sexta-feira, 31 de julho de 2015

Gerald S. O’Loughlin

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1921 - 2015
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Roddy Piper

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1954 - 2015
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Shortcutz Viseu - vencedor do mês de Junho

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A curta-metragem Margem, de Miguel Pereira foi a vencedora do mês de Junho do Shortcutz Viseu.
Margem torna-se portanto na mais recente nomeada ao Prémio Shortcutz Viseu de Melhor Curta do Ano na segunda cerimónia a realizar a 12 de Setembro próximo, competindo para este galardão com as curtas-metragens Salomé, de Sofia Bairrão, Bicho, de Carlos Jesus e Miguel Munhá, Cigano, de David Bonneville, Pela Boca Morre o Peixe, de João P. Nunes, Boy, de Bruno Gascon, Contactos 2.0, de Bernardo Gomes de Almeida e Rodrigo Duvens Pinto, Bodas de Papel, de Francisco Antunez, O Reino, de Paulo Castilho, Não são Favas, são Feijocas, de Tânia Dinis, Dédalo, de Jerónimo Ribeiro Rocha e Mulher.Mar., de Filipe Pinto e Pedro Pinto que foi a vencedora do passado mês de Maio.
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quarta-feira, 29 de julho de 2015

The Zone em Houston premeia Anjo (Negro)

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O The Zone Space City's SCI Fan Film Pace & Film Festival realizado em Houston, nos Estados Unidos, premiou a curta-metragem portuguesa Anjo (Negro), de Pedro Horta com o prémio de Melhor Actriz para Sofia Reis.
Anjo (Negro) conta-nos a história de "Ana" (Sofia Reis), uma bailarina que cai num abismo de emoções enquanto faz os ensaios de dança ao som do Lago dos Cisnes de Tchaikovsk.
A curta-metragem de Pedro Horta registou a sua antestreia na  II Mostra de Cinema da Peace and Art Society que decorreu em Faro em Julho de 2014 e consegue agora o seu primeiro prémio num festival de cinema internacional.
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Festival Internacional de Cinema de Veneza 2015: Selecção Oficial

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Competição Oficial
11 Minutes, de Jerzy Skolimowski (Polónia)
A Bigger Splash, de Luca Guadagnino (Itália/França)
Abluka, de Emin Alper (Turquia/França/Qatar)
Anomalisa, de Charlie Kaufman e Duke Johnson (EUA)
L'Attesa, de Piero Messina (Itália)
Beasts of No Nation, de Cary Fukunaga (EUA)
Behemoth, de Zhao Liang (China/França)
El Clan, de Pablo Trapero (Argentina(Espanha)
The Danish Girl, de Tom Hooper (EUA/Reino Unido)
Desde Allá, de Lorenzo Vigas (Venezuela/México)
The Endless River, de Oliver Hermanus (África do Sul/França)
Equals, de Drake Doremus (EUA)
Francofonia, de Aleksander Sokurov (França/Alemanha/Holanda)
Heart of a Dog, de Laurie Anderson (EUA)
L'Hermine, de Christian Vincent (França)
Looking for Grace, de Sue Brooks (Austrália)
Marguerite, de Xavier Giannoli (França/República Checa/Bélgica)
Per Amor Vostro, de Giuseppe M. Gaudino (Itália/França)
Rabin, the Last Day, de Israel/França)
Remember, de Atom Egoyan (Canadá/Alemanha)
Sangue del Mio Sangue, de Marco Bellocchio (Itália)
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Secção Oficial - Fora de Competição
Everest, de Baltasar Kormakur (EUA/Reino Unido) - abertura
Mr. Six, de Hu Guan (China) - encerramento

Ficção
Go With Me
, de Daniel Alfredson (EUA/Canadá/Suécia)
Non Essere Cattivo
, de Claudio Caligari (Itália)
Black Mass
, de Scott Cooper (EUA)
Spotlight
, de Thomas McCarthy (EUA)
La Calle de la Amargura
, de Arturo Ripstein (México/Espanha)
The Audition
, de Martin Scorsese (EUAstados Unidos)
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Não-Ficção
Winter on Fire
, de Evgeny Afineevsky (Ucrânia)
De Palma
, de Noah Baumbach e Jake Paltrow (EUA)
Janis
, de Amy Berg (EUA)
The Event
, de Sergei Loznitsa (Holanda/Bélgica)
Gli Uomini di Questa Città io non li Conozco
, de Franco Maresco (Itália)
L’Esercito piu Piccolo del Mondo
, de Gianfranco Pannone (Vaticano/Itália/Suíça)
Afternoon, de Tsai Ming-liang (Taiwan)
In Jackson Heights, de Frederick Wiseman (EUA)
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Sessão Especial
Human
, de Yann Arthus-Bertrand (França)
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Orizzonti
Madame Courage, de Merzak Allouache (Argélia/França)
A Copy of My Mind, de Joko Anwar (Indonésia/Coreia do Sul)
Pecore in Erba, de Alberto Caviglia (Itália)
Tempete, de Samuel Collardey (França)
The Childhood of a Leader, de Brady Corbet (Reino Unido/Hungría/Bélgica/França)
Italian Gangster, de Renato De Maria (Itália)
Wednesday, May 9, de Vahid Jalilvand (Irão)
Mountain, de Yaelle Kayam (Israel)
A War, de Tobias Lindholm (Dinamarca)
Interrogation, de Vetri Maaran (India)
Free in Deed, de Jake Mahaffy (EUA/Nova Zelândia)
Boi Neon, de Gabriel Mascaro (Brasil/Uruguai/Holanda)
Man Down, de Dito Montiel (EUA)
Why Hast Thou Forsaken Me?, de Hadar Morag (Israel/França)
Un Monstruo de Mil Cabezas, de Rodrigo Pla (México)
Mate-me Por Favor, de Anita Rocha Da Silveira (Brasil/Argentina)
Taj Mahal, de Nicolas Saada (França/Bélgica)
Interruption, de Yorgos Zois (Grécia/França/Croácia)
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Semana Internacional da Crítica
Ana Yurdu, de Senem Tüzen (Turquia/Grécia)
Bagnoli Jungle, de Antonio Capuano (Itália)
Banat (Il Viaggio), de Adriano Valerio (Itália/Roménia/Bulgária/Macedónia)
Jia, de Liu Shumin (China/Austrália)
Kalo Pothi, de Min Bahadur Bham (Nepal/Alemanha/Suíça/França)
Light Years, de Esther May Campbell (Reino Unido)
Montanha, de João Salaviza (Portugal/França)
Orphans, de Peter Mullan (Reino Unido)
The Return, de Green Zeng (Singapura)
Tanna, de Martin Butler e BEntley Dean (Austrália/Vanuatu)
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Giornate degli Autori
La Memoria del Agua, de Matías Bize (Chile)
A Peine j’Ouvre les Yeux
, de Leyla Bouzid (França/Tunísia/Bélgica)
Viva la Sposa
, de Ascanio Celestini (Itália/França/Bélgica)
Klezmer
, de Piotr Chrzan (Polónia)
El Desconocido
, de Dani de la Torre (Espanha)
Arianna
, de Carlo Lavagna (Itália)
La Prima Luce
, de Vincenzo Marra (Itália/Chile)
Island City
, de Ruchika Oberoi (India)
Early Winter
, de Michael Rowe (Austrália/Canadá)
Underground Fragrance
, de Song Peng Fei (França/China)
The Daughter
, de Simon Stone (Austrália)
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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Encontros Internacionais de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia - AVANCA 2015: os vencedores

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Cinema
Longa-Metragem: Jalal's Story, de Abu Shahed Emon (Bangladesh)
Menções Especiais: Bereave, de Evangelos Giovanis e George Giovanis (EUA), La Distancia, de Sergio Caballero (Espanha) e After the War... Before the War, de Igor Korablev, Kristina Cevich e Galina Krsnoborova (República Checa/Rússia)
Documentário: Pov Inventod - Ecos di Cap Verd, de Juan Meseguer (Portugal/Espanha/Cabo Verde)
Animação: The Street Artist, de Mahmoud Hindawi (Jordânia)
Curta-Metragem: Acabo de Tener un Sueño, de Javi Navarro (Espanha)
Menção Especial: Blue Eyed Boy, de Amir Masoud Soheili (Irão)
Actor: Mosharraf Karim, Jalal's Story
Actriz: Irina Demich, After the War... Before the War
Fotografia: Marc Gómez del Moral, La Distancia
Menção Especial - Fotografia: Francisco Vidinha, Deus Providenciará
Prémio Estreia Mundial: Deus Providenciará, de Luís Porto (Portugal) e Pov Inventod - Ecos di Cap Verd, de Juan Meseguer (Portugal/Espanha/Cabo Verde)
Menção Especial da Competição Avanca: África Abençoada, de Aminata Embaló (Portugal/Guiné-Bissau)
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Televisão
Prémio Televisão: L'Homme qui Répare les Femmes - la Colère d'Hippocrate, de Thierry Michel (Bélgica) e The Dream of Shahrazad, de François Verster (Turquia/Egipto/África do Sul/Holanda/França)
Menção Especial: Madgermanes, de Malte Wandel (Alemanha)
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Vídeo
Prémio Vídeo: A Adorável Dor de Nunca te Ter, de Patrícia Adão Marques e Nuno Figueiredo (Portugal)
Prémio Estreia Mundial: Lermontov, de Maksim Bespalyi (Rússia)
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Trailer in Motion
Trailer: Pov Inventod - Ecos di Cap Verd, de Juan Meseguer (Portugal/Espanha/Cabo Verde)
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Videoclip
Videoclip: "Breakapart", de Acollective, por Noam Sharon e Tal Zagreba (Israel)
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Prémio Eng. Fernando Gonçalves Lavrador: Fátima Chinita
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sábado, 25 de julho de 2015

Mr. Holmes (2015)

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Mr. Holmes de Bill Condon é uma longa-metragem britânica situada em 1947 quando um já idoso Sherlock Holmes (Ian McKellen) vive retirado dos olhares públicos numa casa no campo acompanhado pela sua empregada Mrs. Munro (Laura Linney) e o seu jovem filho Roger (Milo Parker), também ele com as suas tendências para grandes mistérios.
Sherlock é um homem atormentado por uma memória que lentamente se desvanece enquanto tenta recordar um caso do seu passado que nunca chegou a resolver. Por entre fragmentos de memórias de uma misteriosa mulher e o elo que com ela estabeleceu, Holmes agora afastado da sua vida activa tem então que se debater com a sua frágil existência e as suas memórias enquanto aquele que fora o seu período como o maior detective do mundo.
Qualquer desculpa é suficiente para ver brilhar um intenso e sempre magnífico Ian McKellen aqui como o maior detective da história da literatura - e também do cinema - cuja memória e poder de dedução e investigação conseguiu desvendar os mais complicados mistérios e assassinatos. No entanto, agora na sua pacata propriedade do Sussex, "Holmes" é um homem atormentado pela solidão, pelo passar dos anos e principalmente pela galopante perda de memória que o condiciona a uma ínfima parte do homem que em tempos fora.
Isolado e apenas na companhia de da empregada "Mrs. Munro" (Laura Linney) e do filho desta "Roger" que se assume como uma inesperada surpresa enquanto investigador que segue as suas pisadas, "Holmes" desenvolve em relação a ambos uma empatia crescente ao mesmo tempo que o seu velho e fiel "Watson" (Colin Starkey) criava todo um enredo tentado para o auxiliar a manter e exercitar a memória mantendo-o num suspenso equilíbrio enquanto não dissipava a sua imagem enquanto o "Sherlock Holmes" que toda a Inglaterra conhecera. Esta relação com "Munro" foi, no entanto, o melhor antídoto para esse esquecimento transportando-o pela sua própria memória e pelo seu passado onde recorda não só uma grande e forte amizade como também um dos maiores crimes para os quais não conseguira resolver.
Por entre as memórias de um passado marcado pela glória, mas também pela perda, o espectador recebe esta imagem de um "Holmes" num pleno de decadência emocional e psicológica brilhantemente interpretada por um dos maiores actores no activo. McKellen representa essa queda emocional e psicológica com mestria dignificando não só o vulto do homem enquanto um antigo detective como principalmente a sua etapa agora numa idade mais avançada onde a mesma se reflecte em todas as suas fragilidades e, dessa forma, conferir-lhe uma magnífica humanidade que não surpreende o espectador - afinal falamos do actor que falamos - mas sim, conquista o espectador pela sua composição e dignidade com a qual o encarna.
Não esquecendo nenhum dos demais actores, e muito concretamente Laura Linney que actua aqui como o suporte indispensável para esta humanização da decadência psicológica, McKellen consegue cativar todos os momentos "dentro e fora" do ecrã - afinal, quantos de nós esperariam ver "Magneto" numa tão frágil debilidade?! - e Bill Condon, com quem já havia trabalhado em Gods and Monsters (1998) volta a retirar do actor uma das suas personagens dramáticas mais emblemáticas dos últimos tempos. Ainda que se fale do actor para a nomeação ao Oscar o que, pessoalmente, acho muito difícil dada a pouca mediatização desta obra, McKellen conquista o ecrã, a história e sobretudo o espectador que se rende à sua presença.
Com uma componente técnica de excelência - do guarda-roupa à caracterização, da direcção artística à direcção musical de Carter Burwell - o potente argumento de Mr. Holmes da autoria de Jeffrey Hatcher dignifica o homem na sua decadência, conferindo-lhe nobreza, humanidade e integridade que apenas poderiam ser interpretadas por um actor icónico e de excelência como o é Ian McKellen para quem a imortalidade está, obviamente, conquistada.
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"Sherlock Holmes: There seems to be an outbreak of mortality."
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7 / 10
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Impact (2014)

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Impact de Jean-Pierre Michael é uma curta-metragem francesa de ficção muito original e que graças ao seu elaborado argumento confunde o espectador desde o primeiro instante.
Numa casa uma mulher faz uma rigorosa investigação a um quarto onde recolhe provas e evidências de um qualquer crime. No entanto, rapidamente o espectador percebe qual a real dimensão desta perigosa investigação...
De forma muito engenhosa Jean-Pierre Michael entrega ao espectador uma curta-metragem que é, por si só, todo um mundo televisivo unido em breves minutos ao conseguir unir várias séries televisivas conhecidas de todos nós num único enredo que só peca pela brevidade geral deste filme curto.
Desde o CSI até NCIS com breve passagem pela mais famosa série de animação como o são The Simpsons, Impact é o resultado de um verdadeiro "impacto" que as referidas séries tiveram na vida - televisiva - diária de milhões de espectadores que as seguem de forma religiosa e que conferem - para lá de qualquer entretenimento - momentos ritualísticos que fazem parte da vida de todos nós.
De forma brilhante aquela especialista criminal - num magnífico registo de Cécile Bois - é transformada naquele que é provavelmente o mais importante desempenho - real e televisivo - de todos os tempos conferindo toda uma dimensão sobre-humana à sua personagem que, quando descoberta, "agarra" o espectador deixando-o rendido aos seus reais propósitos.
Inteligente e bem estruturada, Impact é uma das mais engenhosamente construídas curtas-metragens do género "fantástico" dos últimos tempos.
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8 / 10
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La Gorra (2014)

La Gorra de Sebastian Vaina é uma curta-metragem argentina de ficção que relata a grande odisseia de uma bóina pelas ruas de uma cidade até chegar ao polícia que se esqueceu dela.
A premissa desta curta-metragem ainda que interessante e com leves traços de uma comédia bem disposta e bem pensada não deixa, no entanto, de denotar uma execução frágil e francamente amadora que prejudica a sua recepção por parte do espectador ao qual se acresce alguma fragilidade técnica nomeadamente na "vida" dada à respectiva bóina.
Simpática, mas longe de ser memorável, La Gorra apenas triunfa na sua premissa que não é, infelizmente, executada na perfeição desejada.
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4 / 10
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La Maldición (2014)

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La Maldición de Álvaro Rozas é uma curta-metragem chilena de ficção que nos remete para uma estranha e isolada estrada onde um casal em viagem vive todos os dias o início e o fim da sua relação.
Ele (Rodrigo Pincheira) encontra-se ferido à frente do carro d'Ela (Carolina Pinto). Ela socorre-o... Chegará a tempo?!
Numa curta viagem sobre a potencialidade - ou falta dela - de uma relação, La Maldición tenta estabelecer uma relação entre a "vida" de um relacionamento entre um casal e aquela que se faz numa viagem por uma qualquer estrada mais ou menos abandonada. Caminho esse que poderá ser mais ou menos acidentado e do qual poderão ou não sobreviver.
Ainda que a intenção desta analogia possa parecer interessante e resultar conseguindo assim contar uma história, não é menos verdade que o óbvio de todo este argumento sai prejudicado com uma pobre execução técnica da mesma, ou seja, se o argumento já de si é frágil, a demais construção deste trabalho não ajuda a que lhe seja entregue qualquer credibilidade nomeadamente se pararmos para pensar na debilidade da captação de som e da direcção de fotografia que tornam o "escuro" quase imperceptível.
Relativamente interessante pela premissa e pela tentativa da sua construção mas francamente fraca na sua execução fazem de La Maldición um trabalho assumidamente aprendiz e dispensável.
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3 / 10
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sexta-feira, 24 de julho de 2015

Doce Lar (2014)

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Doce Lar de Nuno Baltazar - também argumentista - é uma curta-metragem portuguesa de ficção que remete o espectador para um complexo prisional abandonado onde um Homem (Adriano Carvalho) vive.
Sem qualquer tipo de condições mínimas de habitabilidade, este Homem sobrevive como um animal selvagem recorrendo à protecção daquelas paredes para se manter afastado do frio e da chuva que fazem na rua. Mas é quando a sua tranquilidade e segurança são afectadas que o verdadeiro animal dentro dele sente ter de defender o seu espaço.
Sem grandes artifícios, Nuno Baltazar recria um ambiente físico e psicológico que prima pela rudeza dos mesmos para delinear aquilo que esperamos a nível comportamental da personagem principal, ou seja, torna-se evidente para o espectador que aquele homem - Adriano Carvalho - é alguém que se encontra ausente dos parâmetros ditos normais da sociedade há muito tempo e que é naquele espaço esquecido e abandonado - de certa forma tal como ele - que encontra o seu lugar por onde o tempo e principalmente a presença humana não passam.
Os seus comportamentos tornam-se - pensamos nós - cada vez mais básicos e primários, movimentando-se apenas com a premissa de que aquilo que faz é unicamente com o intuito de sobrevivência e auto-preservação; protege-se da chuva e do frio para não ficar doente, alimenta-se e nutre-se o suficiente para resistir e os seus cuidados de higiene são, também eles, os mais elementares para garantir a sua preservação.
O espaço à sua volta está, tal como ele, abandonado e esquecido. Aos poucos tudo se degrada e aquela prisão mais não é do que uma representação edificada dele próprio. Paredes altas que o isolam do exterior, este Homem é, também ele, alguém afastado das influências externas e que está invisível para o mundo. Dia após dia ele não aparenta ter grandes propósitos ou missões... resiste, sobrevive e avança no tempo como uma memória apagada daquilo que em tempos poderá ter sido mas são aquelas paredes e muros que formam o seu espaço, a sua segurança e, de certa forma, aquilo que qualquer um poderá imaginar como o seu "lar". Cada parede é uma segurança e cada porta um caminho para circular no seu castelo... a grande questão chega quando o mesmo se sente ameaçado por influências externas que agora parecem não querer dali sair.
O que faz um animal quando se sente encurralado? Como reage quando sente o seu espaço invadido por um potencial agressor mais forte ou melhor preparado? O que acontece quando a forma de comunicar entre ambos parece ser tão diferente mas, ao mesmo tempo, tão distinta? E finalmente, o que acontece quando o "eu" parece tão diferente do "outro" estando nessa diferença o segredo para a "minha" sobrevivência?
Nuno Baltazar cria com a direcção e argumento de Doce Lar uma história e um ambiente que levam o espectador a pensar não só sobre questões relativas à comunicação como principalmente o que acontece quando o "Homem" está privado da interacção com o seu semelhante. No fundo, o que aconteceria se qualquer um de nós estivesse sem o contacto com o seu semelhante tendo única e exclusivamente acesso aos seus pensamentos e a uma linha condutora cujo fim primeiro e último fosse a sua própria subsistência. O que aconteceria quando elementos externos viessem abalar esse princípio e até o colocassem em causa ameaçando essa tal existência - por mais primária que se apresentasse - e até que ponto estaria qualquer um disposto a ir para a defender e manter!
Com uma intensa interpretação de Adriano Carvalho que escapa à expressão sentimental dando lugar ao lado irracional de qualquer animal sob uma ameaça latente, Doce Lar é ainda um portento nas suas componentes técnica que transformam aquela prisão não só no já mencionado lar como também num labirinto de emoções aprisionadas que contém para lá das memórias de um homem esquecido, as suas frustrações, desejos e seguranças derivadas do medo, do aprisionamento e principalmente da loucura.
Executada na perfeição está ainda a caracterização a cargo de Rute Alves que literalmente transforma Adriano Carvalho num farrapo humano e a direcção artística de Rui Pina que confere às quatro paredes daquela prisão o conforto e segurança de um lar fortaleza que tudo providencia como também, os corredores da loucura por onde se perde uma mente humana.
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8 / 10
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CineAvante! - Festa do Avante 2015

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A Festa do Avante está de volta e com ela o CineAvante! segmento cinematográfico da Festa que é já uma das suas referências. Junto ao Espaço Central, os visitantes têm a possibilidade de encontrar num mesmo espaço o que de melhor e mais actual se tem feito no cinema português bem como alguns clássicos de homenagem ao recentemente desaparecido realizador Manoel de Oliveira e algumas obras internacionais.
Assim de 4 a 6 de Setembro na Atalaia podemos contar com a exibição dos seguintes filmes (curtas e longas-metragens):.
  1. Alda, de Ana Cardoso, Luís Catalo, Filipe Fonseca e Liliana Sobreiro
  2. Alentejo, Alentejo, de Sérgio Tréfaut
  3. Branco, de Luís Alves
  4. Douro, Faina Fluvial, de Manoel de Oliveira
  5. Os Gatos não têm Vertigens, de António-Pedro Vasconcelos
  6. Idi i Smotri, de Elem Klimov
  7. Kora, de Jorge Carvalho
  8. Os Maias - Cenas da Vida Romântica, de João Botelho
  9. Nazaré, de Manuel Guimarães
  10. Othon, de Guillaume Pazat e Martim Ramos
  11. Pára-me de Repente o Pensamento, de Jorge Pelicano
  12. Privatizações - A Distopia do Capital, de Silvio Tendler
  13. Provas, Exorcismos, de Susana Nobre
  14. Terra 2084, de Nuno Sá Pessoa
  15. Tesouras e Navalhas, de Hernâni Duarte Maria
  16. O Velho do Restelo, de Manoel de Oliveira
  17. VideoClube, de Ana Almeida
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Prémio LUX 2015: os nomeados

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Foram hoje anunciados em conferência de imprensa pelo Primeiro Vice-Presidente do Parlamento Europeu Antonio Tajani e pela Presidente do Comité de Cultura e Educação Silvia Costa, os três finalistas ao Prémio LUX atribuído pela referida instituíção.
Mediterranea, de Jonas Carpignano (Itália/EUA/Alemanha/França/Qatar), Mustang, de Deniz Gamze Ergüven (França/Alemanha/Turquia/Qatar) e finalmente Urok, de Kristina Grozeva e Petar Valchanov (Bulgária/Grécia) são assim os três finalistas de uma listagem de pré-seleccionados anunciada no início deste mês.
Como é habitual, os três finalistas irão passar pelo Festival Internacional de Cinema de Veneza e entrar em digressão pelos 28 países da União Europeia entre Outubro e Dezembro, tendo como objectivo o ultrapassar de barreiras geográficas e linguísticas através da Europa sendo legendados nas 24 línguas oficiais da União Europeia.
As três obras seleccionadas são primeiras-obras dos respectivos realizadores e abordam temáticas relevantes no continente como, por exemplo, a imigração Mediterrânica em busca de liberdade e segurança na obra de Carpignano, a representação de uma sociedade de clausura feminina dominada pelo poder masculino sob a influência dos costumes tradicionais locais na obra de Ergüven e ainda como as adversidades económicas podem destruir uma calma e confortável existência no meio escolar, através da obra de Grozeva e Valchanov.
A 25 de Novembro, e através do voto dos deputados ao Parlamento Europeu, será anunciado o vencedor do Prémio LUX 2015 e estará ainda sujeito ao Prémio do Público que será anunciado na próxima edição do Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, na República Checa.
Os últimos vencedores do Prémio LUX são Ida, de Pawel Pawlikowski (2014), The Broken Circle Breakdown, de Felix van Groeningem (2013) e Io Sono Li, de Andrea Segre (2012).
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Cavalo Dinheiro premiado em Munique

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Cavalo Dinheiro, a mais recente longa-metragem de Pedro Costa recebeu no fim-de-semana passado o Prémio Arri/Osram entregue ao Melhor Filme Internacional no Festival de Cinema de Munique.
De destacar que Cavalo Dinheiro estava em competição juntamente com a trilogia As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes e Louder than Bombs, de Joachim Trier ambas presentes na última edição do Festival Internacional de Cinema de Cannes e ainda Pasolini, de Abel Ferrara que conta com a participação de Maria de Medeiros.
Este prémio junta-se assim a uma já extensa lista de galardões recebidos por Cavalo Dinheiro num trajecto que se iniciou em Locarno em Agosto de 2014 tendo também recebido a indicação como um dos melhores títulos do último ano nas mais variadas publicações jornalísticas internacionais de cinema.
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quinta-feira, 23 de julho de 2015

José Sazatornil

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1925 - 2015
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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Festival Ibérico de Cinema 2015: os vencedores

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Prémios Onofre
Curta-Metragem: El Abrazo, de Iñaki Sánchez
Segundo Prémio Curta-Metragem: Los Huesos del Frío, de Enrique Leal
Prémio do Público: 40 Aniversario, de J. Enrique Sánchez
Prémio CEXECI do Júri Jovem: Fuligem, de David Doutel e Vasco Sá
Realizador: Alex Juliá, Line Up
Argumento: Iñaki Sánchez, El Abrazo
Actor: Canco Rodríguez, Cuentas y Cuentos
Actriz: Alba Baptista, Miami
Música Original: Xabier Erkizia e Gianmarco Serra, Sailor’s Grave
Fotografía: José Antonio Muñoz “Nono”, Los Huesos del Frío
Prémio Especial de Animação: Fuligem, de David Doutel e Vasco Sá
Prémio Filmoteca de Extremadura - Curta-Metragem Extremeña: Amigas Íntimas, de Irene Cardona
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domingo, 19 de julho de 2015

Prémios Platino 2015: os vencedores

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Filme Ibero-Americano de Ficção: Relatos Salvajes, de Damián Szifrón
Primeira-Obra: La Distancia más Larga, de Claudia Pinto
Documentário: O Sal da Terra, de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders
Filme de Animação: O Menino e o Mundo, de Alê Abreu
Realizador: Damián Szifrón, Relatos Salvajes
Actor: Óscar Jaenada, Cantinflas
Actriz: Érica Rivas, Relatos Salvajes
Argumento: Damián Szifrón, Relatos Salvajes
Montagem: Pablo Barbieri e Damián Szifrón, Relatos Salvajes
Fotografia: Alex Catalán, La Isla Mínima
Música Original: Gustavo Santaolalla, Relatos Salvajes
Direcção Artística: Clara Notari, Relatos Salvajes
Som: José Luis Díaz, Relatos Salvajes
Platino de Honra: Antonio Banderas
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sábado, 18 de julho de 2015

Alex Rocco

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1936 - 2015
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George Coe

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1929 - 2015
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sexta-feira, 17 de julho de 2015

'71 (2014)

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'71 de Yann Demange é uma longa-metragem britânica de ficção nomeada para dois BAFTA - Filme Britânica e Revelação do Ano - cuja acção se centra em acontecimentos ficcionados de uma Belfast no início dos anos 70 dominada pelos confrontos entre a Coroa Britânica e os apoiantes do IRA.
Gary Hook (Jack O'Connell) é um jovem soldado britânico transferido para a conflituosa Belfast em 1971. Depois de chamados para uma patrulha na cidade, Gary fica afastado dos seus companheiros de armas quando estala um confronto entre os soldados e a população de uma zona dominada por católicos.
Perdido nas labirínticas ruas de Belfast, Gary é obrigado a esconder-se e esperar pelo dia seguinte enquanto militantes do IRA lhe lançam uma caça ao homem.
Distanciado de um caminho fácil que explora o lado bom e mau de cada lado de um conflito, o argumento de Gregory Burke centra-se sim em dois outros importantes elementos. O primeiro que explora o lado da sobrevivência quer física quer psicológica tão difíceis de manter quando se vive um conflito. Tanto para "Gary" que acaba de chegar a um local que sendo dentro do seu país é tão distante como uma terra num qualquer outro canto do mundo como para aqueles que vivem diariamente com a pressão de se encontrarem divididos e de certa forma impedidos de confraternizar pacificamente com os seus vizinhos tendo como único motivo para tal a religião que professa, a pressão sentida é avassaladora. Como identificar o dito "inimigo" com quem se cruza todos os dias na rua tendo apenas o motivo da religião a suportar esse argumento? Como perceber quem pode ser um potencial terrorista no seio de um grupo de civis?
Os dilemas do conflito - e no fundo de uma guerra não declarada - estão presentes na mente de todos. Para os militares que como "Gary" têm de equacionar um potencial perigo a cada canto que espreita assim como para os civis que receosos não podem circular livremente sem que possam ser alvos de uma revista militar dentro da sua própria casa. É neste contexto que se pretende - espera - encontrar algo de bom... uma réstia de Humanidade naqueles que ainda compreendem que existe um lado surreal e absurdo num conflito que os opõe. É aí que se encontra "Gary".
Desprovido de qualquer identificação pessoal com este conflito, "Gary" encontra-se perdido não só no serviço que tem de efectuar como principalmente nas ruas daquela Belfast onde tem de sobreviver sózinho. E neste caso sobreviver pode implicar ter de matar. Matar ou ser morto... É aqui que o seu dilema moral se inicia. Preparado para defender e patrulhar as ruas de qualquer conflito, longe estaria de pensar que ele próprio seria alvo do mesmo, de agressões físicas e verbais que o levariam a ter de proteger a sua integridade e os princípios - agora desconhecidos - daquilo que para aquela cidade fora fazer. No entanto é nesta mesma fuga nocturna que encontra alguns sinais de que ainda existe esperança no "outro lado" - seja ele qual fôr.
Numa Belfast onde tudo parece abandonado e degradado, o que esperar de uma população que dentro da sua cidade e do seu país se sente marginalizada e sem direitos enquanto cidadãos? Não será fácil despoletar o ódio por um suposto invasor e agressor que os impede de viver de forma livre e digna? Se para "Gary" não deixa de ser verdade que se encontra num local onde não só não entende o conflito como para ele tudo parece estranho e "estrangeiro", não é menos real que para toda aquela população ele é o rosto de um inimigo desconhecido. Aquele "alguém" que os impede de ser livres e de expressarem a sua cultura - ou religião - e que agora está ali só e indefeso. A questão única que então se impõe é se existirá alguma Humanidade naquelas ruas - e naquela noite - que consigam preservar a sua integridade? No momento em que uma multidão enraivecida se aproxima, será mais fácil defender quem está sózinho e sem defesa ou aqueles que se chegam preparados para um linchamento?
Mas é neste exacto momento, aliás em todos aqueles que se apresentam como mais complicados, que se encontra a réstia de Humanidade num conflito que serve apenas os interesses de extremistas - encontrem-se eles de que lado se encontrarem pois ninguém o fermenta sózinho - e é então que o espectador percebe que sim... existe o bem e a esperança em todos os lados... é preciso é saber ver quando ela se manifesta. Quer seja num conflito directo onde alguém se coloca no meio ou mesmo quando num momento de crise é o suposto "inimigo" que o salva dos seus "aliados", a principal mensagem que esta história pretende transmitir é que existe sempre um lado bom vindo de todas as direcções... Esse mesmo lado que mantém a tal réstia de Humanidade num mundo que parece perdido e que independentemente de religiões, nacionalidades ou ideologias consegue perceber que o "outro", tal como "eu", deve poder expressar-se sem medo de retaliações. Estes dois lados são então encarnados por "Gary" (Jack O'Connell) e "Sean" (Barry Keoghan). O primeiro o militar desenquadrado e para quem aquele conflito nada representa e o segundo que por pressão de pares se vê obrigado a participar num conflito que - sabemos ao longo do filme pelas suas acções - para ela nada representa.
Jack O'Connell é a nova estrela em ascenção do cinema Europeu. Não só despertou a atenção num muito badalado e ainda por estrear em Portugal Starred Up, de David Mackenzie (2013) como participou igualmente como protagonista em Unbroken, de Angelina Jolie (2014) e em '71 assume um mais discreto mas avassalador protagonismo enquanto o militar que se sente num duplo conflito primeiro ao ter de prestar serviço numa das zonas mais conturbadas e indesejadas do momento como, de seguida, pelo seu próprio conflito moral que o coloca numa situação de ver e perceber o mal e compreender que precisa de se afastar rumo a um local desconhecido mas onde poderá finalmente encontrar a sua paz.
Tecnicamente '71 é também um filme de excelência desde a sua direcção de fotografia às mãos de Tat Radcliffe que capta a escuridão de uma noite violenta como também toda a reconstituição histórica a nível de guarda-roupa, caracterização e direcção de arte.
E no final, e de certa forma como um paralelismo criado com o início desta história, '71 termina com um sinal de esperança onde duas gerações se encontram, se abraçam e partilham momentos de alegria, de cumplicidade e de entrega que nos deixam esperar - com uma relativa tranquilidade - pelos momentos melhores que a vida tem reservados e que fazem esquecer todas as provações a que foram - fomos - sujeitos até então.
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10 / 10
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Nada S.A. (2014)

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Nada S.A. de Caye Casas e Albert Pintó é uma curta-metragem espanhola de ficção cujo argumento - também da autoria da dupla de realizadores - nos apresenta Carlos (Emilio Gavira), um homem já de meia idade que procura trabalho sem sucesso há já alguns anos. Um dia responde a um anúncio da companhia NADA S.A. que lhe oferece uma proposta aparentemente irrecusável.
Quando parece ter tudo na mão para lhe conferir um estilo de vida invejável, irá Carlos conseguir manter aquele que parece ser o emprego da sua vida?
Casas e Pintó criam a alegoria perfeita sobre o mundo do trabalho nos nossos dias. Tudo começa com uma auto-desmotivação em que nada parece resultar e os dias melhores parecem ou distantes ou impossíveis. Quando todas as tentativas de dias melhores ou alguma oportunidade se desvaneceram, o Homem está disposto a tudo - mesmo ao impossível - para manter o pouco que tem e poder pagar as suas contas e trivialidades ao final do mês. Se a idade já avança e as oportunidades parecem escassas ou nenhumas, o que fazer quando uma hipótese absurda lhe bate à porta senão... aceitar?!
No entanto, aquilo que a dupla de realizadores e argumentistas fazem com o que o espectador pense é até que ponto o desespero leva o Homem a aceitar esse impensável para manter a sua dignidade. Mais, pensa o espectador que não é possível perder a dignidade mas a realidade está longe de ser esta... quando as contas aparecem e a vida parece condenada ao fracasso, a dignidade é um valor moral que rapidamente se cede e perde em nome da manutenção das "pequenas coisas". É isto que acontece a "Carlos".
"Carlos" é a imagem do homem moderno. Fruto de uma geração com pouca formação e que se vê agora desprezado por um mundo em constante evolução, ele mantém - ou tenta - todo o tipo de trabalhos que lhe garantam a manutenção do seu estilo de vida. No fundo, é tudo uma questão económica... a casa, o carro, a mulher, o(s) filhos (s) e todos aqueles pequenos luxos que o homem da classe média tenta manter para de noite poder dizer que vive a sua vida. Mas o que acontece quando estes trabalhos deixam de aparecer e a vida parece condenada ao fracasso e à perda desses pequenos luxos? "Carlos" opta pelo impensável... por aquilo que parece absurdamente irreal e que até ele - um homem já sem esperança ou qualificações - consegue manter... Um dia inteiro sentado a uma cadeira, sem se mexer ou falar em troca de um salário também ele irreal para um homem da sua idade.
À semelhança daquilo que parece um estudo comportamental, "Carlos" inicia o seu novo trabalho e sob a vigilância atenta de "Emilio" (Jaume García Arija) - o segurança da empresa - senta-se e dá início ao seu primeiro dia de trabalho. Tudo corre bem e a experiência não parece cansativa e fora das horas de expediente - das 10 às 20 horas - estabelece uma simpática amizade com ele... Falam da vida e do seu trabalho, das suas experiências e de banalidades de dois homens que se começam a conhecer.
Passa um dia... seis meses... Face ao desaparecimento de "Emilio" que desespera com a experiência, o tempo começa a ser para "Carlos" uma experiência dolorosa... um tormento que lhe retira a sua sanidade mental e o seu próprio descanso. Num extenso pavilhão vazio onde apenas se encontra ele e a sua cadeira, passam dois anos e "Carlos" já pensa como perdeu a mulher, o filho, o cão e até um carro novo que não usa dada a sua permanência naquele espaço.
O Homem - ele - é desumanizado e explorado. Torna-se o escravo de um salário que não disfruta, uma vã memória de uma família que já não tem e até mesmo uma miragem do homem - já de si apagado - que em tempos fora. "Carlos" foi engolido por um sistema desconhecido que explora a mais elementar condição humana e a sua resistência à manutenção da sua dignidade que, no processo, desapareceu. Ele torna-se numa lenda... no chamado mito urbano sobre o homem social, aquele que trabalha para viver... mas não vive para trabalhar. Agora "Carlos" é o retrato de um homem moderno que se esqueceu de si e que a tudo se sujeita para sobreviver agarrado à premissa de que apenas existe pelo reflexo dos bens que possui garantidos pelo dinheiro que ganha mas que para garantir que existem está impossibilitado de os usufruir... o trabalho assim o obriga.
Sem família, amigos ou vida para lá das suas dez horas diárias, "Carlos" alucina e pensa na sua situação que é agora sinónimo da sua existência. Aliás, toda a alucinação é o único sinal de que ele próprio ainda existe e decide - pensa - que ninguém o observa resolvendo finalmente transgredir as regras e levantar-se da sua cadeira.
É este simples mas intenso sinal de rebeldia anti-sistema - que desconhecemos qual seja pois nunca saímos daquele armazém - que define o seu carácter, a sua existência, moral e dignidade (ou o que dela resta) e que permitem ao espectador pensar sobre a sua própria condição. Torna-nos felizes o facto de podermos possuir e disfrutar algo ou apenas a concepção de que o podemos ter? Teremos vida para lá do trabalho que desempenhamos ou este mantém-nos afastados daquilo que realmente "acontece"? Seremos assim tão independentes ou estaremos a ser observados até nos mais ínfimos momentos? No fundo a grande questão que Casas e Pintó nos colocam é se existimos ou somos definidos de facto para lá daquilo e naquilo que fazemos?
A genial curta-metragem de Casas e Pintó nada seria se a acompanhá-la não estivesse uma igualmente grande interpretação de Emilio Gavira que inicialmente se apresenta como um homem apagado pela sua falta de oportunidades mas que aos poucos se sente dignificado pela nova forma de existir no mundo que lhe proporcionam tudo aquilo com que sempre sonhou mas nunca conseguiu. De um inicialmente retraído "Carlos" a um que sorri com a sua nova existência e que passa rapidamente a alguém atormentado com as suas próprias escolhas, Gavira tem uma alma suficientemente grande para se tornar no centro de tudo... dos seus pensamentos, dos nossos olhares, do próprio armazém e do seu crescente sofrimento e amargura que oscilam entre o presente e muito presente. Gavira é grande... muito grande... e quer o seu silêncio como os seus intensos pensamentos atormentam quem realmente quiser pensar o quão "real" pode ser toda esta absurda "condição" profissional.
Um alegórico - ou real - espelho do mundo laboral moderno... o espectador que decida. Mas certa é a confirmação de um intenso e genial filme curto que no "nada" encontra o seu todo e em Gavira o seu messias.
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quinta-feira, 16 de julho de 2015

Oriented (2015)

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Oriented de Jake Witzenfeld é um documentário israelo-britânico que acompanha a vida de três amigos homossexuais palestinianos a residir em Tel Aviv, Israel, e o confronto da sua identidade sexual, pessoal e nacional.
Khader, Fadi e Naeem são três palestinianos a residir em Tel Aviv, amigos e homossexuais. Khader originário de Jaffa e de 25 anos de idade mantém uma relação com David - arménio - e assume-se como palestiniano apesar de manter um bilhete de identidade israelita, em homenagem ao avô nascido na mesma cidade numa altura em que Israel ainda não existia enquanto Estado independente. Com uma relação familiar tensa devido à falta de aceitação do seu pai, Khader refugia-se nos amigos - e mais tarde num emotivo encontro com a família de Fadi - para encontrar o seu lugar.
Fadi, de 26 anos, assumiu-se para a família ainda adolescente e vive num constante conflito sobre poder apaixonar-se por um judeu quando ele próprio assume sentir-se, desta forma, a trair as suas origens. Como refere a certa altura, Fadi "sente-se fraco" por se apaixonar pelo inimigo naquela que acaba por ser, segundo as suas palavras, uma relação em que vive numa constante luta de "poder" e onde as tensões sentimentais assumem proporções nacionalistas que nunca chegam a bom porto.
Finalmente o último dos amigos é Naeem, de 24 anos que vive a sua vida com o desconhecimento dos pais que julgam que o filho deveria voltar para a aldeia natal em vez de se afastar e estar longe daqueles que lhe podem dar algum conforto e ajudar a construir uma família. A família que o próprio sabe não ser aquela que alguma vez irá ter. Naeem diz a certa altura algo que acaba por ser determinante não só na temática central deste documentário como também de todo o qualquer um de nós espectadores... Naeem revela a certa altura que é diferente daquele que os pais até certo momento ajudaram a criar e que todas as influências externas e experiências pelas quais passou ajudaram-no a ser aquele que hoje é. Não sendo bom nem mau - como o próprio refere - ele é apenas diferente. Diferente daquilo que foi, daquilo que os outros podem achar que ele é e principalmente diferente dos mais variados estereótipos que todos criam sobre si enquanto Homem ou Palestiniano, e se os seus pais sentem não existir um espírito de família, Naeem sente-se privado da sua própria individualidade e liberdade sempre que visita uma aldeia que considera ser pequena demais para aquilo que ele percebe e sente ser.
Jake Witzenfeld cria com Oriented um documentário que está muito para além de uma perspectiva meramente sexual conseguindo habilmente, no entanto, inseri-la como um elemento da vida destes jovens mas não sendo o único. É um facto que todos eles procuram a determinada altura viver uma vida plena de afectos - como elemento de um casal assim como junto da sua família - mas, ao mesmo tempo, consegue entregar uma perspectiva sobre a sua vida enquanto Palestianianos numa sociedade Israelita na qual não se enquadram ou sentem enquanto cidadãos de plenos direitos. Na ausência de uma Palestina independente face aos olhos do mundo, como podem estes jovens viver uma vida plena de direitos e deveres, liberdade e respeito pela sua individualidade quando na prática se sentem como elementos mais fracos da mesma sociedade? Num constante dilema que é então equiparado à sua sexualidade, como podem estes jovens islâmicos sentir-se integrados numa sociedade judaica onde qualquer tipo de relação se baseia quase exclusivamente num debate político sobre "de quem é esta terra?"?
Longe de quaisquer conjunturas políticas, Oriented centra sim as suas questões principais num âmbito social e individual que procura respostas tão simples - ou talvez não - sobre como ser feliz e fiel aos seus sentimentos numa cultura que reprime e numa sociedade que não os reconhece como iguais tendo, ao mesmo tempo, uma sexualidade que é de certa forma tida como proibida face à cultura da qual se provém. Como viver num mundo ou se sente ter de estar numa permanente luta reivindicativa de respeito pelos seus plenos direitos? Como sobreviver ao desgaste que essa luta provoca? E no final, já após uma viagem a Berlim que Khader faz com o seu namorado e ao qual se lhes juntam Fadi e Naeem, onde experimentam aquilo que é realmente viver em liberdade com aquilo que cada um deles é vem a eterna pergunta... como voltar ao passado? Como voltar a um lugar que sabemos ir repreender e obrigar a voltar a essa luta constante quando se experimentou aquilo que é realmente viver livre?
Emotivo e por vezes bem disposto, Oriented é um documentário sempre reflexivo e constante na afirmação de pertinentes questões sobre direitos e sua privação, conseguindo ao mesmo tempo com que o espectador se questione sobre o que é realmente a liberdade?
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8 / 10
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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Mulher.Mar (2012)

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Mulher. Mar. de Filipe Pinto e Pedro Pinto é uma curta-metragem de ficção portuguesa e a vencedora do mês de Maio do Shortcutz Viseu, sendo assim uma das candidatas ao título de Melhor Curta-Metragem do ano na cerimónia de Setembro próximo.
Maria (Teresa Andrade) vive num silêncio que a anula desde a morte do seu irmão, substituindo-o na pesca e ajudando o seu pai. Numa comunidade reservada, Maria tenta sobreviver na memória de alguém que não estando, se sente.
Os realizadores Filipe Pinto e Pedro Pinto que também cumpriram funções de argumentistas em Mulher. Mar., criam um dos silenciosamente mais fortes filmes portugueses (curto só mesmo em duração) dos últimos anos.
"Maria" vive na sombra. Presente no dia-a-dia não só da casa em que vive com os pais como também no barco no qual ajuda o pai na actividade piscatória, "Maria" é vista não só pelos seus entes mais próximos como também por uma comunidade que começa a não a entender. Com a dor da perda de um irmão - com o qual o espectador nunca se "cruza" - esta jovem mulher inicia um lento processo de identificação com o mesmo esquecendo não só a sua própria identidade como principalmente adquirindo hábitos, costumes e perdendo inclusive a sua própria feminilidade para se parecer cada vez mais com o irmão.
Aqui o espectador identifica não só uma lenta degradação psicológica do "eu" de alguém que não só fora afectado pela dor e pela perda, como também pode identificar um complicado processo de identidade de género que aos poucos é denotado pelo comportamento de "Maria". Se por um lado existem as questões sobre o que realmente vive dentro do seu silêncio e nos seus pensamentos, não é menos verdade que são vários os elementos que indicam ao espectador que aquela jovem vive nesse mesmo silêncio uma dor que ultrapassa a perda de um ente querido. Elementos esses que passam não só pela sua masculinização - roupas e corte de cabelo - como pela profissão atípica numa mulher ou mesmo a conversa à mesa em que a mãe revela que ela se está a tornar no "falatório da vila".
Assim, se por um lado a perda e a dor que lhe está adjacente são por si só motivos suficientes para questionar toda uma existência que parecia condenada à indiferença - na prática quem era "Maria"? Alguém dava pela sua presença antes do desaparecimento do seu irmão? -, não é menos verdade que a identidade de género e todo um processo de conhecimento e auto-afirmação estão, também eles, evidenciados neste argumento que afasta o espectador do meio urbano centrando-o num pequeno espaço onde todos se conhecem... todos, menos o próprio que aos poucos se começa a descobrir.
Se enquanto espectador e crítico acredito que todos os bons filmes têm uma alma e uma força, Mulher. Mar. não é dessa minha teoria uma excepção, e essa alma reside na soberba interpretação da actriz Teresa Andrade enquanto "Maria", uma jovem que vive num silêncio desarmante e eventualmente doloroso que aos poucos a consome anulando-se na tentativa não só de substituir a vida de alguém que já partiu como principalmente de encontrar um lugar - o seu - que ainda não descobriu. Desarmante é o momento em que pergunta ao pai se lhe causa vergonha, como aquele último instante que define se a sua existência - seja qual fôr a forma - se justifica num mundo que decidiu não a compreender e que confirma a compreensão e aceitação de alguém que conhece e a conheceu toda a sua vida.
Mulher. Mar. é um filme referência não só na cinematografia lusitana como também na dos dois realizadores que conseguiram criar uma forte e belíssima obra de arte para a posteridade.
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10 / 10
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Dois Mil Pés (2014)

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Dois Mil Pés de Bruno Nacarato é uma curta-metragem portuguesa de ficção exibida numa das sessões do Shortcutz Viseu e que nos conta a história de Xico (Pedro Lamares) que um dia sai de casa deixando a sua mulher e filha para trás sem nunca revelar para onde iria.
Anos depois Daniela (Daniela Love) tenta procurar o pai desaparecido encontrando-o numa caravana perto de um aeródromo. Conseguirá esta relação ter algum futuro?
A dupla de argumentistas Bruno Nacarato e Andrés Sanjurjo apresentam-nos uma história que tanto aborda um afastamento como uma improvável aproximação familiar mas não de uma forma tradicional. Aqui ninguém procura explicações, pedidos de desculpa ou redenção pelos actos passados. Em Dois Mil Pés as personagens parecem ter encontrado não só o seu lugar no mundo como acima disso a plena consciencialização de que esse lugar não poderia ter sido outro.
"Xico" é um tipo despreocupado e sem qualquer vontade de "ter" uma família. Novo de mais para ser marido e pai, ele encontrou no isolamento a forma perfeita de se encontrar no mundo. Com um trabalho esporádico que lhe paga as poucas contas que eventualmente possa ter e ainda lhe garanta uns encontros sexuais sem qualquer tipo de consquência, "Xico" é um tipo satisfeito na (ir)responsabilidade que a sua fuga lhe proporcionou em tempos. Longe de família, amigos, casamento, casa e um trabalho "fixo", limita-se a estar no mundo sem que este note a sua presença e quando alguém tenta uma aproximação, ele rapidamente se descarta de que ela resulte e afoga todos os seus pensamentos em alcoól... em muito alcoól.
No entanto, "Daniela" - a filha - é uma rapariga pensativa, que lê e que sem fazer perguntas abertamente, não deixa de considerá-las no seu silêncio. Na prática é a filha do seu pai... esconde o que pensa e sente sem que, no entanto, pequenos gestos e momentos do seu comportamento o revelem ao espectador. Como hobbie tira retratos a todas as pessoas com quem se cruza captando os seus momentos, as suas expressões e o seu espaço. Capta-os para o futuro tal como a única fotografia que "Xico" guarda, vivendo assim as memórias de uma promessa passada que não se cumpriu.
Ambos vivem no seu silêncio o remorso de algo que não têm ou sabem ter - ele por impossibilidade de assumir uma responsabilidade e ela por nunca ter conhecido outra realidade que não a sua ausência - e é nos retratos que ele guarda e que ela tira que vivem a presença de memórias passadas e de momentos que podem um dia testemunhar a sua passagem. Percebem a relação mútua de pai e filha mas agem como dois amigos que se reencontraram após alguns anos de ausência. Partilham alguns momentos de conversa sem que, no entanto, percebam de facto quem é o "outro" que está ali ao lado. Existe empatia sem grande afecto... existe alguma cumplicidade sem muita entrega. Existe o "eu" no meio de um "nós" perceptível mas ausente. Estão ambos ali sem que na verdade se dê pela sua presença.
O último acto é aquele retrato final. Aquele que "Daniela" tira a "Xico" para testemunhar os anos passados desde o último retrato que ele guarda em que se encontra com a então mulher e filha. Agora só ele... ninguém o acompanha e finalmente tira os óculos. Pela primeira vez é captada uma sua expressão a olhar directamente para a filha - para a câmara. Sabendo que não se irão encontrar tão depressa - talvez nunca mais - mantém-se aquele o último testemunho da sua ligação que ele - sem nunca serem revelados os porquês - tenta esquecer através da bebida... de encontros furtuitos e de um isolamento voluntário que ele parece não querer abandonar. "Daniela" sabe que ele está ali... Possivelmente sempre esteve e sempre estará mas a liberdade que ele pretende não pode ser interrompida e menos ainda questionada. Existe uma certa e mútua admiração que apenas a ocasião do encontro permite manter. Ambos estão perdidos mas nenhum parece querer realmente ser encontrado.
Pedro Lamares e Daniela Love transmitem uma química imediata. Ao interpretarem este pai e filha separados mais pelo tempo do que pela distância, o espectador percebe que existe uma imediata cumplicidade que os faz conhecerem-se mesmo sem qualquer tipo de convivência. Funcionam bem na sua (ausente) relação e nenhum se tenta enganar com promessas que sabem não ir cumprir estando ambos, no entanto, numa aparente rota de mudança - talvez os tais voos - ela por desejar saber um pouco mais... ele talvez um pouco menos.
Ainda a contribuir para a sempre presente melancolia quer da história quer das personalidades e motivações destas duas personagens está uma muito interessante e inspirada música original de Tiago Nacarato e Rafael Silver que nos deixa levar por um conjunto de emoções sentidas mas não expressadas... percebemos que todos nós - actores/personagens e espectadores - somos levados para um lugar de transição, de mudança e onde o passado e o futuro se encontram... só não sabemos que transformações reais esse momento irá trazer.
Interessante e quase poético, relativamente positivo mas a esconder uma tristeza algo profunda, Dois Mil Pés é possivelmente a tal distância entre aquilo que fomos e que agora somos... a tal distância que permite ver os dois lados de uma mesma pessoa e por isso um certo purgatório que prevê uma espera para um outro rumo.
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8 / 10
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Salomé (2014)

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Salomé de Sofia Bairrão é uma curta-metragem portuguesa de ficção eleita como a melhor curta-metragem do mês pelo Shortcutz Xpress Viseu cujo argumento nos conta a história de duas amigas Camila (Cleia Almeida) e Salomé (Ana Moreira).
Camila e Salomé são inseparáveis percorrendo as ruas e os espaços de forma cúmplice e divertida, partilhando experiências, momentos e memórias. Camila pensa com o passar do tempo. Salomé ensaia a nova peça de teatro. Mas algo as irá separar...
Salomé começa com uma interessante reflexão de Mia Couto... "o bom do caminho é haver volta, para ida sem vinda já basta o tempo", que de certa forma nos leva a uma igualmente interessante reflexão sobre a forma como aproveitamos o nosso próprio caminho, ou seja, a vida tal como qualquer estrada percorrida preenche-se e forma-se com um conjunto de experiências que se transformam em memórias e recordações todas elas definidas pela forma como "andámos", no entanto, o que acontece quando nos enganamos nesse caminho é bem diferente das oportunidades não aproveitadas e que, com o tempo, se desvanecem.
O que acontece quando uma amizade se vê subitamente interrompida pelo desaparecimento de um dos elementos? Como se sobrevive sabendo que aquele/a com quem se partilharam milhares de experiências positivas e negativas que contribuíram para o desenvolvimento e amadurecimento de ambos jamais poderá ser visto, ouvido ou responder às nossas inúmeras questões e dúvidas? O que acontece depois - da morte, da falta, do desaparecimento, da ausência - e como será agora olhado o mundo quando só pode ser visto pelos olhos de um?!
Cleia Almeida enquanto "Camila", reserva ao espectador mais uma interpretação doce e melancólica que se dilui na ideia de uma solitária que procura agora o seu lugar no mundo longe de uma "Salomé" de Ana Moreira fria e já distante como se espera da condição da sua personagem estando as duas numa constante "viagem" por locais que nunca chegamos a ver na realidade para além de uma turva aparição dos mesmos.
Não irei aqui negar que esperava um pouco mais deste filme curto principalmente a nível da exploração da condição destas duas personagens, da amizade que as une - uniu - e do futuro que se espera de uma agora alma solitária e perdida na exploração de novos caminhos... aqueles que poderá explorar mas já sem o acompanhamento da sua outra metade. No entanto, considerando a limitação de tempo inerente a uma curta-metragem, Salomé surpreende pela forma oscilatória com que apresenta a imagem da cumplicidade, da memória, e da despedida entre duas almas que em tempos se complementavam.
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7 / 10
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domingo, 12 de julho de 2015

Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde 2015: os vencedores

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Competição Internacional
Grande Prémio "Jameson": Mined Soil, de Filipa César (Portugal/França)
Filme Ficção: Beach Week, de David Raboy (EUA)
Filme Documentário: Bear, de Pascal Florks (Alemanha)
Filme Animação: Mynarski Chute Mortelle, de Matthew Rankin (Canadá)
Curta-Metragem nomeada aos EFA: Kung Fury, de David Sandberg (Suécia)
Prémio do Público: Kung Fury, de David Sandberg (Suécia)
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Competição Experimental
Prémio Experimental: The Dent, de Basim Magdy (Egipto)
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enção Honrosa
OCHO DÉCADAS SIN LUZ, Gonzalo Egurza, 2014
Competição Vídeos Musicais
Prémio Vídeos Musicais “FNAC”: Movin Up - X-Wife, de André Tentugal (Portugal)
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Competição Curtinhas
Prémio Mar Shopping: The Present, de Jacob Frey (Alemanha)
Menção Honrosa (M/3): Frenemy, de Vera Lalyko (Alemanha)
Menção Honrosa (M/9): A Single Life, de Job Roggeveen, Joris Oprins e Marieke Blaauw (Holanda)
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Competição Nacional
Melhor Filme: Maria do Mar, de João Rosas
Prémio Pixel Bunker: Maria do Mar, de João Rosas
Prémio do Público “SPA – Sociedade Portuguesa de Autores": Amélia & Duarte, de Alice Eça Guimarães e Mónica Santos (Portugal/Alemanha)
Prémio “DigiMaster": Margarida Lucas, Rampa
Prémio CANAL +: Amélia & Duarte, de Alice Eça Guimarães e Mónica Santos (Portugal/Alemanha)
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Competição Take One!
Prémio Smiling: Bétail, de Joana de Sousa (Portugal)
Prémio Instituto Português do Desporto e da Juventude: Bétail, de Joana de Sousa (Portugal)
Prémio Restart: Bétail, de Joana de Sousa (Portugal)
Prémio Agência da Curta Metragem: Bétail, de Joana de Sousa (Portugal)
Menção Honrosa: Sala Vazia, de Afonso Mota (Portugal)
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sexta-feira, 10 de julho de 2015

Roger Rees

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1944 - 2015
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Omar Sharif

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1932 - 2015
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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Sam Samurai (2014)

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Sam Samurai de Rui Ribeiro é uma curta-metragem portuguesa de ficção cujo seu primeiro grande trunfo se prende com um genial e muito bem elaborado genérico inicial da autoria de Guilherme Gomes que com uma animação muito sóbria nos apresenta a base para a história que iremos testemunhar de seguida.
Sam (José Pedro Ferreira) é um menino fã de toda a mitologia japonesa ligada aos samurais. O seu roupão enquanto "veste oficial" e o seu chapéu escondem, no entanto, toda uma diferente realidade que o afectam e aos seus pais (Martinho da Silva e Paula Neves).
Conseguirá Sam resistir ao terrível Tigre vencendo-o na sua mais difícil batalha?
O realizador e argumentista Rui Ribeiro prepara uma interessante analogia com esta história conferindo seriedade e a dose apropriada de humor para que o espectador se sinta ligado a esta odisseia que se espera tenha um fim bem sucedido. Raras são as ocasiões em que uma história com um profundamente dramático ambiente se consiga dirigir sem que apele à lágrima e a um sentimentalismo que, por vezes, condicionam os momentos bons da vida. Aqui, no meio da doença e da constante consciência de perda, o sentimento que prevalece à o da vitória... o das batalhas travadas e bem sucedidas e o não desistir face àquela que é - será - possivelmente a maior provação desta família.
Sam Samurai, como já referi, conquista imediatamente pelo seu genérico que poderia muito facilmente transformar-se no início de uma inteligente e bem estruturada curta-metragem de animação, mas não será menos verdade afirmar que também seduz o espectador pelo espírito enérgico que o jovem José Pedro Ferreira consegue conferir à sua personagem de forma muito natural. Contagiante pela energia que deposita nas suas aventuras para conquistar o temido "Tigre" (uma fera bem perigosa por sinal), "Sam" faz com que o espectador esqueça todo o fundo da história que se adivinha sério e apenas nos damos conta do mesmo pelos breves segmentos em que a mãe - inspirada e felizmente aparecida Paula Neves - encarna o rosto da realidade.
Rui Ribeiro não confere a Sam Samurai nenhum espírito derrotista ou até mais dramático. Aqui o que reina é uma incansável vontade de espalhar a mensagem de que o mal poderá e será derrotado mesmo que a batalha se adivinhe forte e impiedosa. Os bons vencem... os bons sempre vencem.
Com a música original de Filipe Goulart a fazer justiça ao verdadeiro espírito da história e aventura paralela àquela da realidade, Sam Samurai transforma-se muito rapidamente numa curta-metragem com uma missão, com uma positividade invulgar em filmes deste género e com um sentido de legado para aqueles que atravessam situações semelhantes... um filme de espírito de conquista, de razão no seio da aventura imaginada e com três interpretações capazes de representar tantos lares que sofrem problemas tão idênticos que poderão eventualmente encontrar aqui o espelho dos seus próprios momentos.
Surpreendentemente original e positivamente inspirador, Sam Samurai é - infelizmente - um filme que tem estado "escondido" mas que certamente irá revelar-se nos próximos tempos. Assim o merece.
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7 / 10
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Margem (2014)

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Margem de Miguel Pereira é uma curta-metragem portuguesa de ficção que esteve presente na secção competitiva da sessão #55 do Shortcutz Viseu e cujo argumento - também da autoria do realizador - nos conta a história de Jorge (João Queirós), um homem de meia idade que passa os últimos instantes das suas férias em família e que ao vislumbrar Andreia (Mariana Gomes), sente uma inesperada e proibida atracção.
A curta-metragem de Miguel Pereira é um silencioso ensaio sobre a rotina, a atracção e o desejo que se interligam num perigoso jogo de sedução que testa o fruto proibido. Em breves minutos conhecemos e acompanhamos este homem - interpretado por João Queirós - que surge apagado no seio de um família onde ele aparenta ser o elo mais fraco. "Jorge" é alguém que a vida levou sem que ele desse conta e agora mais não é do que um fantasma que está fisicamente junto da sua família mas psicologicamente distante... talvez nem sequer a pensar em nada mais simplesmente desligado do que o rodeia. "Jorge" já não vive ou sente e os afectos com a sua mulher apresentam-se como inexistentes.
Quando "Andreia" aparece na vida de "Jorge" este parece ganhar toda uma segunda juventude que irradia pelo prazer de testar algo não aprovado - e daí fazê-lo em silêncio - ao seduzir e ser seduzido por uma jovem adolescente que, também ela, procura o seu momento de prazer ocasional sem responsabilidades ou aprovado pelos demais... O que é proibido...
Sendo ou não a sua "mulher" ideal, "Andreia" representa todos aqueles momentos de prazer e excitação que "Jorge" já não sentia... um amor impossível que a sua mulher já não sente - o espectador nunca a vê directamente - e até mesmo o cuidado que tem para com um filho que não nutre pelo seu sendo sucessivamente desautorizado por uma mulher possessiva e que nele mais não vê do que um estorvo.
Miguel Pereira cria assim um proto-hino à solidão de uma vida apagada que para lá de um prazer furtuito se esconde na insignificância a que foi reduzido o seu ser mas, ao mesmo tempo, ainda que no final nada aconteça à personagem principal, o espectador fica com aquela sensação dúbia de que tranquilamente volta à sua vida normal mas... por um caminho diferente. Talvez se afirme, talvez passe a ter uma voz... talvez...
Interessante pela sua direcção de fotografia que esconde a luz dos últimos dias de um Verão ameno, Margem leva o espectador a uma reflexão sobre aquele exacto momento em que pelo caminho, se esqueceu de si.
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terça-feira, 7 de julho de 2015

Maria Barroso

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1925 - 2015
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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Jerry Weintraub

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1937 - 2015
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domingo, 5 de julho de 2015

Prémio LUX 2015: selecção oficial

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"A passagem do tempo numa vida normal, os problemas da ajuda humanitária, a ligação com a Natureza e com o meio, a luta por manter uma vida digna mesmo com a presença da crise económica, a aventura de encontrar um novo lugar para viver, o choque entre liberdade e questões religiosas e sociais, o horror do mais inenarrável acontecimento da História, a distância entre infância e a vida real, a luta contra as contradições sociais e morais e ainda uma história de amor através das feridas da Europa." Assim é descrita a selecção oficial do Prémio LUX 2015, anunciada hoje na República Checa durante a abertura do Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary.
Entregue todos os anos pelo Parlamento Europeu, o Prémio LUX tem como fim principal enaltecer a diversidade do cinema Europeu e a sua importância na construção de valores sociais e culturais sendo os seleccionados deste ano:
  • 45 Years, de Andrew Haigh (Reino Unido)
  • La Loi du Marché, de Stéphane Brizé (França)
  • Meditarranea, de Jonas Carpignano (Itália/EUA/Alemanha/França/Qatar)
  • Mustang, de Deniz Gamze Ergüven (França/Alemanha/Turquia/Qatar)
  • A Perfect Day, de Fernando León de Aranoa (Espanha)
  • Rams, de Grimur Hákonarson (Islândia/Dinamarca)
  • Saul Fia, de László Nemes (Hungria)
  • Toto si Surorile Lui, de Alexander Nanău (Roménia/Hungria/Alemanha)
  • Urok, de Kristina Grozeva e Petar Valchanov (Bulgária/Grécia)
  • Zvizdan, de Dalibor Matanić (Croácia/Eslovénia/Sérvia)
Entre os seleccionados estão cinco primeiras obras, o primeiro filme proveniente da Islândia, o primeiro documentário - Toto si Surorile Lui - e ainda duas realizadoras presentes na seleccção.
Os três finalistas serão apresentados na conferência de imprensa dos Dias de Veneza no final de Julho, em Roma como sendo os que irão estar presentes em competição para o Prémio LUX, uma iniciativa que os irá fazer circular o mercado Europeu e estarão legendados em vinte e quatro línguas oficiais da União Europeia e exibidos nos 28 países membros, sendo o vencedor anunciado no final do ano em Estrasburgo, França.
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sábado, 4 de julho de 2015

Stonados (2013)

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Stonados de Jason Bourque é um telefilme norte-americano que se insere numa já longa lista de obras sobre a mais variada "praga" de tornados que curiosamente não se limitam a tudo levar mas sim, apresentam a sua "inovação" ao denotar um qualquer tipo de inteligência e premeditação.
Ao atingir o sul de Boston, um tornado desperta a atenção de Joe Randall (Paul Johansson) um habitual "caça-tornados", intriga-se com as singularidades atmosféricas deste acontecimento e como um enorme conjunto de tornados afectam o mesmo espaço geográfico.
Na companhia de um Lee (Sebastian Spence) um velho amigo, e da irmã Maddy (Miranda Frigon) percebem que estão a testemunhar um estranho fenómeno atmosférico ao observarem que os tornados expelem pedras explosivas por onde passam... os conhecidos Stonados.
Num mundo em que já vemos de tudo a sair de um tornado - desde casas a viaturas - que provocam os mais inimagináveis danos - reais - pelas zonas por onde passam, o espanto chega quando estes fenómenos meteorológicos parecem justificar todos os devaneios que alguns argumentistas resolvem criar para assim justificar a existência de mais um filme, transformando os referidos em veículos de locomoção de tubarões, piranhas e agora pedras. Rafael Jordan consegue ir ainda mais longe - uma salva de palmas à sua imaginação - e transformar os referidos tornados não só em meios de transporte como ainda consegue dotá-los de inteligência por estrategicamente "disparar" pedras explosivas nas mais variadas direcções e, como tal, colocar em risco toda a vida humana e não só naquele que é de facto um rasto de destruição sem precedentes.
Não querendo colocar em causa os poderosos dotes da Mãe-Natureza - salve-se a dita -, não é menos verdade que assistir a uma qualquer materialização da sua "inteligência" ao conseguir centralizar toda a sua acção num mesmo local sitiando toda uma cidade é, no mínimo, um estado imaginativo que nem todos de nós podem dizer conseguir ter.
Stonados é assim um filme dotado de uma imaginação sem precedentes por parte dos seus criadores mas, ao mesmo tempo, uma peça francamente desinteressante pela sua pobre e mal executada edição que nunca consegue ser credível e muito rapidamente se torna em mais um daqueles filmes risíveis dos quais todos adoramos falar mal.
Os actores que apenas participaram neste tipo de filme por não terem conseguido trabalhar em nada mais interessante e por, tal como todos nós, terem as suas contas para pagar, apenas contrastam - todos pela negativa atenção - com os figurantes que se passeiam pelas ruas da cidade sem ter uma qualquer percepção para onde vão ou de onde o perigo espreita - por vezes até os encontramos a ir na direcção de onde esse perigo realmente está a surgir - conseguindo todos passear por um cenário pobremente construído e que de característico tem muito pouco. Ninguém - na prática - sabe para onde está a olhar... seguem em frente como se isso desse algum tipo de credibilidade ao filme em causa - existiria alguma depois do seu tão curioso título - e Pedranados (sim, já perceberam o absurdo que seria se este título fosse traduzido - divaga por um sem número de parolices que oscilam entre o bizarro e o verdadeiramente assustador.
Nada contra aqueles filmes e profissionais que fazem maus filmes. Como já disse e repito, todos nós precisamos de pagar contas no final do mês e por vezes na falta de melhores oportunidades agarramos aquilo que surge e que nos permite ter uma vida minimamente digna. No entanto, aquilo contra o qual eu tenho um sério problema - por assim dizer - é quando estes filmes são feitos com o propósito de se levaram demasiadamente a sério e pensar que daqui saiu um filme que precisa de uma antestreia em passadeira vermelha e se discursa sobre o verdadeiro poder dramático das personagens em causa... hmmm... não... decididamente não!
Olhemos para Stonados como aquilo que ele realmente é. Um filme da treta. Um daqueles filmes que todos nós vêem mas só alguns têm coragem de admitir que gastaram perto de noventa minutos da sua vida a credibilizar aquilo que é impossível de ser credível mas que, ao mesmo tempo, marca a sua presença no corredor da fama do mau cinema/televisão e dos filmes pipoca que qualquer um de nós gosta de ridicularizar. Nessa perspectiva temos um vencedor... mas apenas e só nessa perspectiva. Algo que a tente transcender é um claro avanço num qualquer estado de morte cerebral.
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