Meg: Tubarão Gigante de Jon Turteltaub (EUA/China) é um dos blockbusters de Verão cuidadosamente "desenhados" para se transformarem num dos esperados êxitos de bilheteira.
Depois de ver toda a sua carreira destruída quando afirmou que durante um salvamento de pessoas avistou um tubarão pré-histórico gigante, Jonas Taylor (Jason Statham) é novamente chamado para um salvamento numa plataforma subaquática onde se encontra a sua ex-mulher e alguns dos seus amigos. Quando as notícias de que o seu tubarão gigante pode, afinal, ser real, a questão que se coloca a Jonas é sobre até onde está disposto a ir para efectuar a sua última missão e comprovar que a sua teoria é, afinal, verdadeira.
Desde que foi lançado o primeiro teaser de The Meg que qualquer um de nós pensou imediatamente em Jaws (1975), de Steven Spielberg. Os elementos estavam todos lá... uma personagem central em quem ninguém acredita quando este diz que há um tubarão à solta e com uma vontade inquestionada de caçar, um certo isolamento dessa mesma figura que é, por todos, desprezada e finalmente o tubarão em questão que, independentemente das suas proporções físicas, é o terror lá do sítio. Mudam apenas os cenários... da pacata cidade costeira no Atlântico para a plataforma de investigação no Pacífico, a realidade é que esta nova incursão no género tinha tudo para a óbvia recuperação histórica do clássico de Spielberg mas... nem de perto.
Ainda que The Meg seja um claro e óbvio entretenimento de Verão para os mais despreocupados que apenas querem passar um bom momento de cinema-pipoca, a realidade é que a longa-metragem de Turteltaub é apenas e só isso... entretenimento. Enquanto a já referida obra de Spielberg conseguiu, à altura, não só lançar o medo nos banhistas que passaram a encarar a paixão estival pela praia e pelo oceano como um potencial perigo eminente como também criar com breves acordes musicais de John Williams, todo um registo de intensidade e pânico até então não testemunhado no cinema, The Meg é um daqueles filmes que todos acabamos por apreciar pelos momentos de descontracção criados mas que também compreende o espectador que não irá passar daí... sendo que o seu contributo para a arte cinematográfica no seu todo seja, claramente, nulo.
Dito isto... o que é realmente The Meg?! Primeiro, e ainda que não seja esse o seu intuito imediato, a consciencialização para o espectador que tanto o oceano como o meio ambiente transportam consigo todo um conjunto de mistérios ainda por descobrir e resolver... afinal, quão profundos são os oceanos e quanto dos mesmos está ainda por desvendar? Que criaturas marinhas estão ainda por conhecer nessas mesmas profundezas e, em directa relação, que benefícios ou prejuízos ambientais trazem as mesmas? De seguida, e aqui sim a imediata questão que salta imediatamente para a mente do espectador prende-se única e exclusivamente com a produção desta obra que, tão convenientemente, tem de ser uma co-produção sino-americana dando assim asas para que a bilheteira da mesma avance a ritmo galopantes uma vez estreada no "gigante adormecido"... O capital de investimento chinês... Uma plataforma subaquática na costa de Hong Kong... uma actriz co-protagonista chinesa e estão lançados os alicerces para que The Meg, tendo ou não um conteúdo passível de explorar como o oceano, se transforme naquele êxito comercial que o ano tanto espera.
Ainda que capaz de funcionar como esse tal aperitivo de Verão, The Meg não funciona como um grande catalizador de desempenhos memoráveis... já vimos Jason Statham fazer melhor (apesar de se estar a colar demasiadamente ao género) e também Cliff Curtis fez melhor em The Whale Rider (2002) ou no recente Fear the Walking Dead mantendo-se nesta caça do tubarão como um breve apontamento de comédia que torna alguns dos momentos tensos em segmentos ligeiros e perfeitamente dispensáveis para a dinâmica do mesmo - lembro-mo-nos da dupla Roy Scheider com Richard Dreyfuss ou Robert Shaw para compreender que o balanço entre drama e comédia estava muito mais harmonizado e credível em Jaws - deixando apenas o departamento de efeitos especiais mais feliz ao concretizar o sonho de todo o "adulto criança" em ver as 20.000 léguas submarinas ganharem forma real... nos dias que hoje correm.
The Meg funciona, portanto, como o tal entretenimento despreocupado de Verão... como (mais) um piscar de olho ao investimento chinês e ao sucessivo ganho de bilheteira que o mesmo possibilita bem como um eventual cheque mais chorudo aos actores que nele participam deixando qualquer outro objectivo no seu percurso cinematográfico em pausa. Se todos nós gostamos de ver... é óbvio que sim... mas Turteltaub apenas entrega mais uma daquelas longa-metragens que, na realidade, nenhum de nós irá recordar no próximo Verão e que não virá acrescentar nada ao género, sendo incapaz de reivindicar um lugar de destaque nem no cinema de terror nem tão pouco no de acção limitando-se a ser aquele filme de suspense do qual o público se ri - ainda que não de forma negativa - mas sim porque não consegue criar a tensão dramática que a obra de Spielberg conseguiu há mais de quarenta anos.
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