Only Solomon Lee de Àlex Lora é uma curta-metragem espanhola de ficção que nos apresenta um cenário muito particular onde Solomon Lee (Yasuo Kuroha), um homem solitário e inadaptado encontra uma qualquer compensação afectiva nos dados pessoais que encontra em computadores portáteis roubados.
É através dos mesmos que tenta estabelecer algum contacto com os seus donos não só vasculhando as informações que ali encontra como também na devolução, pouco amistosa, que estabelece com os mesmos procurando assim um escape para a solidão que aparenta sentir numa sociedade marginal onde as pessoas que a povoam mais não são do que presenças fantasmagóricas e despojadas de laços ou ligações com os demais.
Miguel de la Fuente e Àlex Lora escrevem o argumento desta curta-metragem que prima pelo seu ambiente marginal presente desde o primeiro instante. O espaço vive num misto de decadência alternativa estabelecendo também um sentido paralelismo entre ele e as vidas daqueles que o povoam mostrando que todo este mundo mais não é do que pouco digno e onde todos os supostos rejeitados pela sociedade caminham pelas ruas tentando sobreviver com as suas vidas mais ou menos esquecidas pelos padrões ditos normais dessa mesma sociedade.
De la Fuente e Lora inserem assim o espectador num mundo onde as emoções reais estão esquecidas em favor de um momento ocasional e instantâneo que é vivido com a intensidade daqueles que por ele querem passar sem qualquer tipo de elo que os possa ligar aos demais. Todos, sem excepção, procuram algo sem com ele se quererem comprometer. "Lee" pretende uma ligação mas só a estabelece através das imagens que encontra nos computadores roubados que tem em mãos sendo que os donos destes apenas querem os seus objectos de volta achando que aquele que os devolve é alguém de quem querem manter a distância.
É então que "Lee", numa notável interpretação de Kuroha, sendo incapaz de encontrar quem o ame, sem esquecer que ele pode amar todos aqueles com quem se cruza ainda que por momentos fugazes, percebe finalmente que toda a sua vida mais não é do que um conjunto de momentos não sentidos vivendo portanto numa incansável busca sem sucesso, de alguém que o encare como especial, entrando numa espiral de decadência que revela que quanto mais "normal" tenta parecer mais "anormal" se apresenta aos olhos dos demais e conseguindo unicamente ligar-se aos demais através do que deles vê em segredo "infiltrando-se" nas suas vidas de forma ilegal.
Todo o ambiente, que se tem como decadente desde o primeiro instante, faz-nos imaginar um qualquer espaço perdido no tempo e apenas povoado por aqueles que lhe são marginais, vultos esquecidos e perdidos num mundo socialmente não aceite limitando-se a uma existência decadente desprovida de (auto)respeito que é enriquecido e brilhantemente ilustrado graças à direcção de fotografia de Rommel Genciana que nos remete na sua totalidade para um ambiente nocturno que possibilita que estas almas apareçam mostrando-se vivas.
Destaque positivo ainda para o design de produção e direcção artística da autoria de Fil Michael Medina e Christina Leo respectivamente que através dos espaços e dos pequenos recantos nos ilustram o quão decadente pode ser a existência daqueles que se entregam a uma vida à margem da sociedade onde tudo parece perdido e sem qualquer recurso à esperança.
Only Solomon Lee é "apenas" uma das melhores curtas-metragens espanholas dos últimos tempos e Àlex Lora transforma-se num dos mais fortes realizadores espanhóis da actualidade e um seguro candidato a um cada vez maior reconhecimento internacional que esta obra certamente ira confirmar transformando-o assim como um realizador de peso no cinema europeu, e um daqueles dos quais aguardaremos com expectativa pelo seu próximo trabalho.
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