quarta-feira, 21 de março de 2018

Sonhar Portukália (2017)

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Sonhar Portukália de António Bento Palma é uma longa-metragem portuguesa independente cujo argumento da autoria de Carlos Carvalheiro - também um dos actores protagonistas da mesma - se centra numa viagem do leste ao ocidente Europeu, mais concretamente da Bulgária a Portugal, em busca do eterno sonho do el-dorado numa Europa em constante ebulição... Tudo isto seria muito interessante de analisar não fosse o permanente desastre que Sonhar Portukália viria, muito rapidamente, a confirmar.
Numa viagem entre a Bulgária mais rural e o Portugal das supostas oportunidades, um Mestre-Escola recentemente dispensado (Carlos Carvalheiro) mais o seu primo mecânico (Paulo Mora), percorrem distâncias não imaginadas por uma Europa ocidental onde esperam poder encontrar uma vida melhor. No entanto, é nessa mesma viagem que não só compreendem as suas vulnerabilidades (monetárias) bem como aquelas sentimentais que os afastam cada vez mais do seu espaço natural.
De uma forma muito resumida, Sonhar Portukália resulta quando o espectador lê apenas a sua sinopse ignorando, voluntariamente, o filme por si. Ou seja, se a temática aqui abordada pode despertar interesse por ser algo inesperado no cinema nacional, o facto é que quando as palavras ganham forma e vida através desta longa-metragem tudo soa imediatamente como um completo e perfeito desastre. Mas o pior estaria por chegar...
Sonhar Portukália assume o mais básico e elementar de todos os preconceitos possíveis e existentes transformando a sobrevivência de quem emigra em aventuras de trapaças e esquemas mais ou menos absurdas onde o engano é a forma de estar e viver destas pessoas que apenas desejam um bem estar económico que não encontram no seu país. Aqui, tudo e todos são rudes, pouco formados e ainda menos educados e os lugares comuns sobre alcoól versus emigrante de leste abundam a níveis astronómicos. Se o lugar comum não chegasse para comprovar que toda esta longa-metragem é do mais amador mau gosto e mal pensado na sua concretização, eis que chegamos ao nível das interpretações destes actores que transformam esses mesmos clichés e preconceitos sobre o "outro" em verdadeiros momentos pouco cómicos nos quais se atropelam as boas maneiras e mesmo o respeito pela diferença e pela comunidade emigrante em causa.
Não existe muito mais para dizer sobre Sonhar Portukália... Do péssimo argumento às horrendas interpretações passando pelo circo de preconceitos aqui criados e a tentativa frustrada de criar segmentos de comédia que resultam em perfeitas banalidades melhor conseguidas em longas-metragens B norte-americanas, transforma esta "peça" num perfeito desperdício de tempo do espectador que, se aguentar até ao final merece, ele próprio, uma distinção de bravura. Assim, e se é de louvar todo o empenho e coragem daqueles que levam a cabo a execução de uma obra independente livre de apoios e de cedência ou compromissos, não é menos válido exigir dos mesmos a capacidade de entregar o seu público um filme que pode sim ser mais frágil a nível técnico mas do qual se exige a excelência narrativa e interpretativa que aqui... falhou em todas as frentes.
A sobreviver de "algo"... Sonhar Portukália fá-lo do preconceito, do lugar comum, da comédia sem graça e da ineficácia em contar uma história... História essa que poderia ser sobre a sobrevivência, sobre a emigração ou até mesmo sobre a saudade - tão portuguesa - ou o amor que, todos eles com a sua nobreza aqui vilipendiada sem pudor em nome de algo que o tempo justamente também não irá respeitar.
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