terça-feira, 2 de junho de 2020

Çîroka Bajarên Wêranbûyî: Singal (2020)

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Histórias de Cidades Destruídas de Sêro Hindê (Síria) é uma das curtas-metragens exibidas na plataforma digital do We Are One: A Global Film Festival que centra a sua narrativa nas ruínas de uma cidade devastada por um conflito armado estando o espectador a observar não só as mesmas como principalmente os sons que fazem agora parte da memória auditiva da mesma.
Ainda que esta curta-metragem documental seja de origem síria, a mesma poderia ser num qualquer outro local flagelado por conflitos armados e cuja vida - histórica, humana, social, económica, etc. - desapareceu. O início é revelador daquilo que foi... uma pequena cidade onde a vida florescia até o deflagrar de conflitos armados que destruíram toda a existência como até então era conhecida. Percorremos, na companhia de narradores ausentes, as ruas desertas onde observamos lojas destruídas, mercadorias abandonadas e escutamos também, como um barulho de fundo que marca a alma da cidade em questão, os sons daqueles que as habitavam... das profissões que exerciam... dos vizinhos com quem conviviam e das crianças que faziam ecoar à distância o som das suas vozes e dos seus sorrisos. O passado invade o presente fazendo revelar que a vida humana pode ter desaparecido dali mas que os fantasmas das mesmas continuam a percorrer espaços e memórias (isoladas ou não) de pessoas e actividades.
Barbeiros ou lojas de roupa são miragens do que outrora foram. Agora apenas assistimos as espaços sombrios e destruídos pelos conflitos que a acção do Homem fez eclodir fazendo-nos reflectir sobre aquilo que foi e já não é. Sobre a perda, sobre a morte, sobre a desolação e, como fim último, sobre como tudo pode mudar nos mais pacato e longínquo dos espaços que cede a uma acção bruta e desumana pelo poder de simplesmente "ter". Pouco resiste desse passado que lentamente desvanece transformando-se no pó que é (e vai sendo) invadido pelo deserto deixando apenas o eco da vida que outrora foi. Nunca nada se observa de vida... apenas das estruturas que se equiparam aos esqueletos daquilo que foi uma cidade.
Subtilmente transformadora pela forma como consegue transmitir ao espectador o assombro dos horrores de um conflito armado, esta curta-metragem consegue sobretudo pelo registo sonoro do passado impôr o medo e o horror àqueles que a observam no seu próprio silêncio.

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7 / 10

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