domingo, 17 de novembro de 2019

Mark of the Beast: The Legacy of the Universal Werewolf (2019)

.
Mark of the Beast: The Legacy of the Universal Werewolf de Daniel Griffith (EUA) é uma das longas-metragens presentes na décima edição do Buried Alive Film Festival a decorrer em Atlanta.
O lobisomem. O primeiro dos "monstros" do cinema e as suas influências na Sétima Arte ao longo das décadas. Das origens no cinema aos títulos mais reconhecidos dos últimos anos, Mark of the Beast: The Legacy of the Universal Werewolf é um relato da lenda que se cruza com a história do cinema fantástico através do comentário de alguns dos seus principais intervenientes.
Através de uma introdução histórico-mitológica entregue por alguns nomes reconhecidos da Sétima Arte como John Landis, Peter Atkins ou Joe Dante, o realizador Daniel Griffith entrega ao espectador uma abordagem dos primórdios da marca, da simbologia e do folclore tradicionalmente ligados à imagem do lobo que remontam à mitologia grega na qual se assumem como capazes da transformação ou metamorfose de animal para homem. Da antiguidade grega - pela mutação animal evidenciada pela divindade Zeus - à Idade Média, o imaginário do lobo - e do homem-lobo -, povoou as mentes humanas como um perigo latente que espreitava nas sombras. Intimamente associado àqueles que sendo humanos evidenciavam comportamentos animalescos ou desviantes, é estabelecida uma teoria à evidente superstição que a sustenta, e registados inúmeros casos em França onde, à época, o imaginário colectivo condenou e torturou muitos cidadãos por serem associados a uma desumanidade (pela sua força e robustez) e, logo, padecentes ou vítimas da licantropia.
A licantropia passou assim a estar associada também à literatura que explorava o imaginário do lobo e da transformação deste na sua figura humana. A mais evidente referência literária é a de Drácula de Bram Stoker - adaptada ao cinema nos anos '90 por Francis Ford Coppola -, onde o cosmopolitanismo e sofisticação do vampiro contrasta com a robustez física do lobo que ataca e se manifesta nas noites de lua cheia dando relevo à figura do lobisomem agora na Sétima Arte. Mas as origens deste estaria já marcada no cinema décadas antes.
Foi no início dos anos '30 que se registou pelas mãos da Universal o cinema de género através de um terror assumidamente gótico e negro, o preferido de Carl Laemmle, fundador da companhia. De Boris Karloff a Bela Lugosi sem esquecer Lon Chaney Jr. que marcou de forma definitiva a personagem do lobisomem servindo, inclusive, de referência para todas as interpretações que se lhe seguiriam, com a sua interpretação em The Wolf Man (1941), de George Waggner. Da obra que estabeleceu as linhas condutoras para o cinema de género e como a caracterização assumia aqui um papel protagonista na forma como o homem lobo era visto pelo grande público, não só pela sobreposição de imagem com que se conseguiria criar toda uma imagem de referência da transformação - do homem em lobo - propriamente dita e à sua directa relação com a passagem do adolescente a adulto (ou criança a homem pelo corpo que se transforma e anuncia a puberdade do "ser"), à importância da direcção de fotografia para conseguir criar uma atmosfera de terror claustrofóbico que induzia o espectador a temer mais aquilo que não via do que aquilo que os seus olhos testemunhavam no grande ecrã.
Um dos elementos interessantes deste documentário é a forma como apresenta a figura do lobisomem. Se os demais monstros da Universal - Frankenstein... Drácula... Múmia... - são sobre a forma como todos tentam voltar à vida depois de uma morte confirmada, o Lobisomem enquanto figura com uma elevada carga maléfica, estabelece-se e afirma-se no cinema como uma cujo fim último é a morte. O Lobisomem não procura o seu lugar no mundo dos vivos mas sim terminar com o seu sofrimento e castigo "em vida" directamente relacionado com a morte dos demais, procurando a morte e cancelando assim esse suplício. Ao contrário dos demais o Lobisomem procura não o início de uma nova vida mas sim o auto-extermínio e, como tal, o fim que não se anuncia. A este imaginário foi a interpretação de Chaney Jr. que se lhe juntou e muito contribuiu para a estabelecer e contrariamente a todos os demais "monstros", foi o actor que se conseguiu manter sempre associado a esta marca interpretando-o em todas as demais entregas ao longo de décadas.
Interessante e importante documentário - e documento - não só sobre a História (mitológica) bem como sobre aquela da imagem em movimento e do cinema, Mark of the Beast: The Legacy of the Universal Werewolf é uma obra de referência que analisa a mitologia, a História, o cinema e os seus intervenientes e algumas das histórias caricatas que caracterizaram o género estabelecendo este "lobisomem" como um dos seus principais fundadores e um dos mais resistentes conseguindo entregar múltiplas entregas capazes de se afirmar no terreno dos "monstros cinematográficos" numa arte que, tal como o próprio, está sempre em perfeita e constante mutação.
.
8 / 10
.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário