulher parece absorta na sua tarefa ao ponto de nem responder ao aparente único contacto humano que é, com ela, estabelecido. Num momento imediato, o espectador é levado até ao interior do filme que legenda, uma história sobre os encontros e desencontros de um operário fabril (Rómulo Ferreira) que numa linha de produção de objectos em vidro esconde uma paixão secreta pela música. A acompanhá-lo temos "Daiva" (Crista Alfaiate), uma outra operária que num terceiro momento irá acompanhar "Kerttu" (Mafalda Lencastre) e "Liocha" (Dimitris Mostrous) pelo paul da região onde observam a vida vegetal e animal que completa o espaço. Se por um lado a legendadora parece cada vez mais embrenhada na sua tarefa ao ponto de se deixar confundir e anular pela mesma, assistimos a uma maior dispersão do operário para com as suas funções e um passeio pelo paul que leva os seus intervenientes a uma viagem vaga e sem rumo perdendo-se até pelos seus recantos.
Esquecendo a divisão entre quem escreve que história, ou até mesmo quem protagoniza o quê, Paul emerge o espectador numa viagem que, tal como a dos seus protagonistas, parece não ter qualquer rumo no horizonte. Por momentos Marcelo Félix parece querer levar o espectador à solitária profissão de uma legendadora cuja vida pessoal é inexistente. Inexistente ao ponto de se deixar levar pela história criada e vivida por aquele conjunto de actores, pelas suas eventuais motivações e pelos caminhos que todos parecem percorrer. No fundo, a questão - se é que o é - colocada é para esta mulher a mesma tida pelo operário fabril que percebe estar fora do seu contexto. Será aquele o caminho que devem prosseguir?
Os seus pensamentos cruzam-se aliás pelo abrupto e não revelado término das suas profissões. Se uma deixa o filme em que trabalha para se lançar numa corrida por uma mata - um ambiente semelhante ao do paul - o operário é, também ele, "levado" para uma mata deserta onde finalmente volta a tocar abraçando aquilo que parece desejar. Ao mesmo tempo, ambos vão dar junto à água - um lago - onde abraçam finalmente algo que desejam... tocar... nadar... desaparecer.
"Acorda" - em estónio, a segunda língua utilizada em Paul -, a palavra que aparece escrita num papel acaba portanto por ser uma mensagem subliminar não só para o operário que vê a sua "vida" - ficcionada - colocada em causa como o é, principalmente, para a legendadora que parece encontrar nesta história, as respostas que procura para a sua própria vida.
Neste aparente mar de incertezas temos então o paul que funciona como que um limbo... Aqueles que nele se encontram - os três estónios - como a imagem dos que ainda não encontraram um rumo para as suas existências... os demais - operário e legendadora sendo esta alguém que apenas encontra na existência dos outros justificação para a sua própria "presença" -, já libertos de afazeres com que não se identificam ou que não os completam, encontram-se nas suas margens... a percorrer outros caminhos (in)certos.
Assim, numa busca contemplativa sobre o real e o irreal, Paul leva o espectador numa busca identitária, incerta e invulgar que deixa o espectador como o livre arbítrio de criar a sua própria interpretação e aquilo que julga serem os motivos - ou falta deles - destas personagens silenciosamente errantes. Silêncio que, aliás, acaba por contemplar não só a legendadora como boa parte das personagens durante algum - ou até mesmo a totalidade - tempo. O silêncio como a incerteza do caminho a percorrer... sobre a reflexão das dúvidas e metas a cumprir... Quais os objectivos? Simbolicamente a água é como que a passagem para a tal outra realidade a que pertencem como poderemos assistir ao salvamento do pato preso na lama numa água na qual não pode sobreviver.
Interessante sob um ponto de vista abstracto onde tudo está sujeito a todo o tipo de interpretações, este acaba por ser igualmente o ponto mais frágil de Paul que sem uma conclusão minimamente clara ou conclusiva sobre o propósito destas histórias (ir)reais, levam a que o espectador se sinta perdido e por vezes disperso durante uma longa-metragem de setenta minutos que teria tudo para resultar enquanto um objecto não místico mas misterioso onde as personagens se confundem entre duas "realidades" paralelas ou, pelo menos, duas realidades que a dada momento são reais para um dos intervenientes.
Com uma enigmática interpretação de Rómulo Ferreira - que confesso ter gostado se fosse mais desenvolvida para conhecermos o seu fundo e a sua "vida" imaginada - e com uma excelente direcção de fotografia de João Pedro Plácido que consegue criar a tal dinâmica de limbo ou de "paraíso" perdido e desconhecido, Paul será, de uma forma geral, um filme que arduamente irá conseguir cativar o espectador comum normalmente pouco disposto a analisar o filme para lá das suas imagens imediatas.
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5 / 10
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terça-feira, 26 de abril de 2016

Flotel Europa (2015)

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Flotel Europa de Vladimir Tomic é um documentário em formato de longa-metragem de produção dinamarquesa e sérvia editado a partir de gravações de antigas VHS gravadas na Dinamarca aquando da recepção de refugiados bósnios no início da década de 90 do século passado.
Flotel Europa é o nome do barco que serviu de residência para os mais de mil refugiados que encontraram aqui refúgio no porto de Copenhague e do qual fizeram lentamente o seu novo lar, entre os quais o próprio realizador - então com pouco mais de dez anos - a sua mãe e o seu irmão mais velho.
Este documentário acompanha fragmentos desta estadia, da forma como lá chegaram e como tornaram aquela imensa estrutura metálica naquilo que mais próximo se parecia com um lar decorando não só as suas paredes sem janelas com pequenos espelhos ou cartazes os seus demais espaços com uma tentativa de recuperar algumas tradições e costumes que tiveram de abandonar na sua Bósnia natal.
Mas Flotel Europa vai um pouco mais longe. Inicialmente este documentário abre com um conjunto de imagens já gastas pelo tempo - os terríveis efeitos das VHS que todos nós bem conhecemos - mas que, ao mesmo tempo, tecem um interessante paralelismo com os próprios efeitos da memória. Guardaremos nós um registo tão vivo de acontecimentos com mais de vinte anos ou, por sua vez, mantemos apenas vivos aqueles que sendo mais significativos exerceram - também eles - uma relevância maior na nossa memória? São essas imagens iniciais do Flotel Europa - o barco - aquelas que mais marcaram a jovem idade de Vladimir Tomic que as relembra pelo espanto e alegria com que se imaginou a viver num barco de grandes dimensões. Relembra igualmente as mensagens que gravavam e enviavam para a família que tinha ficado para trás presos por um guerra que opôs vizinhos enquanto eles os três tentavam - sem grande sucesso - construir as suas próprias vidas tendo todos os demais na memória.
As aulas de inglês, as danças tradicionais, as ocupações, o cheiro do café, as primeiras paixões, as cantigas e as noites intermináveis junto da televisão que lhes transmitia todas as notícias de um país - o seu - agora cada vez mais distante. Presos num limbo que os distanciava de uma guerra mas que ao mesmo tempo os "impedia" de pisar terra firme e o começo de uma nova vida. Mas ao mesmo tempo recorda também um lado melancólico ao retratar este conjunto de vidas desamparadas, de raízes perdidas, de famílias afastadas deles que, agora numa próspera Dinamarca, continuavam meses sem fim dentro de um barco que perdia - perdera - o seu encanto a cada dia que passava. De porto de abrigo de refugiados a atracção (pouco) turística. De refúgio e uma nova aventura à ideia de uma infância perdida e impossível de recuperar, Flotel Europa transforma-se num intenso registo da entrada de um jovem na sua adolescência enquanto tantos outros se perdiam num louco genocídio que não era - por eles - esquecido.
Ao assistirmos a Flotel Europa é impossível não estabelecermos uma imediata comparação com esta década de '10 do século XXI e transportarmos a realidade destes intervenientes bósnios... agora em sírios... Ao assistirmos a um qualquer noticiário sobre campos de internamento de refugiados percebemos que lentamente as suas condições de bem estar são escassas - se é que algumas -, que o estado de saúde de deteriora e que a desumanização vai lentamente ocupando e reclamando o seu lugar. Que a realidade existe "lá fora" numa qualquer parte do mundo já todos nós - infelizmente - sabemos... no entanto, aquilo que tendemos a esquecer e que Flotel Europa tão bem nos recorda é que a História se repete... ciclicamente... deixando para trás todo um conjunto de novas vítimas.
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8 / 10
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segunda-feira, 25 de abril de 2016

Love (2015)

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Love de Gaspar Noé é uma longa-metragem francesa presente na secção A Boca do Inferno do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente a decorrer em Lisboa até ao próximo dia 1 de Maio em várias salas de cinema da capital.
Murphy (Karl Glusman) é um estudante de cinema a viver em Paris que desenvolve uma relação extremamente sexual e emotiva com Electra (Aomi Muyock). Depois de um encontro ocasional com a jovem vizinha Omi (Klara Kristin) e uma noite altamente sexual entre os três, a relação entre Murphy e Electra cai numa espiral de desejo e tensão sexual que os leva ao submundo sexual de Paris.
Tempos depois, na primeira manhã do novo ano, Murphy recebe um telefonema da mãe de Electra a contar-lhe que ela desapareceu...
Gaspar Noé regressa com a sua segunda longa-metragem após Irréversible (2002) - sendo a primeira Enter the Void (2009) - e, uma vez mais, com uma intensa carga sexual explícita e como o principal mote de toda a narrativa e relação entre os seus dois principais protagonistas.
Love tem início com a relação entre "Murphy" e "Electra" sendo que é com "Omi" que são desenvolvidos os primeiros instantes onde o espectador observa aqueles que são os dias mais ou menos monótonos de um casal preso a uma vida e existências banais. Esta existência é apenas interrompida por um enigmático telefonema que desperta em "Murphy" as memórias de um passado e de uma paixão onde amor e dependência eram a constante diária. "Electra"... o nome do seu primeiro amor. Aquela com quem iniciou uma relação empática tanto emocional como sexualmente comprometida mas que, desgastada pelo tempo, se transformou em algo monótono e que necessitava ser ultrapassada. Foi a (in)consciente intromissão de "Omi" que radicalizou os comportamentos tanto de "Murphy" como de "Electra". Foi a inicial "necessidade" de um terceiro elemento que apimentasse os seus dias que os transformou e levou a uma espiral de decadência num submundo sexual - apenas comparável àquele tido com Irréversible - no qual qualquer momento, situação ou espaço servem para saciar, em conjunto ou não, os seus devaneios sexuais.
No entanto, as semelhanças com o já referido Irréversible não ficam por aqui. Vários elementos ao longo de Love fazem lembrar o violento drama com Cassel e Bellucci - aliás, protagonistas desejados para este filme na altura em que o filme que protagonizaram foi realizado - iniciando desde já por uma Paris enquanto o centro de toda uma acção e que é, claramente, um elemento sombra de toda uma narrativa levando o espectador a uma viagem pelas ruas não tradicionais das histórias da cidade luz, mas mantendo-a viva no subconsciente do espectador. De seguida, existem o claro triângulo amoroso. Ainda que em Irréversible este não tenha tomado as proporções de Love onde a personagem interpretada por Klara Kristin acaba por se transformar no elemento assumido de uma relação a dois em contraposição a "Pierre" de Albert Dupontel em Irréversible que acaba por viver desde o primeiro instante um amor platónico mas, em ambas as obras, é sentida a presença de um trio sentimental que acaba por servir de motor para a espiral de decadência sentimental e humana que os protagonistas fazem sentir.
Um outro elemento que é evidente em ambas as obras é a transformação de uma relação aparentemente saudável quer a nível sentimental quer sexual que lentamente se degrada para um estado de dependência e degradação que não parece ter um final em vista. Ainda que a maternidade esteja aqui como um pano de fundo - tanto em Bellucci como em Kristin -, a realidade é que cedo se percebe que nem esta é a salvação para os dias futuros, e se Irréversible é contado do fim para o início como que uma representação da consequência tendo como pano de fundo os actos que o originaram, Love apresenta-se como a consequência vista da consequência, ou seja, o espectador observa o final de uma história conturbada, revisita todos os momentos que os levaram até lá para terminar com um novo olhar ao futuro - não menos conturbado. Se a isto juntarmos uma certa estética como a cor vermelha sempre presente, os clubes de sexo - homo e heterossexual - o exibicionismo e o sexo livre de preconceitos em qualquer lugar ou situação, então poderemos facilmente estabelecer uma relação entre as duas obras.
Quase como um obra - ou universo - paralela, Love tem ainda uma certa conotação auto-biográfica presente na sua narrativa. Em pequenos momentos - ou elementos - o espectador pode reter informação como, por exemplo, o filho de "Murphy" e "Omi" charmar-se "Gaspar" (Noé) ou a galeria em que "Electra" trabalha ser a NIAG - Noe International Art Gallery, sem esquecer as inúmeras referências cinematográficas presentes ao longo desta longa-metragem como, por exemplo, Salò (1975), de Pier Paolo Pasolini ou Flesh for Frankenstein (1973), de Paul Morrissey e Antonio Margheriti que muito contribuem para uma determinada estética sexual e decadente da obra de Gaspar Noé de uma forma geral ou até mesmo a referência de "Murphy" sobre a sua obra - futura - que deverá ser marcada por "sangue, esperma e lágrimas", elementos sempre presentes em qualquer dos filmes de Noé e que fazem desta personagem um certo alter-ego do realizador.
No entanto, aqueles que são para mim os dois elementos mais marcantes de Love passam quase despercebidos ou alvo de uma atenção menor - pela câmara - como que secundários para toda a trama; o primeiro acaba por ser quase involuntário e estabelece-se na relação entre palavras tanto de "Murphy" como de "Electra". Ele, após receber telefonema sobre o seu desaparecimento refere-se à sua casa como que tendo tantas memórias e falta de privacidade... a mesma memória - lembranças - que em flashback "Electra" refere como "mortas após a morte física" e, finalmente, aquele que se une a este pensamento como sendo o principal mote de toda esta história quando observamos que dentro do quarto do casal se encontra um molde de um prédio - o mesmo em que eles vivem (?) - com um inesperado nome... Love. Não só estabelece uma imediata relação com este filme como principalmente estabelece aquele espaço - casa - como o único onde realmente foram felizes... "Murphy" com "Electra" ou "Omi".
Não sendo a obra maior de Gaspar Noé nem a mais violenta - Irréversible ainda não foi destronado - Love é seguramente a sexualmente mais explícita e onde a relação do casal protagonista é levado aos limites de uma decadência quase desumana e instintivamente animalesca que em vez de os satisfazer funciona como uma droga que gera dependência e uma constante decadência física e psicológica dos seus protagonistas que, aos poucos, se tornam igualmente dependentes de estupefacientes. Intensa pelo retrato de "amor" - de uma forma dependente - que filma e que retrata, Love não consegue, no entanto, ser o esperado filme choque que foi Irréversible nos seus dias mantendo-se, no entanto, como uma interessante obra sobre como esse mesmo amor consegue, para além da dependência, criar uma intensa espiral de degradação humana.
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"Murphy: Do you know what my biggest dream in life is? My biggest dream is to make a movie that truly depicts sentimental sexuality."
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7 / 10
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domingo, 24 de abril de 2016

Ilegitim (2016)

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Ilegitim de Adrian Sitaru é uma longa-metragem romena presente na secção Silvestre do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente que decorre em Lisboa até ao próximo dia 1 de Maio em várias salas da capital.
Numa reunião de família, os filhos Anghelescu questionam o pai Victor (Adrian Titieni) sobre o seu passado enquanto informador durante a ditadura comunista de Ceausescu.
A partir deste momento o espectador observa a dissolução da família Anghelescu - pai versus filhos - apenas para confirmar a estreia relação amorosa existente entre os gémeos Sasha (Alina Grigore) e Romeo (Robi Urs).
A protagonista Alina Grigore escreve em parceria com o realizador, o argumento deste Ilegitim que desde os primeiros instantes leva o espectador a uma viagem aos meandros da memória de uma família numa Roménia do século XXI. Num momento em que o país tenta viver no pós-ditadura onde muito ainda existe por expiar, e com alguma sentida crise económica, observamos aquilo que resta de uma família após a morte do que os unia... a mãe (enquanto personagem ausente).
O espectador cedo percebe que a relação entre "Victor" e os seus quatro filhos "Cosma", "Gilda", "Romeo" e "Sasha" mais a adoptada "Julie", é tensa. Nada existe que o comprove de facto, mas é sentido o distanciamento que se percebe naquela mesa durante o que se pensa ser uma amena refeição em família. Num momento que é já de si tenso pela sentida falta de tranquilidade entre todos, surge a conversa sobre o passado, sobre os registos da memória colectiva de uma feroz ditadura e sobre a prática de aborto, então ilegal.
A divisão entre o que é moral e o que é legal, a discussão diverge sobre o papel de "Victor" durante estes anos e sobre como era um (in)voluntário (?) informador do regime a respeito das mulheres que a ele recorriam enquanto médico. Numa divagação entre o que estaria correcto enquanto indivíduo versus a sua ocupação estatal, o distanciamento entre as posições dos seus filhos agudiza-se não só moralmente como também fisicamente.
Neste primeiro momento de Ilegitim, o espectador abraça então a ideia que o desfecho da relação entre pai e filhos aparenta estar irremediavelmente afectada sendo que, no entanto, não o seria apenas por este motivo. Subitamente entramos num segundo momento desta história quando conhecemos mais de perto a história entre "Sasha" e "Romeo", os dois gémeos filhos de "Victor" que no segredo da casa que partilham com os irmãos, mantêm uma relação de dependência incestuosa cujo resultado se avizinha.
No seio desta família que parece modelada de acordo com as necessidades do próprio conceito de família temos um conjunto de jovens irmãos que parece ter obtido tudo que a vida lhes possibilitou, um irmão mais velho "Cosma" que estudou para ser o "cérebro" da família e, finalmente, "Gilda", a irmã mais velha que abdicou de si, da sua felicidade e dos seus momentos para cuidar de todos. É ela - interpretada por uma sempre contida Cristina Olteanu - que representa o lado mais sentimental de Ilegitim. Servindo de ponte de ligação entre irmãos e destes para com o seu pai, "Gilda" é uma mulher que nos seus trinta's se apagou da vida colocando mesmo o seu noivo num segundo plano que o espectador mal chega a conhecer. Não sendo um "parente pobre", ela acaba por se assumir como o barro que os une - ainda que muito timidamente - e o momento final em que todos tiram uma fotografia de família onde o próprio animal de estimação da mesma parece mais importante estar enquadrado do que ela, revela o quão irrelevante é a sua presença para os demais. Todos parecem ter evoluído para um certo ponto - melhor ou pior - estando ela sempre um passo atrás dos demais como que não tendo evoluído - apenas timidamente testemunhado - para outro patamar.
Aparentemente desprovidos de uma moral, os Anghelescu não conseguem estabelecer uma linha entre esta e o legal e numa sociedade onde todos parecem colocados à margem do que aconteceu - e acontece - o espectador questiona-se sobre o que será, realmente, ilegítimo (Ilegitim)?! Será ilegítimo o pai ter denunciado as mulheres que praticavam aborto no anterior regime? Será ilegítimo uma relação incestuosa entre os dois irmãos? Será ilegítima a gravidez daí resultante? Será ilegítimo levar esta gravidez até ao final? Será ilegítimo condenarem o pai tendo agora eles de decidir entre abortar ou não? Num constante conflito moral, o espectador questiona-se sobre o futuro de uma invulgar relação familiar que tudo aparenta ter para falhar. "Os acidentes mudam as vidas" diz algures no tempo um "Victor" amargurado. Mas a grande questão coloca-se sobre se podem, ou não, prevenir esses mesmos acidentes impedindo-os de acontecer ao mesmo tempo que se questiona sobre a moralidade de trazer ao mundo um ser que será - a seu tempo - também ele uma vítima do incesto e da imoralidade aos olhos da sociedade...
Num constante dilema Ilegitim apenas se torna mais frágil na ligação entre os diversos momentos deixando uma certa dispersão - ou inconclusão - sobre a relação entre ambos. Parecem momentos vazios. Nunca se chega a uma imediata conclusão sobre a relação entre pai e filhos ou sobre o passado de "Victor". Tão pouca se chega a um desfecho sobre a aceitação da família a respeito desta relação inicialmente tida como imoral mas que repentinamente se abraça como um "acidente" que os mudou e que trouxe mais um fruto inesperado de um amor proibido. Com um conjunto de interpretações que mereciam uma melhor e maior exploração sobre o seu íntimo - e também sobre o seu próprio passado - pois afinal para ali "chegarem" alguém teve de perecer pelo caminho, Ilegitim consegue levantar mais questões do que aquelas que fecha. Explora mais caminhos do que aqueles que encerra deixando, no final, todo um conjunto de questões éticas e morais que apenas o espectador pode - segundo a sua moralidade - responder e finalizar.
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7 / 10
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Ariel 2016 - Academia Mexicana de Cinema: os nomeados

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A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas Mexicanas anunciou os nomeados aos seus prémios - os Ariel - que serão entregues numa cerimónia a realizar no Auditório Nacional, na Cidade do México, no próximo dia 27 de Maio.
E os nomeados são:
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Melhor Filme
600 Millas, de Gabriel Ripstein
Gloria, de Christian Keller
La Delgada Línea Amarilla, de Celso García
Las Elegidas, de David Pablos
Un Monstruo de Mil Cabezas, de Rodrigo Plá
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Melhor Primeira-Obra
600 Millas, de Gabriel Ripstein
El Jeremías, de Anwar Safa
Gloria, de Christian Keller
Hilda, de Andrés Clariond Rangel
La Delgada Línea Amarilla, de Celso García
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Melhor Documentário
El Hombre que Vio Demasiado, de Trisha Ziff
El Paso, de Everardo González
Los Reyes del Pueblo que no Existe, de Betzabé García
Made in Bangkok, de Flavio Florencio
Tiempo Suspendido, de Natalia Bruschtein
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Melhor Filme de Animação
El Americano: The Movie, de Ricardo Arnaiz e Mike Kunkel
La Increíble Historia del Niño de Piedra, de Miguel Ángel Uriegas, Miguel Bonilla, Jaime Romandía e Pablo Aldrete
Un Gallo con Muchos Huevos, de Gabriel Riva Palacio e Rodolfo Riva Palacio
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Melhor Filme Ibero-Americano
El Abrazo de la Serpiente, de Ciro Guerra (Colômbia)
El Clan, de Pablo Trapero (Argentina)
El Club, de Pablo Larraín (Chile)
O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra (Brasil)
Truman, de Cesc Gay (Espanha)
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Melhor Curta-Metragem de Ficção
3 Variaciones de Ofelia, de Paulo César Riqué
24° 51’ Latitud Norte, de Carlos Lenin
Esclava, de Amat Escalante
La Teta de Botero, de Humberto Busto
Malva, de Lucero Sánchez
Trémulo, de Roberto Fiesco
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Melhor Curta-Metragem Documental
Ausencias, de Tatiana Huezo
El Buzo, de Esteban Arrangoiz
Muchacho en la Barra se Masturba con Rabia y Osadía, de Julián Hernández
Por los Caminos del Sur, de Jorge Luis Linares
Tobías, de Francisca D'Acosta
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Melhor Curta-Metragem de Animação
Conejo en la Luna, de Melissa Ballesteros
El Último Jaguar, de Miguel Anaya
Los Ases del Corral, de Irving Sevilla
Tictactópolis, de José Sierra
Zimbo, de Juan José Medina, Rita Basulto
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Melhor Realizador
Gabriel Ripstein, 600 Millas
Anwar Safa, El Jeremías
David Pablos, Las Elegidas
Julio Hernández Cordón, Te Prometo Anarquía
Rodrigo Plá, Un Monstruo de Mil Cabezas
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Melhor Actor
Kristyan Ferrer, 600 Millas
Tim Roth, 600 Millas
Marco Pérez, Gloria
Damián Alcázar, La Delgada Línea Amarilla
Tenoch Huerta, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
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Melhor Actriz
Geraldine Chaplin, Dólares de Arena
Flor Edwarda Gurrola, El Placer es Mío
Sofía Espinosa, Gloria
Verónica Langer, Hilda
Jana Raluy, Un Monstruo de Mil Cabezas
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Melhor Actor Secundário
Noé Hernández, 600 Millas
Gustavo Sánchez Parra, La Delgada Línea Amarilla
Joaquín Cosío, La Delgada Línea Amarilla
Silverio Palacios, La Delgada Línea Amarilla
Emilio Echevarría, Un Monstruo de Mil Cabezas
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Melhor Actriz Secundária
Isela Vega, El Jeremías
Vanessa Bauche, Elvira, Te Daría Mi Vida pero la Estoy Usando
Adriana Paz, Hilda
Alicia Quiñonez, Las Elegidas
Cassandra Ciangherotti, Tiempos Felices
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Revelação Masculina
Martín Castro, El Jeremías
Óscar Torres, Las Elegidas
César R. Suárez Morales, Los Jefes
Alejandro Guerrero S., Sopladora de Hojas
Fabrizio Santini, Sopladora de Hojas
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Revelação Feminina
Yanet Mojica, Dólares de Arena
Karem Momo, El Jeremías
Andrea Ortega Lee, Ella es Ramona
Tatiana del Real, Gloria
Nancy Talamantes, Las Elegidas
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Melhor Argumento Original
Gabriel Ripstein e Issa López, 600 Millas
Ana Sofía Clerici, El Jeremías
Sabina Berman, Gloria
Celso García, La Delgada Línea Amarilla
David Pablos, Las Elegidas
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Melhor Argumento Adaptado
Israel Cárdenas e Laura Amelia Guzmán, Dólares de Arena
Andrés Clariond Rangel, Hilda
Luis Ayhllón, La Extinción de los Dinosaurios
Laura Santullo, Un Monstruo de Mil Cabezas
Matías Meyer e Alexandre Auger, Yo
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Melhor Montagem
Gabriel Ripstein e Santiago Pérez Rocha, 600 Millas
Adriana Martínez e Patricia Rommel, Gloria
Jorge Arturo García, La Delgada Línea Amarilla
Miguel Schverdfinger e Aina Calleja, Las Elegidas
Miguel Schverdfinger, Un Monstruo de Mil Cabezas
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Melhor Fotografia
Martín Boege, Gloria
Emiliano Villanueva, La Delgada Línea Amarilla
Carolina Costa, Las Elegidas
Tonatiuh Martínez, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
María José Secco, Te Prometo Anarquía
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Melhor Música Original
Jacobo Lieberman, El Hombre que Vio Demasiado
Lorne Balfe, Gloria
Daniel Guillermo Zlotnik, La Delgada Línea Amarilla
Carlo Ayhllón, Las Elegidas
Andrés Sánchez Maher, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
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Melhor Guarda-Roupa
Gilda Navarro, Gloria
Mónica Neumaier, Hilda
Gabriela Fernández, La Delgada Línea Amarilla
Daniela Schneider, Las Elegidas
Gilda Navarro, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
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Melhor Direcção Artística
Carlos Jacques, 600 Millas
Bárbara Enríquez, El Jeremías
Julieta Álvarez, Gloria
Daniela Schneider, Las Elegidas
Bárbara Enríquez e Alejandro García, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
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Melhor Som
Alejandro de Icaza e Federico González Jordán, 600 Millas
Matías Barberis, Jaime Baksht e Michelle Couttolenc, Gloria
Sergio Díaz, Jaime Baksht e Gabriel Coll, La Delgada Línea Amarilla
Alejandro de Icaza e Pablo Tamez, Las Elegidas
Alejandro de Icaza e Axel Muñoz, Un Monstruo de Mil Cabezas
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Melhores Efeitos Especiais
Alejandro Vázquez, 600 Millas
Ricardo Arvizu, Alicia en el País de María
José Ángel Cordero, Familia Gang
Alejandro Vázquez, La Delgada Línea Amarilla
Alejandro Vázquez, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
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Melhores Efeitos Visuais
Edgardo Mejía, 600 Millas
Raúl Prado, Edgar Piña e Juan Carlos Lepe, El Jeremías
Raúl Prado, Edgar Piña e Juan Carlos Lepe, Gloria
Miguel de Hoyos, Ricardo Villarreal e Marco Rodríguez, La Delgada Línea Amarilla
Charlie Iturriaga e Natalia de la Garza, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
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Melhor Caracterização
Thal Echeveste, 600 Millas
Nayeli Mora, El Jeremías
David Gameros, Gloria
Adam Zoller, Las Elegidas
Marco Antonio Hernández, Mexican Gangster. La Leyenda del Charro Misterioso
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sábado, 23 de abril de 2016

Boi Neon (2015)

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Boi Neon de Gabriel Mascaro é uma longa-metragem brasileira exibida no decurso do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente a decorrer até ao próximo dia 1 de Maio na capital e um dos grandes sucessos do cinema do país do último ano.
No mundo muito reservado das "vaquejadas" brasileiras, Iremar (Juliano Cazarré) é um homem que se ocupa do tratamento dos bois que vão para as rotineiras competições. Juntamente com Galega (Maeve Jinkings), uma bailarina exótica mãe de Cacá (Alyne Santana), uma jovem pré-adolescente com um espírito muito próprio e Zé (Carlos Pessoa), Iremar percorre as estradas do Nordeste brasileiro com um desejo muito próprio... poder transformar-se estilista num mundo onde a masculinidade aparenta ser o cartão de visita de todos aqueles duros e robustos homens.
Gabriel Mascaro, também autor do argumento deste que será eventualmente um forte candidato brasileiro à próxima edição dos Oscars enquanto Filme Estrangeiro, dá corpo a uma história que primeiro estabelece uma linha que separa o Homem do animal - o primeiro trata e o segundo serve de instrumento de trabalho e veículo de acesso ao rendimento - para, de seguida, conseguir estabelecer entre eles um estranho mas inequívoco paralelo.
Num meio rural e tradicional onde a beleza e qualquer tipo de intelectualidade parecem não ocupar lugar, a força manual e o suor do trabalho parecem os elementos fundamentais para uma anunciada sobrevivência. Ali não existem luxos, brilho de algo novo ou tão pouco as habituais condições de vida que qualquer um de nós tem como adquirido. Neste ambiente de esforço, suor e muito trabalho onde o corpo é símbolo de uma resistência, Boi Neon estabelece um invulgar paralelo entre Homem e animais, suas habilidades ou características. Se por um lado a força física do boi é comparada aquela tida pelo Homem para o controlar, domar e retirar dele o necessário para um espectáculo que lhes garante a sua subsistência, não será menos correcto afirmar que dentro de alguns destes homens - "Iremar" mais concretamente - existe um desejo secreto de poder fazer algo mais de uma vida que parece condenada a uma existência meramente passageira. A elegância - ou excentricidade - dos fatos que "Iremar" cria para os espectáculos de "Galega" são, portanto, comparáveis à graciosidade associada ao cavalo, um animal que se exibe naturalmente conferindo um espectáculo visual digno do mais nobre dos desfiles e, não será ao acaso, a escolha desta última de, nos seus shows, usar a cabeça de um cavalo como o símbolo majestoso do mesmo.
Mas Boi Neon tece ainda outras considerações interessantes, nomeadamente no que diz respeito ao papel de género quando no mais improvável dos meios sociais encontramos um homem - neste caso "Iremar" - disposto a concretizar um desejo num outro mundo bem distante do seu... na moda. "Iremar" é um homem acostumado a deixar-se levar pela força das circunstâncias inerentes ao espaço em que vive. No entanto, mais ou menos secretamente faz os factos para os espectáculos de "Galega", percorre os baldios na tentativa de encontrar manequins que possa vestir e nos quais exibir as suas criações, procura por rabo de boi depois dos espectáculos que, de seguida, pinta para fazer chapéus para acompanhar os fatos que cria, recorre a revistas pornográficas para desenhar os seus modelos, tem conhecimentos de moda, perfumes e demais produtos de beleza sem, no entanto, deixar nos demais uma qualquer aversão aos seus gostos pouco comuns no grupo. "Iremar" desafia silenciosamente o "papel" naturalmente atribuído ao homem transformando-se, ele próprio, no mais imediato veículo para a concretização do seu sonho... por concretizar. Este conflito interno - experimentado e não desconhecido - tem o seu clímax num segmento final em que "Iremar" se encontra com "Geisy" na fábrica de têxteis e onde ambos dão cor e confirmação à paixão momentânea que parecem sentir... na própria mesa de desenho e corte... quão simbólico é este momento que expõe o seu intenso desejo... de criação. Identificação de género que é igualmente colocada em cima da mesa quando temos a única mulher protagonista (Maeve Jinkings) que para lá de assumir o papel de mãe é, também ela, a mecânica de serviço, a condutora da camioneta que transporta os animais e, de certa forma, também a figura paterna (ausente) de uma jovem "Cacá" que em vez de vestidos, bonecas ou escola decide permanecer naquele espaço a acompanhar a sua única referência de família e montar a cavalo.
Mas, Boi Neon não é necessariamente um filme de afirmação de género... A longa-metragem de Gabriel Mascaro é ainda um retrato de uma evolução sócio-económica que se prende com manifestações de transição geográfica. Anteriormente única e exclusivamente classificada como uma zona rural, o Nordeste brasileiro é agora um espaço onde a moda parece abundar e os seus sinais são constantes... desde espaços com capacidade para executar desenho gráfico a manequins abandonados, de venda ambulante de bikinis à presença do grupo na "Cidade Fashion", a transição económica da região faz-se sentir em pequenos elementos que parecem denotar uma mudança na forma de "fazer dinheiro" sem que, no entanto, se percam os valores tradicionais de uma região ligada a outras formas de economia mais rural... A ligação entre as vaquejadas e a moda é clara... quando o "Boi" é - ele próprio - associado ao "Neon"... à cor, às lantejoulas e a uma ideia que em junção... parece surreal. É esta transformação - de género, social, parental, económica e até cultural - que definem a acção de Boi Neon, concentrando no mais tradicional dos ambientes, o centro de toda uma evolução que dá esperanças, consome sonhos e confirma realidades presentes e eventualmente imutáveis.
Atípico para o tradicional road movie, ainda que dele denote alguns elementos nomeadamente a constante viagem (em grupo) onde trocam experiências e se transformam enquanto unidade, Boi Neon é também o espelho de uma família - também ela pouco tradicional - que se forma pela permanente convivência de um grupo de pessoas que para lá do trabalho, partilham uma casa (a camioneta), experiências, educação (não formação) e conhecimentos e até o lugar onde tomam as suas refeições sempre perto dos próprios animais que, de certa forma, acabam por pertencer à mesma "matilha".
Equilibrado no seu elenco, Boi Neon faz destacar naturalmente a figura de Juliano Cazarré não pelo seu "tempo" mas pela importância da sua personagem enquanto elo de ligação entre todos. É ele que serve enquanto figura paternal para "Cacá"... de intermediário entre "Galega" e "Zé" e, em relação a este último, aquele que vai "comandando" as acções tomadas... legais ou não... colocando de forma inconsciente o seu sonho sempre num segundo plano como se de algo irreal se tratasse. Intenso no seu silêncio mas persistente numa vontade inerente e que é percebida pelo espectador, o seu "Iremar" equipara-se facilmente a um espírito livre preso a um mundo que não o deixa caminhar rumo a algo diferente - não necessariamente melhor - mas que poderá corresponder a uma vontade extrema... o tal "sonho" que percebe (algures) não ser facilmente concretizável... se é que alguma vez o será. No seio de um mundo onde as oportunidades não abundam, será possível alguma vez perceber e confirmar o seu verdadeiro "eu"?
Boi Neon confirma portanto, não só a vivacidade do cinema brasileiro que, infelizmente, nem sempre chega perto das salas de cinema portuguesas - uma pena! - como especialmente a criatividade e todo um conjunto de novos cineastas brasileiros, nos quais Gabriel Mascaro se integra com a devida e merecida importância, capazes de criar histórias universais e cruas pela franqueza e honestidade como retratam o mundo... aquele que conhecemos e aquele que agora se apresenta como real.
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Prémio Mestre Mateo - Academia Galega do Audiovisual 2016: os vencedores

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Longa-Metragem: O Descoñecido (Vaca Films, Atresmedia Cine com a participação de TVG)
Série TV: Serramoura (Capítulos14-36) (Voz Audiovisual e TVG)
Programa de TV: Zigzag Diario (TVG)
Interpretação Masculina Protagonista: Luís Tosar, O Descoñecido
Interpretação Feminina Protagonista: Paula del Río, O Descoñecido
Interpretação Masculina Secundária: Javier Gutiérrez, O Descoñecido
Interpretação Feminina Secundária: Elvira Mínguez, O Descoñecido
Comunicador/a de TV: Martín Barreiro, Telediario Territorial Galicia. O Tempo
Série Web: El Método Sueco - Capítulos 2-7 (Porco Bravú)
Curta-Metragem de Ficção: Eco, de Xacio Rodríguez Baño
Curta-Metragem de Animação: O Terceiro Porco, de IES Imaxe e Son
Documentário: Os Días Afogados (Amanita Films e TVG)
Vídeoclip: Buscando a Súperfama (HerdeirosdaCrus) (MissMovies)
Anúncio Publicitario: Imposible sin Ti (Tex45 Producións e Ainé Producións)
Realizador: Dani de la Torre, O Descoñecido
Fotografía: Josu Incháustegui, O Descoñecido
Direcção Artística: Antonio Pereira, Lobos Sucios
Direcção de Produção: Carla Pérez de Albeniz, O Descoñecido
Argumento: Alberto Marini, O Descoñecido
Montagem: Jorge Coira, O Descoñecido
Realização TV: José Villaverde, Land Rober Tunai Show
Música Original: Manuel Riveiro, O Descoñecido
Som: David Machado, Nacho Arenas e Jaime Fernández, O Descoñecido
Guarda-Roupa: Marta Anta, Lobos Sucios
Maquilhagem e Cabelos: Óscar Aramburu e Sabela Sanmartín, Hospital Real - Capítulos 1-15
Prémio de Honra: Xavier Villaverde
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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Retarded 2 (2015)

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Retarded 2 de Lucas Doméjean é uma curta-metragem francesa de ficção presente na Competição Internacional do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente a decorrer até ao próximo dia 1 de Maio.
O realizador Lucas Doméjean em parceria com Grégoire Thomas escrevem o argumento de Retarded 2, uma história muito próxima de um Romeu e Julieta modernos ambientados nos idos anos 80 mas com a especial característica de o ser com um grupo de jovens "tótós".
Não temos casamentos arranjados, nem veneno, divisões familiares violentas ou amores proibidos. Aqui temos, pelo contrário, uma história onde os dois grupos rivais encontram um inesperado ponto de união na relação entre "Laurent" e "Camille", dois jovens membros de clãs diferentes que têm o mesmo amor pela música electrónica.
O palco não é um palacete renascentista mas sim o parque de estacionamento de um qualquer supermercado - cuja publicidade não irá passar por aqui - onde todos se encontram para celebrar inicialmente as suas diferenças mas futuramente o elo que os passa a unir. As discussões não são sobre um qualquer ponto de honra trespassado mas sim sobre a melhor cor para as sombrinhas das bebidas que consomem... azul... rosa...!! Enquanto lá longe, "Laurent" e "Camille" celebram a sua mais recente união com um passeio... de poney.
Imaginemos uma história alternativa. Uma onde todos os protagonistas pareçam estar constantemente numa trip de ácidos, onde o riso domina as suas existências e as suas conversas são tão banalmente desinteressantes que nunca poderiam ofender ou prejudicar quem fosse. Os seus princípios são desconhecidos para o espectador que, por momentos, não percebe se irá ou não simpatizar com estas irreais presenças. Aos poucos percebemos - percebemo-los - enquanto os inofensivos que são e, sem os tais objectivos de vida, são seres que apenas ambicionam divertir-se, ter as suas pequenas festas e música... muita música. Música aliás que, graças à direcção de Charles Miette, se transforma na personagem não silenciosa de Retarded 2 e no motor para as inicialmente improváveis relações e união dos dois (não tão) distintos clãs.
Para estes clãs tudo parece bom e descomplicado. Aliás, todo o ambiente que os rodeia assim o parece. Desde a inexistência de pais que lhes transmitam alguma disciplina aos próprios concertos da aldeia repletos de idosos que se divertem ao som de um DJ, todo o ambiente parece retirado de uma qualquer sociedade pacífica que não existe. E é essa mesma magia que transforma esta invulgar curta-metragem num filme com o qual o espectador simpatiza de imediato, e o clima de romantismo que existe no "ar" confere a todos eles uma certa alma terna e próxima com a qual se cria uma imediata identificação. No seio daquele grupo que parece nada esperar, existe uma alma apaixonada e disponível para o "próximo" que poderia mais não ser do que um rival imaginado e, como tal, um inimigo que se poderia temer.
Conscientemente divertido, Retarded 2 usa habilmente uma inteligente falta de inteligência para demonstrar a ingenuidade, o amor e uma certa união livres de complexos e de ideias pré-concebidas podendo encontrar no mais banal dos momentos uma inesperada alegria de viver.
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8 / 10
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The VVitch: A New-England Folktale (2015)

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A Bruxa de Robert Eggers é uma longa-metragem norte-americana que será exibida na secção Boca do Inferno do IndieLisboa - Festival de Cinema Independente que decorre até ao próximo dia 1 de Maio em várias salas da capital.
William (Ralph Ineson) e Katherine (Kate Dickie) são um casal recentemente chegado da Europa e vivem numa pequena aldeia de New England em meados do século XVII. Cristãos devotos e com uma vida algo segregada da demais comunidade, são convidados a sair ou serem julgados por práticas pouco convencionais.
Quando optam por abandonar a comunidade e abraçar uma nova vida junto da floresta, o casal e os seus cinco filhos esperam uma vida difícil mas segundo os seus propósitos e convicções até que Samuel - o recém nascido - desaparece misteriosamente enquanto à guarda de Thomasin (Anya Taylor-Joy) a filha mais velha prestes a entrar numa idade adulta.
Estará esta família perante um mal maior que se aproxima e testa as suas convicções ou, por sua vez, existirá o próprio mal dentro daquela família disfarçada com rostos inocentes e vindo do mais inesperado dos locais?
Realizador e argumentista de The VVitch: A New-England Folktale, Robert Eggers constrói uma história que tanto pode ter de lenda - pela sua vertente mais mística - como de realidade se analisarmos friamente o que está por detrás deste conto. Recorrendo inicialmente a esta perspectiva, The VVitch: A New-England Folktale é uma história que se centra nos medos mais profundos que se iniciam com as grandes alterações de vida - aqui a emigração - e que se perpetuam com as incertezas inerentes a um novo rumo no desconhecido onde tudo é estranho para quem chega mas, principalmente, quem chega é estranho para tudo o demais que já lá se encontra. Dito isto, esta família chega a um local onde já existem colonos, com leis estipuladas e uma forma de vida dentro das "regras" e normas de procedimento. Na perspectiva de "primeiro que chega é o primeiro que se serve", tudo o que chega em segundo lugar tem, forçosamente, de se formatar a um estilo de vida que já está imposto. Sem que muito seja revelado daquilo que opôs uma comunidade a esta família levando-os a terem de abandonar a comunidade à qual agora deixam de pertencer, as únicas informações que o espectador recebe são que para lá se manterem teriam de "emendar os seus comportamentos" deixando, desde este instante, indicações de que algo já estava errado dentro de uma família aparentemente normal.
É com base nesta perspectiva que podemos, de seguida, juntar alguns elementos que vão sendo lançados com o desenvolvimento desta história e que contrariamente à mudança de grupo se centram exclusivamente na mudança do "eu". Esta mudança, não menos importante e, por vezes, bem mais transformadora sente-se presente em elementos como o fanatismo religioso que os elementos desta família denotam ao considerarem, por exemplo, a sua própria existência como um pecado. Se a sua existência se deve graças a um pecado - sexual - então quem nasce - pais e os cinco irmãos - são todos pecadores pois ali estão como o fruto (ou prova) de que algo aconteceu.
Com a compreensão de que a sua existência se deve graças ao pecado, esta origina igualmente um outro comportamento... a culpa. A culpa de terem abandonado o seu país... a culpa por não serem compreendidos pelos demais... a culpa por serem expulsos... a culpa por desaparecer um filho... a culpa por morrer outro... a culpa pelas colheitas ficarem perdidas... a culpa pela (sua) vida não resultar. A culpa merece um castigo... Uma penalização pela sua existência. A desconfiança instala-se no seio de uma casa onde todos se conhecem mas onde, aparentemente, todos se transformam em estranhos, em raízes de um mal desconhecido e, como tal, algo que tem de ser severamente castigado e punido.
A ansiedade fruto de tudo correr mal gera a mentira - aqui quase sempre contada pela boca de uma criança - e esta, por sua vez, tem como imediata consequência a desconfiança e o medo (num espaço onde só se encontram seis pessoas que desaparecem ou morrer misteriosamente... alguém tem de ser culpado). Finalmente fruto do medo chega uma violência - agora física - onde a punição tem de ser paga através do corpo pois só através desta purga poderá - eventualmente - ser alcançado um bem maior. No final apenas a paranóia parece existir num espaço que está decididamente corrompido.
No entanto, The VVitch: A New-England Folktale entra ainda no campo da fantasia, dos contos populares e da imaginação - ou da incerteza - quando explora a ideia de que existe de facto um "mal", algo desconhecido que se apodera das mentes dos mais fracos, daqueles que cedem mais facilmente fruto de uma mente que se deixa levar pelos contos, pela incerteza do que existe e por lendas e contos místicos que existem "desde sempre". Neste conflito entre Bem e Mal... entre Deus e o Diabo... entre a evolução racional (?) do Homem e a Natureza incólume, encontramos pistas que nos indicam quais poderiam ser os comportamentos desta família e onde se encontra(m) realmente os reais problemas. Aquando da sua saída da comunidade e chegada à floresta, vemos os membros desta família a prestarem culto a uma densa floresta junto da qual começam a construir a sua nova vida e propriedade. Conhecendo (suspeitando) as lendas sobre a existência de uma bruxa... porque motivo se mantêm ali como se nada soubessem? Quando desaparece o jovem "Samuel"... as primeiras indicações para o mesmo foi o poder ter sido levado por um lobo... Elementos estes aos quais se juntam a existência de um coelho que parece transpirar a essência do mal e que indica à família que "têm" de o seguir para se perderem no centro da floresta, o corvo que se alimenta do leite materno - a imoralidade da bestialidade -, a maçã vomitada por "Caleb" como o símbolo máximo do pecado - numa clara referência a Adão e Eva -, as cabras que servem leite como alimento da família, e finalmente a grande surpresa que chega através de "Black Phillip" que lenta e calmamente observa os comportamentos desta família à espera de os comprometer e subjugar aos próprios desejos.
Numa constante subversão do imaginário, The VVitch: A New-England Folktale oscila entre as noções de comunidade, de isolamento, de loucura e de superstição que lentamente apresenta ao espectador o mais puro conto tradicional sobre bruxas, feitiços e morte mas que, no final, explana o mais elementar da Humanidade... todos temos um preço. A única incerteza é saber o quão alto é e o que cada um está disposto a fazer - (in)voluntariamente - para o obter.
The VVitch: A New-England Folktale leva o espectador ao domínio da incerteza durante toda a sua narrativa. (Des)esperamos por compreender se estamos de facto perante uma história sobrenatural ou simplesmente perante uma família que - aos moldes da sociedade do século XXI - seria considerada bizarra pelo seu fanatismo. Quando a revelação chega aquilo que o espectador mais queria era que fossem revelados todos os elementos desse sobrenatural desconhecido e qual o "depois" de uma "ThomaSIN" do qual tanto ficou por dizer e que entrou, ela própria, numa nova fase daquilo a que pode chamar de vida.
Tecnicamente exemplar e com um conjunto de elementos do imaginário do conto popular que o transformar num bem sucedido filme do género, The VVitch: A New-England Folktale apenas não atinge o pleno porque o espectador queria... muito mais. Secretamente... qualquer um de nós acaba por simpatizar - quase em absoluto - com "Black Phillip" que testemunha não só a perda como também a loucura e principalmente a perdição do Homem - a família - subvertendo-os... um a um.
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"Black Phillip: Wouldst thou like to live deliciously?"
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Shortcutz Viseu - Sessão #73

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O Shortcutz Viseu regressa com uma Sessão Especial de Videoclipes integrada na programação do festival de cultura urbana "Viseu_Cult.Urb".
Como Convidado Especial, a Sessão #73 do Shortcutz Viseu irá contar com a presença de Hilário Amorim, editor na galeria do Público - P3, e serão projectados dezenas de videoclipes de vários artistas e bandas.
Para uma noite de cinema em formato "musical", a partir das 22 horas desta sexta-feira, o Carmo'81 é o local indicado para todos se encontrarem.
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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Prince

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1958 - 2016
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quarta-feira, 20 de abril de 2016

Guy Hamilton

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1922 - 2016
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Chyna

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1970 - 2016
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Victoria Wood

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1953 - 2016
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terça-feira, 19 de abril de 2016

Globos de Ouro SIC/Caras 2016: os nomeados

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A XXI edição dos Globos de Ouro da SIC/Caras realiza-se no próximo dia 15 de Maio no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
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Melhor Filme
Amor Impossível, de António-Pedro Vasconcelos
As Mil e Uma Noites - Volume I, II e III, de Miguel Gomes
Montanha, de João Salaviza
Se Eu Fosse Ladrão... Roubava, de Paulo Rocha
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Melhor Actor
Adriano Luz, As Mil e Uma Noites - Volume I, O Inquieto
David Mourato, Montanha
José Mata, Amor Impossível
Paulo Pires, A Uma Hora Incerta
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Melhor Actriz
Beatriz Batarda, Yvone Kane
Crista Alfaiate, As Mil e Uma Noites - Volume I, II e III
Luísa Cruz, As Mil e Uma Noites - Volume II, O Desolado
Victória Guerra, Amor Impossível
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Ronit Elkabetz

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1964 - 2016
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People I Know (2002)

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Gente Conhecida de Dan Algrant é uma longa-metragem norte-americana que se centra no lado não tão glamouroso das celebridades.
Eli Wurman (Al Pacino) é um relações públicas decadente que sobrevive graças à generosidade de algumas estrelas que ajudou no passado e que ainda confiam nos seus contactos. Eli tenta organizar um evento de apoio a refugiados mas nem todos lhe dão a atenção que ele espera.
Durante dois dias acompanhamos as relações de Eli no seu meio dito habitual, como ele se movimenta e como denota uma evidente decadência fruto da sua dependência de drogas mas que tenta esconder para manter a sua credibilidade. Jilli Hopper (Téa Leoni) é uma actriz e acompanhante de luxo que tem os seus próprios planos de vida de sucesso... Mas estes planos - nos quais Eli se vê involuntariamente envolvido - firmam-se à custa de homens muito poderosos...
O argumento de People I Know da autoria de Jon Robin Baitz vive da revelação sobre o outro lado da fama. Aquele lado que escondido do brilho de uma vida de sucesso, de luxo e de satisfação económica no qual todos estes potenciais "valores" servem única e exclusivamente para fazer (sobre)viver um conjunto de dependências e de boémias que, a curto prazo, reclamam as vidas daqueles que por elas se deixam levar.
Se inicialmente o espectador assiste a um lado bonito da fama, não deixa de ser também retratado aquele instante em que na realidade ninguém "de topo" quer realmente saber do que acontece no outro lado do mundo ou, tão pouco, àqueles que estando do outro lado da rua se encontram privados de liberdade ou afectados por uma qualquer carência. "It's him... not me" poderia ser um eventual slogan da realidade que People I Know tenta retratar. É este lado da fama, aparentemente bonito e cheio de "brilho" mas que está, por sua vez, embrenhado numa espiral de decadência onde a chantagem, o crime, a droga e o lado negro da boémia são, efectivamente, reis e senhores.
É no seio desta vida que espelha uma opulência glamourosa mas que esconde, na realidade, todos os podres daqueles que nela co-habitam que People I Know tenta, de facto, retratar. Um conjunto de vidas que vivem de favores que nunca serão satisfeitos, de compromissos que nunca se irão concretizar ou mesmo de aparentes vontades que, na realidade, mais não são do que breves momentos que ficam perfeitos numa fotografia que apenas irá ser recordada mais tarde como "algo" que fica bem no curriculum daqueles que se mantêm mais tempo no topo mas que para os demais não passou de uma frivolidade que em tempos sonharam e que nunca se concretizou graças a essa incessante cadeia de favores nunca firmados.
People I Know mostra ainda um lado mais obscuro... Aquele onde apenas sobrevivem os mais aptos. Aquele momento em que estando todos em jogo apenas resistem os que têm uma boa mão ou um excelente bluff sendo todos os demais eliminados por incumprimento de um conjunto de "regras" impostas não pelo jogo em si mas sim por aqueles que o mantêm vivo graças ao seu poder e influência. Desta forma, todos os que pretendem deixar o jogo ou viciá-lo à sua própria maneira na esperança de que isso lhes confira uma vida melhor - esquecendo por momentos como lá tentaram ou conseguiram chegar - estão automaticamente eliminados pois há sempre alguém com uma mão maior. O jogo está viciado desde o primeiro instante... há que aceitá-lo para jogar ou definhar enquanto se espera pela "big break"... que nunca chegará.
Com um conjunto de nomes notáveis da Sétima Arte norte-americana como Kim Basinger e yan O'Neal são, no entanto, Téa Leoni e a sua breve interpretação como a oportunista de momento que tenta dar um passo maior do que aquele que as suas pernas permitem e Al Pacino como um decadente relações públicas que se esqueceu que o seu tempo já terminou há muito, aqueles que dominam People I Know desde o primeiro instante. Se Leoni tem uma breve interpretação - embora determinante - na qual se expõe como a mulher desesperada à procura do seu lugar ao sol - mesmo que há custa de outros e pouco pelo seu mérito -, não deixa de ser um facto que embora consiga uma das suas mais bem construídas personagens (embora com um fim trágico), People I Know não conseguiu ser o filme que a catapultou para um lugar mais proeminente na indústria que a sua "Jilli" lhe poderia ter conferido. Leoni arrisca tudo e entrega um desempenho sólido enquanto uma mulher no limite... A sua personagem sente e percebe já nada ter a perder e tudo o que faça não a irá condenar à indiferença. "Jilli" é uma mulher que - sente - todos irão recordar nem que para tal ela tenha de aparecer frente àqueles com quem pretende "jogar". Sendo tão vulnerável e exposta quanto o jogo que pretende jogar... "Jilli" está, desde o primeiro instante, condenada por não ter mais cartas para lançar na mesa.
Por sua vez é Al Pacino que domina este filme, na medida em que se assume desde cedo como o rosto de um homem decadente. A deterioração de "Eli" é visível desde os primeiros instantes e o espectador percebe que aquela imagem frágil e inconstante está longe da glória que todas as fotografias do seu escritório registam do (seu) passado. Ainda que não se consiga antever o seu "final", People I Know expõe uma clara decadência física e moral de "Eli" resultado de todos os seus excessos e rituais de boémia pelos quais se deixou - e deixa - levar e que são momentaneamente interrompidos por um (último) acto nobre que tenta concretizar expondo o seu lado humanista e defensor dos direitos civis mas que - tal como tudo o demais - parece poder ser abafado por um conjunto de pessoas pouco dispostas a viver os seus "caprichos".
Não sendo um filme memorável e exibindo um acentuado excesso de personagens que, na sua maioria, apenas servem um propósito de revelar que um homem pode estar francamente solitário junto a uma multidão, People I Know tenta forçosamente expôr um mundo de aparências, de momentos fugazes e de promessas que nunca serão cumpridas. Um mundo escuro - por vezes negro demais - no qual apenas sobrevivem aqueles que estão dispostos a entrar no "jogo" e comprometer aquilo que mais tarde irão chamar de alma. No final, People I Know sofre do mesmo problema que as personagens que o povoam... mais tarde, irá alguém recordá-lo?!
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"Victoria Gray: Is that what we're doing, E? We're surviving?
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Eli Wurman: Don't underestimate it; it's harder than it looks."
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6 / 10
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