quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Humilhados e Ofendidos (2010)

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Humilhados e Ofendidos de Salvador Palma e Dany Horiuchi é uma fortíssima curta-metragem portuguesa e que ainda tem o privilégio de juntar um igualmente forte conjunto de actores no seu elenco onde se destacam Fernando Taborda, Paula Guedes, Orlando Costa e Amélia Videira.
António (Fernando Taborda) é um homem idoso e que sofre de Alzheimer. Após conseguir fugir ao controle dos seus filhos, vê-se perdido pelas ruas numa viagem que o faz percorrer caminhos que não conhece, apenas acompanhado pelas vagas memórias que ainda possui e que o lançam num estado quase alucinatório.
Solitário e com vãs memórias de momentos que não consegue situar, António é um homem não só perdido no seu caminho mas principalmente perdido na sua própria memória e identidade.
É impossível fugir ao lugar comum que costumo utilizar quando digo que a originalidade abunda no que diz respeito ao rico património que as curtas-metragens portuguesas têm vindo a apresentar. Este Humilhados e Ofendidos não escapa. Não só a história é actual como também foca dois bem importantes aspectos que afectam a nossa sociedade actual. Por um lado as doenças degenerativas que afectam uma cada vez maior parte da nossa população, não necessariamente a portuguesa atenção, mas que por cá tem vindo a mostrar sinais alarmantes de aumento como é o caso do Alzheimer. Por outro, têm ainda a capacidade de abordar os maus tratos dados à população mais idosa que, incapaz de se defender se torna vítima deste também cada vez maior flagelo.
Nisto o argumento da autoria dos dois realizadores é exímio e muito bem conseguido e sem ser algo lamechas ou de recurso a uma lágrima fácil consegue ser comovente e retratar a quão fundo pode descer o Homem quando perdido dentro dos seus próprios pensamentos que, para si, perderam todo o sentido.
E para dar vida a este "António" temos o brilhante Fernando Taborda. Este actor que já o ano passado me tinha deslumbrado com a sua interpretação na magnífica curta O Vôo da Papoila, aqui volta a entregar uma sentida e profundamente dramática interpretação que conquista qualquer um. A degradação a que a sua personagem chega só é comparável com aquela alcançada com outra grande interpretação no filme Iris pela actriz Judi Dench. Aqui, a degradação não é moral nem propositada. É física como consequência da debilidade mental a que a doença o lança, e Fernando Taborda consegue ser a encarnação perfeita desta doença que consome no silêncio aqueles que dela padecem. Dura, forte e esmagadora são apenas algumas das palavras que me ocorrem dizer desta sua brilhante e sentida interpretação.
Gosto ainda do ritmo dado às filmagens que tornam as imagens quase tão duras de digerir como possivelmente seria a memória daquele homem. Perdido... vago... sem coordenação ou concentração. Simplesmente a vaguear à medida que o mundo passa por ele... ou ele pelo mundo.
Um forte e sentido trabalho que ilustra uma dura e triste realidade dos nossos tempos mas que, ainda assim, muitos dela sofrem e em silêncio, mas que aqui consegue ter um muito franco e sentido retrato.
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9 / 10
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