quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Fantasma do Novais (2012)

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O Fantasma do Novais de Margarida Gil, a sua mais recente longa-metragem e produção encomendada por Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura, foi exibido na Cinemateca com a presença da realizadora e num misto de passado e presente conta-nos a história de Joaquim Novais Teixeira, escritor, jornalista e crítico.
O filme divide-se entre dois distintos momentos que, ao mesmo tempo, se interligam. O primeiro desses momentos prende-se com a história ficcionada de Ana (Cleia Almeida) que na Guimarães de 2012 tenta terminar o seu trabalho de investigação sobre Novais Teixeira, natural da terra e falecido na Paris de 1972. Para a sua pesquisa que se mostra árdua e para a qual não tem todo o tempo necessário, dispõe da ajuda de Sofia (Maria Raquel Correia) e de Jacinto (Miguel Nunes), seus amigos.
O segundo momento deste filme, o documental, retrata-nos através de segmentos que nos enquadram no tempo, na História e no espaço, e reflete através de entrevistas e testemunhos de pessoas como Júlio Pomar, Eduardo Lourenço, Teresa Ricou, António da Cunha Telles ou do filho de Luís Buñuel, a vida e o carácter de Novais Teixeira que caracterizam como sendo inteligente, um sedutor e um homem de princípios, e um notável crítico de cinema que viveu num exílio forçado por Espanha, Brasil e França onde viria a falecer.
Aquilo que consegue destacar este filme acaba por ser a junção entre os dois momentos que quase funcionam um em completo do outro. Se por um lado percebemos que  os momentos ficcionados em que assistimos ao trabalho de "Ana" em prosseguir com uma difícil e árdua pesquisa acabam por resultar nos segmentos documentais do filme, não deixa também de ser verdade que a ficção está muito limitada pelo resultado destes e, como tal, quase se tornam um apêndice desnecessário do mesmo.
A realizadora Margarida Gil consegue obter um excelente resultado enquanto filme documental, onde através das entrevistas efectuadas a um conjunto variado de personalidades das mais diversas áreas, acabamos por conhecer um pouco mais sobre este homem que para a maioria não passará de um "alegre" desconhecido mas, ao mesmo tempo, quando entramos em todos os segmentos ficcionados deste filme percebemos claramente que eles estão ali "a mais".
Cleia Almeida, uma jovem e com um muito longo futuro (espero) na representação, e que já nos entregou alguns desempenhos emblemáticos em filmes como Sangue do Meu Sangue ou Assim Assim, e aqui se assume como a intérprete principal, sente-se frágil, algo perdida e sem convicção no seu desempenho que quase representa "à letra".
E o mesmo funciona para os restantes desempenhos na ficção que funcionam quase como presenças aleatórias e sem um fundo ou carácter próprio e que apenas têm um ponto alto na participação de Miguel Nunes com a idosa vimaranense, num momento que tem tanto de cómico como de retrato de um povo e de uma cidade que se tivesse sido ensaiado não teria um tão bom resultado como ali aparenta graças à sua espontaniedade.
Se pensarmos neste filme como um documentário com momentos ficcionados, ele até consegue ser interessante e não só nos retratar a personalidade e o espírito de um homem do mundo como transportar-nos para o passado e para épocas conturbadas que afectaram todo o século XX. Por sua vez, se o considerarmos como um filme ficcionado que recorre a factos históricos e indivíduos que marcaram uma época, não consegue ser uma obra suficientemente convincente ou com a natural ficção que esperamos que um acontecimento tenha devido à pouca expressividade que os factos conseguem retirar dos actores (e até da própria História).
Não conseguindo ser memorável, consegue no entanto recriar um interessante filme documental... nos momentos em que o é.
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4 / 10
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