quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cargo (2006)

Cargo de Clive Gordon conta com a participação de um elenco de luxo do panorama cinematográfico Europeu onde constam nomes como Peter Mullan, Daniel Brühl, Luis Tosar e Gary Lewis.

Aquilo que nos é apresentado pelo trailer é algo que nos parece ser à partida um daqueles filmes claustrofóbicos de terror onde vai haver uma carnificina qualquer dentro de um navio. Quando começamos a ver o filme até que nos parece que é mesmo isso que vamos encontrar.

Chris (Brühl) encontra-se num país africano onde é procurado pela polícia e do qual pretende sair. Após a polícia lhe ter ficado com os documentos, a única forma que ele encontra é esconder-se num navio comandado por Brookes (Mullan) que tem como destino Marselha.
Até aqui, apesar da situação já ser suficientemente complicada pois Chris arrisca a sua segurança ao ser um passageiro ilegal, mas nada faria pensar no que daí iria surgir.
Após ser descoberto por um dos tripulantes e deparar-se com uma situação que parece ir escalar num filme de terror grotesco (a sequência dos desenhos a isso nos permite pensar), a história ganha uns contornos que são, infelizmente, bem reais nos dias de hoje.
Aqui o terror torna-se mais humano, bem mais, do que propriamente sobrenatural. Aqui o terror deve-se às trágicas condições em que o ser humano pode chegar e à degradação em que pode levar o "outro" a chegar.
Aqui o terror passa pelas viagens clandestinas a que milhares e milhares de imigrantes se sujeitam como a única forma que vêem possível para alcançar um mundo e uma vida melhor longe das péssimas condições de vida que têm nos seus países de origem.
Aqui o terror passa por nos mostrar como estas mesmas viagens clandestinas podem em muitas situações ser as últimas que estas pessoas fazem onde se sujeitam não só a perder a sua vida mas como muitas vezes também as tentam fazer perder a dignidade.
Bons desempenhos por parte de Brühl, Mullan e Tosar que escondem através dos olhares ora frios e distantes como também cheios de emoção uma tensão interior enorme que se faz transparecer aos poucos através dos seus actos. Quão depressa pode um homem perder a sua humanidade e o que será preciso para a tentar recuperar? É fundamentalmente este pensamento que as suas interpretações fazem transparecer.
De destacar ainda um excelente trabalho de fotografia por parte de Sean Bobbitt que cria um ambiente escuro e denso, tornando o barco onde decorre a acção na sua quase totalidade um ambiente claustrofóbico e aprisionante.
Um excelente filme com um final trágico onde se perdem, não só pela morte como também pela falta de perdão, aqueles que se tentam regenerar.




7 / 10

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