Mommy's Little Murderer de Curtis Crawford é um telefilme canadiano cujo argumento da autoria de Mark Sanderson e Christine Conradt - baseado na obra homónima desta última - centra a sua dinâmica em torno de Sadie (Emma Hentschel), uma jovem menina que cresce afastada da sua mãe num lar onde é privada de amor e atenção sendo que, mais tarde, irá opôr-se a todos aqueles que julga tentarem prejudicar a sua relação com a nova família.
Os momentos iniciais desta história levam o espectador a criar uma breve empatia com esta jovem que, percebe, ser vítima de um conjunto de abusos físicos e sobretudo psicológicos por parte daqueles que estariam - em teoria - no seu círculo primário de desenvolvimento... a família. Afastada de uma mãe que tenta recuperar a sua vida após uma trágica perda e tendo como único modelo de desenvolvimento a tirania de família que vê nela um problema e um obstáculo, "Sadie" desenvolve competências de uma sociopatia violenta levando-a a pisar a fronteira que separa a lucidez de alguém em constante risco de abraçar uma loucura latente.
Se o argumento até este momento parece ser interessante ao explorar a dinâmica da doença mental infantil bem como os comportamentos atípicos de uma criança que se espera com um desenvolvimento social tradicional de interacção e cumplicidade com os seus pares, a realidade é que esta abordagem termina quando percebemos que a personagem interpretada pela jovem Emma Hentschel cedo se transforma numa assassina implacável de quem ninguém desconfia ou tão pouco teme. Sem questões aparentes por parte de quem a rodeia neste que é o seu (agora) lar tradicional e amistoso, a jovem entra numa espiral de livre violência difícil de ser travada. Mommy's Little Murderer dificulta ainda mais a sua credibilidade quando, sem aparente justificação, esta jovem parece conseguir fazer tudo quanto lhe apetece sem que levante o mínimo de suspeitas dos adultos - assumidamente muito menos inteligentes que a própria - que vêem nela uma singela e simpática criança que, apesar de não ter desenvolvidas as suas competências sociais, circula por todos os espaços como uma adulta bem formada e com recursos suficientes para ser independente. Assim, e ainda que consigamos acompanhar este filme de forma até relativamente ligeira, Mommy's Little Murderer deixa uma leve sensação de incredulidade quando paramos para pensar sobre até que ponto seria possível esta criança ter uma astúcia tão apurada como - dentro do género - o "Kevin" de Macaulay Culkin em Home Alone (1990), se bem que aqui para um lado perverso e macabro que dificilmente se explica... ou talvez não, pois é detrás do rosto mais angelical que (normalmente) se esconde o verdadeiro mal.
Entre incredulidade e repulsa que o espectador sente pelas acções da protagonista - ou talvez sentida para com as demais personagens que parecem centradas num mundo paradisíaco que não existe - Mommy's Little Murderer vagueia pelos meandros de um thriller moderno (pouco explorado) ao estilo de Orphan (2009) mas onde a protagonista é - ao contrário daquela desta última obra referenciada - literalmente uma criança. Existe o mal assim tão bem travestido?!
Capaz de agarrar o espectador ao longo dos seus extensos noventa minutos muito graças à dinâmica da protagonista, Mommy's Little Murderer fragiliza apenas na relação desta com as demais personagens e interpretações bem como na coerência entre acções e protagonista... nem sempre é fácil para o espectador acreditar que uma criança tivesse astúcia para os actos aqui por ela cometidos. E, não sendo um (tele)filme exemplar no género, Mommy's Little Murderer consegue cumprir a sua função de entretenimento.
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5 / 10
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