segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

The Conjuring: The Devil Made Me Do It (2021)


The Conjuring 3 - A Obra do Diabo de Michael Chaves (Portugal) é a mais recente longa-metragem da franquia The Conjuring que relata a história de Arne Cheyenne Johnson acusado de assassinar o senhorio da casa em que vivia e cujo caso foi acompanhado pelos Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) que tentaram provar a sua inocência através de interferência demoníaca nas suas acções.
Seguindo alguns dos casos mais mediáticos, ou pelo menos os mais marcantes, da dupla "Ed" e "Lorraine", esta última entrega não revela a maior originalidade no que diz respeito à saga como um todo - afinal não nos podemos esquecer do primeiro caso que revolucionou um género "adormecido" e o segundo título que insere toda uma nova dinâmica dando origem a histórias paralelas como a The Nun (2018) de Corin Hardy - revelando-se apenas como possivelmente aquele caso que mais mediatismo gerou para com as actividades do casal de investigadores do paranormal (ou da actividade demoníaca) lançando-os para um ainda maior escrutínio dos olhares públicos na medida em que este foi o primeiro caso que chegou às salas de um tribunal e cuja defesa utilizou claramente os estudos investigações feitos pelo mesmo.
Senão vejamos... ainda que esta como as demais histórias se inserem na temática do paranormal/actividade demoníaca recuperando mais uma das diversas entidades que percorrem sob forma humana a terra, não deixa de ser verdade que ao contrário das anteriores, aqui se apresenta uma invocação de uma entidade em vez da sua existência no espaço procurando alguém para atormentar. Se este pequeno elemento parece irrelevante à primeira vista é, na minha opinião, o elemento que o transforma diferenciador dos demais na medida em que aqui o que é explorado é a intervenção humana no campo sobrenatural trazendo para si aquilo que se esconde nas ditas sombras e não estas presenças que se assumem como cientes de que pretendem ocupar o espaço que nós conhecemos. Eventualmente tão ou mais perigoso que essas entidades que assombram e infestam nas sombras será então a mão do Homem que as procura e pretende manipular para seu próprio benefício ou interesse. Dito isto, e evidenciando aquele que para mim será o elemento mais evidente ou talvez inovador da longa-metragem resta-me então avaliar a restante obra e equacionar se isso se traduz no demais enredo. As personagens que, à excepção dos protagonistas, tinham potencial para ir mais além acabam por se resumir a pontuais presenças na obra. Nem o jovem involuntariamente "habituado" ganha qualquer protagonismo ao longo da obra nem "Arne" (Ruairi O'Connor) ganha dimensão interpretativa resumindo-se apenas ao epíteto do "bom rapaz" que se vê numa situação complicada consegue ser "explorado" nesta obra conferindo-lhe mais humanismo ou credibilidade revelando mais sobre o seu drama pessoal - apenas temos alguns apontamentos do mesmo - perdendo-se, desta forma, na enorme amálgama de personagens que, ainda que sendo necessárias, fazem desviar a atenção de onde o espectador deveria estar centrado. Se já conhecemos os "Warren" (Wilson e Farmiga) e sabemos qual o seu enquadramento nesta saga, seria mais interessante explorar as vítimas e, neste caso concreto, os humanos agressores deixando um pouco de lado as dinâmicas que aumentam a duração da longa-metragem sem que, por vezes, sejam abonatórios para a sua boa execução. No entanto é também digno de referir que foi francamente interessante ver um dos protagonistas directamente influenciado pelo vilão de serviço desta história que sobre ele exerce todo um poder de manipulação que era, até agora, desconhecido não estando presente em nenhuma das outras longas-metragens precursoras e que quase os colocava num patamar de isentos da acção maligna que, compreendemos, persegui-los em boa parte destas histórias.
No que diz respeito ao aspecto mais técnico e visual de The Conjuring: The Devil Made Me Do It é justo dizer que se mantém fiel à tradição da saga (e do género como um todo) e que recria na perfeição toda uma atmosfera de terror onde o perigo é iminente fazendo valer-se dos efeitos sonoros e música para os momentos de tensão e do jogo de luzes e sombras da direcção de fotografia que recria o lado mais negro do que se espera numa história deste género. Se o medo existe e está presente então que se faça sentir e manifeste através destes elementos que são, em muitas histórias e esta não é excepção, tão importantes quanto as personagens que as compõem e dão vida. A atmosfera não é secundária é, aliás, boa parte daquilo que se espera de uma história de terror e esta longa-metragem volta a ser exemplar nessa componente.
Intrigante, tanto quanto aquela sala na qual os "Warren" escondem e guardam todos os objectos "infestados" com os quais se cruzaram e que poderiam certamente entregar todo um novo conjunto de histórias curiosamente maléficas, este The Conjuring: The Devil Made Me Do It parece querer assumir-se como um novo capítulo dentro da franquia na medida em que parece querer anunciar que o mal sim pode ter uma directa influência nos protagonistas deixando-lhes uma marca tão grande ou maior que aquela que deixa nas suas vítimas escolhidas. Serão estas ou os "Warren" os verdadeiros alvos?!



7 / 10

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