domingo, 15 de março de 2020

Banho Santo (2019)

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Banho Santo de Bruno Saraiva (Portugal) é uma curta-metragem que recupera o imaginário da tradição local conferindo-lhe, ao mesmo tempo, uma atmosfera de filme de terror moderno, enigmático popular.
Lucas é escolhido pelo pai para ser o candidato para o ritual do Banho Santo. João (Vasco Figueiredo) salva-o... a um elevado preço.
Tendo a Natureza como um elemento constante nesta história através do cenário natural onde todas as acções decorrem - as rochas, o mar e a floresta -, Banho Santo assume-se como uma história moderna de contornos tradicionais na medida em que o espectador reconhece um diálogo contemporâneo mas, ao mesmo tempo, observa todo um conjunto de rituais e momentos de contornos pagãos que o deixa incerto sobre o espaço histórico temporal em que se encontra.
Com um início centrado junto ao mar, numas rochas que adivinham um acontecimento trágico - passado ou futuro novamente é pouco claro -, esta curta-metragem avança com o desenrolar de uma relação fraternal que não só é cúmplice como também de uma certa dependência. "João" e "Lucas" são dois jovens irmãos onde o primeiro revela desde logo a sua vontade (ou talvez necessidade) em defender e proteger o último de algo que lhe estava destinado. Lentamente é revelado um ritual, que alguns mais dados a estas tradições populares reconhecem como a forma de purificar o corpo e a alma, mas que aqui parece ligado a uma purga mais ou menos definida em que esse dito mal não se pretende "limpar" mas sim eliminar do corpo do seu hospedeiro... custe o que custar. Os dois irmãos, compreende futuramente o espectador que estão fugidos desse tal destino marcado, deixam-se levar pelos caminhos de uma floresta que tanto o protege das demais investidas de outros que os procurem, como também parecem querer entregá-los a um qualquer outro enigma ou "mal" (natural ou não desconhecemos) que espreita por detrás dos majestosos troncos das árvores que se transformam nas suas inesperadas protectoras ao escondê-los dos eventuais olhares estranhos que ali os procurem.
Assustados, ou incertos do que será o seu destino, compreendem que dependem apenas de si próprios mesmo quando todos os confortos de um passado - tal como o poderem saciar a sua fome - são agora também luxos com os quais não podem contar. Dependentes do companheirismo e do sacrifício que ambos têm mutuamente, a escolha de uma esperada dependência ou a aventura da independência são, de certa forma, a única garantia com a qual poderão (ou não) contar.
Do terror moderno ao recuperar de velhas tradições e hábitos populares tão comuns à nossa História, Banho Santo - ou aquela curta-metragem sobre a qual queríamos ver mais -, consegue cativar o espectador pelo seu clima frio e tenso que deixa o espectador em suspenso sobre o que poderá surgir "depois". O que poderá surgir nesse "depois" não só na dinâmica entre os dois irmãos como também na relação com o seu novo espaço natural e, claro, nunca esquecendo qual a interacção que os "outros" que se encontram "para lá" da sua realidade podem querer desencadear, uma vez que estão sempre presentes no seu (e no nosso) imaginário mantendo todos incertos sobre o seu destino. Aos irmãos pela forma como vivem agora uma nova realidade, e a nós espectadores pela forma como nos prende ao ecrã através de uma história que faz mover toda a nossa imaginação sobre o que não se vê ou espera através de uma constante sugestão uma vez que, visualmente, apenas se encontram os tradicionais elementos que se equacionam presentes naquele espaço geográfico para criar toda uma atmosfera de terror e suspense.
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8 / 10
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