quarta-feira, 21 de maio de 2025

A Mestra (2024)


A Mestra de Silvana Torricella (Portugal) é uma das curtas-metragens presentes na competição oficial de documentários do Leiria Film Fest e que revela a história de Eudosia Lorenzo Diz, uma jovem professora espanhola que durante a Guerra Civil se refugiou na região de Castro Laboreiro, em Portugal. A sua história, aqui contada pelos filhos Paul e Yvonne Feron, revela cicatrizes ainda sentidas, uma vida vivida longe do seu espaço que, na realidade, se encontrava apenas a poucos quilómetros de distância e uma fuga que atravessou pontes, lugares e dita fronteira que não era apenas geográfica.
O mais curioso desta curta-metragem - a qual senti francamente próxima por parte desta história parecer muitas daquelas que me foram passadas ao longo dos anos por familiares mais a sul no Alentejo - centra-se precisamente no facto desta fuga e desta vida ter sido escondida "às claras" bem próxima da dita população autóctone agindo e comportando-se como um dos demais mantendo assim suspeitas e desconfianças à margem. No fundo esta história deu corpo àquele velho ditado do "escondido à vista de todos" ou "quanto mais à vista melhor escondido está". Foi esta a realidade de muitos refugiados vindos de Espanha naqueles duros anos da Guerra Civil que tentaram encontrar em Portugal, um país que vivia também a sua própria ditadura fascista, mas que aqui viram a sua luz ao fundo do túnel tentando fugir de um regime repressivo e que mantinha uma conflito civil entre espanhóis num conjunto de feridas que ainda hoje abalam a própria sociedade de nuestros hermanos e que aqui mostra um lugar de proximidade entre os dois povos desmistificando igualmente os velhos fantasmas de que "de Espanha nem bom vento nem bom casamento". Muitos são aqueles que partiram em busca de paragens mais tranquilas que não as nossas - as ditaduras em Portugal e em Espanha acabaram em 1974 e 1975 respectivamente -, mas muitas foram também as marcas pessoais e históricas que tanto os países como os seus habitantes sentiram mantendo-se até hoje. Marcas essas que se fazem notar, por exemplo, na presença de Eudosia enquanto professora que ensinou muitas das pessoas da terra a ler e a escrever levando a que ainda hoje se recordem dela e até à sua partida (pensada) para Casablanca tendo, no entanto, partido para França depois das guerras de independência no norte de África.
Este documentário para lá da importância da história pessoal da vida de Eudosia é, na minha opinião,  francamente importante na medida em que se direcciona para uma época específica na História dos dois países e que, período esse, ainda se encontra muito pouco estudado, filmado e documentado sendo de extrema relevância que estas histórias da História seja documentadas enquanto ainda permanecem registos vivos que possam transmitir a documentação oral da mesma. Inovador e actual - quando não o é a História e as histórias de refugiados - A Mestra trouxe ao festival, e a mim muito particularmente, a satisfação de ver algo pouco comum (no cinema principalmente) contado e ao dispôr de todos os espectadores.

8 / 10



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