quinta-feira, 23 de junho de 2016

Ways (2016)

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Ways de Àlex Lora é uma curta-metragem espanhola de ficção que relata um momento na vida de Alan (Christopher Dylan White), um jovem atormentado com a solidão provocada por um instante traumático na sua vida.
O mais recente trabalho do realizador de Only Solomon Lee (2013) e Godka Cirka (2013), cujo argumento é também da autoria de Àlex Lora em colaboração com David Blaikie e Carmen Vidal, assume-se desde os instantes iniciais como uma história que esconde em pequenas subtilezas os potenciais motivos causadores de uma catástrofe pessoal, neste caso a de "Alan", um jovem isolado nos seus próprios pesadelos de um passado nunca totalmente revelado.
Quando o espectador inicialmente conhece "Alan", este parece uma breve miragem de alguém que em tempos tivera amigos - que o esperam - e uma vida social aparentemente normal. No entanto, essa vivência normal de "Alan" foi não só assombrada pela morte de alguém que lhe era próximo (pensamos que aquela mulher que ele insistentemente vê fosse a sua mãe) como, mais tarde, somos confrontados com a relação que realmente os unia e que o moldou e transformou naquilo em que é numa actualidade nunca situada.
O mesmo "Alan" que em tempos fora - pensamos - um jovem como tantos outros, é agora uma sua sombra vivendo num local onde os receios e os demónios de um passado vivido atormentam a sua existência e que apenas consegue encontrar na violência física a forma de expiar esses mesmos demónios e garantir-lhe uma ilusória noção de afectividade.
Entre as incertezas que a sua mente lhe provoca sobre o que é real e o imaginado, entre o passado traumático (?) e um potencial presente livre de pressões, "Alan" é um jovem perdido nos seus medos, receios e inseguranças que nem aqueles que o tentam acompanhar conseguem libertar.
Com um clima de constante pesadelo que apenas a noite consegue esconder, a perfeita recriação de uma atmosfera tensa e escura pela câmara de Felipe Vara de Rey consegue deixar o espectador de Ways num limbo semelhante ao de "Alan", onde nunca se sabe ao certo nem as causas nem as consequências da sua agitação assumidamente interior.
Destaque ainda para a interpretação de Christopher Dylan White que consegue suportar em doze breves minutos todos os tormentos de uma alma assombrada, conferindo a este jovem todo o peso e dor do mundo, e a confirmação - já óbvia - de Àlex Lora como um dos mais fortes nomes de um novo e sempre intenso cinema espanhol.
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8 / 10
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