quinta-feira, 23 de junho de 2016

La Mosca (2015)

.
La Mosca de Marco Di Gerlando é uma curta-metragem italiana de ficção na qual, dentro de uma sala de aula, a pequena Carlotta (Carlotta Ligalupo) tem de desenhar um animal que comece pela letra M. Depois de alguns instantes em que vê todos os seus colegas a trabalhar não tendo ideia sobre o que fazer, Carlotta, temendo a reacção da temida professora (Ludovica Gibelli), consegue finalmente alcançar a inspiração que lhe faltava. No entanto, quando a obra é maior do que o mestre...
A mais recente curta-metragem do realizador de Nella Tasca del Cappotto insere o espectador na dinâmica de uma infância onde todos os sonhos têm vida e todos os desejos se tornam realidade... de uma ou outra forma. Assim, num universo muito próprio onde a imaginação e o seu poder são reis e senhores de toda uma narrativa, La Mosca é a prova última de que a um dado momento na vida de todos existe aquele pequeno detalhe que confirma a existência de um pensamento livre e a sua perda. Por outras palavras, algures no tempo todos nós, sem darmos conta disso, perdemos aquela inocência que nos faz observar o mundo com os olhares ingénuos que outrora nos caracterizavam.
"Carlotta", uma jovem menina de sete anos que tem todo um mundo pela frente, encontra esse referido momento quando, após um bloqueio criativo, decide desenhar aquele que será um improvável animal... uma mosca. Se por um lado existe a confirmação de que o seu intelecto e imaginação são tão livres e despreocupados como a mosca que desenha - que ganha a sua própria vida fora do papel voando pela sala de aula -, não é menos real que esta mesma liberdade é cedo vetada a uma ostracização em nome de uma normalização que transforma todas as crianças em adultos antecipados num mundo que não pára ou espera por ninguém.
Marco Di Gerlando que assume as funções de argumentista e realizador, cria assim a história perfeita que, sob a égide de uma metáfora, retrata esse decisivo momento em que a inocência se perde ganhando, por sua vez, a consciencialização de que a liberdade - que não só a de pensamento - não é um direito conquistado mas sim um pelo qual todos os dias necessita de uma constante luta e confirmação. A isto junta-se a jovialidade e o humor de uma consistente Carlotta Ligalupo que conquista pela sua inocência e espírito livre bem como uma austera Ludovica Gibelli que nos faz imaginar a mais rude e implacável das professoras (afinal... todos tivemos uma).
Com um humor desarmante e uma mensagem social sempre presente, La Mosca é uma pacata mas afirmativa curta-metragem do melhor e mais humorado cinema em formato curto italiano que nos confirma que não existe liberdade maior do que aquela tida nos labirintos da nossa consciência.
.

.
8 / 10
.

Sem comentários:

Enviar um comentário