domingo, 30 de outubro de 2016

Ocho Apellidos Catalanes (2015)

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Namoro à Espanhola - Aventura na Catalunha de Emílio Martínez Lázaro é a mais recente longa-metragem espanhola a estrear em sala e a continuação de Ocho Apellidos Vascos (2014) que foi, à data, o maior sucesso de bilheteira do país vizinho.
Depois da separação de Rafa (Dani Rovira) e de Amaia (Clara Lago), esta última apaixona-se por Pau (Berto Romero) um catalão. Rumo à Catalunha deixando tudo para trás, é Koldo (Karra Elejalde), o seu pai, que segue para a Andaluzia para convencer Rafa a conquistar, uma vez mais, o coração da sua filha. No entanto, nem tudo parece ser assim tão fácil naquele que poderá ser o primeiro casamento de uma Catalunha independente...
Borja Cobeaga e Diego San José estão uma vez mais por detrás do argumento desta sequela de Ocho Apellidos Vascos tentando recuperar muito do espírito de comédia que esteve na origem daquela que foi uma divertida e espontânea história de amor. Uma história de amor igual a tantas outras onde as diferenças não só do indivíduo como também de toda uma comunidade culturalmente distinta se evidenciam como entraves à sua concretização mas que, por força de um qualquer mistério, parecem resultar como uma oposição, ou seja, quando mais esta diferença se assume mais sentida faz à aproximação daqueles que as denotam.
Espanha para o mundo... Espanha das nações a nível interno. Os vários mundos que compõem o país vizinho parecem embelezá-lo enquanto comunidade para o exterior mas, internamente, o espectador percebe que existem momentos e situações dignas de um cómico de situação que, no entanto, pouco poderão fazer rir aos mais fundamentalistas. Desde as separações linguísticas ao imaginário de uma independência ainda por confirmar, Ocho Apellidos Catalanes recupera o tal imaginário dos bascos senhores de si próprios, da independência ainda não confirmada de uma Catalunha dona de si própria contrariamente ao dolce fare niente de um sul andaluz onde os propósitos fundamentais de uma vida bem vivida passam pela diversão, pelo bom comer e pelo amor - numa prática mais ou menos consumada - que se (os) distancia de um restante país mais Europeu... e menos "quente".
Mas, no meio de tudo isto o que sobra para realmente compreender... O amor... Por si só incompreensível - pois desista quem o tenta explicar -, mas capaz de se afirmar como a força motora das vidas destas personagens que se têm contentado com a solidão, com casamentos e uniões "menos más" e que lhes confiram a tal "idade adulta" que até então lhes tem passado ao lado ou até mesmo a aceitação de uma vida a solo que, no entanto, os impeça de sofrer pela entrega a alguém que (não sabem) poderá nunca os amar em idêntica proporção. Mas, o que irá realmente acontecer quando decidem finalmente arriscar e reclamar o seu direito à felicidade?
É com esta pergunta em mente que assistimos à dinâmica entre "Koldo" (Karra Elejalde) e "Merche" (Carmen Machi) e, por outro lado, a "Rafa" (Rovira) e "Amaia" (Lago). Os primeiros, já idos nos seus sessenta's, concentram-se na aceitação mais ou menos implícita, de uma vida a solo onde apenas podem esperar retirar alguns dias "menos maus" sem alguém a seu lado. Apaixonados - nem sempre secretamente - mas com o real receio de que não sejam aceites - mais ele que ela - aceitaram que o casamento (ou mesmo uma simples união) não é para eles... pelo menos não até os reais sentimentos de "Koldo" serem revelados para salvação de um dia melhor para "Rafa". Já este, concentrado num dolce fare niente que a sua vida lhe tem proporcionado, acorda finalmente quando compreende que o amor da sua vida - "Amaia" - poderá deixar de ser sua pelo compromisso que está prestes a aceitar com "Pau", um artista catalão demasiadamente concentrado na auto-adoração do que propriamente num amor que mais não é - para ele - do que algo de ocasião que irá satisfazer uma avó "independentista".
Ainda que os cómicos de situação derivados de alguns preciosismos independentistas tenham resultado em Ocho Apellidos Vascos, é também certo que em Ocho Apellidos Catalanes apenas funcionam pela óbvia e esperada conclusão que o espectador sente em relação a estas personagens que o apaixonaram há cerca de dois anos e não tanto pela dinâmica aqui recriada com um humor mais ligeiro, mais naïf e também um pouco mais resultante da ocasião do que propriamente pela comédia em si. Por outras palavras, se momentos existem em que nos fazem esboçar um sorriso... este já não é tão sentido como aquele tido há dois anos com Ocho Apellidos Vascos, muito mais espontâneo, emocional, divertido e até mesmo natural mas sim de uma certa "esperança" que desta vez o destino destas personagens seja aquele que nessa altura para eles desejámos.
Com vontade assumida de destacar os seus actores secundários esbatendo a interpretação de Rovira e Lago, Ocho Apellidos Catalanes é uma longa-metragem simpática, com momentos bem conseguidos e uma certa verve catalã - nunca havia visto tantas bandeiras da Catalunha juntas num filme - ou "barreiras" linguísticas que fazem uma vincada e assumida distinção entre as várias Espanhas de Espanha mas, ainda assim, não tem tanta alma (ou espírito) como o título original que agarrou os espectadores não só no país vizinho como também por todos aqueles por onde passou, que garantiu o Goya a três dos seus actores, Elejalde, Machi e Rovira - Actores Secundários e Revelação respectivamente - e que soube brincar com o amor, com as diferenças e com os estereótipos de um país que sabe, assumidamente, rir de si próprio e que não esquece uma vedeta - que o é - como Rosa Maria Sardà, aqui a dar alma a uma independentista catalã com valores de família e de conservadorismo bem firmes na sua mente.
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6 / 10
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