Todo lo que Dices que Soy de Guillermo Florence é uma curta-metragem espanhola de ficção que leva o espectador até Gonzalo (Ivan Massagué), um empregado de hotel que encontra Bea (Marta Larralde), escondida debaixo de uma cama com amnésia e fugida do seu própria casamento.
Poderá Gonzalo convencer Bea que ela é o amor da sua vida antes que todos os convidados a encontrem?
Florence cria o argumento desta curta-metragem levando o espectador a uma improvável aventura... debaixo de uma cama. Poucos são os momentos desta história que o transportam para um qualquer outro lugar deixando-se, quase exclusivamente, transportar para o chão debaixo de uma cama tendo todo o mundo à sua volta passado pelas suas cabeças... e os quais só "reconhecem" pelos seus sapatos e vozes. Nada, para lá de "Gonzalo" e "Bea" existe. Aquilo que o espectador depreende de imediato é que o casamento de "Bea" está longe de ser perfeito, calculado ou esperado na medida em que a própria, devido a stress, desconhece tudo o que se passa ou mesmo reconhece alguém que com ela deveria estar a partilhar o "momento mais feliz da sua vida". Não, naquele momento "Bea" partilha apenas o seu espaço com "Gonzalo"... o empregado do hotel.
As suas incertezas instalam-se muito rapidamente principalmente quando ele começa a revelar histórias de um potencial passado - por ele imaginado - e que os unem pela potencialidade de uma perfeição que, percebemos, nem um nem o outro alguma vez experimentaram. O amor que se desenvolve - ainda que imaginado - começa lentamente a ganhar forma e a compôr-se como uma realidade que, na realidade, não existe. As suas vontades parecem transformar-se em desejos e apenas o silêncio pactuante de "Bea" parecem poder confirmar que sim... estão ambos a viver uma futura (mas passada) transformação nas suas vidas.
À sua volta ambos só encontram o silêncio na cumplicidade de um olhar ou naquele que ao qual têm de se remeter para que a sua posição e história não sejam descobertas. Enquanto todos desesperam à procura de "Bea", "Gonzalo" desespera pela potencialidade da sua perda, e as histórias "passadas" que lhe conta mais não são do que profundos desejos que talvez possam nunca ser confirmados.
Desta improvável mas ao mesmo tempo terna história de amor, permanecem junto do espectador alguns olhares, algumas trocas de um carinho e uma cumplicidade difíceis de encontrar em cinema - principalmente quando ele é em formato curto onde tudo tem um tempo marcado para "acontecer" -, e duas intensas e esperançosamente ternas interpretações que conquistam o espectador ao ponto do próprio se esquecer que, para lá da parte de baixo daquela cama, existe todo um mundo que ambos conhecem mas que, ao mesmo tempo, os distancia e os transporta para os seus próprios recantos.
De uma invulgar história de amor tem tudo e, talvez por esse motivo, se instale no espectador como um drama romântico, com diversos apontamentos de comédia mas sobretudo uma história cheia de coração, imaginação e sobretudo muita magia.
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8 / 10
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