Como Nossos Pais de Laís Bodanzky é uma longa-metragem brasileira e a escolhida para a abertura da mais recente edição do FESTin - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa até ao próximo dia 6 de Março.
Num relativamente tenso almoço de família Rosa (Maria Ribeiro) descobre que aquele que sempre teve como seu pai... não o é. Conformada com uma vida rotineira onde a surpresa e a imaginação não fazem parte da mesma, Rosa decide libertar-se do papel social da "mulher" e lançar-se num mundo de auto-descoberta e exploração que a irão definir de forma diferente daquela tida até então.
A realizadora e Luiz Bolognesi criam este argumento que parte do sua base a queda de mitos e papéis sociais impostos pela sociedade, e pela comunidade, como moralmente dignos e aceites num mundo onde o sexo define, de imediato, todo um futuro. No entanto, os dois argumentistas deixam em aberto a hipótese desse paradigma ser quebrado quando o "eu" decide questionar se aquilo que tem e o que lhe é socialmente atribuído são, afinal, suficientes para a sua formação individual. "Rosa" é uma mulher moderna afogada em tantos problemas provenientes da sua vida profissional, enquanto esposa, mãe e filha até ao instante em que tudo isto é posto em causa por esse assoberbamento de momentos e situações levando-a a questionar(-se), aos que a rodeiam, àqueles que contribuíram para a sua formação enquanto a mulher que é e, finalmente, à sua própria família que parecia estar à deriva e sem uma real componente que a definisse enquanto tal e, em última análise, a ela própria.
Muitas são as questões que a personagem brilhantemente interpretada por Maria Ribeiro responde no decorrer destes pouco mais de cem minutos. Desde a sua formação enquanto a já referida mulher moderna, enquanto mulher com uma carreira profissional, mãe, esposa, filha e até mesmo enquanto um ser sexualmente reprimido numa sociedade que apenas a tem como alguém indispensável para os trabalhos ditos "normais" que se espera de uma mulher... ser a constante retaguarda de um conjunto de homens e ausente do seu própria desejo - físico, psicológico, sexual e profissional - esquecendo os pequenos momentos, detalhes e ambições que "em tempos" havia ousado sonhar.
Por momentos Como Nossos Pais expõe espaços e personagens de uma forma plástica, ou seja, não existe grande novidade ou exploração motivacional dos mesmos limitando-se a representar uma situação física ou geográfica desprovida de sentido... espaços ou pessoas desencantados e indiferentes dentro da sua inactividade mantendo-os, dessa forma, distantes e ausentes.
No entanto, é na segunda metade de Como Nossos Pais que o espectador começa a compreender a transformação desta personagem central primeiro pela sua necessidade de compreensão e descoberta desse "eu" feito pela própria como, de seguida, através dos comportamentos da própria mãe para com quem durante toda uma vida manteve um ressentimento mas que agora compreende como alguém livre de estereótipos e recalcamentos que se deixou, portanto, levar pelo seu próprio desejo nas mais diversas áreas do seu próprio sentimento. A independência, quando compreendida como tal, liberta-a e deixa-a susceptível de (se) (re)conhecer enquanto mulher, humana e afastada de qualquer preconceito que ainda se atribui à mulher enquanto ser individual. Tal como a referida personagem "Nora" de Ibsen... quem é a mulher depois da sua libertação social?! Onde estará ela?! Que caminho percorreu?! De que forma irá viver?! Perguntas estas que o espectador poderá apenas imaginar e, dentro da sua própria vontade, esperar... tendo uma única certeza... quer uma vida livre de mentiras...
Em Como Nossos Pais não existe espaço para o que o espectador já conhece sobre este eterno dilema entre o papel pré-concebido da mulher e aquele que lhe deve, de facto, corresponder. Existe assim tanta certeza que uma mulher deve apenas crescer com o intuito e propósito de servir algo para a qual não está voluntariamente determinada? Terá toda a mulher de ser casada... mãe... trabalhadora fora ou só dentro da casa que "comprou" quando se tornou "esposa de..."?
Emocionalmente tenso mas expressivamente libertador, tanto a longa-metragem de Laís Bodanzky como a personagem de Maria Ribeiro expõem uma necessidade de quebrar com velhos preconceitos sobre o desejo, a libertação (sexual e emocional) e o papel social da mulher que privada de uma realidade e cujo desenvolvimento emocional se prende com uma mentira e com a "função" de estar dependente do "outro", se deixou levar pela sugestão e não pela sua vontade mas sim por aquilo que o mundo, tanto exterior como interior, a possibilitou viver.
Num relativamente tenso almoço de família Rosa (Maria Ribeiro) descobre que aquele que sempre teve como seu pai... não o é. Conformada com uma vida rotineira onde a surpresa e a imaginação não fazem parte da mesma, Rosa decide libertar-se do papel social da "mulher" e lançar-se num mundo de auto-descoberta e exploração que a irão definir de forma diferente daquela tida até então.
A realizadora e Luiz Bolognesi criam este argumento que parte do sua base a queda de mitos e papéis sociais impostos pela sociedade, e pela comunidade, como moralmente dignos e aceites num mundo onde o sexo define, de imediato, todo um futuro. No entanto, os dois argumentistas deixam em aberto a hipótese desse paradigma ser quebrado quando o "eu" decide questionar se aquilo que tem e o que lhe é socialmente atribuído são, afinal, suficientes para a sua formação individual. "Rosa" é uma mulher moderna afogada em tantos problemas provenientes da sua vida profissional, enquanto esposa, mãe e filha até ao instante em que tudo isto é posto em causa por esse assoberbamento de momentos e situações levando-a a questionar(-se), aos que a rodeiam, àqueles que contribuíram para a sua formação enquanto a mulher que é e, finalmente, à sua própria família que parecia estar à deriva e sem uma real componente que a definisse enquanto tal e, em última análise, a ela própria.
Muitas são as questões que a personagem brilhantemente interpretada por Maria Ribeiro responde no decorrer destes pouco mais de cem minutos. Desde a sua formação enquanto a já referida mulher moderna, enquanto mulher com uma carreira profissional, mãe, esposa, filha e até mesmo enquanto um ser sexualmente reprimido numa sociedade que apenas a tem como alguém indispensável para os trabalhos ditos "normais" que se espera de uma mulher... ser a constante retaguarda de um conjunto de homens e ausente do seu própria desejo - físico, psicológico, sexual e profissional - esquecendo os pequenos momentos, detalhes e ambições que "em tempos" havia ousado sonhar.
Por momentos Como Nossos Pais expõe espaços e personagens de uma forma plástica, ou seja, não existe grande novidade ou exploração motivacional dos mesmos limitando-se a representar uma situação física ou geográfica desprovida de sentido... espaços ou pessoas desencantados e indiferentes dentro da sua inactividade mantendo-os, dessa forma, distantes e ausentes.
No entanto, é na segunda metade de Como Nossos Pais que o espectador começa a compreender a transformação desta personagem central primeiro pela sua necessidade de compreensão e descoberta desse "eu" feito pela própria como, de seguida, através dos comportamentos da própria mãe para com quem durante toda uma vida manteve um ressentimento mas que agora compreende como alguém livre de estereótipos e recalcamentos que se deixou, portanto, levar pelo seu próprio desejo nas mais diversas áreas do seu próprio sentimento. A independência, quando compreendida como tal, liberta-a e deixa-a susceptível de (se) (re)conhecer enquanto mulher, humana e afastada de qualquer preconceito que ainda se atribui à mulher enquanto ser individual. Tal como a referida personagem "Nora" de Ibsen... quem é a mulher depois da sua libertação social?! Onde estará ela?! Que caminho percorreu?! De que forma irá viver?! Perguntas estas que o espectador poderá apenas imaginar e, dentro da sua própria vontade, esperar... tendo uma única certeza... quer uma vida livre de mentiras...
Em Como Nossos Pais não existe espaço para o que o espectador já conhece sobre este eterno dilema entre o papel pré-concebido da mulher e aquele que lhe deve, de facto, corresponder. Existe assim tanta certeza que uma mulher deve apenas crescer com o intuito e propósito de servir algo para a qual não está voluntariamente determinada? Terá toda a mulher de ser casada... mãe... trabalhadora fora ou só dentro da casa que "comprou" quando se tornou "esposa de..."?
Emocionalmente tenso mas expressivamente libertador, tanto a longa-metragem de Laís Bodanzky como a personagem de Maria Ribeiro expõem uma necessidade de quebrar com velhos preconceitos sobre o desejo, a libertação (sexual e emocional) e o papel social da mulher que privada de uma realidade e cujo desenvolvimento emocional se prende com uma mentira e com a "função" de estar dependente do "outro", se deixou levar pela sugestão e não pela sua vontade mas sim por aquilo que o mundo, tanto exterior como interior, a possibilitou viver.
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