domingo, 2 de fevereiro de 2014

O Assalto (2014)

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O Assalto de David Rebordão é a mais recente curta-metragem do realizador de A Curva, e uma que se constitui como uma agradável e tão actual surpresa deste ainda novo ano.
A acção começa numa aparentemente tranquila casa rural onde D. Maria (Paula Só), uma mulher já idosa, trata dos pequenos afazeres diários que a ocupam.
É enquanto varre o chão da sua casa, com a dificuldade que a idade lhe trouxe, que vê a sua casa e sossego serem invadidos por dois homens mascarados (Salvador Sobral e Roberto Durão) que lhe exigem violentamente todo o seu dinheiro num intenso segmento que apenas pode trazer graves consequências ou uma surpresa de cortar a respiração.
Esta curta-metragem consegue desde o primeiro instante ser um desafio para o espectador que espera, involuntariamente, por um desfecho que só mais tarde perceber não chegar. David Rebordão desafia o espectador de uma forma brilhantemente desarmante ao induzir-nos num universo que nos é, de certa forma, familiar pelos inúmeros relatos que escutamos quase diariamente nos noticiários televisivos bem como pela pacata música de João Frias que nos aproximam daquele lar, mas ao mesmo tempo prepara-se para nos retirar o tapete debaixo dos pés quando nos mostra qual a real face daqueles dois vilões que tentam esconder-se por detrás de uma cobarde máscara.
Se num primeiro instante parece que nos relata um assustadoramente "banal" assalto numa qualquer terra mais desertificada, não é menos verdade que rapidamente nos relata que nem tudo é como parece e obriga-nos a olhar para uma realidade que é, afinal, tão próxima de todos nós fazendo com que aqueles dois assaltantes tenham na prática um rosto bem mais real e "visível" do que poderíamos inicialmente imaginar.
A actriz Paula Só, enquanto a frágil "D. Maria", tem uma interpretação que nos desarma. Primeiro porque revemos nela tantas pessoas que conhecemos a quem a idade marcou e sem perdoar deixa as suas marcas. Finalmente encontramos nela, nas suas expressões e nos seus actos, um pouco daquilo que em todos nós foi reflectido nos últimos tempos e que bem sabemos avaliar, conseguindo por isso ser isoladamente o rosto de uma parte específica da sociedade mas também, pelo trágico desfecho em que se encontra, um espelho daquilo que somos todos nós a quem a violência psicológica deixou (deixa) potenciais marcas bem mais profundas do que qualquer acto de violência física que poderia ser efectuada sobre os "nossos" corpos.
Brilhante pela originalidade, a curta-metragem O Assalto apenas "peca" por nos fazer gostar dela e ao final de três minutos terminar... não sem antes nos fazer pensar sobre o quão real, e actual, está a sua mensagem.
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9 / 10
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