Dead Hearts de Stephen W. Martin é uma curta-metragem canadiana de ficção presente na competição oficial da terceira edição do Festival de Cinema Fantástik de Granollers a decorrer na Catalunha, em Espanha entre os dias 18 e 20 de Dezembro e no qual tenho a honra de pertencer ao seu júri oficial.
Milton Mulberry (Valin Shinyei) vai morrer. Assim começa esta história. Filho e neto de donos de uma mortuária, o seu destino é, também ele, uma certeza. Ignorado ou desprezado pelos seus colegas, Milton encontra o refúgio em Lola Littleton (Dalila Bela), uma jovem menina invisual por quem se apaixona perdidamente.
Depois de perder a sua paixão, Milton passa toda a sua vida numa esperada solidão até que, farto da sua vida, decide abandonar o seu eterno desespero entregando aos 78 anos o seu coração à sua velha e única paixão. Mas a morte parece não querer manter esta relação com Milton...
Stephen W. Martin consegue com o argumento do seu Dead Hearts dirigir uma história que une não só o drama de um amor infantil que perdura toda uma vida, como uma sentida referência ao cinema de terror sob a forma de comédia e isto sem esquecer a devida ligação e homenagem ao conto do Capuchinho Vermelho que aqui se torna uma predadora de lobos.
Repleto de humor, por vezes macabro, e de um sentido estético digno de um apurado filme de época - sem o ser - Dead Hearts prima pela história de amor correspondido mas não concretizado que se faz sentir em tenra idade, por duas crianças que são, na prática, inadaptados no seu próprio mundo. Um como o fruto da inadaptidão da profissão da sua família e a outra uma jovem invisual também marginalizada pelos demais, encontram nas suas diferenças para com o mundo exterior o elo comum que os irá unir e que os estabelece como o par perfeito na imperfeição. É este improvável par romântico - curto na sua duração - que percebemos conseguir estabelecer o mote para as suas vidas, limitando-as para o futuro mas criando a tal ligação que percebemos não ir ser destruída.
Cómica desde o primeiro instante, algo fatalista pelo que faz antever e emotiva na sua desolação, Dead Hearts cria uma imediata empatia com o espectador que vê nesta improvável história de amor um daqueles filmes que se sente fazer parte da nossa (sua) própria história.
Destaque positivo para as interpretações dos dois jovens actores que criam uma química perfeita, para a música original de Luke Moore que muito faz lembrar as bandas-sonoras de Danny Elfman mas os universos (im)perfeitos de Tim Burton e a requintada direcção artística de Tony Devenyi que nos coloca perante um mundo aparentemente (a)normal.
.
.
8 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário