Quarta Divisão de Joaquim Leitão é a mais recente longa-metragem do realizador cujo argumento, também da sua autoria, nos remete para uma intensa investigação policial e aos meandros da violênca doméstica e pedofilia.
Quando Martim (Martim Barbeiro) desaparece misteriosamente, a Quarta Divisão liderada por Helena Tavares (Carla Chambel) e Carlos (Sabri Lucas) investiga de imediato os acontecimentos que se encaminham para uma potencial situação de rapto e pedofilia.
Ao investigar a família, Helena percebe que algo de oculto rodeia os pais de Martim, e que Olga (Cristina Câmara) e Filipe (Paulo Pires) escondem mais do que aquilo que revelam sobre este desaparecimento do seu filho.
Aos poucos percebemos que o passado destas destacadas personalidades da sociedade e da política podem saber mais do que se passa do que aquilo que decidem revelar.
De volta a um cinema mais comercial, Joaquim Leitão escreve o argumento deste filme que preza por uma certa ambivalência que por um lado nos prende ao ecrã na expectativa de saber qual o desenrolar da história e consequente desfecho dos acontecimentos que parecem, logo desde o primeiro instante, ter mais a revelar do que o aparente desaparecimento do jovem "Martim" como também instala uma certa inquietude sobre a dispersão do enredo em histórias paralelas que nos parecem, em diversos segmentos, desnecessárias para o bom desenrolar da história e das suas personagens e levando o espectador a factos que poderiam facilmente fazer parte de outro qualquer filme. O mais flagrante prende-se com a história paralela da greve dos polícias que reclamam pelos seus direitos adquiridos que parece querer ganhar alguma importância no argumento de Quarta Divisão mas que, na prática, é apenas um elemento que demonstra a constante dispersão de interesses das histórias individuais de cada uma das personagens que aqui acompanhamos.
Com uma abordagem à vida policial em muito semelhante ao filme francês Polisse, de Maïween onde um conjunto de polícias é obrigado a conviver com as impensáveis histórias que cruzam as nossas ruas, Quarta Divisão concentra-se muito concretamente na vida de apenas dois, Helena e Carlos sendo que da primeira pouco sabemos para além de querer fazer justiça pelas suas próprias mãos numa eventual fuga com um passado que parece não ter sido ainda saldada e do segundo percebemos que ainda que dedicado é um marido e pai ausente cuja família aparenta estar à beira da ruptura. Carla Chambel enquanto "Helena", tem uma interpretação firme e segura da qual esperamos apenas por uma qualquer surpresa que nos faça simpatizar definitivamente com os seus valores e vontade de agir mas, no entanto, apresenta uma pequena fragilidade ao demonstrar ser mais fria e técnica do que aquilo que esperamos dado o seu constante dilema de valores entre o pessoal e o profissional que a dividem constantemente.
Por sua vez, Sabri Lucas tem aqui uma interessante e sólida interpretação que oscila entre o cómico e o dramático que o confirma como um novo talento cinematográfico do qual esperamos poder vir a encontrar mais presente em futuras produções, e que se transforma facilmente naquela personagem que no meio de tanta desgraça e vida destruída, o elo que nos faz crer que a vida tem também ela um lugar menos mau.
As duas outras interpretações que centralizam a acção ficam a cargo de Cristina Câmara, quase desaparecida desde o seu grande sucesso Tentação, também pelas mãos de Leitão, e que aqui recupera um pouco mais do protagonismo que dela se espera, como a fria e distante "Olga" que parece ter muito mais a contar do que o não tão simples desaparecimento do seu filho, e finalmente Paulo Pires como "Filipe", o respeitável homem da vida social e política activa que esconde uma vida privada sórdida, longe do respeito que socialmente lhe é atribuído. Se por um lado as suas personagens são consistentes e fiéis ao que delas esperamos, não é menos verdade que têm potencial suficiente para apresentarem um maior desenvolvimento, esse sim digno de aparecer no filme para melhor caracterizar as suas personagens, para além do simples relato "aconteceu em tempos" que temos conhecimento pelo relato de algumas delas que com eles se cruzaram em tempos.
Deixo também um pequeno destaque ao jovem actor Martim Barbeiro que tendo a personagem central no desenvolvimento de todos os acontecimentos, "Martim" que desaparece misteriosamente, é também aquela que acaba por ter um dinamismo menor estando quase junto da mera figuração, sendo que poderia ter sido melhor aproveitado para relatar através dos seus olhos aquilo que o fez fugir de uma vida aparentemente estável e sólida.
Finalmente aquilo que menos me convenceu, e que aliás acho praticamente desnecessário em todo este filme, é o momento final onde somos alertados para as vítimas de violência doméstica que ano após ano sofrem ou mesmo perdem a vida em Portugal, sendo que poucos daqueles que a praticam são levados a responder perante a justiça ou mesmo por ela penalizados. É certo que se tenta dar um certo alerta para este mal silêncioso da sociedade mas, ao mesmo tempo, se considerarmos toda a dinâmica do filme em que as vítimas existem desde o primeiro instante nas mais variadas camadas sociais, este alerta poderia ser dispensado pois não se pretende um efeito moralizador mas sim de denúncia que as imagens já haviam passado, ou será que perto do final alguém ainda tem dúvidas sobre qual a verdadeira mensagem deste filme?
Não sendo o melhor filme do género, Quarta Divisão não deixa de ser uma muito bem-vinda obra de Joaquim Leitão com uma história interessante independentemente das suas aparentes fragilidades e que se constitui como um filme comercial mas que, ainda assim, reune um conjunto notável de interpretações que confirmam os seus actores como alguns dos melhores do momento.
.Com uma abordagem à vida policial em muito semelhante ao filme francês Polisse, de Maïween onde um conjunto de polícias é obrigado a conviver com as impensáveis histórias que cruzam as nossas ruas, Quarta Divisão concentra-se muito concretamente na vida de apenas dois, Helena e Carlos sendo que da primeira pouco sabemos para além de querer fazer justiça pelas suas próprias mãos numa eventual fuga com um passado que parece não ter sido ainda saldada e do segundo percebemos que ainda que dedicado é um marido e pai ausente cuja família aparenta estar à beira da ruptura. Carla Chambel enquanto "Helena", tem uma interpretação firme e segura da qual esperamos apenas por uma qualquer surpresa que nos faça simpatizar definitivamente com os seus valores e vontade de agir mas, no entanto, apresenta uma pequena fragilidade ao demonstrar ser mais fria e técnica do que aquilo que esperamos dado o seu constante dilema de valores entre o pessoal e o profissional que a dividem constantemente.
Por sua vez, Sabri Lucas tem aqui uma interessante e sólida interpretação que oscila entre o cómico e o dramático que o confirma como um novo talento cinematográfico do qual esperamos poder vir a encontrar mais presente em futuras produções, e que se transforma facilmente naquela personagem que no meio de tanta desgraça e vida destruída, o elo que nos faz crer que a vida tem também ela um lugar menos mau.
As duas outras interpretações que centralizam a acção ficam a cargo de Cristina Câmara, quase desaparecida desde o seu grande sucesso Tentação, também pelas mãos de Leitão, e que aqui recupera um pouco mais do protagonismo que dela se espera, como a fria e distante "Olga" que parece ter muito mais a contar do que o não tão simples desaparecimento do seu filho, e finalmente Paulo Pires como "Filipe", o respeitável homem da vida social e política activa que esconde uma vida privada sórdida, longe do respeito que socialmente lhe é atribuído. Se por um lado as suas personagens são consistentes e fiéis ao que delas esperamos, não é menos verdade que têm potencial suficiente para apresentarem um maior desenvolvimento, esse sim digno de aparecer no filme para melhor caracterizar as suas personagens, para além do simples relato "aconteceu em tempos" que temos conhecimento pelo relato de algumas delas que com eles se cruzaram em tempos.
Deixo também um pequeno destaque ao jovem actor Martim Barbeiro que tendo a personagem central no desenvolvimento de todos os acontecimentos, "Martim" que desaparece misteriosamente, é também aquela que acaba por ter um dinamismo menor estando quase junto da mera figuração, sendo que poderia ter sido melhor aproveitado para relatar através dos seus olhos aquilo que o fez fugir de uma vida aparentemente estável e sólida.
Finalmente aquilo que menos me convenceu, e que aliás acho praticamente desnecessário em todo este filme, é o momento final onde somos alertados para as vítimas de violência doméstica que ano após ano sofrem ou mesmo perdem a vida em Portugal, sendo que poucos daqueles que a praticam são levados a responder perante a justiça ou mesmo por ela penalizados. É certo que se tenta dar um certo alerta para este mal silêncioso da sociedade mas, ao mesmo tempo, se considerarmos toda a dinâmica do filme em que as vítimas existem desde o primeiro instante nas mais variadas camadas sociais, este alerta poderia ser dispensado pois não se pretende um efeito moralizador mas sim de denúncia que as imagens já haviam passado, ou será que perto do final alguém ainda tem dúvidas sobre qual a verdadeira mensagem deste filme?
Não sendo o melhor filme do género, Quarta Divisão não deixa de ser uma muito bem-vinda obra de Joaquim Leitão com uma história interessante independentemente das suas aparentes fragilidades e que se constitui como um filme comercial mas que, ainda assim, reune um conjunto notável de interpretações que confirmam os seus actores como alguns dos melhores do momento.
7 / 10
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