Gata Cinderela de Ivan Cappiello, Marino Guarnieri, Alessandro Rak e Dario Sansone é uma longa-metragem italiana de animação presente na secção Panorama Especial da décima-primeira edição da Festa do Cinema Italiano a decorrer em Lisboa até ao próximo dia 12 de Abril no Cinema São Jorge.
Nápoles. Um futuro incerto. Num navio no porto da cidade é construído o Polo da Ciência e da Memória e o magnata Vittorio Basile (voz de Mariano Riggillo) tem um casamento marcado com Angelica Carannante (voz de Maria Pia Calzone). No entanto, Angelica tem os seus próprios planos com Salvatore Lo Giusto (voz de Massimiliano Gallo) numa história que cruza a criminalidade e um futuro ao estilo de Blade Runner tendo como pano de fundo uma das mais intensas histórias de amor romântico do cinema de animação.
Com um argumento da autoria dos realizadores em colaboração com Marianna Garofalo, Corrado Morra e Italo Scialdone, Gatta Cenerentola é uma surpreendente - mas com um potencial ainda por explorar - história de animação que mescla vários estilos cinematográficos. Se por um lado temos a Nápoles criminal que se reúne num navio no porto da cidade e onde todos os opositores ao novo mestre do crime são matematicamente eliminados no porão do mesmo num estilo muito próximo daquele que temos em vários filmes de ficção do género saltando imediatamente à memória Gomorra (2009), de Matteo Garrone não deixa de ser real a imediata relação que o espectador estabelece com Blade Runner (1982), de Ridley Scott onde todo um universo futurista se funde com as marcas do passado e onde as memórias ganham forma unindo aqueles que então vivem às suas origens e fundações. Ao mesmo tempo, é indissociável desta história a sua base, ou seja, a directa relação que existe com a história da Cinderella (1950) onde uma jovem princesa - aqui filha do dono de um vasto império económico - se vê refém de uma violenta madrasta e suas filhas sedentas de se apropriar desse mesmo império.
Longe de encontrar aqui uma história de crianças, Gatta Cenerentola é sim um relato violento sobre o mundo do crime - as ligações às máfias são, aliás, uma constante - e os seus tentáculos que tolhe na sua rede todos aqueles que se põem no seu caminho em nome de uma crescente vontade e sede de poder. Sem escrúpulos ou qualquer piedade, estas personagens protagonistas - "Angelica" e "Salvatore" - primam pelos requintes de malvadez com que actuam e pactuam, deixando todo um rasto de vítimas que o espectador apenas levemente (re)conhece num dos seus segmentos, e que fazem do próprio historial da cidade de Nápoles o palco não tão oculto desse ritual misturando passado, presente e este futuro distópico num ciclo que não afasta este imaginário do crime da própria cidade da Campânia.
No entanto, e como em todos os filmes de animação, Gatta Cenerentola não esquece a sua personagem "principal" na silenciosa "Cinderela" que se assume como uma especial vingadora ao estilo de "Beatrice Kiddo" de Kill Bill (2003) depois de todo um percurso semi-ausente como uma esperada vítima fechada numa prisão decadente de metal onde as sombras e as memórias se misturam como que fantasmas que percorrem o presente daqueles que resistem. E como a todas as princesas se apresenta um príncipe ou cavaleiro andante, também aqui o encontramos em "Primo Gemito" (voz de Alessandro Gassman), guardião de "Cinderela" em criança e seu salvador quando se reencontram mais de uma década depois.
Intenso e original é, no entanto, a curta duração de Gatta Cenerentola - pouco mais de noventa minutos - que deixa o espectador com alguma desilusão na medida em que todo este imaginário poderia catapultar mais este argumento - não bastasse, por exemplo, a fundição de todos os géneros anteriormente mencionados -, transformando-o e explorando todas estas dinâmicas... quer a futurista, quer o clássica e mesmo a da criminalidade que, no final, é aquela que se torna mais presente. Uma das fortes apostas do cinema transalpino, Gatta Cenerentola é uma franca e importante aposta do cinema de animação do país premiado este ano não só pela Academia Italiana de Cinema como também foi o grande vencedor do MONSTRA - Festival Internacional de Cinema de Animação de Lisboa e a prova de que o género não é só para crianças.
Nápoles. Um futuro incerto. Num navio no porto da cidade é construído o Polo da Ciência e da Memória e o magnata Vittorio Basile (voz de Mariano Riggillo) tem um casamento marcado com Angelica Carannante (voz de Maria Pia Calzone). No entanto, Angelica tem os seus próprios planos com Salvatore Lo Giusto (voz de Massimiliano Gallo) numa história que cruza a criminalidade e um futuro ao estilo de Blade Runner tendo como pano de fundo uma das mais intensas histórias de amor romântico do cinema de animação.
Com um argumento da autoria dos realizadores em colaboração com Marianna Garofalo, Corrado Morra e Italo Scialdone, Gatta Cenerentola é uma surpreendente - mas com um potencial ainda por explorar - história de animação que mescla vários estilos cinematográficos. Se por um lado temos a Nápoles criminal que se reúne num navio no porto da cidade e onde todos os opositores ao novo mestre do crime são matematicamente eliminados no porão do mesmo num estilo muito próximo daquele que temos em vários filmes de ficção do género saltando imediatamente à memória Gomorra (2009), de Matteo Garrone não deixa de ser real a imediata relação que o espectador estabelece com Blade Runner (1982), de Ridley Scott onde todo um universo futurista se funde com as marcas do passado e onde as memórias ganham forma unindo aqueles que então vivem às suas origens e fundações. Ao mesmo tempo, é indissociável desta história a sua base, ou seja, a directa relação que existe com a história da Cinderella (1950) onde uma jovem princesa - aqui filha do dono de um vasto império económico - se vê refém de uma violenta madrasta e suas filhas sedentas de se apropriar desse mesmo império.
Longe de encontrar aqui uma história de crianças, Gatta Cenerentola é sim um relato violento sobre o mundo do crime - as ligações às máfias são, aliás, uma constante - e os seus tentáculos que tolhe na sua rede todos aqueles que se põem no seu caminho em nome de uma crescente vontade e sede de poder. Sem escrúpulos ou qualquer piedade, estas personagens protagonistas - "Angelica" e "Salvatore" - primam pelos requintes de malvadez com que actuam e pactuam, deixando todo um rasto de vítimas que o espectador apenas levemente (re)conhece num dos seus segmentos, e que fazem do próprio historial da cidade de Nápoles o palco não tão oculto desse ritual misturando passado, presente e este futuro distópico num ciclo que não afasta este imaginário do crime da própria cidade da Campânia.
No entanto, e como em todos os filmes de animação, Gatta Cenerentola não esquece a sua personagem "principal" na silenciosa "Cinderela" que se assume como uma especial vingadora ao estilo de "Beatrice Kiddo" de Kill Bill (2003) depois de todo um percurso semi-ausente como uma esperada vítima fechada numa prisão decadente de metal onde as sombras e as memórias se misturam como que fantasmas que percorrem o presente daqueles que resistem. E como a todas as princesas se apresenta um príncipe ou cavaleiro andante, também aqui o encontramos em "Primo Gemito" (voz de Alessandro Gassman), guardião de "Cinderela" em criança e seu salvador quando se reencontram mais de uma década depois.
Intenso e original é, no entanto, a curta duração de Gatta Cenerentola - pouco mais de noventa minutos - que deixa o espectador com alguma desilusão na medida em que todo este imaginário poderia catapultar mais este argumento - não bastasse, por exemplo, a fundição de todos os géneros anteriormente mencionados -, transformando-o e explorando todas estas dinâmicas... quer a futurista, quer o clássica e mesmo a da criminalidade que, no final, é aquela que se torna mais presente. Uma das fortes apostas do cinema transalpino, Gatta Cenerentola é uma franca e importante aposta do cinema de animação do país premiado este ano não só pela Academia Italiana de Cinema como também foi o grande vencedor do MONSTRA - Festival Internacional de Cinema de Animação de Lisboa e a prova de que o género não é só para crianças.
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