domingo, 15 de abril de 2018

Descobrindo a Variável Perfeita (2018)

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Descobrindo a Variável Perfeita de Rafael Almeida (Portugal) é a mais recente curta-metragem do realizador de Demência (2014) e Que é Feito dos Dias na Cave (2016) aqui nos conto de contornos Andersonianos onde Pedro (Salvador Nery) sofre um desgosto amoroso depois de Rita (Sara Barros Leitão) decidir terminar a sua relação com ele. Irá ele resistir a reatar a relação eliminar esse vazio sentido? Talvez a argumentista do filme lhe proporcione uma solução!
O momento inicial desta história revela de imediato as intenções do seu argumento - inspirado registo do seu autor Tiago Primitivo -, ao conferir uma dinâmica de folia exterior à linha principal desta história na medida em que é quase impossível o espectador não se perder com tudo o que passa em cena mesmo que directamente nada esteja relacionado com o diálogo entre os dois protagonistas. Assim, os simples mas elaborados detalhes que compõem tudo o que está a acontecer adquirem uma importância extrema pois é essa sua referida simplicidade que assume toda uma componente exacerbada que nos levam a adivinhar que algo de maior está por acontecer.
São esses primeiros instantes de um diálogo mantido com algum sofrimento e que se faz crer que está à beira de uma ruptura que dão o mote para uma história que se desencadeia num espaço temporal muito linear mas que se sente estar devidamente enquadrado em momentos consequentes mas distintos. Da feira a uma casa pitoresca que o nosso protagonista mantém com "Lucas" (Luís Oliveira) e onde tece o mais elaborado de todos os planos, é o requinte de uma comédia ligeira, inteligente e aprumada que seduz para o dilema de "Pedro" face a um amor sentido mas não correspondido. E, se inicialmente é o desinteresse de "Rita" que desperta a curiosidade do espectador, é o nonsense de "Luís" que dinamiza os momentos do "plano" conferindo uma qualquer credibilidade à personagem de Nery - qual "musa" inspiradora do realizador - que acredita (e consegue) encontrar aquela que realmente lhe deu vida.
No entanto, é com a concretização deste encontro proporcionado por uma "Operadora da Central de Guionistas" (brilhante Ana Varela) com a guionista com mais história por contar do que aquele que inicialmente parece ter (igualmente brilhante Ana Baptista) que confere a tal dinâmica humana que esta história precisava para se manter mais do que uma simples história de comédia - com toda a dignidade que o género merece pois é um facto ser mais difícil fazer rir do que chorar -... Em momentos, breves mas concisos e inspirados, Descobrindo a Variável Perfeita transforma-se na inesperada história de um amor impossível onde para viver (e amar), primeiro é preciso libertar e deixar voar para finalmente poder compreender quem sempre esteve ao "nosso" lado e que "nos" deu o tal ímpeto e coragem para viver para lá do tal óbvio que as circunstâncias iniciais alguma vez puderam proporcionar.
Assim, da feira à casa de "Pedro" e desta à esplanada onde finalmente a sua vida poderá modificar-se bastando para isso olhar com atenção, Descobrindo a Variável Perfeita preenche o ecrã com breves instantes de uma ligeira mas excêntrica comédia sentimental na qual se destaca uma vez mais a prestação de Nery que brilha com a colaboração que tem desenvolvido com o realizador Rafael Almeida entregando interpretações sólidas, seguras e inspiradas deixando, no entanto, margem de manobra suficiente para uma igualmente segura Ana Baptista que se revela uma dura argumentista com um coração grande à espera de encontrar quem o possa preencher. Excêntricos, todos eles, como um factor que lhes dá a humanidade desejada, o espectador poderá encontrar, em todos eles, momentos e características com as quais se poderá rever e até mesmo identificar saindo da sala de cinema onde esta curta-metragem seja exibida com a certeza de que viu uma obra que não irá esquecer tão depressa.
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7 / 10
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