La La Land: Melodia de Amor de Damien Chazelle é a mais recente longa-metragem do realizador de Whiplash e vencedora da Coppa Volpi de Melhor Actriz na última edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza para Emma Stone.
Sebastian (Ryan Gosling) e Mia (Stone), são dois artistas à procura do seu próprio espaço e momento em Los Angeles. Enquanto as oportunidades não surgem os dois encontram-se e apaixonam-se. Poderá o amor resistir(-lhes) para lá dos sonhos?
Inadvertidamente, o espectador pode inicialmente olhar para La La Land como "mais um musical" no cinema onde, nem sempre, os segmentos realmente musicados fazem justiça ao género ou possibilitam ao mesmo a capacidade de se centrarem por completo a uma história que oscila entre picos e momentos mais opacos. O segmento musical inicial na auto-estrada de Santa Mónica parece fazer jus a este pensamento não se enquadrando - percebemos futuramente - no próprio conceito da história para lá de nos fazer ver que os dois protagonistas se encontram nesse engarrafamento e a atenção que lhe prestamos parece esmorecer. Mas, no entanto, ao longo das quatro estações que se lhe seguem, o mesmo espectador sente-se hipnoticamente preso a todos os pequenos instantes e detalhes que são filmados.
Do Inverno inicial onde conhecemos uma "Mia" desesperadamente à procura do seu momento na indústria cinematográfica numa cidade onde tudo respira à Sétima Arte - o seu quarto inclusive com um gigantesco cartaz de Grace Kelly - até a um "Sebastian" perdido no desejo de cumprir e honrar o jazz tradicional que tanto o faz vibrar, La La Land cruza estes dois descontentes no mesmo caminho numa Primavera - segundo segmento - onde numa "pool party" todos os conhecimentos parecem possíveis.
De uma primeira apatia, ou até mesmo desdém, que caracteriza o embate inicial tido no engarrafamento já aqui referido, estas duas almas perdidas numa arte que parece ainda não os ter encontrado, seguimos para um segundo momento musical digno da mesma, também ela, tradicional verve dos musicais dos anos 40 do século passado onde o flirt era consumado à luz das estrelas de uma imensa Los Angeles semi-adormecida, e o encanto dava lugar a um sentimento puro e crente dos seus (futuros) frutos.
A atracção e consequente amor entre os dois é lentamente captado através de pequenos detalhes... olhares, afectos parcialmente escondidos dos desinteressados que os rodeiam sob as imagens de Rebel Without a Cause (1955, de Nicholas Ray que os leva ao planetário de Los Angeles - tal como no filme - onde celebram um dos mais carismáticos e belos momentos de toda esta longa-metragem celebrando não só o género como a magia do verdadeiro musical, o amor entre os dois protagonistas e, claro, a própria cidade que é assumidamente um terceiro elemento de La La Land.
Se o Verão chega com a confirmação de um amor inesperado, é o seu fim e a entrada de um Outono quase invernal que marcam a mudança e as transformações que se fazem sentir graças a improváveis reencontros que o tempo parecia querer fazer esquecer. É nesse Outono que chega e se aproxima que ambos percebem finalmente que o período de encanto - ou encantamento - desvaneceu... O período onde chegam as primeiras discussões e a compreensão de que ao contrário do cinema, a vida real transporta com ela os seus pequenos grandes dissabores onde a realidade não espera... mas faz esperar entregando-lhes o sonho mas cobrando o seu amor.
De novo no Inverno, mas cinco anos depois, "Mia" e "Sebastian" têm então as suas vidas. Distantes mas com sonhos cumpridos. Ela estrela de cinema... ele dono do seu próprio bar onde a música vibra pela sua própria mão. O (in)esperado reencontro de ambos leva-os a comunicarem de uma forma emocionante e desarmante - para o espectador - que se deixa levar pela forma como pela música e pelos olhares se transmitem tantos pensamentos e emoções que, por vezes, nem as palavras conseguem retratar. Ali, em breves momentos, toda uma vida passa pelos olhos de "Mia" conferindo ao espectador a tal imagem do "e se..." confundindo-o, ou talvez não, sobre as possibilidades existentes conferidas pelas escolhas ou adversidades com que se (nos) cruzam(os) e escolhas que são tomadas.
De forma mais "informal" poderia o espectador simplesmente achar que estamos perante um filme "pastel" por esta reflexão sobre as escolhas. No entanto, e para lá da óbvia homenagem que Damien Chazelle e o seu La La Land fazem à própria Hollywood - onde este filme será muito certamente premiado no próximo mês -, aquilo que aqui temos é uma belíssima ode ao amor - cumprido ou não -, às escolhas, às oportunidades, às cedências e aos compromissos sem que, no entanto, se esqueçam os diversos cruzamentos que as histórias podem ter, aos caminhos que levam o espectador a ter uma breve miragem sobre esses tais "e se's..." que tanto anseiam levando-o a pensar sobre as suas próprias escolhas mas não esquecendo que delas se deve abstrair durante estas duras horas de puro e perfeito encanto.
Convictos de que tudo poderá (ou não) ser real, Chazelle brinda então o espectador com aquele brilhante segmento final onde tudo é uma possibilidade, onde os afastamentos não existem e as vidas acabam realmente bem... Bem como o espectador deseja... Bem com o tal "romance" que tanto se despreza mas que, afinal, secretamente tanto se deseja. Ou simplesmente bem como a realidade assim o permite. Entre o sonho e o real o desencanto apodera-se de um filme que tornou duas horas simplesmente mágicas e hipnóticas.
Tecnicamente irrepreensível desde os seus momentos musicais - City of Stars de Justin Hurwitz (também autor da música original), Benj Pasek e Justin Paul é simplesmente uma ode a um amor cumprido - à direcção artística e fotografia de Linus Sandgren e dotado de duas magníficas interpretações de Ryan Gosling contido mas decisivo e Emma Stone emotiva, La La Land é simplesmente mágico. Não só cativa pela sua simplicidade como pela entrega de uma história de amor pouco convencional... Talvez os protagonistas cumpram o seu amor ou simplesmente a imagem que temos do mesmo parece ser aquela que longe da nossa hipocrisia real todos desejamos para os que nos rodeiam. Talvez consigamos criar um elo de referência ou ligação com as suas histórias e, por momentos, esqueçamos todos os momentos mais frios e cínicos que uma vida nem sempre fácil nos proporciona. Talvez simplesmente estejamos à espera de uma história com a qual se possa sonhar e criar uma certa magia e ilusão - qual se não esta a verdadeira missão do cinema que nos transporta por este e tantos outros mundos - livrando-nos de uma dita realidade mais translúcida permitindo-nos - com ela - sonhar... No mundo dos "talvez" e das hipóteses que apenas e só cada um poderá viver e considerar, La La Land é, tal como sugere o próprio título, uma história de encantar, de sonhar (sem dormir) e pela qual nos deixamos simplesmente levar. O desencanto, tantas vezes sentido dentro e fora deste filme, fica de facto longe do mesmo conferindo a quem o vê uma experiência que pode não ser única mas será certamente marcante num mundo no qual já temos demasiados problemas com os quais nos preocupar.
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"Sebastian:
They worship everything and they value nothing."
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9 / 10
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