terça-feira, 6 de julho de 2010

Crash (2004)

Crash - Colisão de Paul Haggis filme vencedor de três Oscars incluindo o de Melhor Filme do ano reuniu um elenco de luxo. Entre os actores presentes neste filme temos Don Cheadle, Sandra Bullock, Ryan Phillipe, Jennifer Esposito, Thandie Newton, Terrence Howard e Matt Dillon que viu com este filme ser concretizada a sua primeira nomeação a Oscar de Melhor Actor Secundário, num papel que é assumidamente dos melhores de toda a sua carreira.
A história decorre em Los Angeles naquilo que é um misto de homenagem e de crítica à própria cidade onde vivem largos milhões de pessoas das mais diferentes raças e etnias e todas elas com ambientes culturais e sociais bem distintos entre si. A única coisa que as une é, além da cidade em si, o facto de numa cidade com tanta gente serem todas distantes entre si.
Esta distância, como é óbvio, não se refere a algo físico mas sim a algo psicológico, social, cultural e obviamente monetário.
Todos vivem vidas anónimas. Vidas fúteis que se baseiam apenas em encontros de circunstância, em eventos sociais onde todos sabem os nomes de quem está presente mas na realidade ninguém se conhece. Ninguém se conhece ou sequer fazem intenção de conhecer.
Este filme, e em especial o comentário feito por Graham, a personagem interpretada por Don Cheadle em mais um magnificamente interpretado papel, fez-me lembrar um texto que em tempos li na revista VISÃO escrito pela Clara Pinto Correia que comentava sobre a "dádiva do toque".
Toda a gente vive vidas atarefadas e preocupadas demais para pensarem sequer no toque. Na importância que o toque tem. O fazermos sentir no "outro" que sabemos que está ali. O cumprimento. O afecto. A atenção. O toque... Esse pequeno gesto que pode significar para alguém que sabemos da sua presença e principalmente da sua existência. Um simples cumprimento ou um beijo. Um abraço. Um toque é uma "simples" atitude que pode representar a continuidade do outro por mais um dia. Dia esse que pode representar toda uma vida continuada porque alguém soube que era notado.
A sua ausência, tal como diz "Graham" pode ser o suficiente para que andemos sempre aos encontrões uns aos outros. O suficiente para existir a discordia, a confusão, os problemas. A sua ausência que se pode transformar em violência quer seja ela física, verbal ou psicológica.
Além de tudo o resto talvez seja esta realmente a grande mensagem que o filme e o seu argumento nos tentam transmitir. A importância do toque e do fazer perceber a outra pessoa que sabemos que ela está "ali".
É importante também de referir o aspecto racial e étnico presente neste filme, considerando que falamos de Los Angeles, cidade que desde sempre, e até bem recentemente, viveu graves problemas de violência racial, não esquecendo também que é um filme passado alguns anos após do 11 de Setembro que afectou de forma real as questões étnicas existentes entre a população de uma mesma cidade que tem pessoas de todo o mundo com diferentes raízes culturais. Cria-se então o preconceito. O medo do estranho. O medo do "outro".
A acompanhar todo este filme temos uma banda-sonora magnífica e comovente da autoria de Mark Isham onde se destaca, entre muitos, o tema Flames que ninguém deve deixar de ouvir, e como tal aqui deixo para os mais curiosos.

Destaco ainda a canção que foi nomeada para Oscar (e que infelizmente não levou o prémio apesar de ser a MELHOR das nomeadas) "In the Deep" da autoria de Kathleen York e Michael Becker.

A dar vida a um argumento de facto muito bom, só resta mesmo falar do conjunto soberbo de actores e das suas magníficas interpretações neste filme.
Que Don Cheadle é um actor fenomenal já todos nós o sabíamos, e este filme só vem de facto confirmar que é um actor de topo. Tem uma prestação contida dentro de toda aquela fúria que sabemos estar lá presente.
Parabéns a um Matt Dillon que entrega a sua mais brilhante prestação no cinema com o papel de um polícia xenófobo e descontrolado que, como referi anteriormente, foi justamente nomeado ao Oscar de Melhor Actor Secundário.
Temos uma Thandie Newton, que venceu o BAFTA de Secundária e que infelizmente não foi nomeada ao Oscar, mas que tem a meu ver uma das mais fortes prestações de todo o filme. Para quem já o conhece e se lembra da cena do desastre de automóvel... está tudo dito.
A grande surpresa? Uma Sandra Bullock num dos seus raros papéis em drama e que marcou a sua transição de "actriz de comédia", para uma actriz em quem se podem depositar esperanças e confiança para os grandes papéis dramáticos (que o confirme o seu Oscar de Melhor Actriz deste ano). Gostei bastante de a ver neste filme e só espero que volte a ter muitos mais assim.
A única coisa mais que possa dizer é que este filme é simplesmente brilhante. Ao ganhar o Oscar frente ao gigante do ano Brokeback Mountain causou uma das maiores surpresas dos Oscar dos últimos anos. Justamente ganho afirmo, apesar de achar o anterior filme também um dos melhores da última década. Apenas confirma e premeia um filme que para mim fala de algo muito importante como referi anteriormente... o toque.
E dito isto, só me resta aconselhar quem ainda não o viu que não perca muito mais tempo pois está em falta com os dos maiores filmes dos últimos anos.

"Graham: I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something."

10 / 10

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