sábado, 3 de julho de 2010

Imaginary Heroes (2004)

Heróis Imaginários de Dan Harris é um soberbo e sarcástico drama sobre a família naquele que é um dos raros e grandes papéis que hoje dão a esta imensa actriz que é a Sigourney Weaver.
Secundada por Emile Hirsch, Kip Pardue, Michelle Williams e Jeff Daniels, Sigourney Weaver tem aqui o papel de uma matriarca que tenta viver e sobreviver depois do suicídio do seu filho mais velho (Kip Pardue), que era aos olhos de todos o filho perfeito.
Pelo meio de toda a história temos uma família destroçada e afastada entre si. Uma filha (Williams) que vive noutra cidade, um pai (Daniels) desligado e desinteressado da mulher e do outro filho o que iremos, mais tarde, perceber o porquê, e um filho mais novo (Hirsch) que não se sente, aliás, nunca sentiu, integrado numa família que julga ser a sua, e que sentiu na pele a rejeição do pai e especialmente do irmão.
Que temos aqui um elenco consistente e muito forte é um facto. No entanto há sempre alguém que brilha acima de todos os outros e aqui, como seria de esperar, essa "estrela" é sem sombra de dúvida a magnífica Sigourney Weaver.
O seu papel como matriarca desta família é delicioso e delirante. Estamos na presença de uma mulher presa a clichés que supostamente se deveria agarrar e pelos quais se deveria reger mas que, no entanto, se sente maior dentro daquilo que seria de esperar dela. Foge às regras e às convenções. Protege os seus acima de tudo sem que para isso preciso de se conformar com a posição de mãe e mulher de alguém. Literalmente uma pessoa grande demais para o espaço e especialmente para a vida que tem.
Temos então um filme sobre a dor. A dor física que é aquela que Tim (Emile Hirsch) sofre não só às mãos do seu irmão como também de um colega abusivo na escola. A dor psicológica representada na perfeição por Ben (Jeff Daniels) pois perde, com a morte do seu filho, a única hipótese de dar continuidade à sua família. A perpetuação do nome de família. A imagem de marca que sempre se havia preocupado a manter com a vitórias triunfantes com que o seu filho Matt (Kip Pardue) fazia brilhar o nome de família na cidade em que vivem.
Mas é especialmente forte ver a dor social pela qual Sandy (Sigourney Weaver) atravessa. Dor social esta que a faz viver uma vida de arrependimentos pelo que não fez. De mágoas por desejar ter algo mais que a sua vida não lhe consegue proporcionar. Uma dor que a faz estar "cega" face aos reais problemas que se passam dentro da sua casa. À sua volta. O afastamento dos poucos amigos que tinha. É no sarcasmo que se refugia. É com ele que se protege. Que se esconde. Que se afasta. É com esta sarcasmo que se esquece daquilo que poderia ter sido a sua vida. É à custa dele que resiste. É nele que vive. É com ele que sobrevive.
Escusado será depois de todo este comentário que este é um dos filmes maiores da carreira de Weaver (um entre muitos é um facto, mas um em especial), e que teve aqui uma dos últimos grandes desempenhos que a poderiam ter levado a uma nomeação a Oscar de Melhor Actriz mas que, infelizmente, não se concretizou por falta de publicidade que levantasse ainda mais este que já é um grande filme.
Magnífico e comovente. Um verdadeiro drama sem que para o ser precise de nos arrastar para um mar interminável de lágrimas.




"Sandy Travis: ...show me my life the way it should have worked. (...) Show me the life I deserved."


10 / 10

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