domingo, 15 de março de 2020

A Rua é uma Selva (2019)

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A Rua é uma Selva de Ricardo Mussa (Portugal) é um dos documentários curtos que esteve em competição na última edição dos Prémios Sophia Estudante entregues anualmente pela Academia Portuguesa de Cinema e que nos apresenta a história de Nelinho, um sem-abrigo que revela os perigos e a sobrevivência diária de alguém na sua condição.
Nascido em Bordéus, em 1974, Nelinho foi levado pela mãe vítima de abusos por parte do pai, tendo depois vivido um período de conflitos com ela da qual escapou tendo de imediato abraçado uma vida na rua. Desta vida de sem-abrigo ao rápido consumo de heroína foi um passo muito rápido. Também ele pai de um filho com o qual nada convive, Nelinho deixa ainda para o espectador a ideia de que a violência foi sempre uma constante na sua vida. Primeiro com o pai, depois com a mãe e finalmente na rua às mãos da droga e também da polícia. A violência foi (é!) possivelmente o único elemento familiar que consegue encontrar em toda a sua história de vida.
No entanto, este documentário revela-nos, através das palavras do próprio protagonista, que este ainda mantém um ténue esperança na Humanidade, nos actos de bem praticados pelo próximo e como estes podem influenciar qualquer um dos demais e principalmente ele que parece esperar uma oportunidade para finalmente poder entregar um rumo à sua vida. Sem planos ou perspectivas para um futuro que não sabe quando poderá terminar, a sua única esperança é ter um lugar próprio para viver e onde poderá eventualmente estabelecer uma relação com um filho que mal conhece e sobretudo mantém uma questão sempre presente... quando tudo aquilo pelo qual passou lhe apontou para a porta de um fim anunciado... qual será o seu propósito para ainda se manter no mundo dos vivos?
Breve, talvez breve demais, este documentário curto consegue captar uma mensagem de alento e esperança que nunca é condescendente. Aqui testemunhamos a breves palavras de um homem que apesar de não o confessar deixa transparecer a sua vontade de manter um sonho... um objectivo... mesmo que ténue e que possivelmente nunca será concretizado. Mas é seu... e muito provavelmente o último reduto que lhe confere essa vontade de continuar a viver quando tudo à sua volta parece estar contra ele ou, pelo menos, indiferente à sua existência. Humano - o filme - e eficaz na transmissão desta imagem e ideal de esperança, A Rua é uma Selva consegue cativar sobretudo por essa mensagem de simplicidade e de um futuro melhor que se assume, para cada um de nós, sob as mais diferentes formas.
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7 / 10
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