Qualquer Coisa de Belo de Pedro Sena Nunes é um documentário em formato de curta-metragem presente na vigésima-terceira edição do Caminhos do Cinema Português a decorrer em Coimbra.
Neste documentário a fotografia e o cinema existem como um complemento indissociável. Num registo documental, o espectador revisita momentos dos pacientes do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda captados no final dos anos 60 do século passado quando, ainda em ditadura, a doença mental era encarcerada e aqueles que dela padeciam isolados como comuns criminosos vetados ao abandono.
Agora desactivada enquanto unidade hospitalar, o Miguel Bombarda perdura como uma ossada em decomposição e apenas as fotografias, como um registo dessa memória, comprovam que noutros tempos a vida - ainda que sob uma outra forma - existiu naquele espaço por onde ainda ecoam pensamentos soltos pelos corredores agora em completo abandono.
Essas mesmas fotografias - mais de quinhentas - levam o espectador a observar aqueles que não faziam (fazem?!) parte da sociedade registando a sua vivência naquele espaço esquecido. Enquanto que no cinema o espectador observa uma imagem em movimento, é a fotografia que capta o momento tal como ele é sem subterfúgios, manobras ou retoque final para embelezar (ou não) aquele acto ou espaço específico ainda que induzindo quem observa para uma ideia concreta tida pelo fotógrafo.
Intrigante e pouco reconfortante, Qualquer Coisa de Belo insere o espectador naqueles corredores, quartos e bloco num todo, dando-lhe uma breve perspectiva e sentimento de isolamento e solidão talvez sentido, noutros tempos, por aqueles que ocuparam o mesmo espaço sentindo-se - também ele - como uma parte ausente de uma sociedade distante e que se recusa a tê-lo(s) como membros integrantes da mesma.
Qualquer Coisa de Belo, é assim, um interessante documento de memória histórica não só do indivíduo como principalmente do espaço em específico e ainda da época que então se vivia.
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7 / 10
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